PoeMario vasculhado 13 – Standard Oil Co. de Pablo Neruda
O poema, dos anos 40, faz parte de “Canto Geral”. Hoje a Standard Oil e algumas de suas “irmãs” trocaram de nome, metastasearam-se e prosseguem impávidas metastaseando-nos também.
Vídeo produzido pela: Four Seasons Productions
Tradução para o português do site português:
http://xatoo.blogspot.com/2008/07/standard-oil-company.html
Standard Oil Co.
Quando o barro se abriu passou
através da superfície pedregosa
e despejou o intestino implacável
vindo das reservas subterrâneas
de milhões de anos mortos, sem olhos,
sem idade, imersos nas raízes
das plantas encarceradas
e dos sistemas estratificados
agitaram-se extratos de água,
subiu o fogo pelos tubos
convertido em líquido frio,
nas alfândegas das alturas e
à saída do seu mundo
de profundidade tenebrosa
encontrou um pálido engenheiro
e um título de proprietário
Embora se bifurquem os caminhos
do petróleo, embora as ventosas
mudem silenciosamente de sítio
e movam a sua soberania
entre os ventres das terras
enquanto prepara o operador
as brocas com parafina
antes chegou a Standard Oil
com os seus contratos e as suas botas
com os seus cheques e seus fuzis
com os seus governos e os seus presos
Os seus obesos imperadores
vivem em Nova Iorque, são polidos
e meigos, assassinos sorridentes
que compram seda, nylon, charutos,
tiranetes e ditadores
Compram países, povos, mares,
polícias, deputados,
de longínquas comarcas onde
os pobres guardam o seu trigo
como os avaros guardam o ouro.
a Standard Oil desperta-os
veste-lhes uniformes, designa-lhes
qual é o seu irmão ou inimigo
e o paraguaio faz a sua guerra
e o boliviano desfalece
com a sua metralhadora na selva
Um presidente assassinado
por uma gota de petróleo,
uma hipoteca de milhões
de hectares, um fuzilamento
rápido pela manhã
mortal de luz, petrificada,
um novo campo de presos
subversivos, na Patagônia,
uma traição, um tiroteio
durante um patrulhamento,
uma mudança subtil de ministros
na capital, um rumor
como uma maré de azeite
e logo a debandada, e verás
como brilham, sobre as nuvens,
sobre os mares, sobre a tua casa,
as letras da Standard Oil
iluminando os seus domínios.
Original em espanhol:
Standard Oil Co.
Cuando el barreno se abrió paso
hacia las simas pedregales
y hundió su intestino implacable
en las haciendas subterráneas,
y los años muertos, los ojos
de las edades, las raíces
de las plantas encarceladas
y los sistemas escamosos
se hicieron estratas del agua,
subió por los tubos el fuego
convertido en líquido frío,
en la aduana de las alturas
a la salida de su mundo
de profundidad tenebrosa,
encontró un pálido ingeniero
y un título de propietario.
Aunque se enreden los caminos
del petróleo, aunque las napas
cambien su sitio silencioso
y muevan su soberanía
entre los vientres de la tierra,
cuando sacude el surtidor
su ramaje de parafina,
antes llegó la Standard Oil
con sus letrados y sus botas,
con sus cheques y sus fusiles,
con sus gobiernos y sus presos.
Sus obesos emperadores
viven en New York, son suaves
y sonrientes asesinos,
que compran seda, nylon, puros,
tiranuelos y dictadores.
Compran países, pueblos, mares,
policías, diputaciones,
lejanas comarcas en donde
los pobres guardan su maíz
como los avaros el oro:
la Standard Oil los despierta,
los uniforma, les designa
cuál es el hermano enemigo,
y el paraguayo hace su guerra
y el boliviano se deshace
con su ametralladora en la selva.
Un presidente asesinado
por una gota de petróleo,
una hipoteca de millones
de hectáreas, un fusilamiento
rápido en una mañana
mortal de luz, petrificada,
un nuevo campo de presos
subversivos, en Patagonia,
una traición, un tiroteo
bajo la luna petrolada,
un cambio sutil de ministros
en la capital, un rumor
como una marea de aceite,
y luego el zarpazo, y verás
cómo brillan, sobre las nubes,
sobre los mares, en tu casa,
las letras de la Standard Oil
iluminando sus dominios.