O discurso típico do escravo, por Silvano Agosti

Discorso tipico dello schiavo

O discurso típico do escravo, por Silvano Agosti


Transcrição traduzida: Mario S. Mieli

Um dos aspectos mais letais da presente cultura é aquele de nos fazer crer que ela seja a única cultura. Ao passo que ela é simplesmente a pior.

Os exemplos estão no coração de cada um.
O fato de que as pessoas vão trabalhar 6 dias por semana, é a coisa mais miserável que se possa imaginar.

Como se pode roubar a vida dos seres humanos em troca de comida, de uma cama e de um carrinho?

Enquanto até ontem achava que me tinham feito um favor ao me dar um trabalho, hoje penso: mas como podem esses bastardos roubar-me a única vida que tenho, pois não terei outra. Tenho só esta.

E eles me fazer ir trabalhar 5, às vezes, 6 vezes por semana e me deixam 1 miserável dia… para fazer o quê… como se pode com um só dia construir a vida?

Para começar, não adianta botar florzinhas na janela da cela de que se é prisioneiro, porque daí, mesmo que um dia a porta esteja aberta, o sujeito não vai querer sair.

E se deve pensar sempre com uma consciência perfeita: esses estão me roubando a vida em troca de 2 mil e quinhentos por mês, na melhor das hipóteses.

Ao passo que eu sou uma obra de arte, cujo valor é indizível. Não sei porque um quadro de Van Gogh deva valer 77 bilhões e o ser humano 2 mil e quinhentos por mês, na melhor das hipóteses.

Na minha opinião, também, com as novas tecnologias, os lucros subiram pelo menos 100 vezes, então o trabalho deveria ter diminuído pelo menos 10 vezes. Ao passo que não. O trabalho permaneceu intacto.
Hoje sei que estão me roubando o bem mais precioso que me tenha sido dado pela natureza.

Pense na coisa mais bela que a natureza propõe, que é aquela de fazer o amor. Imagine que você vive num sistema político, econômico e social onde as pessoas são obrigadas, com tudo aquilo que as vigia, a fazer o amor 8 horas por dia… seria uma tortura.

Então, por que não deveria ser a mesma coisa com o trabalho, que não é certamente mais agradável que fazer amor.

Por exemplo, o fato das pessoas irem ao trabalho 6 vezes por semana, – claro com um revólver na cabeça vou fazê-lo–, porque melhor lamber o chão que morrer.

Melhor lamber o chão. Mas o que é horrível nesta cultura é que lamber o chão tenha se tornado uma aspiração, entende? Mas é monstruoso que o cara tenha que trabalhar 8 horas por dia e ser até grato com quem lhe faz lamber o chão. Tudo isso é objetivamente monstruoso, mas onde a consciência produz consciência, tudo isso é efetivamente monstruoso.

– Sim, mas agora a situação é irreversível.

Você faz justamente o discurso em defesa de quem o oprime, pois isso é típico do escravo, não? O verdadeiro escravo defende o patrão e não o combate. Porque o escravo não é aquele que tem os pés acorrentados, mas aquele que não tem mais capacidade de imaginar a liberdade.

Mas a respeito daquilo que você me disse agora, quando Galileu anunciou que era a Terra que girava em torno do Sol, seguramente alguém como você lhe terá dito:
– Mas, hein, você… são 22 séculos que se diz que é o Sol que gira em torno da Terra e vem você dizer o contrário…. mas como é que você vai explicar isso aos seres humanos? Eu não tenho nada a ver com isso, senhores…

Bem, nós, enquanto isso te fazemos cair no fundo de um poço e te faremos dizer que não é verdade. Assim tudo volta na ordem das coisas… entendeu? Porque todo o Ocidente vive numa área de benefício por estar roubando. Oito décimos dos bens do resto do mundo. Não é que estamos vivendo num regime político capaz de nos dar uma televisão, um carro, não!… é um sistema político que sabe roubar 8/10 de 3/4 do mundo e que dá um pouco de bem-estar a 1/4 do mundo, que somos nós.

Portanto, meus senhores, ou acordamos, ou continuamos a fingir que estamos dormindo, ou precisamos perceber que vocês estão todos mortos.

Recomendamos também:

TEDxBologna – Silvano Agosti – l’uomo patrimonio dell’umanità. Lettere dalla Kirghisia
http://www.youtube.com/watch?v=WHJ447iCH7k&feature=share&list=PL1BDB84FD50125089

Outra conferência de Silvano Agosti, no TEDXBolonha, em 2008, aprofundando o que aconteceu quando propôs oficialmente à UNESCO a candidatura do “Ser humano como patrimônio da humanidade”, por considerá-lo obra-prima da natureza”. Depois de 3 anos, a UNESCO respondeu que a “categoria” “Ser Humano” não constava das listas de coisas que poderiam se candidatar à qualificação. Silvano é autor, entre outros, do livro “Lettere dela Kirghisia” (Cartas da Kirghisia), país imaginário no qual as pessoas nunca trabalham mais de 3 horas por dia e cuja sociedade se baseia no bem-estar do ser humano, e não no petróleo. (em italiano)

No fim da palestra, Silvano afirma: “Isso de forçar o ser humano a ser qualquer coisa menos aquilo que ele verdadeiramente é.. um presidente, um papa, um marido, uma esposa, um primo, um diretor, um ator, um professor…. os papeis são infinitos… para impedir que os seres humanos descubram a sua imensa preciosidade… Não será suficiente todo o tempo de suas vidas para conseguirem entender de verdade as dimensões de sua real preciosidade.”…

Trailer do documentário de Silvano Agosti: OSHO: GOD AS A CLOWN (Osho: Deus como Palhaço)
http://youtu.be/MdtMXP7QYGk

Outros discursos de SIlvano Agosti sobre a sociedade no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=0wkAGqaLnAc&list=PL1BDB84FD50125089

>> Sala de Espera 22 – TEMOS TODOS A MESMA IDADE – A IDADE DA ESPERA
http://imediata.org/?p=1307

Site do autor/poeta/diretor: http://www.silvanoagosti.it/

Leave a Reply