Facebook: quando acionistas são “barrados da festa” certa, por Matt Taibbi, aquilatado com antiga criação de Eduardo Dusek
Por: Matt Taibbi
Fonte: Rolling Stone de 23 de maio de 2012
Tradução: Mario S. Mieli
Mark Zuckerberg, da California, tocando a campainha do New York Stock Exchange (“Ai, meu Deus do céu, me sinto tão feliz…” de Chico Buarque, Ópera do Malandro)
Uma ação judicial foi movida (1) pelos acionistas do Facebook contra Mark Zuckerberg, Facebook, Morgan Stanley e outros, baseada num conceito muito simples: quando analistas internos souberam que os resultados do Facebook seriam piores que o esperado, a empresa e seus banqueiros não contaram para todos, mas “divulgaram de modo seletivo” as informações a um grupo de “investidores preferenciais”.
Henry Blodget que, infelizmente, deveria saber dessas coisas, fez um bom sumário de toda situação (2) no programa ‘CBS This Morning’:
Eu estava no telefone, a noite passada, com um ex-Diretor-Presidente de um fundo de hedge (N. do T.: “Fundo especulativo”, produto da “finança criativa”) falando sobre isso. “Facebook”, disse ele, “é um exemplo colossal de um grande cassino do K-7 onde todos saem satisfeitos, exceto o ingênuo investidor comum.”
O que ele quis dizer com isso é que, praticamente a cada semana assistimos a histórias como essa, que mostram um sistema de mercado que funciona em dois níveis – no primeiro, a maior parte das ações ‘reais’ propriamente ditas acontecem ao interior de uma caixa preta ou zona fechada e sem regras, dentro da qual se movem os “encarregados” dos trabalhos, que não revelam as relações que existem entre eles, nem seus interesses., enquanto no segundo nível, movem-se todos os demais, ou seja, “os coitadinhos” comuns, que vivem num mundo rigidamente controlado, que deve continuamente analisar prospectos, preencher tabelas, elaborar relatórios trimestrais e assim por diante.
Todas essas histórias dão a sensação de que Wall Street esteja se tornando cada vez mais uma fábrica de favores e faz-de-conta gigantesca que permite deixar para trás todos os que não contam e onde os grandes bancos e os agentes ou “brokers”, que canalizam grandes fluxos de informações não públicas fundamentais (geralmente sobre o andamento dos mercados e, em particular, sobre seus clientes) fazem negócios também por conta própria e repassam informações somente “entre amigos selecionados”, os “investidores privilegiados” que, por sua vez, ajudam os bancos e as financeiras a moverem os mercados em uma direção ou outra, entrando e saindo da bolsa no momento certo.
Mais cedo ou mais tarde, alguém vai começar a compreender que um ou dois grandes bancos, agindo de acordo entre si e com o dinheiro de um sortimento selecionado de “investidores preferenciais e sem escrúpulos”, podem, pelo menos durante o tempo necessário, sustentar ou provocar a queda de qualquer coisa que bem entenderem, da Grécia à Bear Stearns ou à Lehman Brothers. E se é possível deslocar os mercados e, ao mesmo tempo, apostar contra eles, desse modo é impossível deixar de fazer um montão de dinheiro, feito às expensas de todos os “investidores não privilegiados”. Por isso deveríamos estar sempre prontos e sermos capazes de controlar que esse tipo de atividade coordenada e secreta não aconteça nunca.
Essa história sobre os títulos do Facebook é um exemplo perfeito disso. Parece que estamos revendo a mesma cena que ocorre em “Brain Candy”, onde o malévolo Diretor-Presidente de uma farmacêutica, Don Roritor, durante uma festa que estava dando em sua casa, leva o cientista mais prestigioso da empresa, Chris, dar uma passeio e, depois de dar uma volta em torno da piscina coberta, abrem uma série de portas que lhes dão acesso a uma outra festa, de completamente outro tipo.
“E essa, o que é?” pergunta Chris. “Mas é essa a festa verdadeira”, diz Roritor.
Notas:
(1) http://news.cnet.com/8301-1023_3-57439918-93/facebook-zuckerberg-sued-over-ipo/
(2) http://can.cbs.com/index.php?partner=can&pid=4GLCYh1h997x3_Yfbk6zFhV0VfkuXZvn&showMarque=false
Nota do tradutor:
Para “aquilatar” o artigo de Taibbi, que tal um momento “recordar é viver”, com “Barrados no Baile” de Eduardo Dusek?
Eduardo Dusek – “Barrados no Baile” (Fantástico, 1982)
Igualmente, recomendamos o artigo
>> No Aquário do Facebook: a resistível ascensão do Anarcocapitalismo – e-book do grupo Ippolita e crítica de Carlo Formenti
http://imediata.org/?p=1542