>> O ataque à República do Equador. Eis o porquê de Londres, por Sergio Di Cori Modigliani


O ataque à República do Equador. Eis o porquê de Londres.
Por: Sergio Di Cori Modigliani
Fonte: sergiodicorimodiglianji.blogspot.it de 18 de agosto de 2012
Tradução: Mario S. Mieli




Hoje falamos de geopolítica e de livre informação na rede.
Tudo o que está acontecendo hoje, tecnicamente (no sentido de “politicamente”) começou no dia 12 de dezembro de 2008. Segundo outros, por outro lado, teria começado em setembro daquele ano. Mas seriam necessários pelo menos quatro anos antes que a onda de choque chegasse na Europa e nos EUA.
Talvez seja melhor começar pelo início, para explicar os acontecimentos.
Aliás, é melhor começar pelo fim.
Com alguma pergunta específica que, – é muito provável – poucos na Europa se fizeram.
Refiro-me aqui à questão de Jules Assange, Wikileaks, e a República do Equador.


Jules/Julian Assange na embaixada do Equador em Londres, ontem

Por quê o caso explode hoje?
Por quê Jules Assange escolheu um minúsculo, embora pacífico estadozinho da América do Sul que conta pouco ou nada?
Por que razão a coroa do império britânico perde a cabeça e se faz esbofetear diante do mundo todo por um certo Senhor Patino, ministro das Relações Exteriores do Equador, para os euro-atlânticos um verdadeiro Senhor Ninguém, o qual deu uma tal resposta à super elite planetária (ou seja, ao Foreign Office de Sua Majestade) que, há cinco anos teria produzido somente homéricas risadas de pena e desprezo, enquanto hoje os constringe a rascunhar, se retratarem e se desculparem perante o mundo inteiro?
Por quê o Equador? E por quê agora?


Rafael Correa, presidente do Equador

Tudo era mais que previsível, além de tido como certo.
Explicando: era garantido, em todo o continente americano, na Austrália, na Nova Zelândia, na Dinamarca, nos países escandinavos. Na Europa e em Washington pensavam que o mundo fosse o mesmo de dez anos atrás. Porque a Europa – e sobretudo a Itália – é 100% eurocêntrica, vive sob um constante bombardeio midiático semi-ditatorial, não tem a mínima ideia daquilo que acontece no resto do mundo, mas (o que conta mais) pensa ainda como em 1812, ou seja: “se a Europa desmorona, desmorona o mundo inteiro; se o euro desmorona e a Europa se desintegra, desaparece a civilização no mundo” e raciocina ainda em termos coloniais. Mas o mundo não funciona mais assim. Na Itália, por exemplo, ninguém está informado sobre a disputa (que está se tornando uma rixa) entre o Brasil e a ONU, mal gerenciada por Christine Lagarde, a pessoa que preside o Fundo Monetário Internacional, e que gira em torno da aplicação base de um conceito formal, banal, quase bobo, mas que poderia ter repercussões psico-simbólicas imensas: a Itália foi oficialmente rebaixada. Não é mais a oitava economia do mundo, mas a nona. Foi superada pelo Brasil. Portanto, no próximo G8 a Itália não será convidada, quem irá é o Brasil. Daí a escolha de abolir o G8, transformando-o em G10 padrão. Estão se matando.
A primeira notícia Verdadeira (para quem quer obter informações reais do mundo real) é esta: “A Europa, com a Inglaterra e a Alemanha na linha de frete, não podem (não querem) aceitar o triunfo keynesiano na América do Sul e a irrupção deles no teatro da História como sujeitos políticos autônomos. Para eles, vale o princípio “que fiquem na deles e não encham, e que agradeçam os céus que os deixamos sobreviver, como fazemos com os africanos. De outra forma, naquela região, um por um fará o fim do Ghedaffi”. A mensagem, em síntese, é essa.
Da América do Sul, nos últimos quarenta dias, chegaram três poderosíssimas mensagem como resposta: nada foi divulgado na Europa. Muito menos a última (e mais importante), do dia 3 de agosto, se não por outro motivo, pelo menos devido ao fato de que se tratava de uma transmissão ao vivo da sede de Nova York do FMI. Ninguém transmitiu, com exceção do Reino da Dinamarca. E assim, cientes de que existe uma uniformidade midiática planetária de censura, e sabendo de que se a televisão não fala, não se encontra na net, não se acham notícias na Wikipedia, então quer dizer que não existe, a América do Sul escolheu o palco midiático global mais inteligente em absoluto: o coração das finanças oligárquicas planetárias, a City de Londres. E agora os fatos.

Jules Assange, em 15 de junho de 2012, entende que para ele está terminado. Encontra-se em Londres. Os agentes ingleses o prenderão uma semana depois, o levarão para Estocolmo onde, no aeroporto, não será detido pela polícia de Sua Majestade a rainha da Suécia, mas por dois oficiais da CIA e um diplomata estadunidenses; esses, aproveitando de acordos formais sancionados entre as duas nações, farão prevalecer o “direito de opção militar em caso de conflito bélico declarado”, alegando que Jules Assange “interveio ativamente” no conflito OTAN-Iraque, enquanto a guerra estava em curso. Então, Assange será levado diretamente aos EUA, no estado do Texas, onde será submetido a um processo penal por atividades terroristas, e será pedida para ele a aplicação da pena de morte com base na aplicação da Lei Patriot Act. Assange se consulta com seu grupo e fazem a escolha certa, depois de três dias de contorcidas trocas de informações em todo o planeta. “Vá para a embaixada do Equador, a pé, de metrô, e fique por lá”. Às 9 da manhã de 19 de junho entra na embaixada do Equador. Nenhuma notícia, ninguém está sabendo disso. O seu grupo abre uma tratativa com os agentes ingleses em Londres, com os suecos em Estocolmo e com os diplomatas americanos no Rio de Janeiro. Chegam a um acordo: “evitemos riscos de atentados e deixemos passarem as Olimpíadas, e em 13 de agosto ele poderá ir para a América do Sul; façamos tudo em silêncio, basta que não se fale no assunto”. Seus representantes aceitam mas, ao mesmo tempo, não confiam (corretamente) nos anglo-americanos. Eles se põem a trabalhar e promovem dois fabulosos golpes. O primeiro ocorre em 3 de agosto, o segundo em 4 de agosto.
Em 3 de agosto de 2012, com uma antecipação de 16 meses com relação ao vencimento, a presidenta da República Argentina, Cristina Kirchner, se apresenta na sede de Manhattan do Fundo Monetário Internacional, acompanhada pelo seu ministro da Economia e pelo ministro das Relações Exteriores do Equador, Patino, representando a “ALBA” (acrônimo para Aliança Laborista Bolivariana América”) a união econômica entre o Equador, a Colômbia e a Venezuela. Nessa ocasião, Cristina Kirchner se faz fotografar e filmar pelas televisões com um gigantesco cartaz que mostra um cheque de 12 bilhões de euros destinado ao FMI, com vencimento em 31 de dezembro de 2013, que o governo argentino tinha depositado algumas horas antes. “Com essa parcela, a República Argentina demonstrou ser uma nação solvente, responsável e confiável a quem quisera investir lá seu próprio dinheiro. Em 2003, não pagamos 112 bilhões de dólares, mas nos recusamos de pedir o cancelamento da dívida: escolhemos simplesmente a declaração oficial de bancarrota e pedimos dez anos de tempo para pagar, devolver o dinheiro a todos, inclusive os juros. Por dez longos anos, vivemos no limbo. Por dez longos anos protestamos, contestamos e combatemos contra as decisões do FMI que queria nos impor medidas restritivas de rigor econômico alegando que fosse a única alternativa. Nós seguimos outra via, oposta: aquela keynesiana, baseada no orçamento social, no bem estar justo e sustentável e nos investimentos em infraestruturas, pesquisa, inovação, investindo em vez de cortar. Resolvemos os nossos problemas. E nos recuperamos. Não só isso. Hoje somos capazes de saldar a última parcela 16 meses adiantados. As ideias do FMI e do Banco Mundial em matéria econômica são erradas. Estavam erradas então, estão ainda mais erradas agora: quem quiser operar, empreender, criar trabalho e riqueza, é bem-vindo na Argentina: somos uma nação que demonstrou ser solvente, portanto, pretendemos respeito e fidelidade às normas e às regras por parte de todos, já que demonstramos, nós, antes de todos, que respeitamos os dispositivos do direito internacional…” etc. Logo depois (isto é, 15 minutos depois) a Kirchner apresentou uma denúncia formal contra a Grã-Bretanha e os EUA na OMC (Organização Mundial do Comércio), a mais importante associação planetáraria de trocas comerciais envolvendo o FMI, graças aos arquivos colocados à disposição por Wikileaks, ou seja, Assange. A Argentina saldou suas dívidas, mas agora quer receber pelos danos sofridos. Com juros compostos. “É isso que queriam, muito bem, o conseguiram. Agora que paguem”.




As duas Cristinas: Kirshner, com Dilma Rousseff, alegres e sorridentes e Lagarde (me chama de FMI..), com cara de quem comeu e não gostou…

É uma luta entre a Kirchner e a Lagarde. Há um ano, as duas Cristinas duelam impiedosamente. Graças (ou por culpa) do Assange, dado que o seu grupo tem todas as transcrições de várias conversações em diversas chancelarias do globo, que envolvem os EUA, a Grã-Bretanha, a França , a Itália, a Alemanha, o Vaticano, que pratica a economia como patrão: Osama Bin Laden foi mandado pro sótão e substituído por John Maynard Keynes, esse se tornou o inimigo público número um das grandes potências; nessas longas conversações fala-se de como destruir as economias sul-americanas, como afanar seus recursos energéticos, como impedir que elas se recuperem e cresçam, o que fazer para impedir aos seus governos de aprovar os planos econômicos keynesianos aplicando, em vez disso, os ditames do FMI, cujo único escopo consiste em praticar uma política neocolonialista beneficiando sobretudo a Espanha, a Itália e a Alemanha, com capitais ingleses. A maioria dos arquivos já tornados públicos na internet.


John Maynard Keynes, inimigo público número um das grandes potências

A maioria dos arquivos, gentilmente oferecidos por Assange ao embaixador do Equador na Grã-Bretanha, o qual – estamos ainda no dia 3 de agosto, em Nova York – lembra quem representa e o que fez o Equador, ou seja, a primeira nação do continente americano e a única nação no mundo ocidental, desde 1948, a ter aplicado o conceito de “dívida imoral”, ou seja, “a recusa política e técnica de saldar junto à comunidade internacional as dívidas consolidadas do Estado, porque foram obtidas pelos governos precedentes por meio da corrupção, da violação do Estado de Direito, da “violação de normas constitucionais”. Em 12 de dezembro de 2008, efetivamente, o então neo-presidente do Equador, Rafael Correa (PIB em torno de 50 bilhões de euros, 30 vezes menos que o PIB da Itália) declara oficialmente ao vivo para todo o continente americano (a Europa nunca transmitiu nem mesmo uma foto e dificilmente se pode encontrar na net europeia material visual) de “ter decidido cancelar a dívida nacional por considerá-la imunda, já que imoral; alteraram a constituição para oprimir o povo contando falsidades. Fizeram crer que aquilo que é Lei, ou seja, legítimo, é justo. Não é assim: a partir de hoje, na terra do Equador vale o novo princípio constitucional segundo o qual o que é justo para a coletividade, então, se torna legítimo”. Cifra da dívida: 11 bilhões de euros. O FMI faz cancelar o Equador do grupo das nações civilizadas: não terá nunca mais ajuda de nenhuma espécie de quem quer que seja, “o país precisará ser isolado” declara Dominique Strauss Kahn, então secretário do FMI. O país está de joelhos. No dia seguinte, Hugo Chavez anuncia oficialmente que dará sua contribuição, dando petróleo e gás grátis ao Equador por dez anos. Quatro horas depois o presidente Lula anuncia na televisão que dará grátis 100 toneladas diárias de trigo, arroz soja e frutas para nutrir a população, até que a nação possa se recuperar. Na noite do mesmo dia, a Argentina anuncia que dará 3% da própria produção de carne bovina de primeira qualidade grátis ao Equador, para garantir a quantidade de proteínas para a população. Na manhã seguinte, na Bolívia, Evo Morales anuncia ter legalizado a cocaína, considerando-a produção nacional e bem coletivo. Taxa os produtores de folhas de coca e oferece ao Equador um empréstimo de 5 bilhões de euros a taxa de juros zero, restituíveis em 10 anos, em 120 prestações. Dois dias depois, o Equador denuncia a United Fruit Company e a Del Monte & Associates por “escravagismo e crimes contra a humanidade”, nacionaliza a indústria agrícola das bananas (o Equador é o primeiro produtor de bananas do mundo) e lança um plano nacional de investimento em agricultura biológica ecológica pura. Dez dias depois, os verdes da Bavária, os verdes de Schleswig Holstein, a Conad da Itália, e a Haagen Daaz da Dinamarca se declaram disponíveis para assinar imediatamente contratos decenais de compra da produção de bananas através de títulos financeiros padrão pagos em euro que podem ser descontadas imediatamente na bolsa de mercadorias de Chicago. Em 20 de dezembro de 2008, assumindo o encargo de protesto da United Fruit Company, o presidente George Bush (já deposto, mas formalmente no cargo até 17 de janeiro de 2009) declara “nula e criminosa a decisão do Equador”, anunciando o pedido de expulsão do país da ONU: “estamos prontos até a uma opção militar para salvaguardar os interesses estadunidenses”. Na manhã seguinte, o poderoso estúdio legal Goldberg & Goldberg de Nova York apresenta um pró-memória defensivo, alegando que há um outro precedente legal. Seis horas depois, os EUA se rendem e impõem à comunidade internacional a aceitação e a legitimidade do conceito de “dívida imoral”. A United Fruit Company é tachada como “multinacional que pratica sistematicamente a corrupção política” e é condenada a pagar por danos na ordem de 6 bilhões de euros. Importante notar que o “precedente legal” (até hoje ignorado por grande parte dos europeus) está datado de 4 de janeiro de 2003 e assinado por George Bush. Pois é. Ocorreu no Iraque que, naquele momento, o país resultava ser “tecnicamente” posse dos EUA, já que ocupado pelos marines e com um governo provisório ainda não reconhecido pela ONU. Saddam Hussein tinha deixado dívidas de 250 bilhões de euros (das quais, 40 bilhões de euros para com a Itália, graças a manobras de Taraq Aziz, vice de Hussein e homem da Opus Dei fiel ao Vaticano) que os EUA cancelam, aplicando o conceito de “dívida imoral” e, portanto, abrindo caminho para um precedente histórico recente. Os advogados nova-iorquinos do Equador oferecem ao governo americano uma escolha: ou aceitam e ficam calados, ou, se for anulada a decisão do Equador, então será anulada também aquela relativa ao Iraque, assim o tesouro dos EUA deveria pagar logo os 250 bilhões de euro a todos, inclusive com juros compostos durante quatro anos. Obama, ainda não empossado mas já eleito, impõe a Bush de findar o caso. A sólida parcela devida aos advogados nova-iorquinos foi paga pelo governo brasileiro.
Nasce, então, a América do Sul moderna.
E cresce e se difunde o mito de Rafael Correa, presidente eleito do Equador.
Não um indígena camponês como Morales, um sindicalista como Lula, um operário dos altos-fornos como Chavez. Outra coisa. Proveniente de uma família da alta burguesia caribenha, é um intelectual católico. Diplomado em economia e planificação econômica por Harvard, católico fervoroso e muito praticante, se auto-define “cristão-socialista como Jesus Cristo, sempre do lado dos mais necessitados e dos que sofrem”. Seu primeiro ato oficial foi congelar todas as contas correntes do IOR (Istituto per le Opere di Religione, do Vaticano) nos bancos católicos de Quito e transferir esse montante de assistência social para os segmentos menos favorecidos da população. Faz prender a inteira classe política do governo precedente, que é submetida a um processo regular. Acabam todos na cadeia, com penas médias de dez anos por cabeça com máximo rigor. Bens confiscados, propriedades nacionalizadas e redistribuídas em cooperativas agrícolas ecológicas. Envia uma carta ao papa Ratzinger em que se declara “sempre humilde servidor de Sua Iluminada Santidade”, na qual pede oficialmente que o Vaticano envie ao Equador somente “religiosos dotados de profunda espiritualidade e desejosos de confortar os necessitados, evitando os mercadores tratantes que acabariam sob o rigor da Lei dos homens”.

Tudo isso pode ser contado hoje, graças à bela “pensada” do Foreign Office, que acabou ficando confuso. Em todo o planeta Terra hoje se fala de Rafael Correa, do Equador, da dívida imoral, da nova América do Sul que disse não ao colonialismo e à servidão para com as multinacionais europeias e estadunidenses.
Na Itália sou eu que o estou fazendo, esperando de ser somente um entre tantos.
Isso para explicar “porque o Equador”.



É um claro sinal de que o grupo de Assange está dando a quem quiser entender e compreender que TINA (There is No Alternative, ou seja, Não Há Alternativa) é um Falso. Não é verdade que não exista uma alternativa. Por 400 anos, desde quando os europeus descobriram as bananas ricas em potássio, os equatorianos viveram na pobreza, na exploração, na indigência, ao passo que durante centenas de anos um grupo de brutais oligarcas se enriquecia às suas custas. Não é mais assim. E não o será nunca mais. A menos que acabem vencendo Mitt Romney, Mario Draghi, Mario Monti, David Cameron e a oligarquia financeira. O exemplo do Equador é vivo, pode ser replicado em cada nação africana ou asiática do mundo.
Na Europa também.
Por isso Jules Assange escolheu o Equador.

Mas não basta.
O golpe decisivo ao sistema é dado por uma notícia explosiva tornada pública (não por acaso) em 4 de agosto de 2012. “Jules Assange assinou o contrato de delegação com o magistrado espanhol Garzòn, que o representará em seus direitos legais para todos os efeitos e em cada nação do globo”.
Mas quem é Garzòn?
É o inimigo público número um da criminalidade organizada.
É o inimigo público número um da Opus Dei.
É o mais feroz inimigo de Silvio Berlusconi.
É, em absoluto, o inimigo mais perigoso para o sistema bancário internacional.



Baltazar Garzòn, inimigo público número um da criminalidade organizada, da Opus Dei, de Silvio Berlusconi, do sistema bancário internacional, etc…

Magistrado espanhol com 35 anos de atividade e experiência, responsável da procuradoria real de Madri, teve em suas mãos os mais importantes processos espanhóis dos últimos 25 anos. Especialista em “mídia e finanças” e, sobretudo, grande especialista em cruzamentos acionários e financeiros, subiu na ribalta internacional quando, em 1993, apresentou à Interpol uma denúncia contra Silvio Berlusconi e Fedele Confalonieri (pedindo a detenção dos mesmos) relativa a: Telecinco, Pentafilm, Fininvest, Reteitalia e Le cinq, onde resultava que a Pentafilm (Berlusconi e Cecchi Gori sócios, isto é, os partidos PD e PDL juntos) adquiria por $100 os direitos de um filme da Columbia Pictures e os revendia por $500 à Telecinco, que os revendia por $ 1000 para a Rete Italia que, depois, em última instância, os revendia por $ 2000 à RAI, em 142 casos, por três vezes: vendia tanto para a RAI1 como para a RAI2 e para a RAI3. O mesmo filme. Ou seja, a RAI (quer dizer, nós) pagamos pelos direitos de um filme 20 vezes o valor de mercado e o compramos três vezes, assim todos os partidos estavam presentes equitativamente. Quando se chegou ao âmago da questão, Berlusconi era presidente do conselho, de modo que Garzòn foi parado pela União Europeia. Obteve uma meia vitória. Fechou a Telecinco e acabaram presos os managers espanhóis. Mas Berlusconi voltou a entrar em 2003 como Mediaset. A batalha foi reaberta, Garzòn estava sempre ali. Em 2006, achava que tinha conseguido, mas o governo italiano de então (Prodi & Co.) ajudou Berlusconi a se safar.


Pinochet e Woytila num afetuoso e canalha aperto de mão


Pinochet e Tatcher – selando o nefasto enlace neoliberalismo-ditadura

Em 2004, abriu um dossiê contra o papa Woytila e contra a administração do IOR na Espanha e na Argentina, com relação ao financiamento e ao apoio por parte do Vaticano das juntas militares de Pinochet e Videla, na América do Sul. Em 2010, Garzòn se demitiu, aposentando-se, mas abriu um escritório de direito internacional dedicado exclusivamente à “mídia & finanças” com sede em Haia, na Holanda. É o magistrado que foi meter o nariz nas questões mais quentes, em campo midiático, na Europa, nos últimos vinte anos. Como representante oficial legal de Assange, o juiz Garzòn tem acesso aos 145.000 arquivos ainda em posse de Jules Assange que não foram tornados públicos. Já fez saber que o seu escritório está pronto a denunciar diversos chefes de estado ocidentais no tribunal de direitos civis com sede em Haia. A acusação será de “crimes contra a humanidade, crimes contra a dignidade da pessoa”.
A batalha está, portanto, aberta.
E será decisiva sobretudo para o futuro da liberdade na rede.

Nos EUA, não é um mistério o fato de que o queiram morto. Os ingleses também.
Mas esses países não têm poucos problemas porque, enquanto isso, apesar de ser bastante paranoico (e não faltam motivos para isso), Assange conseguiu organizar um grupo planetário que se dedica à contrainformação (verdadeira, não como a italiana). Os seus expoentes são anônimos. Ninguém sabe quem são. Não têm um site identificado. Simplesmente emitem em redes de dados notícias, informações, eventos, Depois, quem quiser saber, sabe onde procurar e quem quiser entender, entende.
Quando a temperatura sobe, como é sabido, tudo vem à superfície.
E então dançamos todos.
Na América do Sul, hoje, chamam isso de “British dance”.
Esperamos somente que não tenha consequências dolorosas ou sangrentas.
Por isso Assange está dentro da embaixada do Equador.
Por isso Garzòn o defende.
Por isso, essa história sobre a América do Sul precisa ser contada.
Por isso esse Império Britânico perdeu a cabeça e quer eliminar Assange.
Porque Assange tem acesso a material de fonte direta.
E só o fato de dizê-lo, de divulga-lo, deixa as cartas a descoberto para quem governa, e faz as pessoas se lembrarem que estamos dentro de uma Guerra Midiática Invisível.
Não sabem como fazer para parar com a difusão de informações sobre o que acontece no mundo.
Até agora conseguiram se sair bem, imbecilizando e adormecendo a humanidade
.
Mas no caso que ele acorde, para o poder seriam dores realmente constrangedoras.
Wikileaks não deve ser lido como fofoca.
Não é isso.
Tem gente que, para emitir uma informação de um point anônimo da internet em Canberra, Bogotá ou Saint Tropez, arrisca a própria vida.
Esses anônimos merecem todo o nosso respeito.
E nos lembram que não poderemos mais dizer, amanhã, “mas nós não sabíamos”.
Hoje, quem quer saber está bem servido. É só procurar.
Se depois, com esse Saber, o internauta decide não fazer nada, a escolha é toda dele.
Traduzindo, isso significa: enquanto não mandarmos para casa a imunda classe política que mal nos representa, as conversas ficarão na estaca zero. Porque agora todos sabemos como estão as coisas. De outra forma, não podemos nos lamentar ou surpreender que na Itália, ninguém tenha falado antes sobre o Equador, de Rafael Correa, daquilo que acontece na América do Sul, do embate acirrado que está ocorrendo entre as presidentas argentina e brasileira, por uma lado, e Christine Lagarde e Angela Merkel, por outro.
Por que, então, ficarmos surpresos com o fato de que os ingleses queiram invadir uma embaixada estrangeira?
Não tinha acontecido isso nunca, nem nos momentos mais ferventes da Guerra Fria.
Como se diz na América do Sul, quando se pergunta “mas o que estão fazendo na Europa, o que está acontecendo por lá?”
Agora a resposta é, praticamente em todo lugar: “Na Europa estão dormindo. Não sabem que a vida existe”.


Rainha Elizabeth (hoje saio sem minha tiara), admirando extasiada uma tela pop representando sua querida Barbie-Túrica Margareth Tatcher

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