>> “O gebo e a sombra”, de Manoel de Oliveira (trailers e crítica)


“O gebo e a sombra”, de Manoel de Oliveira

Último filme do famoso cineasta português Manoel de Oliveira (103 frutíferos anos), baseado em obra de Raul Brandão. Do elenco, participam Claudia Cardinale e Jeanne Moreau.

O Gebo e a Sombra – trailer legendado em português



Claudia Cardinale Jeanne Moreau 2012 (em francês com legendas em italiano)
http://youtu.be/6OwUB_R6O6Q

Claudia Cardinale shines at Film Festival Venice (em italiano com legendas em inglês)


Crítica do filme por Inácio Araújo, na Folha de São Paulo de 24/10/2012:

36ª MOSTRA DE SP

Manoel de Oliveira dá sentido à crise
“O Gebo e a Sombra”, nova produção do diretor português, discute pobreza e honra na Europa

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA


O assunto de Manoel de Oliveira em “O Gebo e a Sombra”, sem ambiguidades, é a pobreza. Não estamos no agora da crise europeia, mas provavelmente na virada do século 19 para o 20.

Gebo (Michael Lonsdale) é o pobre guarda-livros que luta para esconder da mulher, Doroteia (Claudia Cardinale), a verdadeira natureza e as atividades do filho (Ricardo Trêpa), que ela não vê há muito. Gebo representa a resignação diante do mundo, é fato. Exatamente aquilo que o filho João rejeita.

Antes de prosseguir na descrição da ação do filme é preciso deter-se um pouco em sua forma. Oliveira trabalha como que num teatro, usando como cenário praticamente único a sala da casa de Gebo.

Ali, Gebo conversa ora com a nora Sofia (Leonor Amarante), ora com Doroteia ou algum outro conviva.

Doroteia é uma mulher queixosa. Quer sempre saber do filho. Gebo desconversa.

A mãe não deve saber que o filho é um ladrão (“isso a mataria”). Esse cenário único, essa imobilidade (determinada seja pelo trabalho, seja pelo frio) podem dar ao espectador desatento a falsa impressão de um filme desprovido de ação.

Nada mais inexato. Se a teatralidade é evidente, a ação é febril. Mais febril se torna depois que João aparece (entra como um fantasma) e fica então claríssimo que é alguém que não aceita a sua condição,a pobreza. Prefere roubar.

Enquanto isso, Gebo ocupará sempre mais o lugar do pobre. Para ele existem a decência, o sacrifício, a renúncia.

Em suma, na hora do aperto ao pobre resta a honra. Ou, mais precisamente: a fome e a honra. Não parece que essa formulação, tomada no coração da crise que toma a Europa, seja casual. O sentido de oportunidade de Oliveira faz parte de mais este filme precioso do autor português.

AVALIAÇÃO ótimo

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