A educação popular em tempos de rebelião

 

 


Hebe de Bonafini

Campo Antiimperialista

Discurso de Hebe de Bonafini no III Fórum Social Mundial em Porto Alegre
30 de janeiro de 2003

Tradução Imediata

Estamos falando de educação e rebelião. E educar não é pouco compromisso…

Nós, quando começamos, não tínhamos nenhum tipo de educação, somente aquilo que tínhamos escutado de nossos filhos; ou seja, tivemos que ir fazendo caminho ao andar: criar, modificar, brigar. Lutar. Já são 26 anos — agora cumprimos 26 anos — não deixando uma só quinta na Praça. Porém, também, nesses 26 anos criamos, para educar, para formar. Periódicos, livros, e a Universidade Popular da qual falou Cláudia (Korol). A Universidade, que tem Educação Popular, é um esforço importante que se vai fazendo ao andar, porque nada está estabelecido, porque é tudo novo, é tudo diferente, queremos que seja diferente.

Nós, as Mães, temos um compromisso com nossos filhos, primeiro, e depois com nosso povo: defender a classe a que pertencemos, onde nascemos, porque as vezes se esquece que é tão necessário recordar, retomar e reforçar. O compromisso com nossos filhos é não abandoná-los e não traí-los, não negociar com ninguém, e muito menos com os partidos políticos.

Porque o capitalismo — esse do qual se falou há um momento, e que se diz que se deve odiá-lo — creio que devem ser odiados os homens que fazem o capitalismo, porque o capitalismo é uma palavra, porém há muitos homens — que às vezes se dizem democráticos — que nos impõem o capitalismo. É esses que devem ser odiados, porque são nossos piores inimigos. E isso deve ficar bem claro quando se educa, quando se prepara, quando se forma: quem são nossos inimigos. E com esses não devemos negociar, não devemos falar: é necessário combatê-los!

E combatê-los desde as entranhas, porque nos causaram demasiado dano, milhões de mortos nessa América Latina. Não só com ditaduras: com a fome, com o desemprego, com a miséria… E esses milhões de mortos são os que nos impulsionam a prosseguir com a luta, os que continuam vivos em cada um que luta. Esses milhões de mortos sonharam com um mundo melhor.

Porque sim, um mundo melhor é possível! Porém só com a Revolução! Não hverá um mundo melhor se não houver Revolução! Vai ser muito difícil fazer um mundo melhor se não fizermos uma Revolução profunda nessa América Latina!

Talvez como estão fazendo nossos companheiros colombianos. Talvez como estão saindo às ruas nossos companheiros venezuelanos que, definitivamente, estão fazendo a Revolução e a rebelião, todos os dias nas marchas. Onde o imperialismo e o capitalismo lhes exigem cada vez mais que deixem o poder, para apoderar-se do petróleo, das riquezas. E temos o Iraque, com a guerra ali… então a palavra famosa de "terrorismo", que agora em quase todo mundo foi colocada na moda para acusar os movimentos populares. Todo aquele que se rebela é terrorista.

E o único terrorismo que nós conhecemos é o terrorismo do Estado! É ele que nos submete, que nos deixa sem trabalho, nos marginaliza, nos tortura, nos prende e nos acusa. E queria retomar o que foi dito pela minha companheira Claudia Korol, essa mulher inteligente, extraordinária, que está em nossa Universidade, e que estamos tão orgulhosas de ter esses "pibes" -como nós dizemos - na Universidade Popular Madres de Plaza de Mayo. Falando em violência: no ano passado, fui embora muito mal deste Fórum, porque nada do que havíamos proposto no Primeiro Fórum foi tratado no último documento. Falou-se em "humanizar o capitalismo", que é inumano, e se usou a teoria dos dois demônios: são maus os revolucionários e é mau o capitalismo, é violência aquela dos povos que nos levantamos quando não aguentamos mais, e é violência a do Estado. E não é assim!

Fui embora muito mal por isso, porque ninguém se levantou para discutir esse documento. E eu espero que neste dia de hoje, muito maior, onde há muita mais gente, que os demais, os que cremos na Revolução, os que cremos que o único terrorismo é o do Estado, os que aprendemos a odiar o inimigo, façamos um documento onde reivindiquemos a violência dos povos, que temos direitos de sermos violentos quando nos reprimem… Nenhum povo quer a violência! Por isso, não queremos mais guerras! Porém estamos cansados de sermos golpeados, estamos fartos…!

Nós, As Mães, não estamos mais dispostas a que nos roubem nem mais um filho! Não estamos dispostas a aguentar nada mais do que está acontecendo! Por isso apoiamos com todas as nossas forças os companheiros piqueteros, os companheiros das fábricas tomadas; porque são rebeliões profundas e armas que nos mostram que nesse momento, em meu país, temos o país, mais do que nunca, em nossas mãos. Porque não nos importam as eleições nem os políticos, que fiquem com suas merdas!

Estamos em outra, absolutamente em outra! As fábricas - como demostraram os companheiros — funcionam perfeitamente sem patrões. O que não podem é funcionar sem trabalhadores… Há muitas maneiras de se educar e rebelar-se. Os companheiros das fábricas tomadas se rebelaram e nos ensinaram, nos educaram. E os companheiros Sem Terra nos educam e nos formam; estive muitas vezes com eles, e a cada vez estou mais maravilhada do que é esse Movimento.

Porém, ainda assim, algo nos falta. Falta-nos criar consciência na educação de que a violência é o direito dos povos para se rebelarem frente à injustiça, frente à morte e frente ao horror. Isso faz parte de nosso compromisso, pelo menos de nossa parte com relação aos nossos filhos. Porque se nós não reivindicamos o direito dos povos, estaremos renegando aquilo que fizeram nossos filhos. E jamais renegaríamos que tivemos lindos e maravilhosos filhos revolucionários e guerrilheiros, comprometidos com seu povo! E que por isso os mataram, por isso os levaram… e essa América Latina tem milhões; por isso necessitamos de um documento que ponha toda a força em reivindicar pelos companheiros que não são convidados a este Fórum, por serem considerados violentos.

Nós agradecemos Vía Campesina e o Espaço Marx porque um pagou as passagens e o outro nos convidou a vir, porque aqui neste Fórum, nós, as Mães, somos consideradas violentas. E temos 26 anos de luta, somos violentas, sim, porque estamos fartas!

Somos violentas naquilo que falamos, somos violentas naquilo que dizemos: com a verdade, com as fraldas na cabeça, enfrentando a polícia, tirando os presos das delegacias, e acompanhando a todo aquele que se levanta contra a opressão, contra o capitalismo, que tem nome e sobrenome, que condena e persegue a todos os companheiros que sem trabalho hoje são capazes de sair à rua. A educação, a formação é indispensável, porém se não temos ruas, se não temos praças, se não marchamos, não aprendemos. Os livros são importantes, os poemas são importantes, porém têm que nos impulsionar, como nos impulsionam nossos filhos e os milhões que neste mundo tão perverso estão dando a sua vida, porque já não querem mais viver ajoelhados.

Nós lhes agradecemos mutíssimo que nos convidaram, agradecemos podermos estar aqui, porém, sobretudo em nome de nossos filhos, aos quais não vamos trair, aos que não vamos deixar desamparados. Porque enquanto houver um único homem e uma única mulher que estiver lutando, eles não morrerão!

Porém, tampouco haverá democracia enquanto houver mesmo um único homem sem trabalho, e uma única criança morrendo de fome. Não há democracia em nenhum país do mundo, enquanto existirem crianças morrendo de fome!"

------------------------------------------------------------------------

Oficina e debate organizados em Porto Alegre, na sexta-feira 24/1/2002, com a participação de:

HEBE DE BONAFINI, Madres de Plaza de Mayo (Argentina),

MARIA GORETE, MST (Brasil),

MAURO IASI, (Núcleo de Educación Popular NEP- 13 de mayo),

Representante del Centro de Estudios de Educación Popular Germinal (Paraguai),

CLAUDIA KOROL, da Universidad Popular Madres de Plaza de Mayo (Argentina),

DENISE MENDEZ, de Attac e Espaço Marx (França),

PAOLINO JOSÉ ORSO, da Unioeste de Espaço Marx (São Paulo -Brasil),

Coordenação: ANTONIO CARLOS VICTORIA do Núcleo de Educação Popular Outubro (Brasil)

 

 

 

 

30 de enero del 2003

 

Discurso de Hebe de Bonafini en Porto Alegre

La educación popular en tiempos de rebelión

 

Campo Antiimperialista

 

Estamos hablando de educación y rebelión. Y educar no es poco compromiso...

Nosotras, cuando empezamos, no teníamos ningún tipo de educación, solamente lo que habíamos escuchado de nuestros hijos; o sea que tuvimos que hacer camino al andar: crear, modificar, pelear. Luchar. Ya llevamos 26 años -ahora cumplimos 26 años - de no dejar un sólo jueves la Plaza. Pero también en estos 26 años creamos, para educar, para formar. Periódicos, libros, y la Universidad Popular de la que hablo Claudia (Korol). La Universidad, que tiene Educación Popular, es un esfuerzo importante que se va haciendo al andar, porque nada está establecido, porque es todo nuevo, es todo diferente, queremos que sea diferente.

Las Madres tenemos un compromiso con nuestros hijos, primero, y después con nuestro pueblo: defender a la clase a la que pertenecemos, de la que nacimos, porque a veces se olvidan que es tan necesario recordar, retomar y reforzar. El compromiso con nuestros hijos es no abandonarlos y no traicionarlos, no negociar con nadie, y menos con los partidos políticos.

Porque el capitalismo - ése del que se habló hace un ratito acá, que dicen que hay que odiarlo - creo que hay que odiar a los hombres que hacen el capitalismo, porque el capitalismo es una palabra, pero hay muchos hombres - que a veces se dicen democráticos - que nos imponen el capitalismo. Y a esos hay que odiarlos, porque son nuestros peores enemigos. Y esto hay que tenerlo en claro cuando uno educa, cuando uno prepara, cuando uno forma: quiénes son nuestros enemigos. Y con esos no hay que negociar, no hay que hablar: ¡hay que combatirlos!

Y combatirlos desde las entrañas, porque nos han hecho demasiado daño, millones de muertos en esta Latinoamérica. No sólo con dictaduras: con el hambre, con la desocupación, con la miseria... Y esos millones de muertos son los que nos impulsan a seguir en la lucha, los que están vivos en cada uno que pelea. Esos millones de muertos que soñaron con un mundo mejor.

¡Porque sí es posible un mundo mejor! ¡Pero sólo con la Revolución! ¡No hay mundo mejor si no hay Revolución! ¡Va ser muy difícil hacer un mundo mejor si no hacemos una Revolución profunda en esta Latinoamérica!

Tal vez como están haciendo nuestros compañeros colombianos. Tal vez como están saliendo a las calles los compañeros venezolanos, que en definitiva están haciendo la Revolución y la rebelión todos los días en las marchas. Donde el imperialismo y el capitalismo les van exigiendo cada vez más para que dejen el poder, para apoderarse del petróleo, de las riquezas. Y tenemos Iraq, con la guerra ahí... entonces la palabra famosa de "terrorismo", que ahora en casi todo el mundo se ha puesto de moda para acusar a los movimientos populares. Todo aquel que se rebela es terrorista.

¡Y el único terrorismo que nosotros conocemos es el terrorismo del Estado! El que te somete, te deja sin trabajo, te margina, te tortura, te pone preso y te acusa. Y quería retomar lo de mi compañera Claudia Korol, esta mujer inteligente, extraordinaria, que está en nuestra Universidad, y que estamos tan orgullosas de tener estos "pibes" -como decimos nosotras - en la Universidad Popular Madres de Plaza de Mayo. Hablando de la violencia: el año pasado, me fui muy mal del Foro, porque nada de lo que habíamos planteado en el Primer Foro se trató en el último documento. Se habló de "humanizar el capitalismo", que es inhumano, y se usó la ·teoría de los dos demonios": son malos lo revolucionarios y es malo el capitalismo, es violencia la de los pueblos que nos levantamos cuando nos hartamos, y es violencia la del Estado. ¡Y no es así!

Me fui muy mal por eso, porque nadie se levantó a discutir ese documento. Y yo espero que en éste de hoy, mucho más grande, donde hay mucha más gente, tengamos fuerza. Si no hay un documento como la gente, que los demás, los que creemos en la Revolución, los que creemos que el único terrorismo es el del Estado, en los que aprendimos a odiar al enemigo, hagamos un documento donde reivindiquemos la violencia de los pueblos, que tenemos derechos a ser violentos cuando nos reprimen... ¡Ningún pueblo quiere la violencia! Por eso, ¡no queremos más guerras! Pero estamos hartos de que nos golpeen, ¡estamos hartos...!

¡Las Madres no estamos más dispuestas a que nos lleven un hijo más! ¡No estamos dispuestas a bancarnos nada más de lo que está pasando! Por eso apoyamos con todas nuestras fuerzas a los compañeros piqueteros, a los compañeros de las fábricas tomadas; porque son rebeliones profundas y hondas que nos muestran que en este momento, en mi país, tenemos el país en nuestras manos más que nunca. Porque no nos importan las elecciones ni los políticos, ¡que se queden con sus mierdas!

Estamos en otra, ¡absolutamente en otra! Las fábricas - han demostrado los compañeros - que sin patrones funcionan perfecto. Lo que no pueden funcionar es sin trabajadores... Hay muchas maneras de educar y de rebelarse. Los compañeros de las fábricas tomadas se rebelaron, y nos enseñaron, y nos educaron. Y los compañeros Sin Tierra nos educan y nos forman; he estado muchas veces con ellos, y cada vez estoy más maravillada de lo que es ese Movimiento.

Pero todavía nos falta. Nos falta hacer conciencia en la educación de que la violencia es el derecho de los pueblos a rebelarse ante la injusticia, ante la muerte y ante el horror. Esto es parte de nuestro compromiso, por lo menos de nosotras con nuestros hijos. Porque si nosotras no reivindicamos el derecho de los pueblos, estamos renegando de lo que hicieron nuestros hijos. ¡ Y jamás renegaríamos de haber tenido hermosos y maravillosos hijos revolucionarios y guerrilleros comprometidos con su pueblo! Que por eso los mataron, que por eso se los llevaron... y esta Latinoamérica tiene millones; por eso necesitamos de un documento que ponga toda la fuerza en reivindicar a los compañeros que no son invitados a este foro por que se los considera violentos.

Nosotras le agradecemos a la Vía Campesina y al Espacio Marx porque nos invitaron, unos pagaron el pasaje y otros nos invitaron a venir, porque acá en este Foro a las Madres nos consideran violentas. Y tenemos 26 años de lucha, somos violentas, sí, ¡porque estamos hartas!

Somos violentas en lo que hablamos, somos violentas en lo que decimos: con la verdad, con el pañuelo, enfrentando a la policía, sacando a los presos de las comisarías, y acompañando a todo aquel que se levanta contra la opresión, contra el capitalismo que tiene nombre y apellido, que condena y persigue a todos los compañeros que sin trabajo hoy son capaces de salir a la calle. La educación, la formación es indispensable, pero si no tenemos calles, si no tenemos plazas, si no marchamos no aprendemos. Los libros son importantes, los poemas son importantes, pero nos tienen que impulsar, como nos impulsan nuestros hijos y los millones que en este mundo tan perverso están dando su vida, porque ya no quieren mas vivir arrodillados.

Nosotras les agradecemos muchísimo que nos inviten, les agradecemos poder estar aquí, pero sobre todo en nombre de nuestros hijos, a los que no vamos a traicionar, a los que no vamos a dejar desamparados. ¡Porque mientras haya un solo hombre y una sola mujer que pelee, ellos no van a morir!

Pero tampoco va a haber democracia mientras haya un solo hombre que no tenga trabajo y un solo niño que se muera de hambre. ¡No hay democracia en ningún país del mundo mientras los chicos se sigan muriendo de hambre!"

------------------------------------------------------------------------

Taller y debate organizado en Porto Alegre, el viernes 24/1/2002, con la participación de:

HEBE DE BONAFINI, Madres de Plaza de Mayo (Argentina),

MARIA GORETE, MST (Brasil),

MAURO IASI, (núcleo de Educación Popular NEP- 13 de mayo),

Representante del Centro de Estudios de Educación Popular Germinal (Paraguay),

CLAUDIA KOROL, de la Universidad Popular Madres de Plaza de Mayo (Argentina),

DENISE MENDEZ, de Attac y Espacio Marx (Francia),

PAOLINO JOSE ORSO, de la Unioeste de Espacio Marx (San Pablo -Brasil),

Coordinación: ANTONIO CARLOS VICTORIA del Núcleo de Educación Popular Outubro (Brasil)

 

Envie um comentário sobre este artigo