>> Dopagem política – a militarização do esporte, por Manlio Dinucci


Dopagem política – a militarização do esporte

Por: Manlio Dinucci
Fonte: Il manifesto de 7 de agosto de 2012
Tradução: Mario S. Mieli




Entre os times presentes nas Olimpíadas de Londres, há uma multinacional, formada por jornalistas que, treinados por coach políticos, excelem em todas as disciplinas da falsificação. A medalha de ouro vai aos britânicos, primeiros em desacreditar os atletas chineses, descritos como “falsários, piadas da natureza, robôs”. Um segundo depois que a nadadora Ye Shiwen (na foto abaixo) ganhou, a BBC insinuou a dúvida do doping. O Mirror fala de “brutais fábricas de treinamento”, onde os atletas chineses são “construídos como autômatos” com técnicas “que beiram a tortura”, e de “atletas geneticamente modificados”.



A medalha de prata vai para o [jornal de economia italiano] “Il Sole 24 Ore” que, através da enviada Colledani, descreve assim os atletas chineses: “o mesmo rosto quadrado, a mesma concentração militar, fotocópia um do outro, máquinas sem sorriso, autômatos sem heroísmo”, criados por uma linha de montagem que “produz uma rapaziada como se fossem parafusos”, obrigando-os à escolha “em vez de fome e pobreza, melhor a disciplina e o esporte”. Há saudades, em Londres, dos belos tempos passados quando, no século XIX, os chineses eram “cientificamente” descritos como “pacientes, mas preguiçosos e vilões”, quando os imperialistas britânicos inundavam a China com ópio, provocando-lhes hemorragia e servidão; quando, depois que as autoridades chinesas proibiram o uso do mesmo, a China foi forçada através da guerra a ceder às potências estrangeiras (entre as quais a Itália) partes do próprio território, definidas como “concessões”; quando na entrada do parque Huangpu, na “concessão” britânica de Shangai, havia o cartaz com os dizeres “Proibido aos cães e aos chineses”.

Liberada em 1949, a nova China, não sendo reconhecida pelos EUA e por seus aliados, foi efetivamente excluída das Olimpíadas, nas quais começou a participar somente em 1984. Desde então, tem sido um crescendo de sucessos esportivos. Não é isso, porém, que preocupa as potências ocidentais, mas o fato de que a China esteja emergindo como potência com capacidade de desafiar o predomínio do Ocidente em escala global. Emblemático que até os uniformes da equipe dos EUA nas Olimpíadas sejam “made in China”. A partir de 2014, serão usados só uniformes “made in America”, conforme prometido pelo Comitê Olímpico dos EUA, organização “sem fins lucrativos” financiada pelas multinacionais. Que, com as migalhas de quanto obtêm com a exploração dos recursos humanos e materiais na Ásia, África e América Latina, financiam o recrutamento de atletas dessas regiões para que concorram sob a bandeira das listras e estrelas.

A China, ao contrário, considera “o esporte como uma guerra sem o uso de armas”, acusa o Mirror. Ignorando que a bandeira olímpica tenha sido hasteada por militares britânicos que usaram armas nas guerras de agressão.

A China é a última a ter “atletas de estado”, acusa o jornal Il Sole 24 Ore. Ignorando que, dos 290 olímpicos italianos, 183 são dependentes estatais, na qualidade de membros das forças armadas, já que só a essas (por uma precisa escolha política), se permite uma dedicação em tempo integral ao esporte. Uma militarização do esporte, que o ministro (italiano) Di Paola chama de “binômio esporte-vida militar, fundado sobre uma ética compartilhada, característica da associação a um corpo militar, assim como a um grupo esportivo”. Então, aquela contra a Líbia não foi uma guerra, mas um treinamento para as Olimpíadas.

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