A inquietante banalidade

Por: Italo Romano
Fonte: Oltre la Coltre via: CrepanelMuro
Tradução: Mario S. Mieli


Estamos circundados, envoltos e, frequentemente, dominados por completo por ela. Estou falando da banalidade. Vivemos tempos de síntese e simplificação, em que cada conceito, mesmo o mais abstruso, é banalizado. Tudo colapsa no abismo escuro da mediocridade, ou beira um insignificante achatamento. A convicção induzida é a melhor arma de banalização de massas jamais criada. Elas, hoje, são transbordantes e se propagam à velocidade da luz, graças aos grandes meios de difusão de massa, verdadeiras fábricas de convencidos. Com frequência, porém, a convicção é uma falsa crença, ditada por uma óbvia ignorância, velada por um pseudo forte de arrogância misturada com superficialidade. Isso leva a reassumir fatos, conceitos e ideias na única forma possível que consinta esse modus vivendi, com a banalidade. A persuasão subliminal criou essa erudita ignorância que, infelizmente, consegue fazer expirar toda discussão nos usuais elementares arquétipos do banal.

Saul Bellow em seu romance biográfico “Ravelstein” escreveu que “a banalidade é o disfarce de uma poderosíssima vontade que visa abolir a consciência”. Nada mais verdadeiro. Essa indiferença filosófica é premeditadamente apresentada às mentes fracas, a maioria, que se auto-escravizam, caindo em uma condição de servilismo. Um servilismo que se revela na mais abjeta forma, servo e orgulhoso de sê-lo, porque sendo a única forma de vida conhecida, é seguramente a melhor. O indivíduo se torna súdito porque não consegue mais distinguir a ficção da realidade.



Quem se encontra por trás desse projeto de banalização de massas deve ser um gênio.

Sempre segundo o escritor americano: “O sistema exige a mediocridade, não a grandeza. O sistema está baseado no trabalho. O trabalho conectado à arte é banalidade”. Correto. Mas eu acrescentaria uma nova peça do quebra-cabeças. O sistema evoluiu e agora se baseia no não-trabalho. No sentido que inteiras gerações crescem e vivem com a miragem e a utopia de um trabalho digno de ser chamado como tal. Esse viver de ilusão criou uma nova ordem de escravos. Tomados pela fome, eles esmolam a entrada entre as fileiras dos devotos servos. A esperança é uma cadeia invisível que acorrenta pulsos e tornozelos.

Assim, até escrever, pintar, compor música ou qualquer outra forma de arte foi transmutada em trabalho. Nada mais banal. Por uma mente comprometida com essa condição, certamente, não pode sair nada de genial. A arte precisa de paz, amor e serenidade. Ao passo que hoje é esmagada por guerra, ódio e mera aparência. Os dons e as mentes excêntricas são devastadas e mortas pelas pesquisas de mercado. A cultura é aniquilada, estandardizada, tornada amorfa e prosaica. Ela também foi sacrificada no altar da banalidade. Hoje a instrução sistêmica cria fantoches, pessoas sem ideias individuais ou espírito crítico. São chocadas, desde a mais tenra idade, mentes condescendentes, desencantadas e comuns. Forjam-se inteiras gerações que nunca terão em si a semente da rebelião, pois foram envenenadas e tornadas inertes pela banalidade. E hoje, a liberdade vista com os olhos apagados da mediocridade, não é outra coisa senão a liberdade de escolher entre a coca cola e a coca cola light ou entre direita e esquerda ou entre um time e outro. Quem dá sinais de impaciência, quem sai fora dos esquemas, quem se eleva ou tenta elevar-se acima dos estereotipados canais é abatido, ridicularizado, etiquetado e isolado. Pelo sistema? Não, por suas criaturas. Hoje, quem criou esse monstro não precisa mais intervir (exceto para pequenos retoques ou modernizações). Trata-se de uma máquina que anda sozinha, em moto perpétuo, que se autorregula e autogera, eliminando os corpos estranhos.



Quem procura se desembaraçar das areias movediças do medíocre e silencioso viver é ressugado e colapsa inexoravelmente numa condição de associabilidade, que o torna facilmente distinguível, logo identificável, por cada membro do sistema. No reino da banalidade, a grandeza não é contemplada, mas hostilizada e degradada. A ditadura do capital não fez nada mais que amplificar e proliferar todo esse nada. O homem mercadoria é o que de mais banal se pudesse pensar. Uma maravilha da criação usada como mercadoria de troca. A competitividade formou um extremo e violento achatamento das condições de vida, banalizando o planeta e todos os seres vivos, equiparando o majestoso da vida ao abismo da morte dos sentidos. Porque, se a medida de juízo de um ser vivo é um pedaço de papel ou um numerinho na tela de um computador, reduziram o tudo ao nada e o nada em tudo. Pode existir algo de mais banal?

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