>> Mudança de regime: reimaginar o mundo além do capitalismo e do comunismo, por Arundhati Roy


Mudança de regime: reimaginar o mundo além do capitalismo e do comunismo

Por: Arundhati Roy
Fonte: adbusters 18 de fevereiro de 2013
Tradução: Mario S. Mieli




Aqui na índia, mesmo no meio de toda a violência e ganância, há ainda esperança. Se há alguém que pode conseguir isso, esse alguém somos nós. Ainda temos uma população que não foi completamente colonizada pelo sonho consumista.

Temos uma tradição viva daqueles que lutaram pela visão de sustentabilidade e autoconfiança de Gandhi, pelas ideias socialistas de igualitarismo e justiça social. Temos a visão de Ambedkar, que desafia com seriedade tanto os gandhianos quanto os socialistas. Temos a mais espetacular coalisão de movimentos de resistência, com suas experiências, compreensão e visão.

Sobretudo, a Índia tem a uma população sobrevivente de adivasi (aborígine) de quase 100 milhões de pessoas. São eles que ainda conhecem os segredos de uma vida sustentável. Se desaparecerem, levarão seus segredos consigo. Guerras como a Operation Green Hunt os fará desaparecer. Assim, a vitória para os promotores dessas guerras conterá em si as sementes de destruição, não só para os adivasi, como eventualmente para toda a raça humana. Por isso precisamos de um real e urgente diálogo entre todas essas formações políticas que estão resistindo a essa guerra.


imagem via mainstreamrevolution

O dia em que o capitalismo será forçado a tolerar sociedades não capitalistas em seu seio e a reconhecer os limites em sua busca de dominação, o dia em que será forçado a reconhecer que seu suprimento de matérias-primas não é infinito, será o dia em que a mudança virá.

Se há qualquer esperança para o mundo, ela não reside nas salas de conferência sobre mudança climática ou em cidades de arranha-céus. Ela vive ao nível do chão. Com seus braços em torno das pessoas que batalham a cada dia para proteger suas florestas, suas montanhas e seus rios, porque elas sabem que as florestas, as montanhas e os rios as protegem.

O primeiro passo em direção a reimaginar um mundo que deu terrivelmente errado seria parar com a aniquilação daqueles que têm uma imaginação diferente – uma imaginação que está fora do capitalismo e também do comunismo. Uma imaginação que tem uma compreensão completamente diferente daquilo em que constitui a felicidade e a realização.


imagem via mainstreamrevolution

Para obter espaço filosófico, é necessário conceder um certo espaço físico para a sobrevivência daqueles que podem se parecer com os guardiães de nosso passado, mas que poderão ser os guias efetivos de nosso futuro. Para isso, precisamos pedir aos nossos líderes: Daria para deixar as águas nos rios e as árvores na floresta? Daria para deixar a bauxita na montanha? Se eles disserem que não podem, então, talvez, deveriam parar de pregar moralidade às vítimas de suas guerras.

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