Sala de Espera 24 – A morte em tempos de crise e de guerra
Por: Luca Celada
Fonte: il manifesto
Tradução: Mario S. Mieli
PIERRE LOUKI – JULIETTE GRECO
O New York TImes também falou do incremento epidêmico dos suicídios devidos à crise econômica, comentados neste site (ilmanifesto.it) por Riccardo Chiari. O Times descreve o aumento de suicídios na Europa e, em primeiro lugar, na Itália, informando que o número de pessoas que se suicidaram por causa de “dificuldades econômicas” teve um aumento de 52%, para 187 casos, já em 2010. Outros países como a Grécia e a Irlanda registram aumentos de 24% e 16% respectivamente. Mas o problema não é somente europeu; contemporaneamente, o Los Angeles Times escreve sobre uma análoga epidemia no Nevada, o estado onde, desde sempre, a taxa de suicídio é bem mais elevada (19 por 100 mil habitantes) que a média nacional dos EUA (12 por 100 mil habitantes) – um dado singular, devido, presumivelmente, à grande difusão de falências em decorrência do jogo. A província de Las Vegas, capital do jogo e da impermanência em geral, registra uma média de suicídios que vai de 300 a 350 por ano, mas em 2012, quando houve o colapso da indústria da construção e o desemprego subiu para 14%, o número alcançou 450, dados que, da mesma forma que os números italianos, demonstram o nexo trágico e direto entre depressão econômica e mental. Um retrato estatístico de uma atualidade onde o desemprego leva à morte e, contemporaneamente, a aplicação da morte nas guerras permanentes se tornou uma síndrome “ocupacional”. Essa última é mensurável também pelas estatísticas relativas aos suicídios dos soldados americanos que retornam das guerras. Segundo dados colhidos pelo Army Times, são 950 os “veterans” que se suicidam a cada mês, ou seja, 18 por dia – um a cada 80 minutos. Números assustadores, considerando-se que, em breve, serão mais de 2 milhões os soldados de volta das guerras afgãs-iraquianas, 30% dos quais sofrerão de desordem pós-traumática e/ou trauma cerebral, as síndromes que se manifestam através de descompensações emocionais, depressão e episódios como aqueles que levaram aos vários casos de violência – como o acesso de loucura homicida do sargento Bales no Afeganistão. São o legado de cada guerra em que os militares e os civis estão expostos aos horrores que só podem marcar profundamente a psique de quem os vive; um fenômeno amplificado pela gestão “profissional” dos conflitos perseguidos com exércitos profissionais cujos soldados são empregados, com frequência, durante anos em turnos repetidos no frente para “fazer o próprio trabalho”, distantes da consciência pública. Uma receita por sua vez adequada a produzir um outro exército de ex-soldados traumatizados. Tendo passado alguns dias na companhia dos voluntários da National Veterans Foundation, que assiste aos veteranos acometidos de PTSD (post traumatic stress disorder) e sem casa (atualmente há 100.000 deles vivendo nas ruas) posso testemunhar que as guerras mantidas tão eficientemente invisíveis, por outro lado estão se tornando bem visíveis nas cidades de um país que ainda deve lidar com a “carga” de dezenas de milhares de ex-combatentes no Vietnã. Deformações profissionais de um mundo em guerra e em crise.