O Piquenique dos Abutres – Greg Palast
Bebedores de ouzo, cuspidores de azeitonas – ou como a Goldman saqueou a Grécia
Por: Greg Palast
Fonte: http://www.gregpalast.com
6 de novembro de 2011
Tradução: Agência Imediata
“Sabe qual o crime perfeito? Aquele que não é ilegal…”
Foi isso que nos disseram:
A economia grega desmoronou por causa de um monte de cuspidores de azeitonas, bebedores de ouzo e gregos preguiçosos que se recusam de trabalhar em tempo integral, que se aposentam quando ainda adolescentes, com aposentadorias de marajás, e que gastaram horrores com dinheiro emprestado. Agora que é hora de pagar a conta, e que os gregos deverão fazê-lo com taxas mais altas e cortes ao seu supérfluo estado social, eles se revoltam, gritam nas ruas, destroem vitrines e queimam os bancos.
Não acredito. Não acredito por causa de um documento que tenho em mãos assinalado: “DISTRIBUIÇÃO CONFIDENCIAL”.
Paro na acusação: a Grécia é a cena de um crime. O povo é vítima de uma fraude, de um cambalacho, um embuste e uma mistificação. E – tapem os ouvidos das crianças quando digo isso – um banco chamado Goldman Sachs tem nas mãos o revólver ainda esfumegante.
Em 2002, a Goldman Sachs comprou secretamente 2,3 bilhões de dívida do governo grego, converteu-a em dólares e yens, depois, imediatamente, revendeu-a ao governo grego.
A Goldman perdeu um imenso montante nessa transação.
Será a Goldman tão estúpida?
A Goldman é estúpida – como uma raposa. A troca era uma fraude, com a Goldman estabelecendo uma taxa de câmbio falsa e ridícula para a transação. Por que?
A Goldman fez um acordo secreto com o governo grego de então. O jogo: esconder um grande déficit orçamentário. A falsa perda da Goldman era, ao mesmo tempo, um falso ganho do governo grego.
A Goldman se recuperaria de suas “perdas” concedendo ao governo grego um empréstimos a taxas escorchantes.
Por meio dessa louca e custosa burla, o governo de direita defensor do livre-mercado pôde dizer que o seu déficit nunca tinha superado os três por cento do PIB.
Coisa esperta. Fraudulenta, mas esperta.
Mas as mistificações não saem baratas, nos tempos de hoje: além do pagamento dos juros assassinos, a Goldman cobrou dos gregos mais de um quarto de um bilhão de dólares em taxas.
Quando o novo governo socialista de George Papandreou chegou ao poder, eles abriram os livros contábeis, e deles saíram esvoaçantes os morcegos da Goldman. Os investidores, furiosos, passaram a cobrar taxas de juros monstruosas para emprestar mais dinheiro para rolar a dívida.
Aqueles que possuíam obrigações gregas, terrorizados, correram para comprar um seguro contra uma possível bancarrota da Grécia. O preço para os seguros das obrigações, os chamados credit default swap (ou CDS), também subiu monstruosamente. E quem será que lucrou horrores com a venda dos CDS? A Goldman.
E essas podreiras todas, os CDS vendidos pela Goldman e por outros? Será que eles não sabiam que estavam repassando aos clientes umas belas bostas folheadas a ouro?
Essa é uma especialidade da Goldman. Em 2007, ao mesmo tempo que os bancos estavam vendendo os CDS e os CDOs (packaged sub-prime mortgage securities) suspeitos, a Goldman manteve uma posição “net short” contra esses títulos. Efetivamente, a Goldman estava apostando que os seus “produtos” financeiros teriam acabado na privada. A Goldman conseguiu embolsar mais meio bilhão de dólares com essa burla sobre o “short”.
Mas, em vez de algemar o CEO da Goldman, Lloyd Blankfein, e levá-lo enjaulado para um parada em Atenas, estamos botando toda a culpa ao povo grego, vítima da fraude. Responsabilizado e atolado de culpa. O spread sobre as obrigações gregas (o termo usado para o prêmio de risco pago sobre a dívida corrompida da Grécia) subiu para – prestem atenção – 14.000 dólares por família por ano.
A Euro-nação, o memorando secreto de Geither e a Equador connection
Por que o governo grego confiou seu destino nas gordurosas mãos da Goldman? Que diabo tinha no documento “CONFIDENCIAL”? E por que eu tive que ir a Genebra para consegui-lo, para atirá-lo na cara do Diretor Geral da OMC para autenticação, um banqueiro francês arrepiante em cuja cara não daria vontade nem de cuspir, para depois viajar a Quito para compartilhá-lo com o grato presidente do Equador?
Para dar todas as respostas, precisei escrever um livro: Vultures’ Picnic––in Pursuit of Petroleum Pigs, Power Pirates and High-Finance Fraudsters (O Piquenique dos Abutres – em busca dos Porcos do Petróleo, Piratas do Poder e Fraudugangsters das Altas Finanças).
Mas se vocês têm lido meus artigos no The Guardian ou visto minhas matérias na BBC Newsnight, vocês estão por dentro dos fatos; mas quero que vocês entrem nas investigações, passem de um continente para outro e me sigam para que eu possa dar uma visão de conjunto das Bestas. As Bestas e suas mulheres-troféu, seus ‘office-boys’ das agências de ‘intelligence’, seus concubinos políticos e seus bandidos quebra-ossos. Mas é também muito divertido, quando não lhe faz c*gar nas calças…
Artigo original, em inglês, aqui:
Lazy Ouzo-Swilling, Olive-Pit Spitting GreeksOr, How Goldman Sacked Greece
Tradução para o italiano, aqui:
http://www.comedonchisciotte.org/site/modules.php?name=News&file=article&sid=9308
Vultures’ Picnic – Chapter 12 – The Generalissimo of Globalization
Word of the day: Credit Default Swap