Cinco minutos com John Holloway, para Ver brotar nos anti-mundos das lutas quotidianas, “O MUNDO ALÉM DO CAPITALISMO”
Ver brotar nos anti-mundos das lutas quotidianas, o MUNDO ALÉM DO CAPITALISMO
ana luisa lolosidis, kelly cho, vittoria belli from vittoria belli on Vimeo.
O mundo além do capitalismo
Por: John Holloway
Fonte: The Guardian via commondreams
Transcrição traduzida e formatação em poesia: Mario S. Mieli
O mundo além do capitalismo
Um lugar engraçado,
um lugar divertido
um mundo dançante
de cores resplandecentes
Um mundo no qual borbulhamos
e transbordamos um no outro e para além
um mundo sem linhas rígidas
Um mundo no qual as identidades existem
somente para serem transcendidas
Um mundo no qual a base da existência humana
não é a identidade, mas o reconhecimento mútuo
de nossas dignidades.
Não: ‘Eu sou’, ‘Você é’, mas
Você é nós? O criar se torna?
Uma diferente forma de organização
para uma diferente forma de nos juntarmos
O reconhecimento mútuo dos humanos,
mas também, de uma maneira diferente,
o reconhecimento mútuo entre as formas de vida humanas e não humanas
Absurdo, é claro…
Não fosse pelo fato de que já existe esse potencial
como rebelião, como a força daquilo que ainda não é presente
Para encontrar o mundo que poderia existir
depois do capitalismo
Precisamos ver os anti-mundos que já estão sendo criados
nas incontáveis lutas contra o capitalismo
Incontáveis rachaduras
na textura da dominação capitalista
Um mundo além do capitalismo só pode ser
a destilação dos sonhos sonhados contra as opressões
a redenção dos anseios de todos aqueles que têm lutado por um mundo melhor
Vejam então os anti-mundos experimentais
que têm sido criados nas lutas contra o capitalismo,
as assembleias que caracterizam os movimentos de Ocupação
e sua rejeição da democracia representativa
[Vejam] os protestos contra as armas de fogo, a violência, a guerra
e os movimentos não só contra o domínio masculino
mas pela superação de toda classificação das pessoas por sexo e sexualidade,
os milhões que lutam contra a destruição da terra, desenvolvendo uma diferente sociabilidade com todas as formas não humanas de vida
a constante instigação a viver
num tempo libertado do relógio
num espaço libertado da régua de medição,
o constante impulso,
inseparável da nossa humanidade,
de determinar o nosso próprio fazer
Nas rachaduras, nas recusas e nas recriações
dos anti-mundos das lutas quotidianas
é onde o possível, urgente e necessário
mundo além do capitalismo pode ser encontrado
Pensem nessas duas imagens:
Na Revolução de Julho de 1830,
segundo Walter Benjamin,
na primeira noite de luta,
relógios e torres de relógios
foram derrubados simultânea e independentemente
em vários lugares, em Paris…
Em uma entrevista, quando perguntaram ao subcomandante Marcos qual seria o seu sonho de sociedade futura, ele disse que
a sociedade pela qual os zapatistas lutam
seria como um programa de cinema,
onde se poderia escolher viver um filme diferente a cada dia
Que a razão pela qual eles pensaram e se revoltaram é porque, nos últimos 500 anos,
foram forçados a viver o mesmo filme
repetidíssimas vezes
De fato, no apogeu das lutas em Atenas,
em dezembro de 2008,
o povo derrubou os muros de um estacionamento
e o converteu em um jardim comunitário
no meio da cidade: Navarino Park…
um lugar para se aproveitar, para as crianças brincarem
um lugar para se cultivar legumes, fazer reuniões, tocar música
Isso é comunismo
Esse é o mundo que queremos
Nas assembleias de bairro, durante a revolta na Argentina há dez anos
uma senhora idosa levantou-se e disse que tinha perdido o seu cachorro
Os ativistas políticos disseram que aquilo não fazia parte da agenda
Mas a assembleia organizou uma busca do cachorro
e o encontraram.
Isso é comunismo
Esse é o possível mundo do futuro