Vandana Shiva reenvia, através de tuite de fim de ano, a mesma mensagem lançada por ocasião da Semana para a Liberdade Alimentar e Liberdade das Sementes de outubro de 2013.
Transcrição traduzida: Mario S. Mieli
Estou no Banco de Sementes da Navdanya, onde por mais de 25 anos, com amor e cuidado, preservamos cada semente com que nos deparamos. É um lugar que me dá a maior alegria, a maior esperança, a maior paz.
Paz porque não há conflito aqui, nem entre as plantas, nem pelas plantas – a comunidade dedicada ao banco da semente, para ser compartilhada como bem comum.
Alegria porque a vida tem tudo a ver com alegria.
A arte de viver é arte de viver com alegria.
E esperança, porque há uma memória incrível em cada uma dessas sementes: memória da terra, memória de nossos ancestrais, memória de nossa evolução. E toda essa memória está para ser varrida do mapa pelas corporações em poucos anos, de modo que possam coletar royalties, através da modificação genética das sementes.
E é por isso que estamos lançando este apelo a vocês. Para se juntarem ao movimento pela liberdade da semente e liberdade de alimentação.
Particularmente, na quinzena de ação, de 2 de outubro, data de aniversário do Gandhi, até 16 de outubro, Dia Mundial da Alimentação, pela ONU.
Onde quer que vocês olhem, há leis sendo aprovadas tornando ilegal que as pessoas tenham soberania alimentar e soberania em termos de sementes.
A Comissão Europeia está tentando aprovar uma lei que torna ilegal possuir sementes locais. Na Colômbia, os cultivadores estão levando tiros nas ruas, porque o tratado de livre comércio EUA-Colômbia introduziu os direitos de propriedade intelectual sobre as sementes, ao passo que os colombianos acreditam que as sementes são parte de sua herança comum. Na África, há leis sobre “harmonização”, seja para direitos de patenteamento dos criadores seja como registro compulsório.
Diferentes maneiras para espremer a liberdade das sementes, espremer a liberdade dos cultivadores e espremer a liberdade dos cidadãos comuns, que gostariam de poder escolher com diversidade, de poder saber o que estão comendo. E por isso queremos leis de etiquetagem.
A batalha da etiquetagem na Califórnia foi perdida, com 40 milhões de dólares alocados por cada uma das indústrias.
Cada estado nos EUA, o povo quer o direito de ter uma liberdade muito simples: poder saber o que está comendo. Como é que as democracias não estão permitindo esses direitos fundamentais?
Gandhi nos ensinou que enquanto a ideia sobrevive, de que leis injustas devem ser obedecidas, então sobreviverá a escravidão. Por isso se recusou a obedecer às leis do apartheid sa África do Sul. Por isso Martin Luther King, há 50 anos, com a luta pelos direitos civis, falou de um sonho. Sonho de que cada pessoa seja livre. Livre de ser igual.
É esse o sonho que levamos adiante.
Sonho para cada espécie, cada borboleta, cada abelha, cada minhoca, cada organismo do solo… ser livre.
Cada semente, cada variedade de colheita, de evoluir livremente. O menor dos cultivadores e a mais pequena das crianças poder ter a liberdade de semear uma semente e de colher seus frutos a partir daquela semente, no futuro.
Então lançamos este apelo para que identifiquem as leis, em seus países, que estão suprimindo essa liberdade. Da terra, das espécies, dos seres humanos.
Vamos identificá-las. E, então, fazer o mesmo que o Gandhi fez com as leis do sal dos britânicos: Não Obedecer!
Os britânicos tentaram fazer do sal um seu monopólio. Gandhi foi à praia, catou o sal e disse: Faremos nosso próprio sal. Não vamos obedecer.
Leis injustas não devem ser obedecidas. E dia 2 de outubro de 2013 será um dia de comemoração. De não cooperação com leis injustas de escravidão das sementes, para ter liberdade para as sementes.
E em 16 de outubro, Dia Mundial do Alimento. Antes disso, em 12 de outubro, repetiremos a marcha contra a Monsanto, até suas portas, e lhe diremos:
Vocês podem comprar as Blackwaters do mundo, dispor de inteligência para assediar cada cientista e ativista, MAS NÓS NÃO TEMOS MEDO.
Não permitiremos que a Monsanto mande, por meio de leis feitas pela Monsanto. Para condicionar nossas sementes, nossa agricultura, nossa comida. Em 16 de out., a Monsanto vai se premiar a si mesma (World Food Award), por “salvar o mundo da fome”.
72% de todos os alimentos do mundo provêm de pequenos cultivadores. Os verdadeiros heróis da alimentação são jardineiros e pequenos cultivadores, nossas mães e avós, os cozinheiros da vizinhança, os cultivadores para vender nos mercados locais. Em 16 de outubro, vamos identificar e honrar os verdadeiros heróis da alimentação, que nos fornecem alimentos verdadeiros.
Vamos celebrar os presentes e a diversidade da natureza. Celebrar cada pessoa. Que contribui para um sistema alimentar seguro, sadio e nutricional.
Vamos celebrar nossa liberdade alimentar e em termos de sementes. E vamos nos comprometer em defendê-la, não importa quanto as corporações gostariam de se apropriar dele. Não vamos permitir isso.
E quando estamos juntos. Como uma só humanidade, cada um em seu próprio local, mas sendo todos UM na consciência, UM na solidariedade, Um em nosso compromisso comum de buscar a liberdade das sementes e a liberdade alimentar então nos tornamos UM PODER MAIOR que o das corporações brutais em busca de poder e de sua ditadura. Celebraremos com vocês!