>> Mediocridade, por Giorgio Cattaneo


Mediocridade, por Giorgio Cattaneo

Fonte: Megachip
Tradução: Mario S. Mieli



Você olha em volta e vê quase só mediocridade. Canalhice, falta de respeito, ignorância. O amor pelo trabalho livre, bem feito: é coisa em vias de extinção. O prazer do trabalho bem feito, assim o chamava Primo Levi. Tudo é cansaço mental: desviar-se dos trilhos, agregar almas afins. Canseira interminável. Psicológica, mesmo antes que política.

Medos, dependências, preguiça. Fomos idiotizados com sabedoria, com método. Literatos, filósofos, poetas e teólogos tratam de termos como valores, dignidade. Um zoo de encarregados de trabalhos. Somos nós o zoo.

E, todavia: acho que a mediocridade é infalivelmente ofensiva. Há um desmazelo universal feito de imprecisão, intempestividade, aproximação. A banal, simples pontualidade foi banida. As palavras viajam rapidíssimas, mas não contêm quase mais nada. Há também os maus, inevitáveis, mas seriam pouca coisa se tivessem diante de si alguma coisa outra que esse zoo dos zombies. Cuja especialidade (salvo exceções, felizmente, não tão escassas) é uma mediocridade sepulcral, fruto – se diria – da ausência de qualquer pensamento, para motivar (por acaso) qualquer forma de necessária autodisciplina.

Medíocres produtores, medíocres industriais, medíocres consumidores. Medíocres usuários de medíocres narrações. Medíocre passado e medíocre presente – o futuro simplesmente não existe, mas se existisse seria ele também desoladoramente medíocre. Da mediocridade, Mario Monti veste somente a máscara.

Depois têm também os exaustos, os terminais, os desencorajados, os removidos. Os dissidentes conscientes. E são tantos. E estão cansados. Porque tudo aquilo que veem, em sua volta, é somente mediocridade. Um assédio apocalíptico, nunca antes visto.


Hitler, Stalin, Churchill, Mussolini, Roosevelt. Foram tudo menos que medíocres. Não podia ser medíocre Yurij Gagarin. Nem seu colega aviador Anatolij Grishenko, o piloto de helicóptero que se imolou (voluntário) para tapar o reator de Chernobyl. Medíocre é o diretor da Tepco, que mentiu sem pudor aos japoneses assustados por Fukushima.

Medíocre é o cálculo, medíocre é a mentira. Medíocre é quem presume saber, quem anseia em conhecer a opinião alheia com o único fim de manipulá-la. Nove em cada dez vezes, medíocre é quem bate à porta, quem faz tocar o telefone. E se não é medíocre, está conformado à mediocridade geral.

Medíocre é a mercadoria do supermercado, medíocre (e explorado) o trabalho de quem a produziu. Venenos medíocres, química medíocre, alimentos medíocres, como a existência de quem deles se alimenta. A mediocridade é perigosa, porque desativa os dispositivos de alarme e desabilita o cérebro. Dispensa a inteligência, a capacidade de escolher e de desejar.


É assustador o massacre da beleza realizado pela chamada arte contemporânea, perfeita mimesis do descartável industrial. Pura celebração do nada – e voluptuosa, também – de um descaramento de parada nazista, autoritária e canalha como a subcultura que a produziu.


A beleza permanece um perigo: a percepção da mesma necessita de silêncio seletivo, contemplação, escuta. Estamos entupidos de impulsos eletrônicos, como um exército em guerra: em teoria é para veicular informações; na prática, o excesso de hiper-informação obtém o resultado inverso, tornando-nos insensíveis e indiferentes. Vozes demais, nenhuma voz. O tempo é recodificado, preenchido, inundado de não-informações. E sem se chegar à fraude, aquela da chamada informação: que não só desinforma ativamente, mas dá às vítimas a ilusória sensação de estarem eficazmente informadas.

É muito pouco, definir tudo isso como mediocridade? Sei apenas isso: se alguém se relacionar com você de maneira não medíocre – amigo ou inimigo que seja – então obriga você a dar automaticamente o melhor de si, não o pior. Música medíocre, filmes medíocres, livros medíocres. Trata-se de um plano pré-estabelecido ou de uma simples consequência? É tão confortável a mediocridade. É uma espécie de anestesia, de droga psicotrópica. A reconstrução de uma estética alternativa não está razoavelmente ao alcance de nenhuma coalizão baseada em forças humanas independentes.

Como disse o velho Dylan em uma entrevista: “Admitamos: venceu Walt Disney. Portanto, perdemos todos”.

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