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POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS
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Boletim Número 474 – 22 de janeiro de 2010

O estudo recente de pesquisadores franceses que aponta impactos do milho transgênico à saúde chama atenção não só pelos danos que comprova, mas principalmente por mostrar que chegou-se a tais conclusões após análise criteriosa de estudos da própria Monsanto. São esses dados exatamente os mesmos analisados por órgãos reguladores e que a empresa manteve sob sigilo até ser obrigada judicialmente a torná-los públicos. A divulgação permitiu que o biólogo molecular Gilles-Eric Séralini e sua equipe comparassem os efeitos das variedades MON 863, NK 603 e MON 810 sobre a saúde de mamíferos. As duas últimas estão aprovadas no Brasil, bem como a semente resultante de seu cruzamento.

Cada um desses milhos provocou reações diferenciadas no organismo das cobaias, mas em comum apresentaram efeitos colaterais novos que variaram em função do sexo e da dose ingerida, concentrando-se principalmente sobre fígado e rim, órgãos ligados à eliminação de impurezas. Em quase todos os ratos de todos os grupos tratados com ração de milho transgênico observou-se tendência a distúrbios fisiológicos.

Tão precários são os dados submetidos às autoridades, que além de o número de ratos testados ser pequeno demais para se aplicar uma análise estatística com boa margem de confiança, em nenhum momento está demonstrado que a ração fornecida ao grupo controle era de milho não-transgênico.

Em função da baixa qualidade dos dados, a equipe de Séralini afirma ter chegado a claros “sinais de toxicidade” resultante da ingestão das três variedades de milho testadas, frisando a diferença desses para “efeitos tóxicos”, estes sim deletérios no curto ou médio prazo. Para obter-se confirmações mais incisivas seria necessário repetir os testes — que foram feitos uma única vez –, usar outras espécies como cobaia e estender o período de avaliação de 30 ou 90 dias para dois anos.

No caso do NK 603, os dados apontam perda renal e alterações nos níveis de creatinina no sangue e na urina, que podem estar relacionados a problemas musculares. É por esse motivo que os pesquisadores destacam que o coração foi afetado nos ratos alimentados com esta variedade. A alteração do tamanho dos poros da membrana renal, como evidenciado pelos dados, pode ser resultado da presença de resíduos de glifosato, ingrediente ativo do herbicida aplicado sobre esta variedade de milho. A CTNBio, por sua vez, informa que “o milho NK603 é tão seguro quanto às versões convencionais”, que a modificação genética “não modificou a composição nem o valor nutricional do milho”, que “há evidências cientificas sólidas de que o milho NK 603 não apresenta efeitos adversos à saúde humana e animal” e que “o valor nutricional do grão derivado do OGM referido tem potencial de ser, na realidade, superior ao do grão tradicional”.

O quadro para o MON 810 não muda muito. Embora os machos em geral demonstrem maior sensibilidade a tóxicos, foram as fêmeas que apresentaram ligeiro aumento do peso dos rins, que pode corresponder a uma hiperplasia branda, geralmente presente quando associada a processos imunoinflamatórios.

Por essas e outras os autores do artigo publicado no International Journal of Biological Sciences concluem que os dados sugerem fortemente que estas três variedades de milho modificado induzem a um estado de toxicidade hepatorrenal, que pode resultar da exposição a pesticidas (glifosato e Bt) que nunca fizeram parte de nossa alimentação. Já a CTNBio avalia que no caso do MON 810 “os efeitos intencionais da modificação [genética] não comprometeram sua segurança nem resultaram em efeitos não-pretendidos” e que a “proteína é tóxica somente para lagartas”.

Ao contrário da certeza prontamente manifestada por nossos próceres doutores, os dados da própria Monsanto, quando rigorosamente analisados, não permitem que se demonstre que seus produtos são seguros para o consumo humano ou animal.

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