>> Se Occupy Wall Street assusta o The Economist – por Carlo Formenti

Se Occupy Wall Street assusta o The Economist

por Carlo Formenti



Fonte: Micromega 7 de janeiro de 2012
Tradução: Mario S. Mieli



A leitura do The Economist constitui um saudável exercício intelectual que consente sondar o humor dos chefões da economia global – humor que, ao se folhear os artigos do último número da revista, parece ter ficado negro.

O que preocupa os senhorios, diferentemente de quanto se poderia esperar, é, mais que o péssimo andamento dos mercados, a raiva que aumenta em todas as partes contra suas roubalheiras. A fúria dos 99% – para usar o slogan do Occupy Wall Street – é demais parecida com um saudável retorno do ódio de classe para não turbar o sono dos que formam o 1%, os quais, desse modo, encomendaram ao seu mais prestigioso órgão mundial, o lançamento de uma vigorosa campanha de “contrainformação”.

Uma campanha que parte com três artigos que, neste caso, se concentram no objetivo de defender a dignidade e o papel do maior centro financeiro global, a City de Londres. É um empenho comunicativo de trezentos e sessenta graus, que se esforça em tocar todas as cordas que possam influir na opinião do leitor: argumentação racional, apelo ao orgulho e ao interesse nacional (nesta circunstância, o inglês), até o bicho-papão de novas possíveis explosões de ódio racial. A racionalidade consistiria, como argumenta o maior dos três artigos, na necessidade de avaliar quais poderiam ser os efeitos da introdução de regras demasiadamente rígidas para as finanças, por parte dos governos.

Entre os inimigos mais temidos: a exigência para que os bancos separem os serviços comerciais a privados e empresas, dos investimentos de alto risco, a introdução de taxas elevadas sobre as transações financeiras, a introdução de vínculos rigorosos relativamente aos excessos de “criatividade” que apertaram o gatilho da crise global. Segundo o semanal, se trataria de remédios destinados a matar o doente, porque em vez de reequilibrar a economia a favor dos setores produtivos, agravariam o risco de recessão, estrangulando o crédito.

O segundo artigo procura acender o orgulho nacionalista britânico: atenção, assim está escrito, porque penalizar a City significaria atingir o único setor que, neste momento, permite à Inglaterra ser competitiva no mercado mundial (nem uma palavra, obviamente, sobre o fato de que o desastre inglês feito de desindustrialização, empobrecimento de uma boa terça parte da população, desemprego em massa, severos cortes ao bem-estar social, etc. afunda suas raízes justamente no sequestro de todos os recursos do País para entregá-los nas mãos dos senhores da City).

Enfim, a obra-prima: o ódio pelas finanças é antigo (certamente, e não por acaso!) e tem antecedentes ilustres nos sermões de Cristo, Maomé, e de quase todos os movimentos religiosos (exceto os luteranos e calvinistas que, “por sorte”, salvaram a situação), mas esse ódio é com frequência traduzido em ódio pelos grupos étnicos que, como os judeus, são os mais hábeis no desempenho dessa atividade. Ou seja: começa-se xingando os Goldman Sachs e os Rothschild e acaba-se pedindo a reabertura dos fornos crematórios.

É uma pena que quem desencadeou guerras de extermínio e cometeu crimes contra a humanidade não tenham sido movimentos como o dos Indignados, mas regimes totalitários que encarnavam os interesses de ferozes burguesias nacionais, e que exploravam ideologias chauvinistas e racistas para desviar o ódio dos proletários e dirigi-los contra falsos alvos.

De todo jeito, a corrente de mentiras, despistagens e desinformações vomitada pelo Economist, apresenta um mérito: nos faz entender que esses novos movimentos começam a provocar um medo real.

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