“ A era de Péricles”, Phillipp von Foltz, 1853
O DISCURSO POLÍTICO MAIS IMPORTANTE DA HISTÓRIA (com exceção daquele de Chaplin, no Grande Ditador), só que este não era ficção.
TALVEZ AINDA O MAIS MODERNO, apesar de pouco lido, entendido e praticado… mas sem o qual qualquer “eu acho que” em POLÍTICA e DEMOCRACIA não passam de mais tsunamis de papos-furados. O discurso, de 431 a.C. é um tapa na cara das TIRANIAS de hoje, que se maquiam de democracias. Como caímos e decaímos feio!!!
O discurso de Péricles
Discurso de Péricles sobre a democracia ateniense
General homenageou os guerreiros mortos na primeira batalha da guerra do Peloponeso
Era costume dos atenienses escolher alguém de sabedoria comprovada e reputação eminente para proferir um discurso fúnebre em homenagem aos mortos na guerra, após o seu sepultamento. Péricles, o grande general que comandou Atenas na guerra contra Esparta e reconhecido pela sua habilidade oratória, foi o escolhido para homenagear os guerreiros mortos na primeira batalha da guerra do Peloponeso.
Na ocasião, em 431 a.C., o general fez o elogio de Atenas e sua democracia, indicando assim que eles haviam morrido por uma causa nobre. Na época, Atenas vivia o ápice da democracia e o discurso, além de ser um dos maiores clássicos da oratória política, é também uma perene exaltação deste sistema de governo.
O discurso tornou-se, ao longo da história, um modelo adotado por oradores políticos para enaltecer o orgulho dos integrantes de uma comunidade – nação, cidade, instituição -, exaltando as virtudes e qualidades que a tornam superior ética e politicamente na comparação com outras.
Procedendo desta forma, o político demonstra sua capacidade de “entender o espírito” da sua comunidade, estabelece uma profunda “comunhão de sentimentos” com seus ouvintes e identifica sua imagem e sua pessoa com aquelas virtudes que são por todos admiradas. O discurso de posse de Kennedy, em 1960, é um exemplo típico do uso desta estrutura de discurso nos tempos modernos.
O DISCURSO
“Nossos homens públicos, além da política, possuem atividades privadas, e nossos cidadãos, ainda que ocupados nos seus negócios, são julgadores sensatos das questões públicas.”Depois de falar sobre a história de Atenas e suas glórias militares, Péricles apresenta as razões que explicam a grandeza da cidade.
“Mas qual foi a estrada que nos levou a atingir esta posição, qual a forma de governo sob a qual nossa grandeza desenvolveu-se, quais os hábitos nacionais que a geraram; estas são as perguntas que eu vou tentar responder antes de fazer o meu panegírico destes homens.
Nossa constituição não copia as leis de outros estados; nós somos um modelo para os outros e não imitadores. Nossa administração favorece aos ‘muitos’ ao invés dos ‘poucos’ e é por isso que é chamada de democracia.
Se olharmos as nossas leis, elas asseguram justiça igual para todos nos seus litígios privados; o progresso na vida pública depende da reputação de capacidade e as considerações sobre classes não podem interferir com o mérito; se um homem é capaz de bem servir ao Estado ele não é impedido pela obscuridade de sua condição.
A liberdade que gozamos no nosso sistema de governo estende-se também para a nossa vida em sociedade. Nós não exercemos uma invejosa espionagem uns sobre os outros (…) embora toda esta liberalidade nas relações privadas não nos torne cidadãos que não respeitam as leis.
Este temor(desobediência às leis) é a nossa principal salvaguarda. Ele nos ensina a obedecer aos magistrados e às leis, tanto as que estão impressas em documentos, como as que integram aquele código que, embora não seja escrito, não pode ser quebrado sem causar conhecidas desgraças(lei natural).
Guerra do Peloponeso foi motivada pelo conflito de interesses econômicos e políticos entre as duas cidades gregas mais importantes: Atenas e Esparta.
Além disso, nós nos proporcionamos meios em abundância para aliviar nossas mentes dos negócios e trabalhos. Celebramos jogos e sacrifícios durante todo o ano (…) ao mesmo tempo em que a importância de nossa cidade atrai a produção do mundo para nossos portos, de tal forma que, para o ateniense, os frutos de outros povos são luxos tão familiares quanto os que produzimos.
Nossa política em matéria militar também difere da de nossos antagonistas. Nós mantemos nossa cidade aberta para o mundo e nunca excluímos os estrangeiros da oportunidade de aprender e de nos observar, ainda que os olhos de um inimigo possam beneficiar-se ocasionalmente de nossa liberalidade.
Na educação, enquanto nossos rivais são treinados desde o berço para a guerra, em Atenas vivemos exatamente como queremos, e, assim mesmo, estamos preparados sempre para enfrentar qualquer desafio.
Mas não são apenas estes os pontos em que nossa cidade é merecedora de admiração. Nós cultivamos o refinamento sem extravagância e a sensibilidade sem efeminação; a riqueza, preferimos empregar para o uso e não para exibição.
Nossos homens públicos, além da política, possuem atividades privadas, e nossos cidadãos, ainda que ocupados nos seus negócios, são julgadores sensatos das questões públicas. Diferentemente de qualquer outra nação, nós não consideramos o cidadão que não participa das questões públicas como uma pessoa sem ambições e sim como um inútil.
Nós Atenienses somos capazes de opinar sobre todos os temas, e, ao invés de encararmos as discussões como um obstáculo para a ação, nós as consideramos como a preliminar indispensável para qualquer ação prudente e sábia.
Na generosidade também somos singulares. As amizades nós conquistamos fazendo favores e não os recebendo, e somente nós os atenienses, sem medo, outorgamos benefícios não por interesse e sim na expectativa da reciprocidade. Esta é a Atenas pela qual estes homens, na afirmação do seu desejo de não perdê-la, nobremente lutaram e morreram.”