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Fonte: Il Manifesto, 5/5/2010
Tradução: Agência Imediata

A tragédia européia começou. Três mortos em um banco de Atenas são o primeiro horrível saldo de uma guerra que o capitalismo financeiro desencadeou contra a sociedade, e que a sociedade não sabe o que fazer para se poder livrar dele. A sociedade grega não pode suportar o despotismo das agências financeiras que a levaram ao abismo da crise, e que agora pretendem que sejam os trabalhadores a pagar o preço. Levada ao precipício da miséria, da humilhação e da catástrofe, a sociedade grega poderia reagir de uma maneira insensata. Pode ser o início de uma tragédia que não se limitará à Grécia.

O que está acontecendo na Europa é extraordinário e assustador. Extraordinário porque, pela primeira vez, a construção européia entra em uma crise que ameaça tornar-se definitiva, e porque essa poderia ser uma oportunidade para começar uma transformação no sentido democrático e social de uma entidade que, até agora, não teve o perfil de uma democracia, mas sobretudo o de uma ditadura tecno-financeira. Assustador porque nunca como hoje nos damos conta do fato de que a inteligência coletiva está dissolvida, a voz da crítica social está muda, a democracia morta. Consequentemente, se não ocorrer alguma coisa no momento atual, coisa muito difícil de se prever (o despertar de uma inteligência coletiva capaz de discutir as bases da razão da existência da entidade européia), o resultado dessa crise pode se tornar uma tragédia destinada a destruir o que resta da civilização social moderna no continente europeu.

Um número da revista Loop de maio de 2009 se titulava Finis Europae, e se perguntava se a Europa poderia sobreviver ao colapso financeiro. A resposta era não, a Europa não pode sobreviver ao colapso se não se libertar da ditadura da classe financeira que tem nas mãos a corda com a qual a sociedade européia está sendo lentamente estrangulada. Mas a intelectualidade européia (será que ainda esiste algo que mereça esse nome?) tratou muito pouco desse problema. Até o presente momento, a discussão nos jornais e nos debates políticos oficiais, é ridícula, vazia, incosistente. Parece que ninguém consegue ver que a construção européia foi até o presente a causa (uma das causas) da piora sistemática das condições de vida dos trabalhadores. Apesar das mentiras e das bobagens contadas pela esquerda, a política fanaticamente monetarista da União produziu um apertão da despesa pública que piorou a qualidade de vida das populações e, ao mesmo tempo, impôs um verdadeiro arrocho salarial que foi acompanhado de um aumento sistemático do custo de vida.

O fanatismo monetarista do Banco Central Europeu (verdadeiro órgão de comando da vida política européia) escolheu alguns alvos preferidos. O da aposentadoria é, talvez, o mais evidente. Prolongar o tempo de trabalho é uma das obsessões do Neoliberalismo, e se baseia num acúmulo de mentiras puras e simples. Diz-se que o aumento da expectativa de vida coloca em risco a possibilidade de manter um equilíbrio econômico, esquecendo que a produtividade média social aumentou de cinco vezes nos últimos quarenta anos, de forma que não muda nada o fato de que o número de trabalhadores possa diminuir ligeiramente. Diz-se que os velhos devem trabalhar por mais tempo em solidariedade aos jovens – não há mentira mais repugnante do que essa: o prolongamento do tempo de trabalho dos anciãos tem, de fato, como consequência um aumento do desemprego da juventude, e uma condição de chantagem no mercado de trabalho que tornou possível um aumento desmedido da precariedade no trabalho.

A política do BCE está na origem da miséria européia. Se a União é isso, melhor que morra. Mas a morte da União, que a cada dia se faz mais provável, seria o começo de um inferno inimaginável. O desencadeamento de todos os demônios, que nos últimos anos foram mantidos sob controle, estaria bem próximo. Não só assinalaria o reemergir dos nacionalismos, mas também o precipitar da guerra civil inter-étnica nos países mediterrâneos, levados ao precipício de um perigoso e extremo empobrecimento.

Só um movimento do trabalho precário e do trabalho cognitivo, um movimento que coloque no centro da discussão política o salário único da cidadania pode salvar a União Européia, modificando radicalmente sua forma e substância. Mas um movimento assim parece hoje bastante improvável, bastante distante dos comportamentos psicopáticos e conformistas de uma geração de desesperados, cujo futuro parece não ter válvulas de escape. Um futuro de precariedade, de escravagem, de miséria material e psíquica. Uma geração da qual sobrará apenas o Facebook – tubo de respiração para a impotência e o narcisismo – para ter a sensação de poder falar livremente.

Grecia, inizia la tragedia europea

Franco Berardi “Bifo”

Il Manifesto 5/5/2010

La tragedia europea è iniziata. Tre morti in una banca di Atene sono il primo orribile bilancio di una guerra che il capitalismo finanziario ha scatenato contro la società, e da cui la società non sa come liberarsi. La società greca non può sopportare il diktat delle agenzie finanziarie che l’hanno spinta nel baratro della crisi, e ora pretendono che a pagare il prezzo siano i lavoratori. Spinta contro il muro della miseria, dell’umiliazione e della catastrofe, la società greca potrebbe reagire in maniera folle. Può essere l’inizio di una tragedia che non sarà limitata alla Grecia.

Quello che sta succedendo in Europa è straordinario e terrificante. Straordinario perché per la prima vol ta la costruzione europea entra in una crisi che minaccia di farsi definitiva, e perché questa potrebbe essere un’opportunità per iniziare una trasformazione in senso democratico e sociale di un’entità che finora non ha avuto i tratti della democrazia, ma piuttosto quelli di una dittatura tecno-finanziaria.
Terrificante perché mai come oggi ci rendiamo conto del fatto che l’intelligenza collettiva è dissolta, la voce della critica sociale è muta, la democrazia morta. Di conseguenza, se non accade qualcosa al momento attuale molto difficile da prevedere (il risveglio di una intelligenza collettiva capace di ridiscutere alla radice la ragion d’essere dell’entità europea), l’esito di questa crisi rischia di essere una tragedia destinata a distruggere quel che resta della civiltà sociale moderna nel continente europeo.

Un numero della rivista Loop del maggio 2009 si intitolava Finis Europae, e si chiedeva se l’Europa poteva sopravvivere al collasso finanziario. La risposta era che no, l’Europa non può sopravvivere al collasso se non si libera dalla dittatura della classe finanziaria che tiene in mano la corda con cui la società europea viene lentamente strangolata.
Ma di questo tema ben poco si è occupata finora l’intellettualità europea (ma esiste ancora qualcosa che meriti questo nome?) La discussione che si è svolta fin a questo momento sui giornali e nelle assisi politiche ufficiali è ridicola, vuota, inconsistente. Sembra che nessuno riesca a vedere che la costruzione europea è stata fino a questo momento la causa (una delle cause) del peggioramento sistematico delle condizioni di vita dei lavoratori. Nonostante le bugie e le cazzate raccontate dalla sinistra, la politica fanaticamente monetarista dell’Unione ha prodotto una stretta della spesa pubblica che ha peggiorato la qualità della vita delle popolazioni, e contemporaneamente ha imposto un vero e proprio blocco salariale che si è accompagnato con un aumento sistematico del costo della vita.

Il fanatismo monetarista della Bce (vero organo di comando sulla vita politica europea) ha scelto alcuni bersagli preferiti. Quello delle pensioni è forse il più evidente. Allungare il tempo di lavoro-vita è una delle ossessioni del Neoliberismo, e si fonda su un accumulo di menzogne pure e semplici. Si dice che l’aumento del tempo di vita media mette in pericolo la possibilità di mantenere un equilibrio economico, dimenticando che la produttività media sociale è aumentata di cinque volte negli ultimi quaranta anni, per cui non cambia niente il fatto che il numero dei produttori possa diminuire leggermente. Si dice che i vecchi debbono lavorare più a lungo per solidarietà nei confronti dei giovani, e non c’è menzogna più ripugnante di questa: il prolungamento del tempo di lavoro degli anziani ha infatti come conseguenza un aumento della disoccupazione giovanile, e una condizione di ricatto sul mercato del lavoro che ha reso possibile un aumento smisurato della precarietà lavorativa.

La politica della Bce è all’origine della miseria europea. Se L’Unione è questo, che muoia.
Ma la morte dell’Unione, che ogni giorno si fa più probabile, sarebbe l’inizio di un inferno inimmaginabile. Lo scatenamento di tutti i demoni che negli ultimi decenni si sono tenuti sotto controllo sarebbe dietro l’angolo. Non solo segnerebbe il riemergere dei nazionalismi, ma anche il precipitare della guerra civile interetnica, nei paesi mediterranei spinti nel baratro di un immiserimento pericoloso.

Solo un movimento del lavoro precario e del lavoro cognitivo, un movimento che ponga al centro della discussione politica il salario unico di cittadinanza può salvare l’Unione europea, modificandone radicalmente la forma e la sostanza. Ma un simile movimento sembra oggi quanto di più improbabile, quanto di più lontano dai comportamenti psicopatici e conformisti di una generazione di disperati il cui futuro sembra segnato senza vie d’uscita. Un futuro di precarietà, di schiavismo, di immiserimento materiale e psichico. Una generazione cui rimarrà solo Facebook – sfiatatoio dell’impotenza e del narcisismo – per avere la sensazione di poter parlare liberamente.

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