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Lixocracia e Urbanismo do Descalabro – BANCO-COLONIZAÇÃO das cidades: tornar Zombies os Cidadãos, cercando-os de bancos por todos os lados

Por: Mario S. Mieli
17 de junho de 2012

Afinal, privar e privatizar não seriam a mesma coisa?


Algo que salta aos olhos quando percorremos as cidades do mundo atualmente é a quantidade cada vez mais incrível de agências bancárias que proliferaram rápida e assustadoramente, como fungos perniciosos ou répteis peçonhentos, que passam a ocupar espaços antes destinados a uma variedade de diferentes estabelecimentos varejistas, provavelmente mais úteis quando não indispensáveis à população. Em outras palavras, estamos cercados de bancos por todos os lados. De São Paulo a Nova York, de Londres a Roma, de Los Angeles ao Rio.

Muito macabramente curioso. Numa era em que os bancos estimulam seus correntistas a fazer tudo eletronicamente a partir do próprio computador, laptop, celular… Numa era em que se incentivam ao absurdo os pagamentos através de cartões de crédito ou débito, e que muitas empresas chegam até a recusar o pagamento em dinheiro ou com cheques… Numa época em que os cidadãos preferem não entrar em agências bancárias, para evitar as intermináveis filas resultantes do número limitadíssimo de funcionários trabalhando em cada agência, além de evitar os assaltos… Numa época de crise financeira em que a palavra “liquidez” faz sorrir amargamente grade parte das populações por falta de dinheiro… Não é para acolher clientes desejosos de depositar seus recursos na poupança ou em outros investimentos que esses bancos abrem agências em cada canto. Em muitos casos, nem há população ou empresas nas redondezas que justifique sua presença. Os bancos abrem agências em cada rua, em cada praça, em cada esquina, em cada canto.



Quando um abre num canto, logo chegam os demais. Na frente, atrás, de todos os lados, quando não em cima ou em baixo. Num perverso processo de retroalimentação, eles são os únicos a poderem se permitir o pagamento de aluguéis exorbitantes ou a compra de pontos, a preços proibitivos para quem não é banco. Dessa forma, outros tipos de varejo necessários à população escasseiam ou somem, deixando ainda mais aos bancos todos os espaços desejáveis ou convenientes. Será justamente esse o objetivo? Promover a ocupação dos espaços para inflacioná-los e excluir ulteriormente o pequeno e o médio varejo, forçando o cidadão a dirigir-se aos centros de compra, às grandes “cadeias”, aos shoppings, aos gigantes varejistas, “wall”-martirizando-os?



Ironicamente, muitas vezes os bancos são cotejados por farmácias ou drogarias (haja antiespasmódicos, antidepressivos, ansiolíticos, antiácidos…), outras vezes, são avizinhados por lojas de telefonia celular. Em algumas cidades, juntamente com os bancos, os pontos de telefonia celular e as drogarias, floresceu repentinamente outro tipo de “varejo”. Em Nova York, por exemplo, tem sido o caso dos salões das manicures chinesas. Um em cada quarteirão… tem para todos os tipos de cutícula… quando até 20 anos atrás, eram raríssimos. Se cada centro urbano na América do Norte tinha sua Bank Street, hoje parece que todas as cidades viraram uma Bank City. Já nas grandes cidades do Brasil, em vez de manicures chinesas, são franquias de escusas seitas “do Senhor”, denominadas “evangélicas”, que se apresentam no pareio por espaço, junto aos bancos. Ai, meu bom Jesus do Matosinhos… que expulsaste os cambistas do templo do Senhor, quanto trabalho terias para desinfestar inteiras cidades deste iMundo…



O que é evidente é que a grande maioria das “ocupações” dos pontos de varejo das cidades do mundo se deve aos bancos mesmo. Agências bancárias que substituem quitandas, açougues, peixarias, confeitarias, sapatarias, padarias, lojas de gêneros alimentares, doceiras, barbearias, cabelereiros, chaveiros, cinemas, restaurantes, lojas de roupas, ferramentarias, lojas de móveis, de discos, livrarias… alterando assim a paisagem, os hábitos e o conteúdo urbanos, além de mudarem o próprio sentido e significado de cidade.

Agências modernas ou não, luxuosas ou não, situadas em locais estratégicos ou não, invasivas do tecido urbano ou não, mas todas impecavelmente dotadas de pouquíssimos funcionários para atender os atuais, potencias ou eventuais clientes. Todas marcando presença com sua arquitetura pré-planejada e impessoal que transforma qualquer espaço em “não lugar” (como diria Marc Augé), qualquer tempo em “tempo artificial”, qualquer interação em “não relacionamento”. Ocupação pela ocupação?, OU ocupação engajada com motivações políticas para refletir e homologar a supremacia financeira e compulsória de todos os aspectos do indivíduo, da sociedade e da vida?, OU misto das duas coisas…

A única coisa que podemos fazer, como cidadãos não banqueiros, é imaginar como poderíamos usar esses não-espaços para voltar a dar à cidade função, utilidade, dignidade, vida. E se essas agências fossem transformadas em bibliotecas, em centros de ensino e educação, em centros de saúde, em minicentros culturais, em pontos de convívio social, em saudáveis unidades mistas de pequeno varejo ou empreendimentos familiares, em centros de venda e distribuição de alimentos orgânicos? Seja qual for o destino ético do uso desses espaços, não minimizemos a repaginação e vivificação estética pela qual eles precisariam passar.

Visualizemos criativamente os outros usos que daríamos para essas antessalas cemiteriais em que se desenrola o grande abuso: o ininterrupto velório de nossa imaginação, liberdade e vitalidade e onde funeralizamos em nada “suaves” prestações e com “escorchantes” juros, os cada vez mais computados e taxados sopros de nossas vidas, bancária, monstruosa e desumanamente vampirizados, ou seja, NOSSA TRANSFORMAÇÃO DE CIDADÃOS – HABITANTES DE CIDADES EM ZOMBIES VAGANTES DE UM NÃO-LUGAR A OUTRO.


Não-lugares: banco, centro de saúde ou sala de velório?

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