>> Mobilidade, por Sílvio Mieli


Mobilidade
01/07/2013
por Sílvio Mieli
Fonte: Brasil de Fato de 01/07/2013


Se há um consenso no Brasil atual é o da violência como resposta a tudo; nunca tivemos um momento de ruptura efetivo, que marcasse o fim da ditadura e a chegada de outra dimensão da vida pública



Não foi um passe de mágica, mas puro realismo político que nos lançou de volta às ruas. Que esse acontecimento tenha sido alavancado por jovens considerados zumbis desencarnados da realidade, é apenas um dos ensinamentos do Movimento Passe Livre (MPL). De qualquer forma, a imobilidade urbana nos colocou diante das perspectivas de mobilidade da própria esquerda neste campo minado.

As últimas grandes manifestações de massa, inclusive nas capitais brasileiras, foram os confrontos altermundistas, e não o “Fora Collor” como se costuma dizer. Do levante Zapatista (1994) até os indignados espanhóis (2011), tivemos os ecos da batalha de Seattle (1999), as lutas contra OMC, Alca, G-8, e os Fóruns Sociais Mundias.

A segunda fase de movimentos, ainda em curso, começa há dois anos com os Indignados espanhóis, segue com a Primavera Árabe, Atenas, Occupy e, mais recentemente, Turquia e agora no Brasil (já era hora!). Alguns foram cooptados por forças reacionárias (indignados e árabes), e outros correm seriamente este risco. Como já observou o mestre Paulo Arantes, o MPL (2005) é filho direto da primeira fase.

Em parte porque assume sem pudor as suas influências Zapatistas (anticapitalismo, ação direta, horizontalidade, autonomia, desconfiança do poder) e depois porque os seus militantes formaram-se exatamente nas manifestações altermundistas. Entretanto, isso não impediu o apoio de partidos de esquerda e a articulação indispensável com os movimentos sociais.

Uma primeira pergunta se impõe quando olhamos para este período de quase duas décadas: quais os ensinamentos que a esquerda institucional guardou dessa riquíssima experiência? Uma chave para a resposta reside na análise da foto do coletivo #MídiaNinja, que flagrou militantes de partidos de esquerda acuados, com suas bandeiras covardemente tomadas e queimadas no sétimo ato contra o aumento da tarifas em São Paulo. Lembraria que o nosso imaginário coletivo é por demais violento para ser abandonado nessa altura do campeonato (principalmente da parte de muitas das forças envolvidas nos embates).



Se há um consenso no Brasil atual é o da violência como resposta a tudo. E, por fim, nunca tivemos um momento de ruptura efetivo, que marcassem o fim da ditadura e a chegada de outra dimensão da vida pública, cuja qualidade agora depende dos alcances da nossa mobilidade à esquerda.

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