A silhueta da besta

 

 


Arundhati Roy

entrevistada por Anthony Arnove em 30 de junho de 2003

Socialist Worker/Znetg

30 de junho de 2003

Tradução Imediata

Arnove: Os meios de comunicações institucionais fazem sempre a mesma pergunta: O que fazer com Saddam Hussein? O que você responderia?

É uma pergunta capciosa. Mas se dermos o troco e perguntarmos: O que fazer com George Bush e Tony Blair? Será que vamos ficar parados olhando como bombardeiam, assassinam e aniquilam as pessoas? Saddam Hussein é um assassino, e no passado, os EUA e o governo britânico apoiaram muitos de seus excessos mais terríveis.

Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha contribuíram com a morte de milhares e milharas de crianças com manos de cinco anos quando bombardearam a infra-estrutura iraquiana, dispararam urânio enfraquecido sobre os campos de cultivo iraquianos e bloquearam o acesso às vacinas e ao equipamento hospitalar.

O ex-coordenador humanitário no Iraque da ONU, Denis Halliday, batizou essas sanções de ‘genocídio.

Se tivessem sido suspensas essas medidas, a sociedade iraquiana poderia ter conseguido juntar forças para derrubar o ditador (como fizeram os povos da Indonésia, Sérvia e Rumênia, com os seus).

E se o que nos preocupa é a repressão, o sectarismo e os abusos contra os direitos humanos, porque não voltarmos a nossa atenção para a Colômbia, a Turquia, a Arábia Saudita, o Egito, as repúblicas do centro da Ásia, Israel, Rússia, China, Índia, Paquistão, Burma e, naturalmente, os Estados Unidos… Devemos suplantar Saddam e bombardear todos os outros? Não vai sobrar mais ninguém para matar. A maior ameaça para o mundo hoje não é Saddam Hussein, é George Bush (lado a lado com o seu novo ministro de relações exteriores Tony Blair).

Bush afirma que está dirigindo uma "coalizão internacional" contra o Iraque. O que você diz disso?

A Coalizão Internacional dos Bandidos e dos Vendidos é como essa coalizão é mais freqüentemente chamada.

É importante lembrar que se trata de governos que foram forçados, de uma maneira ou de outra. Inclusive os "acionistas" principais da coalizão (os governos de países como a Espanha e Austrália) não contam com o apoio da maioria de seus povos.

Foram realizados estudos interessantes que demonstram a natureza dos regimes de alguns países desta coalizão. Muitos deles estão no topo da lista de violadores dos direitos humanos e não têm nada que dizer de Hussein, dadas as suas próprias reputações.

Bush também diz que esta guerra é "preventiva", que seria "suicida" não atacar o Iraque.

É como se um elefante corresse para esmagar uma formiga, e dissesse logo depois que foi "preventivo", e que teria sido "suicida" deixar a formiguinha viva. Seria justo classificar o elefante de paranóico e inseguro.

Ah, e isso não inclui o direito de ter usado as Nações Unidas para desarmar a formiguinha antes que o elefante a atacasse. Além de paranóico e inseguro, também poderia ser chamado de covarde e embusteiro.

Em uma entrevista para o programa "Democracy Now" da Rádio Pacífica, você se referiu à "aniquilação da linguagem". Poderia dar alguns detalhes a respeito?

Liberdade agora quer dizer assassinato em massa. Nos Estados Unidos significa batatas fritas (freedom fries). Liberação quer dizer invasão e ocupação. Quando se ouvem as palavras "ajuda humanitária", é melhor buscar a causa da fome. Todos sabemos o que significa dano colateral.

Certamente, nada disso é novidade. Quando os Estados Unidos invadiram o Vietnã do Sul e bombardearam a zona rural, mataram milhares de pessoas e obrigaram outros milhares a fugir para as cidades, onde foram retidos em campos de refugiados, Samuel Huntington denominou o ocorrido como um processo de "urbanização".

Faz pouco tempo, a revista New York Times lançou uma capa em que dizia "O novo império norte-americano: acostume-se". Como se reage a esse tipo de mensagem na Índia e em outras partes fora dos EUA?

Na índia existe uma dissonância entre o que as pessoas opinam sobre a guerra e sobre o império norte-americano, e a posição deliberadamente ambígua do governo. Esta guerra contra o Iraque despertou muita indignação entre a maioria das pessoas, embora existam sempre os oportunistas, dentro da elite, em especial, que estejam esperando, de forma bastante estúpida, que lhes sejam atiradas algumas migalhas na era de "reconstrução". São como as hienas. Abutres.

Ninguém vai se "acostumar" ao império norte-americano, ninguém pode. E isso é assim porque o império unicamente pode sobreviver e manter sua posição se prosseguir com seus programas de assassinatos em massa e desapropriações maciças.

As pessoas não podem se acostumar com essas coisas, apesar de tentarem se empenhar muito. Alguém pode saber que está correndo o risco de ser assassinado, mas não pode se acostumar com a idéia.

Vai ser uma batalha sangrenta, essa batalha pelo estabelecimento e perpetuação da hegemonia. O mundo não é um lugar estático. É selvagem e imprevisível. Ao império norte-americano o caminho não vai ser assim tão fácil. As pessoas no mundo todo não vão sair às ruas para banharem o imperador de rosas.

Mais de 10 milhões de pessoas se manifestaram no mundo no dia 15 de fevereiro, inclusive milhões nos países que dirigiam a guerra contra o Iraque. Porque acredita que estamos presenciando manifestações dessa magnitude?

Creio que há somente uma razão. Caiu a máscara dos Estados Unidos. Nas ruas, fala-se de sua história secreta de intervenções brutais e manipulações imperdoáveis. Uniram-se os pontos e apareceu a silhueta da besta.

 

30 de junio del 2003

 

Anthony Arnove entrevista a Arundhati Roy

La silueta de la bestia

 

Socialist Worker. Traducido por Carmina Navarro y revisado por Aitana Guia para Znetg

 

Arnove: Los medios de comunicación institucionales hacen la misma pregunta una y otra vez: ¿Qué se puede hacer con Saddam Hussein? ¿Ud. qué responde?

Es una pregunta artera. Démosle la vuelta y, en cambio, preguntemos: ¿Qué hacemos con George Bush y Tony Blair? ¿Corresponde que nos quedemos parados mirando como bombardean, asesinan y aniquilan personas? Saddam Hussein es un asesino, y en el pasado, los Estados Unidos y el gobierno británico apoyaron muchos de sus más terribles excesos.

Los Estados Unidos y Gran Bretaña contribuyeron a la muerte de miles y miles de niños menores de cinco años cuando bombardearon la infraestructura iraquí, dispararon uranio empobrecido sobre los campos de cultivo iraquíes y bloquearon el acceso a las vacunas y al equipamiento hospitalario.

El ex coordinador humanitario en Irak de las Naciones Unidas, Denis Halliday, le dio el nombre de 'genocidio' a estas sanciones.

Si se hubieran levantado estas medidas, la sociedad iraquí podría haber sacado las fuerzas para derrocar a su dictador (como hicieron los pueblos de Indonesia, Serbia y Rumania con los suyos).

Y si lo que nos preocupa es la represión, el sectarismo y los abusos contra los derechos humanos, volvamos la atención hacia Colombia, Turquía, Arabia Saudita, Egipto, las repúblicas del centro de Asia, Israel, Rusia, China, India, Pakistán, Burma y, por supuesto, los Estados Unidos... ¿ Debemos suplantar a Saddam y bombardearlos a todos? No les va a quedar más nadie que matar.

La mayor amenaza para el mundo hoy no es Saddam Hussein, es George Bush (codo a codo con su nuevo secretario de exteriores Tony Blair).

Bush afirma que está dirigiendo una "coalición internacional" contra Irak. ¿Ud. qué dice?

La Coalición internacional de los Matones y los Comprados es como más comúnmente se llama a esta coalición.

Es importante recordar que son gobiernos que han sido forzados, de una manera u otra. Incluso los "accionistas" principales de la coalición (los gobiernos de países como España y Australia) no cuentan con el apoyo de la mayoría de sus pueblos.

Se han realizado estudios interesantes que demuestran la naturaleza de los regímenes de algunos países en esta coalición. Muchos de ellos están al principio de la lista de violadores de los derechos humanos y no tienen nada que decir de Hussein dadas sus propias reputaciones.

Bush también dice que esta guerra es "preventiva", que sería "suicida" no atacar a Irak.

Eso es como si un elefante tomara carrera para aplastar a una hormiga y luego dijera que fue "preventivo", y que hubiera sido "suicida" haber dejado a la hormiguita viva. Sería justo catalogar al elefante de paranoico e inestable.

Ah, y esto no incluye el hecho de haber usado a las Naciones Unidas para desarmar a la hormiguita antes de que el elefante atacara. Además de paranoico e inestable, también se lo podría llamar cobarde y tramposo.

En una entrevista en el programa de Radio Pacífica "Democracy Now" Ud. se refirió al "aniquilamiento del lenguaje" ¿Podría dar algunos detalles al respecto?

Libertad ahora quiere decir asesinato en masa. En los Estados Unidos significa patatas fritas (freedom fries). Liberación quiere decir invasión y ocupación. Cuando se oyen las palabras "ayuda humanitaria", es mejor ponerse a buscar la causa de la hambruna. Todos sabemos lo que significa daño colateral.

Por supuesto que nada de esto es nuevo. Cuando los Estados Unidos invadieron Vietnam del Sur y bombardearon la zona rural, mataron a miles de personas y obligaron a miles a huir a las ciudades donde fueron retenidos en campos de refugiados, Samuel Huntington lo denominó un proceso de "urbanización".

La revista New York Times hace poco sacó una portada que decía "El nuevo Imperio Norteamericano: acostúmbrese". ¿Cómo se toma ese mensaje en la India y en otras partes fuera de los Estados Unidos?

En la India existe una disonancia entre lo que la gente opina de la guerra y del Imperio Norteamericano y la posición deliberadamente ambigua del Gobierno Indio. Esta guerra contra Irak ha despertado mucha bronca entre la mayoría de las personas, aunque siempre están los oportunistas, dentro de la élite en especial, que están esperando, en forma bastante estúpida, que les tiren unas migajas en la era de la "reconstrucción". Son como las hienas. Buitres.

Nadie se va a "acostumbrar" al Imperio Norteamericano, nadie puede. Esto es así porque este imperio únicamente puede sobrevivir y mantener su posición si prosigue con sus programas de asesinatos en masa y desposeimiento masivo.

Estas no son cosas a las que las personas se puedan acostumbrar, aunque traten de poner mucho empeño. Uno puede saber que corre el riesgo de ser asesinado, pero no puede acostumbrarse a esa idea.

Va a ser una batalla sangrienta, esta batalla por el establecimiento y la perpetuación de la hegemonía. El mundo no es un lugar estático. Es salvaje e impredecible. Al Imperio Norteamericano no le será tan fácil el camino. Las personas del mundo no van a salir a las calles para bañar de rosas al emperador.

Más de 10 millones de personas se manifestaron en el mundo el 15 de febrero, incluidos millones en los países que dirigían la guerra contra Irak. ¿Por qué cree que presenciamos protestas de esta magnitud?

Creo que hay sólo una razón. Se le quitó la máscara a los Estados Unidos. En las calles se habla de su historia secreta de intervenciones brutales y manipulaciones imperdonables. Se unieron los puntos y apareció la silueta de la bestia.

 

Envie um comentário sobre este artigo