>> Financeirizando a desgraça humana – E A NIGÉRIA, VAI PRA QUEM? PRO GOLDMAN SACHS…

>> Financeirizando a desgraça humana – E A NIGÉRIA, VAI PRA QUEM? PRO GOLDMAN SACHS…

Fonte: comidad (de 26/01/2012 em Commentario 2012)
Tradução: IMEDIATA
28 de janeiro de 2012



Foi estabelecida uma nova moda, pela qual cada personalidade política ou institucional deve temperar seus discursos com inexoráveis denúncias contra o poder excessivo das finanças globais que, de “serviço relativo à produção”, tornou-se uma meta em si e uma função primária. Uma vez pronunciada a abstrata denúncia, pode-se voltar tranquilamente a obedecer os bancos.

O caso mais clamoroso dessa esquizofrenia consiste na questão de se inserir a obrigatoriedade do empate contábil do balanço na Constituição. Estranho que nenhum constitucionalista tenha sentido a necessidade de esclarecer que uma norma dessas é, por si mesma, anticonstitucional, pois um Estado que aceite transformar o empate contábil do balanço como escolha política vinculante, está, na realidade, se entregando como refém aos próprios credores. Tanto vale dizer, às claras, que a soberania pertence aos bancos.

Mas a contradição não está somente entre o que se diz e o que se faz. Até Mario Monti (N. do T.: atual primeiro ministro do governo italiano), durante o programa de TV “Che tempo che fa” (Que tempo está fazendo) recitou sua litania sobre a necessidade de se redimensionar o poder das finanças, sem contudo esclarecer como esse poder tenha sido estabelecido, e o que teria induzido os governos a executarem as escolhas que ‘financeirizaram’ todas as relações econômicas e sociais. Mas talvez Monti não precisava dizê-lo, pois ele mesmo é um dos maiores representantes do lobby bancário que se insinuou em todos os âmbitos nas instituições. Não ficou demonstrado que o governo do ‘Tangueiro de Arcore” (N. do T.: Berlusconi) tenha sido abatido por uma trama das finanças globais, nem se compreenderia o motivo de tanto esforço; ao passo que é bem demonstrável que, desde 1994, todos os governos italianos tenham estado sob o controle direto dos poderes financeiros internacionais. Estamos fazendo referência, só para começar, a Lamberto Dini, do Fundo Monetário Internacional, e que foi o ministro do Tesouro do primeiro governo Berlusconi e, depois disso, tornou-se Presidente do Conselho. Depois, é suficiente ver os nomes de Romano Prodi, Gianni Letta e Mario Monti, todos os três consultores do Goldman Sachs; podemos lembrar também de Mario Draghi, ele também do Goldman Sachs, nomeado governador do Banca d’Italia pelo segundo governo Berlusconi. E, enfim, vai uma citação também para Giuliano Amato, o qual, a posteriori, nos revelou sua ligação com o Deutsche Bank.

A força do lobby das multinacionais não consiste na estratégia, na planificação ou na visão a longo prazo, mas simplesmente na omnipresença e repetitividade do esquema, de modo que a ordem dos fatores pode mudar, mas o produto não muda. O esquema colonial se aplica indiferentemente a todos os Países, e sem muitas variações. Assim, não há de se estranhar se um Estado africano como a Nigéria, em março de 2010, também tenha se adequado à disciplina lobística, inserindo no governo um expoente do Goldman Sachs. A Nigéria está perto.



A notícia de que o Goldman Sachs ocupou o governo nigeriano também não constitui, portanto, um furo jornalístico; pelo contrário, teria sido um furo jornalístico caso a notícia tivesse sido oposta. Nada de se estranhar nem na notícia de que Robert Zoellick, ex- vice-presidente do Goldman Sachs, ex-vice-secretário de Estado sob Bush, e atualmente presidente do ‘Grupo’ Banco Mundial, tenha expressado apreciação pelo fato de que, em julho de 2011, a diretora geral do Banco Mundial, Ngozi Okonjo-Iweala, tenha voltado a fazer parte do governo nigeriano como ministra das Finanças. A notícia está no site do Banco Mundial.


Ngozi Okonjo-Iweala

De modo que não bastava o Goldman Sachs, era necessária também aquela outra longa ‘manus’ que é o Banco Mundial. Assim que chegou, Okonjo-Iweala chantageou o governo apresentando uma carta de demissão que, depois, deve ter sido retirada, posto que ela ainda aparece no cargo de ministra das Finanças. Na carta, Okonjo-Iweala aconselhava o governo de se recomendar a Deus. Muito profissional.

Hoje a Nigéria está nas primeiras páginas dos jornais devido às agressões islâmicas contra os cristãos; mas em 2008, a notícia era de que a Nigéria se encontrava em pleno desastre ecológico no delta do rio Níger, desastre esse causado pela multinacional Exxon. Mas o Delta do Níger é uma zona demais preciosa para a ganância das corporações, e lá nenhuma delas está faltando: Total e Eni, Exxon-Mobil, Shell, Chevron-Texaco, StatOil e, naturalmente, BP. A maior parte do petróleo nigeriano acaba nos EUA; as imensas reservas de gás do país foram queimadas com perfurações incompetentes e explosões que devastaram o país. Segundo estimativas aproximadas por default, mais de 400 milhões de litros de petróleo acabaram no delta. A manutenção das instalações é feita com economia, assim, quando há perdas, as empesas acabam se safando e falam de sabotagem. Todas as corporações engajam tropas paramilitares que, com a desculpa de defender as instalações das sabotagens, agridem a população de maneira sistemática; os mercenários forçaram a fuga de milhares de pessoas de seus vários vilarejos.

A população nigeriana, estimada em cento e cinquenta e cinco milhões de habitantes, é forçada a viver na miséria, enquanto a Nigéria é o oitavo ou o nono país exportador de petróleo. Um dos desastres ambientais mais recentes foi provocado pela Shell, cujos gerentes atribuíram o rompimento de algum tubo a “ladrões” (quem sabe estivessem se referindo, veladamente, a si próprios).

A outra notícia era de que as autoridades nigerianas não conseguiam tomar qualquer providência para controlar a extração do petróleo, e isso por causa da atividade de lobby da British Petroleum.

O governo nigeriano, tomou, em vez disso, outras providências, além daquelas de incorporar o Goldman Sachs e o Banco Mundial ao governo. Cabe assinalar, efetivamente, a instituição de um fundo federal para enfrentar a volatilidade dos preços do petróleo; em volta desses recursos financeiros, surtou o lobby do Goldman Sachs e do JP Morgan, com a finalidade de obter a concessão da gestão do fundo. A imprensa africana difundiu a notícia com preocupação, destacando as resistências que esta perspectiva teria causado na Nigéria, em outubro do ano passado.

A outra medida tomada pelo governo, aliás, tomada diretamente pela ministra das Finanças Okonjo-Iweala, é muito “montiana”; e diz respeito, efetivamente, ao aumento do preço dos carburantes, que está causando um movimento de protesto sindical muito forte e amplo na Nigéria. Sobre esse assunto, a ministra das Finanças concedeu uma entrevista à Al Jazeera.

Só que agora, a respeito da Nigéria, não se fala mais de desastres ecológicos causados pela Exxon ou pela Shell, nem do lobby da BP, do Goldman Sachs e do JP Morgan, nem do protetorado imposto pelo Banco Mundial, e nem do grande movimento de protesto sindical, mas da guerra civil entre muçulmanos e cristãos, e da perspectiva de secessão do País, entre o sul cristão e o norte islâmico. Todo esse lobby e o envio de uma emissária do Zoellick, quem sabe por que?, não trouxeram nada de bom para a Nigéria. Aliás, o que pode haver de melhor que um conflito étnico-religioso para neutralizar um movimento de protesto sindical?



O indispensável complemento do lobby é, de fato, a psywar, a guerra psicológica: não basta infiltrar um País, é preciso confundir-lhe as ideias criando falsos inimigos. Vejam só que coincidência, a CIA tinha previsto que as coisas não teriam ido muito bem para a Nigéria. Há cinco anos, um relatório da CIA profetizava que a Nigéria não teria mais que dez anos de vida como Estado unitário. Essa notícia também foi retomada pela imprensa africana nesses dias de guerra civil na Nigéria.

Obviamente, o relatório da CIA tinha um escopo meramente científico, e não seria lícito suspeitar de nenhuma ação por parte da própria CIA no sentido de fomentar a guerra civil na Nigéria. Nem é permitido levantar-se a hipótese de que todos aqueles mercenários a serviço das multinacionais tenham algo a ver com as agressões.


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