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Sociedades liberais – um coacervo de imbecilidades

Por Gianni Tirelli
Fonte: oltrelacoltre
Tradução: Mario S. Mieli

“A ignorância moderna é uma nova ciência que traduz as aspirações em bens de consumo”.
Antes da chegada desse liberalismo demente, a humanidade se regulava em função de um mecanismo perfeito, intrínseco ao projeto primitivo da criação, subdividindo em categorias as múltiplas diversidades que se auto/posicionavam ao interior de realidades especulares. E não só com relação ao estado sócio/econômico e nível cultural, mas conforme o impulso de paixões, ideais, sonhos, vocações e capacidade criativa, que colocavam o indivíduo bem além das fronteiras e dos limites dos vários estratos sociais, para se situar dentro de áreas espirituais especiais, que funcionavam como colante, interagindo com todo o resto da pirâmide social. O ignorante, bem diferenciado de antigamente, não somente era inócuo, mas como um certo tipo de colesterol, trazia benefícios ao intricado sistema social e aos seus fragilíssimos equilíbrios.
Com a revolução industrial, a ignorância se tornou óbvia, compartilhada, a um ponto tal que acabou se tornando a única condição para se ter acesso aos vértices do poder, sem que seja preciso título ou mérito – mas com base exclusivamente numa capacidade pessoal de falsificação, manipulação e mistificação que, devido aos modernos meios de propaganda midiática, produziu este inferno em que hoje se transfigurou a nossa realidade quotidiana.

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O liberalismo, através de seu plano de comercialização e de consumo em grande escala de cada bem produzido, pôs nas mãos da grande maioria dos medíocres e dos imbecis os instrumentos tecnológicos e midiáticos em virtude dos quais dar visibilidade à própria ignorância, ao ponto de transfigurá-la em doutrina e dogma. Por meio dessa operação de homologação das diversidades em um único bloco, a mediocridade teve uma ascensão devastadora, a qual, com o tempo, acabou se tornando uma verdade absoluta compartilhada, sendo ela mesma o produto mais unanimemente aprovado por velhos e jovens, e na qual a maior parte dos indivíduos, hoje, se reconhece, fazendo da mesma um baluarte de conquista social – um resgate da “pouqueza, da baixeza, da sordidez, da ineficiência e da inadequação” daquele estado de indolência e de sadia e devida marginalização que (desde sempre, e com razão) a lógica intrínseca às regras da natureza, tinha relegado às pocilgas da sociedade e evitado que ela se misturasse com as excelências intelectivas, culturais, humanas e filosóficas, esquivando assim toda forma de contaminação e degeneração. O indivíduo hiper/tecnológico, portanto, é o resultado de uma perversa operação de lavagem mental que, num breve tempo, se comprovou em caráter genético. A maior parte do seu cérebro, que por milhões de anos lhe consentiu sobreviver, adaptar-se e produzir conhecimento verdadeiro, não só ficou inativa, mas na grande maioria dos indivíduos ocidentais (novas gerações, em particular), está totalmente ausente.

Hoje a ignorância não é característica específica de uma classe social mas, nas sociedades industrializadas modernas, exprime a virulência na representação do poder político, econômico e midiático. Esses sujeitos, hoje sempre mais comuns, são em parte o produto de uma subcultura consumista e desresponsabilizante que, na potencialidade dos indivíduos a risco, encontra terreno fértil para atuar o seu projeto de homologação das consciências. Assim, não são mais capazes de conseguir alimento, de se aquecer, de produzir alimentos, de sofrer e de decidir. Um ser humano mutilado, inacabado, isento da mais remota forma de vontade que, como um infante egoísta e egocêntrico, recusa qualquer cansaço físico, responsabilidade individual e razão de consciência, tendo-se entregue, de corpo e alma, às garras do Sistema Patrão. Um homem que interpreta ao pé da letra as indicações do cartilha de instruções que o Sistema lhe entrega no momento de sua chegada ao mundo. Assim, as comodidades, que o Sistema lhe pôs à sua disposição o amoleceram, a ponto de reduzi-lo num estado de invalidez permanente. Nesse ser, ética, deontologia, moral e humanidade se extinguiram para sempre, privando-o assim da espiritualidade; um ser completamente manipulável, chantageável e corruptível.

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esta imagem, via zengardner

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