Ratos, câncer e políticas transgênicas – Liberar os transgênicos é um ato de extrema irresponsabilidade e um crime histórico
Por: Sílvia Ribeiro (pesquisadora do Grupo ETC)
Fonte: La Jornada de 22/9/2012
Tradução: Mario S. Mieli
Novas provas científicas de pesquisadores na França mostram que o milho transgênico produz câncer em ratos, enquanto o glifosato, o herbicida mais usado nos transgênicos, causa deformações em fetos humanos, segundo estudos realizados pelo doutor Andrés Carrasco e outros cientistas na Argentina.
Embora os informes sobre o glifosato e outros estudos anteriores sobre transgênicos mostravam a evidência de graves problemas à saúde e ao meio-ambiente, o governo mexicano autorizou em 2012 mais de 1.800 hectares de plantações em campo aberto de milho manipulado geneticamente, a maioria com o mesmo gene da Monsanto (603) que provocou câncer nos ratos dos experimentos franceses.
No estudo realizado pelo CRIIGEN (acrônimo em francês de Comitê de Pesquisa e Informação Independente sobre Genética), Universidade de Caen, França, 200 ratos foram alimentados durante dois anos e divididos em 10 grupos, com diferentes rações. Alguns alimentados com milho transgênico NK603, resistente ao glifosato, porém sem aplicá-lo, outros com o mesmo milho transgênico com glifosato, e outros com glifosato dissolvido na água que beberam, além de um grupo de controle que não recebeu nenhum dos elementos anteriores. Os ratos alimentados com milho transgênico morreram prematuramente e tiveram uma incidência de tumores de 60-70 por cento, contra 20-30 por cento no grupo de controle.
Gilles Eric Seralini, diretor do CRIIGEN, disse que se trata de um estudo único no mundo, porque todos os testes realizados pelas empresas do setor não superaram o período de três meses de estudo, enquanto esse experimento incluiu todo o período de vida dos ratos. Justamente, um elemento significativo é que a maioria dos problemas apareceram a partir do quarto mês, de modo que Seralini afirmou que o tempo escolhido para outros experimentos foi intencionalmente curto, para se evitar o aparecimento da maioria dos sintomas.
Tumores provocados por milho OGM, com e sem Roundup (R)
Vários cientistas que funcionam fornecendo cobertura ao setor dos transgênicos – vinculados ou financiados direta ou indiretamente pelo mesmo – atacam os estudos do CRIIGEM, apontando supostas inconsistências, como o fato de que também o grupo de controle desenvolveu tumores. Mas isso é compreensível, já que se utilizam ratos que tendem a desenvolver tumores e nunca se permite que vivam muito tempo. O dado significativo, porém, é a enorme diferença de percentagens. Além de tumores, os grupos de ratos expostos a transgênicos e ao glifosato apresentaram sérios problemas renais e no fígado.
O governo francês, diante dos resultados dos experimentos, decidiu iniciar um período para a verificação dos estudos. Se fosse confirmada sua toxicidade, poderia decidir-se pela proibição da importação e do uso também como forragem. Plantar milho transgênico não é permitido na França, justamente devido a estudos anteriores sobre a possível toxicidade e os impactos ambientais do milho NK630 e Mon810 da Monsanto. Em vez da pressa com a qual alguns biotecnólogos – inclusive no México – procuram desqualificar os experimentos, a atitude coerente e responsável seria a de verificar esse estudo assim como realizar outros, já que os transgênicos que estão no mercado foram aprovados tendo como base, em quase 100% dos casos, os dados fornecidos pelas próprias empresas que os vendem.
Sendo o México o centro de origem do milho e o país com o maior consumo humano de milho no mundo, seria lógico seguir o princípio de estrita precaução, tanto devido aos riscos à saúde humana quanto pelos impactos na biodiversidade, sem contar os múltiplos significados do milho no México para suas culturas e população.
Todavia, mesmo que a Comissão de Biossegurança no México (CIBIOGEM) tenha recebido numerosos, extensos e sólidos argumentos científicos e técnicos para que não seja permitida a semeadura – nem experimental, nem piloto e muito menos comercial – de milho transgênico, ela os ignorou a todos intencionalmente, colocando em risco os interesses da população com o objetivo de favorecer exclusivamente os interesses da Monsanto, a transnacional que controla mais de 85 por cento das sementes transgênicas no mundo.
O acordo para assegurar os interesses da Monsanto contra a população do México e contra seu principal patrimônio genético alimentar, foi garantido por Bruno Ferrari, atualmente secretário da Economia, porém, anteriormente, funcionário da Monsanto. Em 2009, Ferrari, então diretor da ProMéxico, organizou um encontro entre Felipe Calderón e o diretor executivo da Monsanto, no Foro Econômico Mundial de Davos. Quando voltou dessa reunião, o governo anunciou que interromperia a moratória existente desde 1999 contra o plantio de milho transgênico, embora nenhuma das razões que os especialistas tinham exposto para fundamentar e decretar a moratória tivessem mudado. Pelo contrário, com o passar dos anos, pioraram as condições de risco que justificavam a moratória contra semeadura de milho transgênico em 1999.
Os transgênicos usam muito mais tóxicos e produzem menos que as sementes híbridas, além da quantidade de riscos e impactos sobre a saúde e o meio-ambiente que crescem o tempo todo, já que as plantas se tornam resistentes e que devem ser usados compostos cada vez mais tóxicos.
Há 10 mil anos de trabalho camponês e décadas de pesquisas agrícolas públicas com sementes não transgênicas que causam orgulho e são amplamente suficientes para cobrir as necessidades de toda a população do México. Permitir a liberação de transgênicos no país é um ato de extrema responsabilidade e um crime histórico.
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