Corredores de um despasseio

Por Mario S. Mieli
2 de outubro de 2012



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Por que vim?
Por que vou?
– ouvi que se perguntavam mudos e inconscientes

Que há aqui?
Que há lá?
– percebi que perscrutavam as alas desmotivados e distraídos

Para abafar que medo compro?
Para mentir qual necessidade carrego?
– li em suas mentes turvas e entorpecidas por tantos ecos de blá-blá-blá

Por que corredores despasseio?
– pensavam isso, todos e cada um, com compulsiva pressa e pretenso enfado, embora desejassem indizivelmente que desabassem firmamento e teto e despencasse o mundo com todas as suas prateleiras de produtos enfileirados e codificados em suas cabeças ocas e inoperantes formando intermináveis filas

Serás tu

O super-mArcado

solidão asfixiante e engradada
rotineiramente empilhada junto a tantas outras
engendradas à espera de um pronto-anti-socorro
que é a voracidade de alguém manipulado para acreditar

fundo

ou desacreditar levianamente

num frustrar-se, hipnótico,
com mais esse enlatado

que sou

Cru e cruel
Preservado em meu poder de contaminação
Desesperado, porém, razoavelmente almejado
Pronto para ser passado pelo caixa
E, à minha revelia,
ter meu preço consultado, identificado, revelado e registrado por

algum leitor

Meu código de barras me trai e me despede desvalorizado do recinto
Indiferente

Desejo [de abundante abandono ou aniquilação] indeferido

Perco-me como item na lista de uma ínfima nota fiscal
de cujo total se desconta
vulneravelmente ressuscitante
algum obscuro vestígio de troca
alguma remota ideia de um possível despertar

me carregarás para a tua despensa
onde não será difícil me enferrujar
e oxidar teu estúpido anseio de guardar, de ser previdente, de sobrevivência.

Continuarei sendo
para mim e para ti
o precioso não-produto
que deteriora junto ao próprio invólucro
e te danifica
e também
a perene e viva lembrança de
um desencanto,
um sempre aquém do além,
um quem sabe algum dia,
nada mais que um frugal e quase despercebido
volume
de cumulativa incomunicabilidade.

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