Intuições de Marguerite Duras sobre o ano 2000 (feitas em 1985). Vamos checar a que ponto chegamos?

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Intuições de Marguerite Duras sobre o ano 2000 (feitas em 1985). Vamos checar a que ponto chegamos?

MARGUERITE DURAS À PROPOS DE L’AN 2000

transcrição traduzida: Mario S. Mieli

Onde estarão as respostas, no ano 2000?

Não haverá mais respostas. O mundo sera tal que não haverá mais repostas. O texto são as respostas, é isso.

Acho que o homem estará literalmente afogado nas informações, Numa informação constante sobre seu corpo, seu devir corporal, sua saúde, sua vida familiar, seu salário, seu lazer… não está longe do pesadelo.

Não haverá mais ninguém para ler. Eles verão a televisão. Haverá aparelhos de TV em todos os lugares: na cozinha, nos banheiros, nos escritórios, nas ruas. Onde estaremos, enquanto veremos a TV o tempo todo? Não estamos sós… Não viajaremos mais, pois não valerá mais a pena viajar. Quando podemos dar a volta ao mundo em 8 dias ou 15 dias, para quê fazê-lo?

Quando a viagem é o tempo da viagem. Não é ver depressa. É ver e viver, ao mesmo tempo. Viver da viagem não será mais possível.

Tudo será entupido. Tudo será investido. Restará o mar, pelo menos. Os oceanos. E a leitura. As pessoas vão redescobrir isso.

Um homem, um dia, lerá, e daí tudo recomeçará. Repassaremos pela gratuidade. Ou seja, as respostas serão menos escutadas. Recomeçará assim. Por uma indisciplina, um risco tomado pelo homem com relação aos mesmos. No dia em que ele estará só novamente. Com sua infelicidade e felicidade. Que virão dele mesmo.

Talvez os que conseguirão fugir desse caminho serão os heróis do futuro. É bem possível. Esperemos que eles ainda existirão.

Lembro que li num livro de um autor alemão, do entre-guerras, o título era “O último civil”. De Hanns Gleiser, que:

“Quando a liberdade teria desertado o mundo, sobraria sempre um homem para sonhá-la.”

Acho que isso já começou…

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