OBAMA DRONES

Dronecracia

O papel dos drones como símbolo da nossa relação com o mundo já vinha sendo sugerida pelo sociólogo inglês Benjamin Noys. Mas foi o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, principalmente numa entrevista a Eliane Brum, quem definiu claramente como estamos nos tornando drones ao distanciar os efeitos das nossas ações de nós mesmos

Por: Silvio Mieli
Fonte: Brasil de Fato 08/10/2014

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SIM, ESTAMOS VIRANDO drones. Deixamos de arcar com as consequências dos nossos atos. E apesar da fes­ta democrática, da aura participativa e da sensação cívica, o sinal eletrônico das urnas concretiza uma atitude muito distante de ação política direta.

O papel dos drones como símbolo da nossa relação com o mundo já vinha sendo sugerida pelo sociólogo inglês Benjamin Noys. Mas foi o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, principalmente numa entrevista a Eliane Brum (http://bit.ly/1r8O7Sc0), quem definiu claramente como estamos nos tornando drones ao distanciar os efeitos das nossas ações de nós mesmos. “A pessoa está lá nos Esta­dos Unidos apertando um botão num computador, aquilo vai lá para o Paquistão, joga uma bomba em cima de uma escola, e a pessoa que apertou o botão não está nem sa­bendo o que está acontecendo. Ou seja, nós estamos dis­tantes. As consequências de nossas ações estão cada vez mais separadas das nossas ações…”, diz Viveiros — que acabou de lançar o livro “Há mundo por vir?” em parceria com sua esposa, a filósofa Déborah Danowski.

Do ponto de vista antropológico, os índios sabem que matar para comer exige um certo comprometimento, além de ser perigoso e trazer consequências, enquanto quem compra comida no supermercado não quer nem saber das condições dos matadouros e abatedouros. E o mesmo raciocínio vale para os demais embates com a rea­lidade concreta, das catástrofes ambientais às eleições que ora acabamos de vivenciar. Aperto um botão e a res­ponsabilidade passa a ser deslocada para outra dimensão.

Essa “dissociação mental” é de fato cada vez mais evi­dente. Bruno Latour, um dos articuladores do recente colóquio “Os Mil Nomes de Gaia” (http://osmilnomes­degaia.eco.br), reforçou essa questão ao dizer que é pre­ciso criar instrumentos que nos sensibilizem e que nos levem a pensar, algo que ligue as “estatísticas da ciência” ao que elas indicam. Vale lembrar que a palavra drone vem do inglês arcaico e significa zangão. É o macho das abelhas que tem papel de reprodutor. Através de visão e olfato apurados protege a colmeia de outros insetos que possam ameaçá-la. As abelhas são responsáveis pela po­linização de 80% dos cultivos do planeta e sua extinção (causada pelas monoculturas, intensificação do uso de agrotóxicos e as queimadas) pode significar o fim da vi­da na Terra.


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