Um frango não é um frango



Por: Gianni Tirelli
Fonte: stampalibera 28/05/2013
Tradução: Mario S. Mieli




Tudo aquilo que, na realidade, compramos e consumimos mecanicamente no mercado do Grande Malfeitor, não é mais que a falsificação sistemática de algo que parece vagamente com a sua forma original mas que, em substância, é um concentrado de estrogênios, hormônios, fertilizantes, antiparasitários, antibióticos, “melhoramentos”, pesticidas, aromas sintéticos, corantes, conservantes e toxinas concentradas.



Assim, um frango não é um verdadeiro frango, mas uma mina vagante pronta a detonar o nosso sistema nervoso e a desestabilizar o sistema imunitário, porque incapazes de decifrar e codificar a real natureza dos novos intrusos e de reagir em consequência. Tal frango, que não viveu feliz ciscando livre entre gansos, patos, cães, coelhos e gatos, mas atrás de grades frias e angustiantes de um nicho metálico, bicando lixo industrial sob uma luz cegante de uma lâmpada halogênica. Como pensamos poder ficar belos, fortes, em forma e felizes ingurgitando tais diabruras? Mas o exemplo do frango pode ser estendido a qualquer bem e produto, seja animal, vegetal ou tecnológico. Todos nós, na verdade, somos aquele frango! Tristes e apáticos, indolentes e flácidos, frustrados e reprimidos, constrangidos dentro de um limbo gelatinoso, repleto de paranoias, ânsias e hipocondrias. Uma vida aparente marcada a cada hora do dia por achaques e mal-estares de todo tipo e gênero, e pelos efeitos psicossomáticos da ansiedade. Para tanto, toda essa montanha de merda podre que, com inédita crueldade, o Sistema Besta (a despeito de todo princípio ético e deontológico), faz passar por boa e feita com “o amor caseiro da avó”, acabam por se enfuriar contra a nossa existência e quotidiano, aguçando o nosso desconforto físico, moral e psicológico.



É nesse ponto que o Sistema extrai seu enésimo coelho do cilindro das ilusões, indicando-nos o novo milagroso fármaco ao qual deveremos recorrer, piorando ulteriormente nossa condição patológica e nos induzindo ao vício. Enquanto isso, as empresas farmacêuticas engordam suas imundas vísceras e a nossa vida se consuma no meio de um frio oceano feito das mais díspares ansiedades, angústias e fobias. Os médicos de turno embolsam sua miserável comissão à espera de um novo, inútil, nocivo fármaco a ser patrocinado.

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