>> Quis custodiet ipsos custodes? (Quem vigia os vigiadores?) Juvenal


Quis custodiet ipsos custodes? – famosa frase do poeta romano Juvenal (Quem vigia os vigiadores? Quem controla os controladores? Quem fiscaliza os fiscais? Quem governa os governos?)


Juvenal

“Ouse fazer coisas que possam até levá-lo à prisão, se quiser ser alguém consequente.” – Juvenal

Quis custodiet ipsos custodes?
Fonte: fórum do site comedonschisciotte.org
Tradução: Mario S. Mieli


As pessoas deveriam suspender por apenas quinze minutos (tranquilos… depois podem recomeçar à vontade) as próprias convicções ideológicas e, sobretudo, as respectivas etiquetas adesivas (capitalismo, liberalismo, comunismo, socialismo), ambas teorias mais ou menos válidas, mas cujas aplicações reais nunca tiveram nada que ver com elas, mas que foram, pelo contrário, univocamente das OLIGARQUIAS mais ou menos mascaradas. Liberalismo? Nunca existiu, mas o monopolismo sim, existe. Comunismo? Nunca existiu, mas o bolchevismo, o leninismo, o stalinismo sim, existiram, ou seja, oligarquias com um biombo de estado. Reflitam nos fatos.


Tentemos o liberalismo; que resultados obtemos?

Que tal o País da “liberdade” e dos “direitos humanos”? PRONTO, taí os EUA. Ali você pode até escolher em quem votar; em vez do malévolo Bush, o bom Obama “Yes we can”. “Peace”
Primeira medida, 750 milhões de dólares aos bancos, a segunda: dobrar o orçamento militar. Começou fazendo guerras em toda parte e lhe deram o Nobel da Paz. “Peace”. Liberdade? Um país com 8 milhões de prisioneiros ou “sob tutela” em 2011, ou seja, um país que tem 4% da população mundial e quase 30% de todos prisioneiros mundiais. Quando cairá a primeira emenda [da Constituição], já atacada diversas vezes, teremos uma satrapia completa. Leis que permitem prisões indiscriminadas já estão em vigor.
Bem estar? Um país com 50 milhões de pessoas – 1 em cada 6 – que hoje vivem de “food stamps” (cupons de assistência alimentar).
Culpa só da crise?

Às pessoas, acabaram de dizer-lhes (quanta gentileza!) que 1% (da população) detém 50% dos recursos, mas na realidade, 9/10 daqueles 50% estão nas mãos de apenas 60 famílias.


O que isso tem a ver com os Pais Fundadores? E com liberalismo? Nada. É uma oligarquia. E com o livre mercado? Nada, há somente monopólios e carteis no mundo, em todos os setores. O livre mercado é para as migalhas, para as pessoas comuns, que se matem tentando abocanhar os restos, com custos e benefícios cada vez mais reduzidos.

Não estão satisfeitos com o falso liberalismo dos EUA? PRONTO, temos logo a alternativa certa para vocês. O falso Comunismo ou Socialismo (jamais visto, na realidade) TESTADO. Partido único, assim nem precisamos nos cansar para votar numa falsa EX ou numa falsa DX ou num falso centro.

Que tal a China, então? Ótimo, uma cleptocracia com um número ainda menor de famílias de sátrapas que se comem os recursos, porque isso nunca muda. Estado de bem-estar social? Ninguém nunca viu. Aposentadoria? Nem se fala nisso, mas tudo é enfeitado de benefício ao mítico povo. Se voltarmos para trás, na URSS, onde entre as primeiras providências estava a abolição do direito de greve, desde o fim dos anos 20, tudo sempre para o bem do povo, nem é preciso dizer. Desmantelada a URSS depois de 70 anos, apareceram 7 Oligarcas, um detendo todo o gás, outro todo o aço, outro os fosfatos, etc…

As pessoas ficaram acostumadas com os filmes, com Harry Potter, e mesmo que tenham ficado sabendo dos OLIGARCAS, estão dispostas a crer que na realidade as coisas não sejam assim, que alguém possa sair de algum bueiro e passar a sentar-se, por exemplo, no trono do vértice de 166 empresas, assim, num golpe de mágica, de um dia para o outro. E que antes, pelo contrário, tudo pertencia “ao povo”.

As pessoas são mantidas divididas desde sempre: ou as nozes ou os dentes, e assim brigarão eternamente quanto a dois sistemas que, na realidade, nunca existiram, porque o que sempre existiu foram as oligarquias.



O controle exercido pelo povo, efetivamente, foi sempre só ZERO, em ambos os casos, esse é o problema e é também o truque. Por isso ao povo, “liberais ou socialistas” não lhe resta que ter esperanças no sátrapa mais bondoso, em vez do sátrapa mais malévolo. Mas esperar, esperar, esperar… não é uma coisa boa.

Depois, inculca-se neste povo que é culpa do “sistema”, como se uma economia completamente privada, escolas e serviços incluídos, não pudesse funcionar muito bem, igualmente para uma sociedade completamente estatizada, e ainda melhor numa mista. Assim passará de um sistema a outro, talvez pagando com sangue e sofrimento. E nada mudará, ou talvez só piorará, se a nova oligarquia for pior que a precedente.

O que deveriam fazer as pessoas que são atacadas há décadas com “culpa do liberalismo”, não, “culpa do comunismo”, etc… quando depois, independentemente do que tiverem, NUNCA TÊM O CONTROLE, que vai sempre aos poucos, sejam eles Grupos Privados ou Hierarcas de Partido, bancados por interesses privados, que nunca mudam.



É nisso que as pessoas deveriam se concentrar como objetivo, ou seja, no CONTROLE. Assim, o sistema melhor chegará sempre depois, há tempo depois para se brigar sobre o sistema (e acreditem, não muda muito, depois, se não é o assalto que está sendo feito agora), mas no entretempo, seja qual for o sistema escolhido, deve-se buscar o controle antes. Caso contrário, não serve para nada.
São duas as coisas principais.

A primeira é a informação (no sentido amplo, isto é, incluídas a educação, a escola, os programas). Porque a informação manipula as consciências como quiser. Controle não significa propriedade, mas lutar para adquirir o direito de controlar e inspecionar e ter canais dedicados, isto é, poder tornar as coisas públicas.


A segunda são as ações dos Governantes. Aqui também, não estamos falando de gestão, mas de controle e publicidade.

Quem deveria fazê-lo?
As pessoas comuns. Que devem ter apenas as competências necessárias.
E isso existe em abundância.

Mas como?

Normalmente, pensamos que seja suficiente eleger alguém. Mas se fosse assim, também aqueles que sempre elegemos fariam e teriam feito o interesse de todos, mas não é assim. Basta não ser cego para ver que, na melhor das hipóteses, satisfazem parcialmente os nossos interesses, mas muitíssimo mais satisfazem os interesses das elites. É verdade que nos resta algum poder de decidir, mas quanto a coisas menores, o suficiente para nos fazer crer que estamos numa democracia. [Por exemplo o tratado de Lisboa, sobre a Europa, sobre as providências pesadas em termos fiscais, sobre cortes, sobre liquidações de inteiros pedaços do Estado, etc… as pessoas nunca decidem nada e a esquerda e a direita votam compactos, ou quando mudam armam alguma farsa. E é difícil dizer que os interesses coincidam com aqueles do povo. Honestamente, não era a esquerda ou a direita, eram ambas responsáveis por essas coisas.]



A questão básica é que aqueles que elegemos fatalmente se aproximam da elite, aos interesses dessa elite, às suas lisonjas, que são muito apetecíveis, e algumas vezes, se emergir alguém como candidato, é porque foi bancado por jornais, TV, etc… ou seja, não por acaso ou pela qualidade que tiver.
De modo que aqueles que elegemos, mesmo aqueles que elegemos para controlar, ficam vulneráveis ou acabam em conflitos de interesses. Afinal, é humano, não devemos ficar surpresos, e nos indignarmos não serve para nada.
Está certo acreditar na boa fé e na honestidade, mas é ainda mais certo procurar ter certas cautelas.

A melhor solução é dupla. Por um lado, a curta duração dos cargos. Mas não é suficiente. (É o que se faz também nos bancos, para certos cargos, e os bancos conhecem o problema muito bem).
Por outro lado, que esses controladores populares não sejam eleitos.
Mas sorteados.
Oh! Pode parecer estranho formular a solução assim, porque sempre temos esse fogo sagrado que somos nós que elegemos, que somos democráticos… Mas a coisa melhor é ter uma lista muito mais ampla de pessoas (de todos os setores, mas que sejam pessoas de qualidade) disponíveis para assumir o encargo. E sortear um ou mais para cada departamento (consultores, mundo do trabalho, etc…). Um cargo de 2 anos de duração, não além disso, para evitar que se formem interesses estáveis. Pode ser que não teremos sempre o melhor. Talvez, mas ficaremos mais garantidos de que essas pessoas não se tornarão permanentemente “partidárias”, ou “compradas” de antemão.

É claro que seria uma grande mudança e, depois, sobretudo, podemos estar certos disso: se alguém levar adiante uma ideia factível (mas também aperfeiçoável) de controle popular e um método que evite conluios, certamente encontrará “defensores de liberdade” que aparecerão de toda parte e que se posicionarão firmemente contra. Isso é certo. Procurarão levar-nos ao velho esquema, seja a direita que a esquerda – ao falso liberalismo ou ao falso socialismo. E dirão: “Mas controlar para quê? Vocês não confiam em mim? Confiem, tudo o que faço é para o bem de vocês”.

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