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Roubo econômico em escala sem precedentes.
A Grécia é um microcosmo de uma guerra de classes moderna raramente reportada como tal.

Fonte: Global Research , May 20, 2010 / NewStatesman

Tradução: Imediata

Embora a classe política britânica pretenda que seu casamento de interesses entre partidos praticamente indistinguíveis seja democracia, a inspiração para o restante de nós é a Grécia. Não surpreende o fato de que a Grécia seja apresentada não como um farol, mas como um “país esfarrapado”, obtendo seu crescimento por meio do seu “setor público inchado” e sua “cultura de aparar as arestas” (Observer). A heresia da Grécia é que o levante de seus cidadãos comuns fornece uma esperança autêntica, ao contrário daquela profusamente desperdiçada pelo senhor da guerra na Casa Branca.

A crise que levou ao “resgate” da Grécia pelos bancos europeus e pelo Fundo Monetário Internacional é o produto de um grotesco sistema financeiro que está, ele mesmo, em crise. A Grécia é um microcosmo de uma guerra de classes moderna, raramente reportada como tal, mas declarada com toda a urgência do pânico entre os ricos imperiais.

O que torna a Grécia diferente é que ela experimentou, num período que a memória permite recordar, invasão, ocupação estrangeira, ditadura militar e resistência popular. Os cidadãos comuns não se intimidaram com o corporativismo corrupto que domina a União Européia. O governo de direita de Kostas Karamanlis que precedeu o governo Pasok (trabalhista) de George Papandreou foi descrito pelo sociólogo Jean Ziegler como “uma máquina de pilhagem sistemática dos recursos do país”.

Roubo épico

A máquina tinha amigos infames. O conselho do US Federal Reserve está investigando o papel da Goldman Sachs, que apostou na bancarrota da Grécia, enquanto os ativos públicos eram liquidaddos e os ricos evasores fiscais depositavam € 360 bilhões em bancos suíços. Esta hemorragia de capital continua, com aprovação dos bancos centrais e governos europeus.

Ao nível de 11 por cento, o déficit orçamentário da Grécia não é superior ao dos EUA. Entretanto, quando o governo Papandreou tentou obter empréstimos no mercado de capitais internacional, foi eficazmente bloqueado pelas agências de classificação de risco do EUA, que “rebaixaram” a dívida grega à classificação de “junk” – LIXO. Essas mesmas agências deram classificações triple-A (A-tripla) para bilhões de dólares das chamadas obrigações hipotecárias sub-prime, precipitando, assim, o colapso econômico de 2008.

O que aconteceu na Grécia é um roubo numa escala épica, embora não de todo não familiar. Na Grã-Bretanha, o “resgate” de bancos como o Northern Rock e o Royal Bank of Scotland custou bilhões de libras. Graças a Gordon Brown e à sua paixão pelos instintos avaros da City, esses presentes de dinheiro público foram incondicionais, e os banqueiros continuaram a se remunerarem com a pilhagem que eles chamam de bônuses, e a evadi-los para paraísos fiscais. Sob a monocultura política da Grã-Bretanha, eles podem fazer como quiserem. Como foi reportado pelo jornalista investigativo David DeGraw,os principais bancos de Wall Street, que “destruíram a economia”, pagam zero de impostos e obtêm US$ 33 bilhões em reembolsos”.

Na Grécia, como nos EUA e na Grã-Bretanha, foi dito aos cidadãos comuns que eles têm que pagar pela dívida dos ricos e poderosos que as contraíram. Postos de trabalho, aposentadorias e serviços públicos devem ser eliminados e queimados, com os privatizadores no comando. Para a UE e o FMI, se apresenta a oportunidade de “mudar a cultura” e desmantelar a estrutura de bem-estar social da Grécia, da mesma forma como o FMI e o Banco Mundial aplicaram seus “ajustes estruturais” a países (empobrecidos e controlados) em todo o mundo em desenvolvimento.

A Grécia é odiada pela mesma razão que a Iugoslávia tinha que ser destruída fisicamente, sob a alegação de proteger o povo do Kosovo. A maioria dos gregos são empregados pelo estado, e os jovens e os sindicatos formam uma aliança popular que não foi pacificada; os tanques dos coronéis no campus da Universidade de Atenas, em 1967, permanecem um espectro político. Tal resistência é anátema aos banqueiros centrais da Europa, que a consideram uma obstrução à exigência do capital alemão de capturar mercados, depois da problemática reunificação da Alemanha.

Terapia de choque

Na Grã-Bretanha, essa tem sido a propaganda há 30 anos de uma teoria econômica extrema conhecida antes como monetarismo, e depois, neoliberalismo, que o novo Primeiro Ministro pode, como seu antecessor, descrever suas demandas de que os cidadãos comuns paguem as dívidas dos escroques, como “fiscalmente responsáveis”. O que não se menciona é a pobreza e a classe.

Quase um terço das crianças da Grã-Bretanha estão abaixo da linha de alimentação mínima desejável. No bairro operário de Kentish Town, em Londres, a expectativa de vida para os homens é de 70 anos. Já em Hampstead, distante somente duas milhas, é de 80. Quando a Rússia foi sujeitada a uma “terapia de choque” similar, nos anos 1990, a expectativa de vida despencou. Nos Estados Unidos, um número recorde de 40 milhões de pessoas não são capazes de se prover de alimentos.

No mundo em desenvolvimento, um sistema de triagem imposto pelo Banco Mundial e pelo FMI determinou há muito tempo se as pessoas podem viver ou devem morrer. Sempre que se eliminam tarifas e subsídios alimentares e de combustíveis, como imposição do FMI, os pequenos cultivadores sabem que foram considerados descartáveis. O World Resources Institute estima que o custo se situa entre 13 e 18 milhões de mortes, a cada ano. Isso, conforme escreveu o economista Lester C Thurow: “não é nem uma metáfora nem algo parecido com uma guerra, é a própria guerra”.

As mesmas forças imperiais que têm usado armas monstruosas contra países atacados onde as crianças são a maioria da população, e que aprovaram a tortura como um instrumento de política de relações exteriores. É um fenômeno de puro estado de negação que nenhum desses ataques contra a humanidade, nos quais a Grã-Bretanha está ativamente engajada, tenha sido permitido de fazer parte integrante da eleição britânica.

O povo nas ruas de Atenas não sofre desse “malaise”. Eles sabem muito bem quem é o inimigo e se vêem, mais uma vez, sob ocupação estrangeira. E mais uma vez, estão se revoltando, com coragem. Quando David Cameron começa com um corte de £ 6 bilhões nos serviços públicos da Grã-Bretanha, ele logo estará regateando que o ocorrido na Grécia não acontecerá na Grã-Bretanha. Provaremos que ele está errado.

Grotesque Global Financial System: Greece. Economic Theft on an Unprecedented Scale
Greece is a microcosm of a modern class war rarely reported as such.

by John Pilger

Global Research , May 20, 2010

NewStatesman

As Britain ‘s political class pretends that its arranged marriage of Tweedledee to Tweedledum is democracy, the inspiration for the rest of us is Greece . It is hardly surprising that Greece is presented not as a beacon, but as a “junk country” getting its comeuppance for its “bloated public sector” and “culture of cutting corners” (Observer). The heresy of Greece is that the uprising of its ordinary people provides an authentic hope unlike that lavished upon the warlord in the White House.

The crisis that has led to Greece ‘s “rescue” by European banks and the International Monetary Fund is the product of a grotesque financial system that itself is in crisis. Greece is a microcosm of a modern class war rarely reported as such, but waged with all the urgency of panic among the imperial rich.

What makes Greece different is that it has experienced, within living memory, invasion, foreign occupation, military dictatorship and popular resistance. Ordinary people are not cowed by the corrupt corporatism that dominates the European Union. The right-wing government of Kostas Karamanlis that preceded the present Pasok (Labour) government of George Papandreou was described by the sociologist Jean Ziegler as “a machine for systematically pillaging the country’s resources”.

Epic theft

The machine had infamous friends. The US Federal Reserve board is investigating the role of Goldman Sachs, which gambled on the bankruptcy of Greece as public assets were sold off and its tax-evading rich deposited €360bn in Swiss banks. This haemorrhaging of capital continues with the approval of Europe ‘s central banks and governments.

At 11 per cent, Greece ‘s budget deficit is no higher than America ‘s. However, when the Papandreou government tried to borrow on the international capital market, it was effectively blocked by the US corporate ratings agencies, which “downgraded” Greek debt to “junk”. These same agencies gave triple-A ratings to billions of dollars in so-called sub-prime mortgage securities and so precipitated the economic collapse in 2008.

What has happened in Greece is theft on an epic, though not unfamiliar, scale. In Britain , the “rescue” of banks such as Northern Rock and the Royal Bank of Scotland has cost billions of pounds. Thanks to Gordon Brown and his passion for the avaricious instincts of the City, these gifts of public money were unconditional, and the bankers have continued to pay each other the booty they call bonuses and to spirit it away to tax havens. Under Britain ‘s political monoculture, they can do as they wish. In the US , the situation is even more remarkable. As the investigative journalist David DeGraw has reported, the principal Wall Street banks that “destroyed the economy pay zero in taxes and get $33bn in refunds”.

In Greece , as in America and Britain , the ordinary people have been told they must repay the debts of the rich and powerful who incurred them. Jobs, pensions and public services are to be slashed and burned, with privateers put in charge. For the EU and the IMF, the opportunity presents to “change the culture” and to dismantle the social welfare of Greece, just as the IMF and the World Bank have “structurally adjusted” (impoverished and controlled) countries across the developing world.

Greece is hated for the same reason Yugoslavia had to be destroyed physically behind a pretence of protecting the people of Kosovo. Most Greeks are employed by the state, and the young and the trade unions comprise a popular alliance that has not been pacified; the colonels’ tanks on the campus of Athens University in 1967 remain a political spectre. Such resistance is anathema to Europe ‘s central bankers and regarded as an obstruction to German capital’s need to capture markets in the aftermath of Germany ‘s troubled reunification.

Shock therapy

In Britain , such has been the 30-year propaganda of an extreme economic theory known first as monetarism, then as neoliberalism, that the new Prime Minister can, like his predecessor, describe his demands that ordinary people pay the debts of crooks as “fiscally responsible”. The unmentionables are poverty and class.

Almost a third of British children remain below the breadline. In working-class Kentish Town in London , male life expectancy is 70. Two miles away, in Hampstead, it is 80. When Russia was subjected to similar “shock therapy” in the 1990s, life expectancy nosedived. In the United States , a record 40 million cannot afford to feed themselves.

In the developing world, a system of triage imposed by the World Bank and the IMF has long determined whether people live or die. Whenever tariffs and food and fuel subsidies are eliminated by IMF diktat, small farmers know they have been declared expendable. The World Resources Institute estimates that the toll reaches between 13 and 18 million child deaths every year. This, wrote the economist Lester C Thurow, is “neither metaphor nor simile of war, but war itself”.

The same imperial forces have used horrific weapons against stricken countries where children are the majority, and approved torture as an instrument of foreign policy. It is a phenomenon of denial that none of these assaults on humanity, in which Britain is actively engaged, was allowed to intrude on the British election.

The people on the streets of Athens do not suffer this malaise. They are clear who the enemy is and regard themselves as once again under foreign occupation. And once again, they are rising up, with courage. When David Cameron begins to cleave £6bn from public services in Britain , he will be bargaining that Greece will not happen in Britain . We should prove him wrong.

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