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DESESTRELANDO-NOS – um poema de desejo, estado da arte e desespero

Por Mario S. Mieli – maio de 2012




Foi assim,
reinventando-se a NECESSIDADE, e o SOLDO
para supostamente satisfazê-la que,
de conjuntos de átomos, moléculas e entes
SIDERAIS PARTICIPANTES
(mais ou menos autônomos, mais ou menos conscientes)
mas com potencial de FRUIÇÃO INFINITA,
fomos ficando simplesmente quase-autômatos DESEJANTES,
como os soldados de guarda
descritos no De Bello Gallico que ficavam, de turno, a
ESPERAR SOB AS ESTRELAS
a volta daqueles que tinham ido
combater durante o dia.

Por esse DESCOMPASSO,
essa carência de percepção
de que também nos movíamos, como as estrelas,
foi-nos roubado o ESPAÇO INFINITO DO VOO IMAGINATIVO e estipulado um mísero, codificado e usurário TEMPO.
Que passou a ser sempre o da espera da satisfação de alguma necessidade (que nunca é satisfeita).
E com ele, relogicamente
construídos artifícios para medi-lo: dogmas, firmamentos, emolumentos, temas e sistemas de uso e juras de juros.

A distopia foi imposta como utopia.
E do sidéreo sobrou só a esperança de nele também um dia implantarmos nossa corporativa, devastadora e simbionte ecologia distópica.

Enquanto o desejo for reduzido ao uso e abuso da pretensa necessidade de uma “realidade” pré-fabricada, crescerão como fungos parasitas as (anti-)éticas perversas transumanas e as (pseudo-)estéticas anestesiantes pós-humanas. (Como se delas fosse preciso, depois de tantas lavagens e rinsagens cerebrais)… Assimiladoras, pasteurizantes, devoradoras, predatórias, capital-canibalistas.

E, ao contrário dos soldadinhos do império de então,
não é sob os astros siderais que esperamos. É sob o ataque de rastros químicos, organismos transgênicos, franksteins da geoengenharia, nanopartículas invasivas e patogênicas, radiofrequências detonadoras, drones…

Involuímos de ESQUA-DRÕES a ESQUA-DRONES… de criaturas desejantes a entidades dedronantes

Nem mais esperar esperamos. Nos de-formamos con-formando-nos…

Impedidos de visualizar o horizonte infinito do desejo e de conceber INTENÇÕES fora do esquema, fomos forçados a nos contentar com celebridades-simulacro promotoras-títeres dos produtos que devemos desejar e dos comportamentos que devemos emular. É assim que continuam… objetificando-nos e

DESESTRELANDO-NOS…