>> A tirania do medíocre, por Claudio Cabona

A tirania do medíocre

Por: Claudio Cabona
Fonte: http://coriintempesta.altervista.org/blog/la-tirannia-del-mediocre/
Tradução: Mario S. Mieli


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Está na hora de se pegar nas mãos uma palheta de cores e pintar em cima desse cinza. Porque a nossa sociedade está sendo atravessada por uma revolução antropológica que transcende as classes sociais, transborda os particulares e as adesões, se alimenta e vive do lixo, da mediocridade.

Agora, do ventre das mulheres nasce um homem medíocre, estéril, que tem a tarefa de arrastar a multidão na homologação. Ao chegar no mundo estamos nus, sem vestidos reais ou sociais, somos como uma folha em branco. Mas depois, por força das circunstâncias, precisamos nos cobrir. O homem de hoje se mancha de cores escuras, que o façam passar despercebido, que o tornem travessia de vida. Cores fúnebres sugeridas por quem quer criar comportamentos contagiosos no interior do tecido social. O medíocre está entre nós. É ele a nova evolução humana.

É ele que nasceu como um homem, mas alimentado por banalidades, falsidades, sombras, sonhos destruídos, invejas, ignorância, tem a tarefa de eliminar a cor quente. De impor o cinza, de esmagar o voo da fantasia, de enjaular o ser. O sistema em que vivemos é governado por medíocres, se alimenta de mediocridade e quer colocar no mundo seus próprios similares. Um homem reduzido a viver na sombra, a nunca levantar a voz em nome da “sacralidade” do calmo viver, em dirigir-se a estradas já asfaltadas.

Indiferente. Ser primitivo, incapaz de drenar seu próprio destino, que aspira ao “menos pior”, que se contenta, que cerca e desestabiliza o coração de quem vive, e não só existe. Cortam os fundos da cultura, da escola, eles, os medíocres. Prosseguem com a institucionalização da precariedade, liquidam nossos patrimônios, tornam a realidade instável. Sempre eles, os medíocres. Para que a mente de quem ainda não é cinza apodreça, se corrompa e se aflija. Os medíocres querem a ignorância, o desconhecimento, a falta de certezas. Fatores que levam o homem ainda sadio, não crescido, lentamente, a se transformar. Criam sonhos de relojoaria que se esmigalham na hora do vamos ver, compactam, amassam, fecham em prisões mentais e tangíveis.

Criam números vestidos de indivíduos, recintados com o cartaz “medíocres”. Zombies sem espírito crítico, sem reivindicações. Querem que tudo seja a sua imagem e semelhança, eles que não sabem viver, que atuam no triste. Tudo isso para que possam governar.

A mediocridade é um modo de traçar a vida. Tornamo-nos medíocres quando nos adaptamos à situação, sofrendo os condicionamentos e nos entregando. O cinza toma conta do homem no momento em que se abandona ao lugar comum, quando não se coloca mais perguntas, não experimenta interpretar os eventos. Não é uma questão de papel social. Um intelectual, ou um artista, poderiam se revelar muito mais medíocres que uma pessoas “comum”.

É a profundidade com que nos aproximamos da vida que faz a diferença, a busca de uma verdade, o distanciamento dos medos. Um “anônimo” que valoriza cada instante e se conscientiza de uma qualquer coisa, já traçou uma linha colorida. O ser dono de suas próprias ações, reivindicando o próprio espaço vital, arranha o cinzento. É preciso ter a coragem de brandir a própria unicidade. O medíocre espera escondido, golpeia pelas costas quando avançamos, rasteja e infesta as mentes com sua perene derrota, a superficialidade, mas sobretudo com o limite. O que corta as pernas ao são é o limite.

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Achar que tudo seja impossível é mediocridade. Está na hora de pintar em cima desse cinza. Que se escreva, pelo menos uma vez na vida, uma poesia, que se persiga uma utopia mirando para além da barreira, que nos sintamos, de vez em quando, melhores. Está na hora de nos ferirmos caindo dos degraus mais altos, de ter um amigo imaginário, de sorrir sem motivo, de combater pelo futuro, de não ficar com as mãos no lugar, de gritar em uma praça, de mandar tomar no cu os próprios ídolos e aqueles dos outros, de dar um passo maior que a perna. Está na hora de sofrer de vertigem.

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