Eleições no Brasil: as mais importantes de 2002 ?

 

 


Steve Coble
The Nation

Tradução Imediata

Sim, a disputa para as cadeiras do Senado dos EUA no próximo mês de novembro é fundamental para manter ou expandir a margem de um posto que Tom Daschle tem em confronto com Trent Lott. Sim, seria útil substituir Dennis Hastert e Tom DeLay por Dick Gephardt e Nancy Pelosi. E seria certamente satisfatório conquistar uma pequena porção de justiça se Jeb Bush se aposentasse, por ter ajudado e instigado a fraude em uma eleição.

Apesar disso, as eleições mais importantes deste outono para os progressistas, para aqueles que se preocupam com a crescente divisão entre ricos e pobres, para aqueles que se opõem ao irrestrito comércio corporativo, são as do dia 6 de outubro, as eleições presidenciais do Brasil.

O candidato favorito é "Lula," Luiz Inácio Lula da Silva, o número um do Partido dos Trabalhadores do Brasil (o PT) e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos. Lula já concorreu para a presidência três vezes; ele já esteve na frente das sondagens antes; mas a cada vez, foi vencido pelo dinheiro da oposição, pelas ofensas pessoais, pelas táticas de amedrontamento e pela chantagem aberta do sistema financeiro e bancário internacional, o qual, de fato, diz aos eleitores do Brasil: "Se vocês elegerem Lula, nós vamos retirar os empréstimos, reduzir a avaliação de risco de crédito do país e lançar a economia de vocês na desordem. (Vide Chile, 1971-73, para maiores detalhes.)

Wall Street já está rebaixando a batida do tambor. Entretanto, um grande problema que Morgan Stanley, Merrill Lynch e o resto têm é que a economia brasileira já se encontra em sérias dificuldades, e o Partido dos Trabalhadores não pode ser culpado por isso.

Wall Street tem um segundo problema –se bem de que para Wall Street trata-se apenas de uma pequeno inconveniente– é que é ilegal para os candidatos brasileiros aceitarem dinheiro dos EUA para suas campanhas. Portanto, a abordagem tradicional da livre-empresa de compra das eleições será um pouco mais difícil no Brasil este ano, e poderá requerer intervenções mais "criativas".

É aí que entra a comunidade progressista dos EUA. Como não podemos votar no Brasil, como não podemos dar dinheiro aos candidatos brasileiros, e como não temos canais de televisão internacionais que possam ser usados para influenciar a campanha dos brasileiros (Como é possível? Com todo o dinheiro que temos das fundações/Hollywood/trabalho/organizações da mulher/meio-ambiente, porque não temos a nossa própria FOX TV? A nossa própria CNN?), parece-me que nosso trabalho é fazer todo o esforço possível para impedir que o pessoal das corporações não possa intervir.

A intervenção externa no Brasil poderia ter várias formas:

§ Sem dúvida alguma, Wall Street continuará a usar seus mecanismos de financiamento para favorecer os oponentes de Lula, tentando provocar pânico nos eleitores brasileiros. Protagonistas corporativos individuais, naturalmente, poderiam também decidir ignorar os regulamentos, como fizeram no passado. (Vide a ITT no Chile, a United Fruit na Guatemala, a Enron na Índia.)

§ George W. Bush poderia se sentir inspirado a fazer um de seus sermões hipócritas e resmungões a outras nações sobre liberdade e democracia, enquanto ao mesmo tempo diz que devem escolher o líder que Ele deseja. Ultimamente, é claro, as palestras de Bush têm sido verdadeiros fiascos, especialmente aquelas com relação ao resto do mundo. O problema para os brasileiros é que o ‘arbusto’ tem o suporte do grande capital privado, dos grandes fundos internacionais, dos aliados hemisféricos que procuram ajuda para suas próprias dívidas e, enfim, de um exército bem grande. (Vide Flórida, Cuba, Palestina e Iraque para maiores detalhes.)

§ O chamado National Endowment for Democracy (NED) poderia usar dólares dos nossos contribuintes para subverter e minar o processo eleitoral justo e democrático do Brasil, assim como acabam de fazer na Venezuela. O NED tem feito alguns projetos úteis no planeta, mas com muito mais frequência tem sido tentado a refazer outros países segundo a sua própria imagem, à custa de eleições livres e justas. O NED opera sobretudo sob o radar da mídia dos EUA, através de centros financiados pelo setor público e privado, conectados aos dois maiores partidos políticos. O International Republican Institute, em particular, é um protagonista agressivo no setor dos negócios exteriores, com muito dinheiro para gastar, organizadores profissionais de direita para juntar suporte ou causar problemas e uma ampla latitude para assistir aos objetivos da elite em termos de política exterior, com pouco ou nenhum escrutínio público. (Vide Nicarágua 1990 e Venezuela 2002 para maiores detalhes.)

O que a comunidade progressista deveria estar fazendo?

(1) Deveríamos usar nossos recursos para examinar o que o mundo das corporações está fazendo no Brasil durante este período eleitoral. As fundações progressistas deveriam imediatamente disponibilizar fundos para organizações políticas públicas que têm a capacidade de acompanhar o uso do dinheiro, gerar propaganda, conduzir pesquisas sobre a estrutura de poder e descobrir o que a política exterior dos EUA e as entidades corporativas têm, secretamente, intenção de fazer.

(2) Deveríamos fazer todo o esforço para divulgar as intervenções dos EUA e revelar todas as manipulações feitas atrás dos bastidores. Como a maioria dos eleitores brasileiros ficaria ressentida com a interferência dos EUA em suas eleições livres, tal propaganda poderia acabar virando contra os defensores corporativos do livre comércio.

(3) Deveríamos colocar pesquisas e informações nas mãos da mídia dos EUA, da América Latina, da Europa, nossos aliados na imprensa da Internet e líderes americanos proeminentes que possam ajudar a fazer um escândalo de grandes proporções no caso de qualquer intervenção clandestina.

Uma dessas pessoas é o Reverendo Jesse Jackson Sr., que esteve no Brasil várias vezes no passado, contou com a presença de Lula e de outros líderes do Partido dos Trabalhadores nas reuniões do Rainbow/PUSH, é popular no Brasil (a nação com mais eleitores de descendência africana depois da Nigéria) e cujo Wall Street Project poderia até ajudar a encontrar os especialistas financeiros capazes de abrandar os ataques de Wall Street.

Outro líder progressista é o presidente da AFL-CIO, John Sweeney, que poderia confrontar aqueles que em Wall Street e no governo Bush tentariam subverter as eleições livres e justas no Brasil. Pensem na paisagem do comércio internacional depois de uma bem-sucedida campanha de Lula –a posição de John Sweeney ficaria altamente fortalecida no ano que vem, depois que assumiu uma postura a favor do comércio justo e contra a globalização irrestrita/ALCA para a América do Sul/fast track. Afinal de contas, o Brasil tem uma das maiores economias do mundo (e certamente do Sul global), juntamente com uma quase mítica estatura cultural. A firme oposição brasileira ao comércio corporativo irrestrito, combinada com os problemas atuais das corporações dos EUA, desaceleraria a corrida hemisférica em direção à ALCA. Além disso, qualquer acordo comercial alcançado, provavelmente, incluiria sérios acordos trabalhistas e ambientais. A eleição de Lula seria, em si, o golpe mais forte a favor do justo comércio e da equalização da divisão entre pobres e ricos que podemos imaginar para este ano.

O tempo de agir é agora. Qualquer fundação que se vê como parte de um movimento geral contra a globalização conduzida pelas corporações, que lida com questões relativas ao Norte/Sul, que financia operações de comércio justo ou pró-democracia, deveria considerar com que rapidez pode alocar dinheiro para a pesquisa progressista e para os grupos ativistas que podem contribuir para assegurar que os EUA não manchem o bom nome da democracia no Brasil neste ano, da forma como acabam de fazer na Venezuela.

Nosso objetivo não é intervir nas eleições brasileiras, mas impedir que os protagonistas das corporações e seus aliados não intervenham para subverter a democracia brasileira neste outono. Temos um pequeno papel a desempenhar nesse drama; mas se agirmos rapidamente, é possível que seremos capazes de prevenir que alguns grandes "ugly Americans" possam causar uma maior injustiça. Este não é somente o ano da Copa do Mundo para o Brasil. Este é o ano no qual o povo brasileiro pode mudar a direção do hemisfério ocidental.

 

 

The Most Important Election of 2002?

by Steve Cobble

Yes, the US Senate races this November are critical to maintain or expand Tom Daschle's one-seat margin over Trent Lott. Yes, it would be useful to replace Dennis Hastert and Tom DeLay with Dick Gephardt and Nancy Pelosi. And it certainly would be satisfying to gain a small portion of justice by retiring Jeb Bush, for aiding and abetting the theft of an election.

Hands down, though, the most important election this fall for progressives, for those who worry about the growing divide between rich and poor, for those who oppose unfettered corporate trade, is the October 6 presidential election in Brazil.

The current front-runner is "Lula," Luiz Inacio Lula da Silva, the head of the Workers Party in Brazil (the PT) and the former head of the Metalworkers Union. Lula has run for president three times before; he has even been ahead in the polls before; but each time, he was defeated by the opposition's money, personal smears, scare tactics and the open blackmail of international banking, which, in effect, says to Brazil, If you elect Lula, we'll pull your loans, downgrade your credit ratings and throw your economy into turmoil. (See Chile, 1971-73, for further details.)

Wall Street is already banging the downgrade drum. However, one big problem that Morgan Stanley, Merrill Lynch and the rest have is that the Brazilian economy is already in serious straits, and the Workers Party can't be blamed for it.

A second problem Wall Street has--though for Wall Street it's probably just a minor inconvenience--is that it is illegal for Brazilian candidates to accept US money for their campaigns. Thus the time-honored free-enterprise approach of buying the election will be somewhat harder in Brazil this year, and may require more "creative" interventions.

This is where the US progressive community comes in. Since we cannot vote in Brazil, since we cannot give money to Brazilian candidates and since we have no international television stations to use to influence their campaign (Why is that? With all the foundation/Hollywood/labor/women's/environmental money we have, why do we not have our own FOX TV? Our own CNN?), it seems to me that our job is to make every effort to keep the corporate boys from intervening.

Outside intervention in Brazil could take several forms:

§ Wall Street will no doubt continue to use its financial mechanisms to favor Lula's opponents, by attempting to panic Brazilian voters. Individual corporate actors, of course, could also decide to ignore the rules, as they have done in the past. (See ITT in Chile, United Fruit in Guatemala, Enron in India.)

§ George W. Bush may feel inspired to issue one of his hypocritical, nagging lectures to other nations about freedom and democracy, while telling them they have to pick the leader he wants. Lately, of course, Bush's lectures have been notorious flops, especially with the rest of the world. The problem for Brazilians is that Shrub is backed by big private money, big international funds, hemispheric allies looking for help with their own debts and, ultimately, a big army. (See Florida, Cuba, Palestine and Iraq for further details.)

§ The so-called National Endowment for Democracy (NED) may use our tax dollars to subvert and undermine fair and democratic elections in Brazil, as they have just been caught doing in Venezuela. The NED has done some useful projects around the globe, but far too often it has been tempted to remake other countries in its own image, at the expense of free and fair elections. The NED operates largely below the radar of the US media, through publicly and privately funded centers connected to the two major political parties. The International Republican Institute in particular is an aggressive actor in foreign affairs, with lots of money to spend, professional right-wing organizers to drum up support or cause trouble and wide latitude to assist elite foreign policy objectives with little or no public scrutiny. (See Nicaragua 1990, Venezuela 2002 for further details.)

What should the progressive community be doing?

(1) We should be using our resources to examine what the corporate world is doing in Brazil during this election season. Progressive foundations should immediately make available funding to public policy organizations that are skilled at following the money, generating publicity, conducting power-structure research and in general finding out what US foreign policy and corporate entities are secretly up to.

(2) We should make every effort to publicize US interventions, bringing any behind-the-scenes manipulation to light. Since regular Brazilian voters will resent US interference with their free elections, such publicity could well "blow back" to the corporate free traders' detriment.

(3) We should put our research and information in the hands of the US media, the Latin American media, the European media, our Internet press allies and prominent American leaders who can help make a larger scandal out of any clandestine interventions.

One such person is the Rev. Jesse Jackson Sr., who has been to Brazil several times in the past, has had Lula and other top Workers Party leaders at Rainbow/PUSH gatherings, is popular in Brazil (a nation with more voters of African descent than any nation besides Nigeria) and whose Wall Street Project could even help locate financial experts who could blunt the usual Wall Street attacks.

Another such progressive leader is AFL-CIO president John Sweeney, who could help confront those on Wall Street and in the Bush Administration who would subvert free and fair Brazilian elections. Think about the international trade landscape after a successful Lula campaign--John Sweeney's hand would be greatly strengthened next year when he stood up for fair trade against more unfettered globalization/NAFTA for South America/fast track. After all, Brazil has one of the largest economies in the world (and certainly in the global South), along with an almost mythical cultural stature. Steadfast Brazilian opposition to unfettered corporate trade, combined with current US corporate problems, would slow down the rush to a hemispheric NAFTA. Plus, any trade agreements reached would be much more likely to include serious worker and environmental agreements. Lula's election would be the single strongest blow on behalf of fair trade and equalizing the poor/rich divide that we could imagine this year.

And the time to act is now. Any foundation that sees itself as part of the overall movement against corporate-led globalization, that works on North/South issues, that funds fair-trade or pro-democracy work, should be considering how quickly it can move money to progressive research and activist groups that can help make sure that the United States does not besmirch the good name of democracy in Brazil this year, as was just done in Venezuela.

Our goal is not to intervene in Brazilian elections; it is to keep powerful corporate actors and their allies from intervening to subvert Brazilian democracy this fall. We have a small role to play in this drama; but if we act quickly, we may be able to prevent some big "ugly Americans" from causing a large injustice. This is not only the year of the World Cup for Brazil. This is the year that the Brazilian people could change the direction of the Western hemisphere.

 

 

 

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