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Modesta e singela contribuição de
Artur d’Amaru
ao recente apelo-estratégia lançado por mega-multi-bi-trilionários a outros mega-multi-bi-trilionários para fazerem seus lances no Kassino-Kapital-Karitativo – o modo mais tranquilo e seguro para honrar e preservar o status quo…

“Nemo dat quod non habet”
(Não se pode dar o que não se tem) – Máxima latina

“Quem faz o mal, e teme que alguém o descubra, ainda tem uma semente do bem no seu mal; quem faz o bem, e fica ansioso para que alguém o descubra, ainda tem uma semente do mal no seu bem.” Provérbio chinês

“Philantropic people loose all sense of humanity…”
(As pessoas filantrópicas perdem todo o senso de humanidade…”) Oscar Wilde

Precisamos de mãos suplicantes e desesperadas.

De carentes. De mendigos. De destituídos. Em prol do aprimoramento de nossas Públicas (des)Relações.

Por toda a grana em que metemos a mão, temos que propiciar a graça de “devolver à comunidade” alguns desvalorizados tostões, provando o quanto somos bons e benfazejos na falsa e hipócrita retribuição que fazemos, e reivindicando, assim, como não há sistema mais altruísta e justo que aquele que a todos impomos.

Desregulamentemos tudo, por favor, menos o abuso da feudal filantropia, que é a forma bestial, habitual e consagrada de revertermos nossa impune e desmedida ganância à pretensa preocupação de assistência aos oprimidos, aos explorados, aos mortos de fome…

Fazemos questão de sermos imortalizados
como promotores de tudo o que há de bom e de melhor.
Excelência em exploração caritativa.
Alegando ajuda a uma minoria e imolando no altar do capital a humanidade inteira,
nós, frívolos líderes da vaidade terminal…
Não como trilionários ou bilionários, que seja, mas como franco-atiradores, em nossa avara e planejada condescendência de doadores de parcos trocados aos “mais necessitados, aos “menos favorecidos”, aos “subprivilegiados”…
Haverá melhor forma de ofuscar como falso despojamento, desprendimento e prodigalidade toda a real voracidade de lucro e poder que foi e é a essência de nossas vidas? Todas as falcatruas que praticamos, todos os impostos que não pagamos, as taxas que evadimos, os tributos que não recolhemos?

Que viva a humanidade num eterno inferno social, mas que sejam preservados nossos paraísos fiscais e nosso ímpeto caritativo vão e incontinente…

Se esticamos dois paus e três moedinhas a um dos milhões que empregamos com salários de servos e despedimos sem benefícios sociais, sem seguro saúde, sem escola gratuita, sem aposentadoria digna…. Eis que desempatamos no jogo da vil e maníaca pseudoconsciência filantropo-capitalista!

Enquanto vendemos como comida alimentos contaminados e envenenados, mandamos marchar “soldados-cabeças-de-papel” para matar, destroçar e aniquilar em troca de míseros soldos, emitimos ordens de despejo a todos os que se atrasam em suas prestações hipotecárias, fechamos escolas, suprimimos a educação pública, reduzimos os meios de transporte ao mínimo necessário para que a arraia miúda possa nos servir adequadamente, abolimos qualquer resquício de redes de emancipação e suporte, cancelamos todo tipo de programa social… deve ser nossa prioridade absoluta passar algumas nojentas cédulas como “fundos” para os indecentes indigentes (que criamos). Afinal, para que destruir o Estado (que deveria ser um bem comum de todos) e privatizar até os pentelhos da mãe joana se não for para ressaltar a nossa magnificência, outorgar-nos a exclusividade da patente da caridade (descarados, desvergonhados e caras-de-pau que somos), quando tudo o que fazemos é apenas retinir meia-dúzia de cobres enferrujados como se fossem a chave da fortuna?

Esmolambados do mundo, uni-vos
para o nosso deleite e a nossa diversão,
enquanto, ao ostentar a nossa bondade,
seduzindo-vos com um par de patacas
estamos, ao mesmo tempo,
garantindo que tudo continuará como está.

Camumbembes mambembes dependentes desvalidos
Vinde atirar-vos, mesquinhos e patéticos, aos pés de nossa articulada magnanimidade
para ver quem será o vencedor de nossa avarenta prodigalidade lotérica… nosso baú da felicidade… nossa feira da bondade…
Vinde comprar os bilhetes de nossas rifas beneficientes, de nossos consórcios dos carentes, materializados em óbolos cuidadosamente diluídos para cada vez mais dividir-vos e cada vez melhor gerenciar-vos.

Indigentes miseráveis descartáveis enroscados em apuros
Vinde honrar a benevolência de nossas mufunfas e jabaculês…
dedutíveis dos impostos. Assim, quem definirá a despolítica… sempre e para sempre… seremos sempre nós…

Pedidores desmilinguidos engasgados em sofreguidão,
desprezíveis despossuídos desterrados desenterrados…
Apressem-se TODOS
para poderem usufruir,
como viciados e dependentes fregueses de nossa
filantropia medieval antropofágica…
nossa “ajuda” humanitária… o néctar de nossa exploração…

de modo a perpetuar-nos como
destemperados predadores e parasitas às vossas
custas.
Extremamente generosos na nossa tacanha perversidade
de deixar as coisas como estão…

exímios pluto-cleptocratas que somos…

peritos em deixá-los eternamente enrascados na condição de sub-humanos mendicantes…

esmoleiros perenemente entalados e sequestrados nesta milagrosa
Kermesse do Grande Kapital Kanibal…

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