O mundo polarizado da globalização

(Uma resposta à hipótese da terra plana de Tom Friedman)

 

 


Vandana Shiva

Fonte: zmag
maio de 2005

Tradução Imediata

O projeto da globalização corporativa é um projeto para a polarização e a divisão das pessoas — ao longo do eixo da desigualdade econômica e de classe, do eixo da religião e da cultura, do eixo do gênero, do eixo das geografias e regiões.

Nunca, em toda a história humana, o hiato entre aqueles que trabalham e aqueles que acumulam riqueza foi maior que hoje. Nunca como hoje o ódio entre as culturas foi tão global. Nunca como hoje houve uma convergência global de três tendências — a violência da acumulação primitiva para a criação de riqueza, a violências das "guerras culturais", e a violência da guerra militarizada.

Apesar disso, Thomas Friedman descreve esse mundo profundamente dividido, criado pela globalização, e seus múltiplos descendentes de insegurança e polarização, como um mundo "plano", "nivelado". Em seu livro "The world is Flat" ("O mundo é plano"), Friedman tenta desesperadamente argumentar que a globalização é um nivelador de desigualdades na sociedade. Acontece que, quando olhamos somente para a - worldwide web, ou seja, a rede da tecnologia de informação, e recusamos de olhar para a rede da vida, a rede alimentar, a rede comunitária, a rede das economias e das culturas locais, que estão sendo destruídas pela globalização, fica fácil formular argumentos falsos e falaciosos, como o de que o mundo é plano.

Quando olhamos para o mundo pousado nas alturas do poder cego e arrogante, separados e desconectados daqueles que perderem seu ganha-pão, estilos de vida, e vida — agricultores e trabalhadores, em qualquer lugar — é fácil ficar cego tanto com relação aos vales de pobreza quanto às montanhas de abundância.

A visão niveladora é uma doença. Mas Friedman gostaria que tivéssemos a mesma visão niveladora, perversa e enferma que ele tem das polarizações das globalizações, como uma revolução que almeja reverter as revoluções que nos permitiram ver que o mundo é redondo e que a terra gira em torno do sol, não o contrário disso.

Friedman reduziu o mundo aos amigos que visita, aos presidentes e diretores gerais que ele conhece, e aos campos de golfe onde joga. A partir desse microcosmo de privilégio, exclusão, cegueira, ele exclui tanto a beleza da diversidade quanto a brutalidade da exploração e da desigualdade, ele deixa de fora a exterioridade social e ecológica da globalização econômica e do livre comércio, ele exclui as muralhas que a globalização está construindo — muros de insegurança, de ódio e de medo — muros de "propriedade intelectual", muros de privatização.

Ele se concentra somente nas leis, regulamentações e políticas que eram as proteções dos fracos e vulneráveis, em barreiras necessárias como condições demarcatórias para o exercício da liberdade e da democracia, dos direitos e da justiça, paz e segurança, sustentabilidade e partilha dos preciosos e vitais recursos da terra. E ele vê o desmantelamento dessas proteções ecológicas e sociais em prol do comércio desregulamentado como um "nivelamento".

Mas esse nivelamento de que fala é como o nivelamento das cidades pelas bombas, o nivelamento das costas asiáticas pelo tsunami, o nivelamento das florestas e terras tribais em prol da construção de represas e minas de minérios. A conceitualização do mundo de Friedman como plano, nivelado, é precisa somente como descrição da destruição social e ecológica causada pelo comércio desregulamentado ou "livre comércio". Em todos os outros aspectos, é errada e falsa.

Consideremos a descrição de Friedman sobre as ondas de globalização. Segundo ele, a globalização 1.0 durou de 1492, quando Colombo levantou as velas, a 1800, e encolheu o mundo de um tamanho grande para um tamanho médio, com países e governos destruindo barreiras e tricotando o mundo em conjunto. A globalização 2.0, que durou de 1800 a 2000, encolheu o mundo de um tamanho médio a um tamanho pequeno, e o agente fundamental dessa mudança foram as companhias multinacionais. A globalização 3.0 começou em 2000, e está encolhendo o mundo de um tamanho pequeno a um tamanho ínfimo, e estaria sendo impulsionada pelos indivíduos.

Essa é uma visão totalmente falsa da história. De uma perspectiva do sul do mundo, as três ondas de globalização se basearam no uso da força, foram impulsionadas pela ganância, e resultaram na expropriação e no deslocamento. Para os nativos americanos, a globalização 1.0 começou em 1492 e ainda não acabou.

Para nós, na Índia, a primeira onda de globalização foi impulsionada pela primeira corporação global, a Companhia das Índias Orientais, trabalhando em colaboração estreita com a equipe britânica, e não acabou até 1947, quando declaramos a nossa Independência. Consideramos a fase atual como uma recolonização, com uma parceria similar entre as corporações multinacionais e os governos todo-poderosos. É conduzida pelas corporações, não pelos indivíduos. E a fase atual não começou em 2000, como Friedman gostaria que acreditássemos. Começou em 1980, com os programas de ajustes estruturais do Banco Mundial e do FMI impondo a liberalização do comércio e a privatização, e foi acelerada desde 1995, com o estabelecimento da Organização Mundial do Comércio, no fim da Rodada do Uruguai do GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio).

A falsa estória de Friedman de que a terra é plana lhe permite dar dois passes de mágica — os resultados dos tratados coercitivos e não democráticos de "livre comércio" são reduzidos às realizações da tecnologia da informação e a globalização corporativa e o controle corporativo são apresentados como as colaborações e competições entre indivíduos. A OMC, o Banco Mundial e o FMI desaparecem, e as corporações multinacionais desaparecem. A globalização então, diz respeito à inevitabilidade tecnológica e à capacidade de inovação individual, e não a um projeto de poderosas corporações ajudadas por poderosas instituições e poderosos governos.

Nem o e-commerce nem a walmartização da economia poderiam ocorrer sem o desmantelamento das proteções ao comércio, das proteções aos trabalhadores, das proteções ambientais. A tecnologia de comunicação não pode suprir mercadorias a longa distância, incluindo produtos alimentares mais baratos, que o fornecedor local. São os baixos salários, os subsídios, a externalização dos custos que tornam a "Wal" barata, e não a sua gerência da linha de suprimento baseada na tecnologia de informação.

Em 1988, eu me encontrava em Berlim, antes da queda do muro de Berlim. Fazíamos parte da maior mobilização que houve contra o Banco Mundial. Dirigindo-nos a uma manifestação com quase 100.000 pessoas no muro de Berlim, eu disse que o muro de Berlim deveria cair, assim como deveria cair o muro entre os ricos e os pobres que o Banco Mundial cria, trancando o Terceiro Mundo na dívida, privatizando nossos recursos, e transformando nossas economias em mercados para as corporações multinacionais. Falei sobre como a aliança entre o Banco Mundial e as corporações globais estava estabelecendo um comando centralizado e autoritário como o comunismo, em seu controle, mas diferente quanto aos objetivos de lucros, como o único fim do poder. Como movimentos, nós buscamos e lutamos por destruir os muros do poder e da desigualdade.

A visão niveladora de Friedman o torna cego quanto à emergência do controle corporativo através das regras da globalização corporativa como o estabelecimento da regra autoritária e das economias de controle centralizado. Ele apresenta o colapso do muro de Berlim como tendo "inclinado o equilíbrio em todo o mundo, a favor daqueles que defendem uma governança democrática, consensual, e orientada para o livre mercado, e contra aqueles que defendem o comando autoritário das economias com planejamento centralizado".

Os movimentos dos cidadãos contra a globalização defendem uma governança democrática e consensual e lutam contra a OMC, o Banco Mundial e as corporações globais justamente porque essas entidades são não democráticas e ditatoriais; elas são autoritárias e centralizadas. O acordo da OMC sobre a agricultura foi esboçado por Amstutz, funcionário da Cargill, e foi ele quem liderou as negociações sobre agricultura durante a Rodada do Uruguai e agora está encarregado dos Alimentos e Agricultura na Constituição do Iraque. Trata-se de um controle autoritário, com planejamento centralizado sobre os alimentos e a agricultura.

É por isso que a resposta democrática e consensual dos movimentos de cidadãos e dos governos do Terceiro Mundo em Cancun levaram ao colapso do ministerial da OMC. E foram exatamente os chamados "niveladores" que erigiram muros — as barricadas nas quais o agricultor coreano Lee se suicidou, os muros que o Representante para o Comércio dos EUA, Zoellick tentou criar entre os países "que podem fazer" e os países "que não podem fazer". O que Zoellick e Friedman não conseguem ver é que o que eles chamam de "que não podem fazer" é o "que podem fazer" para a defesa de agricultores frente ao dumping (N. do T.: venda de preços inferiores ao normal.) e ao comércio injusto.

O mundo deles é moldado e concentrado na Cargill — o nosso mundo é moldado e concentrado nos 300 milhões de espécies e 6 bilhões de pessoas.

O maior muro criado pela OMC é o muro do comércio relativo ao Acordo de Direitos de Propriedade Intelectual (Intellectual Property Rights Agreement, ou TRIPS). Isso também é parte de um controle autoritário com planejamento centralizado. Conforme admitido pela Monsanto, ao esboçar o acordo, as corporações organizadas como uma Comissão de Propriedade Intelectual eram "os pacientes, os diagnosticadores e os médicos — tudo ao mesmo tempo". Ao invés de contar a história dos TRIPS e de como a globalização imposta pelas corporações e pela OMC está levando a Índia a destruir as suas democraticamente concebidas leis de patentes, criando monopólios sobre as sementes e remédios, levando agricultores ao suicídio e negando às vítimas da AIDS, do câncer, da tuberculose e da malária o acesso aos remédios que lhes salvariam a vida, Friedman se empenha em outro passo desonesto para criar um mundo nivelado.

Ele apresenta o Movimento de Software open source começado por Richard Stallman, como uma tendência niveladora da globalização corporativa quando, na realidade, Stallman é um dos maiores críticos da propriedade intelectual e dos monopólios corporativos, e um batalhador contra os muros que as corporações estão criando para impedir que os agricultores guardem sementes, os pesquisadores façam pesquisas, e os desenvolvedores de software criem novos softwares.

Apresentando o open sourcing na mesma categoria que o outsourcing (terceirização) e a produção off shore, Friedman esconde a ganância corporativa, os monopólios corporativos e o poder corporativo, e apresenta a globalização corporativa como criatividade humana e liberdade.

Essa é desonestidade deliberada, não apenas o resultado de uma visão plana ou niveladora. É por isso que em suas estórias da Índia ele não fala do Dr. Hamid, do CIPLA, que forneceu remédios contra a AIDS para a África por US$ 200, quando as corporações dos EUA queriam vender os mesmos medicamentos por US$ 20.000. Foi o Dr. Hamid quem chamou as leis de patentes da OMC de "genocidas". E, embora a equipe de pesquisa de Friedman tenha marcado um encontro comigo para irmos a Bangalore, para falarmos sobre os suicídios dos agricultores, para o documentário a que se refere Friedman, ele cancelou o encontro no último minuto.

Contar um só lado da história para um único tipo de interesse parece ser o destino de Friedman. Por isso ele fala de 550 milhões de jovens indianos ultrapassando os americanos, em um mundo plano. Quando todo o setor da Terceirização Tecnológica na Índia emprega somente um milhão de pessoas, num país de 1,2 bilhões de indivíduos. Alimentos e agricultura, têxteis e roupas, saúde e educação não constam em nenhum lugar, na monocultura da mente de Friedman, trancada dentro da Tecnologia da Informação.

Friedman apresenta 0,1% do quadro e esconde 99,9%. E nesses 99,9% estão os monopólios de sementes da Monsanto e os suicídios de milhares de guerras. Nos 99,9% eclipsados, estão os 25 milhões de mulheres que desapareceram em áreas de grande crescimento da Índia, porque um mundo em que tudo é mercadoria tornou as mulheres um sexo dispensável. Nos 99% escondidos da economia estão milhares de crianças tribais em Orissa, Maharashtra, Rajasthan que morreram de fome porque o sistema de distribuição pública dos alimentos foi destruído para criar mercados para o agrobusiness. O mundo dos 99,9% ficou mais pobre devido à globalização econômica.

E é pelos direitos deles que estamos lutando. Trabalhamos para construir alternativas para um mundo mais justo, mais sustentável, mais pacífico — um mundo compartilhado e comum — no qual nossa humanidade comum e responsabilidade universal nos conecte à democracia da terra. Os muros da exclusão e discriminação que a globalização fortaleceu são feitos pelos homens no poder. Como o muro de Berlim, eles também precisam dissolver, porque o controle autoritário é inconsistente com as sociedades livres, e a globalização corporativa é uma forma de autoritarismo e ditadura que nos está roubando as nossas liberdades fundamentais e nossos plenos potenciais humanos.

E o mundo que estamos reclamando e rejuvenescendo não é plano. É diverso, democrático e descentralizado, é sustentável e seguro para todos, baseado na cooperação e na partilha dos recursos da terra e de nossas habilidades e criatividade. A liberdade que procuramos é a liberdade para todos, não a liberdade para poucos. O livre comércio diz respeito à liberdade para as corporações e à privação de direitos para os cidadãos.

O que Friedman está apresentando como "nivelamento" é, de fato, um novo sistema de castas, um novo bramanismo, trancado em hierarquias de exclusão. No sistema de castas de Friedman, os "shudras" são todos aqueles cujo ganha-pão está sendo roubado para que se expandam os mercados e aumentem os lucros das corporações globais. Eles são excluídos por invisíveis muros sociais e econômicos criados pela globalização enquanto ela faz desmoronar os muros de proteção de todos os modos de sustento e trabalho dos povos.

Os indianos absorvidos pela economia dos EUA por meio da terceirização não são os novos brahmins. Eles têm que se contentar com apenas cerca de 1/8 a 1/5 do salário de suas contrapartidas nos EUA, e o que é terceirizado é apenas trabalho estandardizado, operações mecânicas. A terceirização é o taylorismo da era da informação. O controle está nas mãos das corporações nos EUA. Eles são os brahmins que monopolizam o conhecimento através da propriedade intelectual. A terceirização e o envio das operações para fora do país é como o "mandar trabalho para fora" na revolução industrial. Trata-se de velhas ferramentas para manter hierarquias exploradoras — e não novas conexões terrestres planas entre partes iguais, iguais em criatividade e iguais em direitos.

A liberdade do livre comércio é a liberdade da terra nivelada. A democracia da terra é a liberdade de toda a terra e liberdade da terra redonda — liberdade para todos os seres de viverem suas vidas dentro das fronteiras abundantes e renováveis, porém limitadas, da terra. Não habitamos um mundo sem limites, onde a ilimitada ganância corporativa pode ser liberada de qualquer rédea e permitida de destruir a terra e roubar a população de sua segurança, seu ganha-pão, seus recursos. A plena liberdade da terra surge em sociedades livres, moldada por povos livres que reconhecem a liberdade de todos. A diversidade é uma expressão da plena liberdade da terra. O "nivelamento" é um sintoma da ausência de liberdade real. O fascismo busca o nivelamento.

 

THE POLARISED WORLD OF GLOBALISATION

(A response to Friedman's Flat earth hypothesis)

by Dr. Vandana Shiva

(A response to Friedman's Flat earth hypothesis)

The project of corporate Globalisation is a project for polarising anddividing people - along axis of class and economic inequality, axis ofreligion and culture, axis of gender, axis of geographies and regions.Never before in human history has the gap between those who labour and those who accumulate wealth without labour been greater. Never before has hate between cultures been so global. Never before has there been a global convergence of three violent trends - the violence of primitive accumulation for wealth creation, the violence of "culture wars", and the violence of militarized warfare.

Yet Thomas Friedman, describes this deeply divided world created by Globalisation and its multiple offspring's of insecurity and polarization as a "flat" world. In his book "The world is Flat" Friedman tries desperately to argue that Globalisation is a leveller of inequalities in societies. But when you only look at the worldwide Web of information technology, and refuse to look at the web of life, the food web, the web of community, the web of local economies and local cultures which Globalisation is destroying, it is easy to make false and fallacious arguments that the world is flat.

When you look at the world perched on heights of arrogant, blind power, separated and disconnected from those who have lost their livelihoods, lifestyles, and lives - farmers and workers everywhere - it is easy to be blind both to the valleys of poverty and the mountains of affluence.

Flat vision is a disease. But Friedman would like us to see his diseased, perverse flat view of globalisations polarisations as a revolution that aims to reverse the revolutions that allowed us to see that the world is round and the earth goes round the sun, not the other way around.

Friedman has reduced the world to the friends he visits, the CEO's he knows, and the golf courses he plays at. From this microcosm of privilege, exclusion, blindness, he shuts out both the beauty of diversity and the brutality of exploitation and inequality, he shuts out the social and ecological externalities of economic globalisation and free trade, he shuts out the walls that globalisation is building -- walls of insecurity and hatred and fear -- walls of "intellectual property", walls of privatization.

He focuses only on laws, regulations and policies which were the protections of the weak and the vulnerable, on barriers necessary as boundary conditions for the exercise of freedom and democracy, rights and justice, peace and security, sustainability and sharing of the earth's precious and vital resources. And he sees the dismantling of these ecological and social protections for deregulated commerce as a "flattening".

But this flattening is like the flattening of cities with bombs, the flattening of Asia's coasts by the tsunami, the flattening of forests and tribal homelands to build dams and mine minerals. Friedman's conceptualization of the world as flat is accurate only as a description of the social and ecological destruction caused by deregulated commerce or "free - trade". On every other count it is inaccurate and false.

Take Friedman's description of their waves of globalisation. According to him, globalization 1.0 which lasted from 1492 when Columbus set sail to 1800 and shrank the world from a size large to a size medium, with countries and governments breaking down walls and knitting the world together. Globalisation 2.0 which lasted from 1800 to 2000, which shrank the world from a size medium to a size small, and the key agent of change was multinational companies. Globalisation 3.0 started in 2000, is shrinking the size small to size tiny, and it is being driven by individuals.

This is a totally false view of history. From one perspective in the south, the three waves of globalisation have been based on the use of force, they have been driven by greed, and they have resulted in dispossession and displacement. For native Americans or globalisation 1.0 started from 1492 and has still not ended.

For us in India the first wave of globalisation was driven by the first global corporation, the East India Company, working closely with the British team, and did not end till 1947 when we got Independence. We view the current phase as a recolonisation, with a similar partnership between multinational corporations and powerful governments. It is corporate led, not people led. And the current phase did not begin in 2000 as Friedman would have us believe. It began in the 1980's with the structural adjustment programmes of World Bank and IMF imposing trade liberalisation and privatization, and was accelerated since 1995 with the establishment of World Trade Organisation at the end of the Uruguay Round of the General Agreement of Trade and Tariffs.

Friedman's false flat earth history then enables him ake two big leaps - results of coercive, undemocratic "free trade" treaties are reduced to achievements of information technology and corporate globalisation and corporate control is presented as the collaborations and competition between individuals. The WTO, World Bank and IMF disappear, and the multinational corporations disappear. Globalisation is then about technological inevitability and individual innovativeness, not a project of powerful corporations aided by powerful institutions and powerful governments.

Neither e-commerce not walmartisation of the economy could take place without the dismantling of trade protections, workers protections, environmental protections. Technology of communication do not make long distance supply of goods, including food products cheaper than local supply. Low wages, subsidies, externalisation of costs make Walnut cheap, not its information technology based supply chain management.

In 1988, I was in Berlin before the Berlin wall fell. We were part of the biggest ever mobilisation against the World Bank. Addressing a rally of nearly 100,000 people at the Berlin wall I had said that the Berlin wall should be dismantled as should the wall between rich and poor the World Bank creates by locking the Third world into debt, privatising our resources, and transforming our economies into markets for multinational corporations. I spoke about how the alliance between the World Bank and global corporations was establishing a centrally controlled, authoritarian rule like communism in its control, but different in the objective of profits as the only end of power. As movements we sought and fought for bringing down all walls of power and inequality.

Friedman's flat vision makes him blind to the emergence of corporate rule through the rules of corporate globalisation as the establishment of authoritarian rule and centrally controlled economies. He presents the collapse of the Berlin wall as having "tipped the balance of power across the world toward those advocating democratic, consensual, free-market-oriented governance, and away from those advocating authoritarian rule with centrally planned economies."

Citizens' movements fighting globalisation advocate democratic, consensual governance and fight W.T.O, the World Bank and global corporations precisely because they are undemocratic and dictatorial; they are authoritarian and centralized. The W.T.O agreement on Agriculture was drafted by Amstutz, a Cargill official, who led the U.S negotiations on agriculture during the Urguay Round and is now in-charge of Food and Agriculture in the Iraqi Constitution. This is a centrally planned authoritarian rule over food and farming.

That is why the democratic and consensual response of citizens' movements and Third world governments in Cancun led to the collapse of the W.T.O. Ministerial. And it was the so called "flatteners" who were erecting walls - the barricades at which the Korean farmer Lee took his life, the walls that the U.S Trade Representative Robert Zoellick tried to create between "Can do" and "Can't do" countries. What Zoellick and Friedman fail to see is that what they call "can't do" is the "Can do" for the defense of farmers in the face of dumping and unfair trade. Their world is shaped by and focussed in Cargill - our world is shaped by and focussed on 300 million species and 6 billion people.

The biggest wall created by W.T.O is the wall of the trade related Intellectual Property Rights Agreement. (TRIPS). This too is part of a centrally planned authoritarian rule. As Monsanto admitted, in drafting the agreement, the corporations organised as the Intellectual Property Committee were the "patients, diagnosticians and physicians all in one." Instead of telling the story of TRIPS and how corporate and WTO led globalisation is forcing India to dismantle its democratically designed patent laws, creating monopolies on seeds and medicines, pushing farmers to suicide and denying victims of AIDS, Cancer, TB, and Malaria access to life saving drugs, Friedman engages in another dishonest step to create a flat world.

He presents the open source Software Movement initiated by Richard Stallman, as a flattening trend of corporate globalisation when Stallman is a leading critic of intellectual property and corporate monopolies, and a fighter against the walls corporations are creating to prevent farmers from saving seeds, researchers from doing research, and software developers from creating new software. By presenting open sourcing in the same category as outsourcing and off shore production, Friedman hides corporate greed, corporate monopolies and corporate power, and presents corporate globalisation as human creativity and freedom.

This is deliberate dishonesty, not just result of flat vision. That is why in his stories from India he does not talk Dr. Hamid of CIPLA who provided AIDS medicine to Africa for $ 200 when U.S. corporations wanted to sell them for $ 20,000 and who has called W.T.O's patent laws "genocidal". And inspite of Friedman's research team having fixed an appointment with me to fly down to Bangalore to talk about farmers' suicides for the documentary Friedman refers to. Friedman cancelled the appointment at the last minute.

Telling a one sided story for a one sided interest seems to be Friedman's fate. That is why he talks of 550 million Indian youth overtaking Americans in a flat world. When the entire information Technology/outsourcing sector in India employs only a million out of a 1.2 billion people. Food and farming, textiles and clothing, health and education are nowhere in Friedman's monoculture of mind locked into IT.

Friedman presents a 0.1% picture and hides 99.9%. And in the 99.9% are Monsanto's seed monopolies and the suicides of thousands of wars. In the eclipsed 99.9% are the 25 million women who disappeared in high growth areas of India because a commodified world has rendered women a dispensable sex. In the hidden 99.9% economy are thousands of tribal children in Orissa, Maharashtra, Rajasthan who died of hunger because the public distribution system for food has been dismantled to create markets for agribusiness. The world of the 99.9% has grown poorer because of the economic globalisation.

And it is their rights we fight for. We work to build alternatives for a just, sustainable, peaceful world - a shared and common world - in which our common humanity and universal responsibility links us in earth democracy. The walls of exclusion and discrimination that globalisation has strengthened are made by men in power. Like the Berlin wall, they too must dissolve, because authoritarian rule is inconsistent with free societies, and corporate globalisation is a form of authoritarianism and dictatorship which is robbing us of our fundamental freedoms and our full human potentials.

And the world we are reclaiming and rejuvenating is not flat. It is diverse democratic and decentralised, it is sustainable and secure for all, based on cooperation and sharing of the earth's resources and our skills and creativity. The freedom we seek is freedom for all, not freedom for a few. Free-trade is about corporate freedom and citizen disenfranchisement.

What Friedman is presenting as a new "flatness" is in fact a new caste system, a new Brahminism, locked in hierarchies of exclusion. In Friedman's caste system, the "Shudras", are all whose livelihoods are being robbed to expand the markets and increase the profits of global corporations. They are shut out by invisible social and economic walls created by globalisation while it dismantles walls for protection of people's livelihoods and jobs.

The Indians being drawn into the U.S economy through outsourcing are not the new Brahmins. They must be satisfied with one-fifth to one-eighth of the salaries of their U.S counterparts, and what is outsourced is "grunt work" "number crunching", standardized, mechanical operations. Outsourcing is Taylorism of the information age. The control is in the hands of the corporations in U.S. They are the Brahmins who monopolise knowledge through intellectual property. Outsourcing and off-shoring is like the "putting out" work in the industrial revolution. These are old tools for maintaining exploitative hierarchies - not new flat earth linkages between equals, equal in creativity and equal in rights.

Free trade freedom is flat earth freedom. Earth democracy is full earth freedom and round earth freedom - freedom for all beings to live their lives within the abundant, renewable but limited bounds of the earth. We do not inhabit a world without limits where unbounded corporate greed can be unleashed and allowed to destroy the earth and rob people of their security, their livelihoods, their resources. Full earth freedom is born in free societies, shaped by free people recognizing the freedom of all. Diversity is an expression of full earth freedom. "Flatness" is a symptom of the absence of real freedom. Facism seeks flatness.

 

Envie um comentário sobre este artigo