Amores Insólitos 26 – Benigni, o amor ao trabalho e sua versão do “Ama a teu próximo como a ti mesmo”
Transcrição traduzida do minuto 24:42 ao minuto 29:00 – Mario S. Mieli
Matteo Renzi e Roberto Benigni nel salone dei 500 il 15 giugno 2012
Dia 15 de junho de 2012, Roberto Benigni recebeu a cidadania honorária de Florença do prefeito Matteo Renzi, apesar de Benigni ser toscano e originário de uma cidade bem próxima de Florença.
No meio de um discurso cheio de ironia e exaltação, de críticas à política e amigáveis sarcasmos contra a nova idade média em que vivemos… Benigni passa a falar de trabalho, de Dante e de usura, de inferno e trabalho, de Cristo e de Amor…
[no minuto 24:42]
O trabalho, é, talvez, o ponto central da “Comédia” de Dante. Às vezes nos esquecemos, pois nos dirigimos aos grandes temas que atraem e fazem palpitar o coração. Mas ele parte do trabalho. Justamente no décimo-primeiro Canto, Dante trata da usura. Da usura e da especulação. Da coisificação. Daquilo que se tornou hoje e que nasceu justamente em Florença, quando alguém teve a ideia de que se podia ganhar, não trabalhando, mas “entre” o comércio das coisas, ou seja, nas finanças. Assim, falar de trabalho […] não é só a recompensa do cheque do salário, mas há um sentimento que Dante expressa muito bem. Dentro do cheque do salário, há uma recompensa muito mais misteriosa e secreta. Acharmos nós mesmos. A nossa identidade. E nos sentimos independentes de todo o mundo e do universo. É esse o grande mistério do trabalho. É um ponto fundamental, uma sacralidade, um direito. E a política que destrói esse direito é um sacrilégio… um trabalho que deveria ser amado.
[no minuto 26:20]
Deveria ser, de verdade, o primeiro ponto do programa de qualquer projeto político, fazer com que cada um ame o seu trabalho, o que é muito difícil, mas é a base de qualquer democracia e, digamos, de qualquer harmonia na nova sociedade que gostaríamos de fundar.
Citei isso porque isso é citado por Dante, mesmo que não pareça. E então, como cita isso, e fala da USURA, extrapolando-a, no meio de todos os pecados, porque senão não se veria. Imaginem, se ele não tivesse falado da especulação, aquilo que chegou aos nossos dias…
É um pouco como Jesus Cristo no Evangelho, Agora estou indo um pouco longe demais, mas já que falei disso, quando os apóstolos lhe perguntam qual é o mandamento mais importante, ele responde não um dos dez mandamentos, mas:
Ama ao teu próximo como a ti mesmo.
[…]
Poderia parecer que é preciso querer bem aos outros. Eh, eh, ele mostrou isso porque isso é espetacular. Nós nos esquecemos que quando ele diz Ama o próximo como a ti mesmo, prevê que a gente AME A SI PRÓPRIO. Essa é a grandíssima coisa.
Se nós não amamos a nós mesmos… [Obrigado, é um aplauso a Jesus Cristo… eu agradeço…] Mas se nós não amamos a nós mesmos, não podemos amar os outros.
Essa é uma coisa imensa… o que tem nessa frase.
Assim, quando cometemos alguma coisa digna do inferno dantesco, ou seja, o inferno das nossas vidas, que sabemos que nos conduz num inferno, pra baixo, e fazemos um ato ilegal, seja na relação com os outros como na relação com nós mesmos, sabendo que feriremos uma parte e que deixaremos de amar a nós mesmos… SE EU DEIXAR DE ME AMAR, ENTÃO DEIXAREI DE AMAR AOS OUTROS TAMBÉM, PORQUE AMAR OS OUTROS É COMO AMAR A SI MESMO. Então façamos as coisas direito, assim nos amaremos todos um pouco mais….