>> O cerco – A democracia presa na armadilha do neoliberalismo, por Noam Chomsky


O cerco – A democracia presa na armadilha do neoliberalismo

Por: Noam Chomsky, entrevista para o documentário de Richard Brouillette – Trecho 5/5
Tradução: Mario S. Mieli

O cerco – A democracia presa na armadilha do neoliberalismo
L’encerclement – La démocratie dans les rets du néolibéralisme (5/5)

É chocante ver até que ponto cada elemento do “pacote” neoliberal foi concebido para minar a democracia.
Fala-se pouco disso. E só olhamos para os efeitos econômicos.
Mas pensem nisso… Tomem como exemplo a globalização financeira.
Para Keynes, o maior sucesso do sistema de Bretton Woods, o sistema do pós-guerra, foi a regulamentação dos mercados financeiros. E há uma razão. Isso cria espaço para os governos empreenderem programas apoiados pela população.
Se não houver limites para a circulação de capital, então podem-se atacar livremente as moedas. Isso cria o que certos economistas às vezes chamam de “parlamento virtual de investidores e emprestadores que pode” , – e aqui cito a documentação técnica – “votar a cada instante as políticas do governo”.
Se eles acreditam que as políticas são irracionais, eles podem votar contra elas, simplesmente retirando os capitais ou atacando as moedas, etc.
As políticas consideradas irracionais são aquelas de que se beneficia o povo, mas que não aumentam os lucros ou o acesso aos mercados, etc.
Assim os governos enfrentam simultaneamente o que se chama de “eleitorado duplo”: sua população e o “parlamento virtual”. É geralmente o parlamento virtual que ganha, sobretudo nos países pobres. Nos países ricos, é um pouco mais nuançado. Sobretudo porque não aceitaram o “pacote” neoliberal tão integralmente como, por exemplo, na América Latina mas, apesar de tudo, os efeitos são imprevisíveis. E o mesmo vale para os outros elementos do programa neoliberal. Por exemplo, a privatização, que se tornou um mantra.
Por definição, a privatização destrói a democracia. Ela retira algo que pertence ao domínio público para colocá-lo nas mãos de tiranias privadas isentas de qualquer confiabilidade e que são criadas e sustentadas pelo Estado – é isso que são as corporações.

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