>> Maquiavelagens 9 – Matrix: a calcificação patológica do véu de Maya, por Artur d’Amaru

Maquiavelagens 9 – Matrix: a calcificação patológica do véu de Maya, por Artur d’Amaru


Mandala de Maya Devi

Maya
a deusa hindu emblema da ilusão

O véu de Maya
expressão cunhada por Schopenhauer em seu “O mundo como vontade e representação”

O véu de Maya se calcifica patologicamente
não por acaso,
é o planejamento maquinado pelo sistema


Sistema que, para se autoperpetuar, busca reduzir a louca e complexa criação da vida
a um modelinho operacional reducionista que,
como na caverna de Platão,
não só faz ver tudo velado,
vedado,
censurado,
editado,

como
substitui ‘a vida é sonho’ de Calderón e de cada um
com a vontade compulsiva de “perpetuar-se” do sistema.

Mas sistema não sonha.
Nem se propõe como “um” sonho.
Aliena e obceca fazendo-se passar como “o único sonho”.
Para isso, busca representar-se como fractal autômato,
promovendo ação de despejo contra o
“conhecimento do saber que não se sabe, só se sonha em saber”
e cedendo o espaço
ao pretencioso posseiro do
“falso saber inconteste do conhecimento”,
que precisa tudo PASTEURizar
para melhor dominar.

E assim, a malevolência do sistema
passa a consistir em processar e transformar
a leveza e a impermanência criativa de Maya
numa maçante, inexorável e alienante Matrix.

Em vez de gerar
a ilusão inclusiva da vida e
de todos os seus fenômenos,
e de estimular o dialético despertar da letargia cognitiva da alma,
que sonha com a “verdadeira essência” da realidade…

… passa a impor como únicas as excludentes normas e regras de uma
pseudo-realidade em estado de permanente pré-fabricação que,
de tão desfocada e manipulada,
tão repetida e exaustivamente martelada
faz prevalecer a impossibilidade de se alcançar
qualquer sopro de “a vida é sonho” de libertação espiritual.


Impedir este movimento de
identificação do um ao todo-nada é
querer sufocar o próprio todo-nada,
forjando e se impondo como MADRASTA que
plagia,
patenteia,
falsifica,
adultera e
defrauda
no seu tresloucado afã de se substituir à criação
mas que, pelo contrário,
gera
esclerose,
necrose e
aniquilação do sopro d’“a vida é sonho”.

“Com os poderes da própria Maya, Indra se apresenta em diferentes formas.” (Rig Veda VI 47-18)

Então,

Com os poderes da própria Maya, a Matrix se apresentaria sempre da mesma forma?

Até para poder desqualificá-la,
descalcificá-la,
interromper sua metástase e, assim, talvez,
transcendê-la,
reconhecer a “realidade” da Matrix é preciso.

Mas como, mais uma vez, até a natureza ilusória dos fenômenos aparentes é, em si, uma ilusão,

então

até a natureza ilusória da Matrix
(sua existência ou não, sua “realidade” ou irrealidade),
como todas as coisas,
também é,
em si,
uma ilusão.


Da mesma forma que a Medusa,
que petrificava a quem a encarasse diretamente,
para impedir à Matrix de
necrosar o “a vida é sonho”,
tornando-o em “ o único sonho é o sistema”,
só é possível ficar incólume à sua paralisante ação
vendo-a através do reflexo
que projeta num dos espelhinhos de Maya,
para assim
contemplar a possibilidade de
descalcificar o véu com que
fomos vendados
e desmantelar o sistema para o qual
fomos vendidos.

“O céu verdadeiro é (saber) que samsara e nirvana são somente aparatos de demonstração ilusórios.”
Mipham Rinpoche, Instruções Quintessenciais da Mente

Assim,
Transtornando o sintagma
Para expandir o paradigma…

o conscientizar-se constante
da ilusão (e auto ilusão)
é
o primeiro e eterno passo
para que da Matrix-Matriz
um ser possa desemaranhar-se.


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