A pilhagem de uma civilização milenar

 

 


Wladimiro Settimelli
L’unità

12 de abril de 2003

Tradução Imediata

A guerra mata e provoca carnificinas, mas não é só isso: ela também apaga a história do ser humano, o seu passado, o testemunho de tantas antigas civilizações que nos precederam, reduzindo tudo a cinzas. E aí está a confirmação disso. O Museu Nacional de Bagdá também foi saqueado, destruído, e achados excepcionais foram reduzidos a cacos, ou levados embora para sempre.

Quem conta o ocorrido, aos prantos, é a vice-diretora do Museu, Nabhal Amin, que tem cinqüenta anos e passou a vida toda entre escavações e achados arqueológicos. Do lado dela, com a cabeça baixa, Donny George, o diretor que, nos últimos dias, tinha feito esconder caixas com objetos expostos nas vitrines, e que dormia ultimamente num canto do "seu" museu. Obviamente, entre os sacos de areia que tinha mandado seus ajudantes trazer, para proteger-se dos estilhaços. Um funcionário também chora fartamente, enquanto recolhe do chão os pedaços de uma estátua antiquíssima e olha a destruição nos salões e nos corredores.

Em outras partes, as pessoas ainda estão morrendo de fome e de sede, e nos hospitais os médicos têm que curar os feridos com os fuzis na mão. Ninguém ainda fez a conta do número de mortos dentro da cidade e centenas de pessoas ainda nem foram sepultadas. Assim, que importância tem todo o resto?

Mas o resto é a história do Iraque, da Mesopotâmia. A história das civilizações de Uruk, da Suméria, da Babilônia, da Pérsia, e do califado de Harun ar Rashid. Em alguns dos antigos textos do Museu, encontravam-se os relatos das aventuras de Gilgamesh, figura sobre a qual se baseia o Noé bíblico. Alguns textos sempre conservados no Museu de Bagdá (nascida com o nome de Cidade da Paz) explicavam as conquistas matemáticas dos estudiosos da Antigüidade, que esclareciam o teorema de Pitágoras 1500 anos antes da existência do matemático grego. E além disso, textos de teologia, geometria, ciência, astronomia e astrologia, medicina e poesia.

Todos os tesouros do Museu datavam de 7000 antes de Cristo ao ano 1000 da era cristã. Os visitantes se lembrarão, certamente, do deslumbre e estupefação que provocava, em todas as pessoas, a parte superior de uma harpa da Suméria descoberta em Ur, a cidade de Abraão. Ninguém sabe onde ela acabou. Desapareceram também bustos de alabastro, leões de pedra, cabeças de bronze ou barro descobertas entre o Tigre e o Eufrates e as esculturas e baixos-relevos da Suméria, Babilônia e Assíria de valor inestimável. Assim como os materiais extraordinários encontrados em Nínive, Nimrud, Ashur, Basra, Kufa, Amara e em Kirkuk. Outros achados diziam respeito à civilização muçulmana e à otomana. Em Kufa, por exemplo, tinha sido "inventada" a famosíssima escritura árabe conhecida como "kufica" e o "Kuficio florido", que tinha alcançado com o tempo o seu auge de beleza e sofisticação absoluta. Teriam sido queimados.

"Eles roubaram ou danificaram — continuou falando Nabhal Amin, sem conseguir parar o pranto — pelo menos 170 mil peças estimadas em bilhões de dólares. Sob os meus próprios olhos, dois rapazinhos mal-encarados pegaram o antiquíssimo portal de uma mesquita e o levaram embora. Certamente, vão usá-lo para acender o fogo embaixo de alguma panela". Para a diretora do Museu de Bagdá, não há dúvidas sobre quem é o real culpado desta tragédia. "Os americanos tinham que proteger o Museu. Era suficiente que tivessem colocado um tanque e dois soldados armados na frente do Museu, e ninguém teria ousado entrar".

Já durante a guerra de 1991, os danos ao patrimônio artístico e museológico tinham sido imensos. Com isso que aconteceu agora, com os ataques violentíssimos desses vinte dias de guerra, com os bombardeios, o trânsito de tanques, os incêndios, a escavação de trincheiras e os canhoneios, ninguém pode dizer nada de preciso. Os combates ocorreram em dezenas e dezenas de sítios arqueológicos ou em cidades famosíssimas por uma série de locais de culto e monumentos extraordinários.

Por exemplo, em Kerbala, há o mausoléu de Hussein, o filho de Ali e neto do Profeta Maomé. Kerbala é a segunda cidade santa para os xiitas, depois de Najaf. Os minaretes e a cúpula do mausoléu de Hussein, o qual foi decapitado, estão recobertos de ouro. Combates terríveis também ocorreram em Najaf, a quarta cidade santa para os islâmicos, depois de Meca, Medina e Jerusalém. Em Najaf está sepultado o "príncipe dos fiéis", Ali, um dos "califas bem guiados". Os restos do seu corpo foram içados sobre uma espécie de altar feito de marfim e prata, protegido por grades e portas de ouro puríssimo. Ao lado do sarcófago de Ali encontram-se as supostas tumbas de Adão e Noé. A cúpula da mesquita-sepultura é revestida de 7777 tijolos de ouro puríssimo. A cidade também tem uma outra característica extraordinária: ela hospeda o maior cemitério do mundo, porque os xiitas de cada país muçulmano desejam ser enterrados exatamente em Najaf. No outro dia, dentro da mesquita sagrada, o imã que tinha vindo da Inglaterra e era "amigo dos ocidentais" foi esfaqueado.

Mas o Iraque inteiro é um enorme museu ao ar livre: às vezes recuperado e sistematizado, às vezes ainda não escavado. Um outro grande museu repleto de achados arqueológicos é aquele de Basra, a "Veneza do Oriente", e ponto de partida das fantásticas viagens de Sinbad, nas "Mil e uma noites". Ainda não está claro se os ladrões conseguiram saqueá-lo.

Perto das ruínas de Nipur, foram encontrados alguns anos atrás, milhares de pranchetas com a descrição do dilúvio. E em Babilônia, que danos a guerra terá produzido? Em breve saberemos. Assim como saberemos se os bombardeios aéreos danificaram os "zigurats" de Ur ou a famosíssima "torre" mesquita de Samarra, conhecida como "a Malawiya", em forma helicoidal, circundada de robustas muralhas de 240 metros por 160 e com 44 torres. E em Hatra, a "Cidade do Deus Sol", o que terá acontecido com a guerra para o templo "helenístico" com a cabeça da Górgone e as escrituras em aramaico?

Não há notícias sobre o Museu de Mossoul (a cidade que deu o nome ao algodão bordado, chamado por isso mesmo de "musselina"), sobre a fortaleza de Bash Tapia, sobre o santuário de Giona, sobre o minarete de "Nuri", inclinado para o lado como a torre de Pisa e sobre a vizinha Nínive, fundada pelo rei Nino, posteriormente marido de Semíramis.

Os arqueólogos italianos conhecem muito bem o valor cultural das escavações e dos museus iraquianos. Nos últimos anos, houve dezenas e dezenas de expedições que partiram da Itália com a autorização do governo de Bagdá. Houve também missões de escavação inglesas, francesas e americanas.

Antes da guerra, os arqueólogos italianos e franceses, assim como americanos e ingleses, tinham informado o Pentágono e a Casa Branca sobre os danos artísticos e culturais que uma guerra poderia causar. Mas, obviamente, não foram ouvidos.

Ontem, interveio também a Unesco. Mas muitos dias antes da guerra, com os dólares na mão, traficantes de arte do mundo inteiro já tinham chegado à Jordânia e ao Kuait. Dentro em breve, tesouros preciosos estarão à venda em Nova York, Paris, Londres e Zurique.

 

Il sacco di una civiltà millenaria

di Wladimiro Settimelli

L’unità 12.04.2003

La guerra ammazza e fa stragi, ma non basta: cancella anche la storia degli uomini, il loro passato, la testimonianza di tante antiche civiltà che ci hanno preceduto e riduce tutto in cenere. Ed eccola la conferma. Anche il Museo nazionale di Baghdad è stato saccheggiato, distrutto e antichissimi ed eccezionali reperti sono stati fatti a pezzi o portati via per sempre.

Lo racconta ai giornalisti piangendo, la vicedirettrice del Museo Nabhal Amin che ha cinquanta anni e una intera vita passata tra scavi e reperti. Accanto a lei, a testa bassa, Donny George, il direttore che, nei giorni scorsi, aveva fatto nascondere casse di oggetti esposti nelle vetrine per poi andare a dormire in un angolo del ´suoª museo. Ovviamente, tra i sacchi di sabbia che si vera fatto portare dagli aiutanti per proteggersi dalle schegge. Anche un impiegato piange a dirotto mentre raccoglie in giro i pezzi di una antichissima statua e guarda lo sfacelo nelle stanze e nei corridoi.

D’altra parte, la gente muore ancora di fame e di sete e negli ospedali i medici devono curare i feriti, mitra in pugno. Nessuno ha ancora fatto il conto dei morti dentro la città e centinaia non sono stati neanche sepolti. Dunque, che importa tutto il resto?

Ma il resto è la storia dell’Iraq, della Mesopotamia. La storia delle civiltà di Uruk, di quella Sumera, Babilonese, Persiana e del califfato di Harun ar Rashid. In alcuni degli antichi testi del Museo, venivano raccontate le avventure di Gilgamesh, figura su cui si basa il Noè biblico. Altri testi sempre conservati nel Museo di Baghdad( nata con il nome di Città della Pace) spiegavano le conquiste matematiche degli antichi studiosi che spiegavano il teorema di Pitagora, 1500 anni prima dell’esistenza del matematico greco. E poi testi di teologia, geometria, scienza, astronomia e astrologia, medicina e poesia.

I tesori del Museo datavano tutti dal 7000 avanti Cristo al 1000 dopo Cristo. I visitatori ricorderanno certamente lo stupore e la meraviglia che suscitava, in ognuno, la parte superiore di un’arpa sumerica scoperta a Ur, la città di Abramo. Non si sa dove sia finita. E ancora sono sparite teste di alabastro, leoni in pietra, teste in bronzo o in fango, ritrovate tra il Tigri e l’Eufrate e le sculture e i bassorilievi sumeri, babilonesi e assiri di inestimabile valore. E ancora i materiali straordinari ritrovati a Ninive, a Nimrud,ad Ashur, a Bassora, a Kufa, ad Amara e a Kirkuk. Altri reperti riguardavano la civiltà musulmana e quella ottomana. A Kufa, per esempio, era stata ´inventataª la famosissima scrittura araba detta ´kuficoª e ´Kuficio fioritoª che aveva raggiunto, con gli anni, vertici di bellezza e raffinatezza assoluta. Sarebbero stati bruciati.

´Hanno rubato o danneggiato - ha continuato a ripetere Nabhal Amin, senza ancora riuscire a trattenere il pianto - almeno 170 mila pezzi del valore di miliardi di dollari. Sotto i miei occhi, due ragazzetti con aria minacciosa, hanno preso l’ antichissimo portale di una moschea istoriato e lo hanno portato via. Sicuramente, lo useranno per accendere il fuoco sotto ad una pentolaª Per la vicedirettrice del Museo di Baghdad, non ci sono dubbi su chi ricada la colpa dello scempio. ´Toccava agli americani - ha spiegato con rabbia - proteggere il Museo. Se solo avessero messo davanti all’ingresso un carro armato e due soldati, nessuno avrebbe osato entrareª.

Già nella guerra del 1991, i danni al patrimonio artistico e museale erano stati grandi. Di quello che è successo con gli scontri violentissimi di questi venti giorni di guerra, con i bombardamenti, il transito di carri armati, gli incendi, lo scavo delle trincee e i cannoneggiamenti, nessuno è in grado di dire qualcosa di preciso. Si è combattuto in decine e decine di siti archeologici o in città notissime per tutta una serie di straordinari luoghi di culto e monumenti.

Per esempio a Kerbala c’è il mausoleo di Hussein, il figlio di Alì e nipote del Profeta Maometto. Kerbala è la seconda città santa per gli sciiti, dopo Nagiaf. I minareti e la cupola del mausoleo di Hussein, al quale venne tagliata la testa, sono coperti d’oro. Combattimenti terribili si sono avuti anche a Nagiaf, la quarta città santa per gli islamici, dopo Mecca, Medina e Gerusalemme. A Nagiaf è sepolto il ´principe dei credentiª Ali’, uno dei ´califfi ben guidatiª. Quel che resta del corpo venne issato su una specie di altare in avorio e argento, protetto da grate e porte in oro purissimo. A fianco del sarcofago di Alì ci sono le presunte tombe di di Adamo e Noè. La cupola della moschea-sepoltura è rivestita da 7777 mattoni di oro purissimo. La città ha anche un’altra caratteristica straordinaria: ospita il più grande cimitero del mondo perché gli sciiti di ogni paese musulmano, cercano di farsi seppellire proprio a Nagiaf. L’altro giorno, nella sacra moschea, è stato accoltellato l’imam che veniva dall’Inghilterra ed era ´amico degli occidentaliª.

Ma tutto l’Iraq è un enorme museo a cielo aperto: a volte recuperato e sistemato, a volte ancora da scavare.

Altro grandioso e famoso museo pieno di reperti è quello di Bassora,la ´Venezia d’Orienteª e punto di partenza dei fantastici viaggi di Sinbad delle ´Mille e una notteª. Non è stato ancora chiarito se i ladri siano riusciti a saccheggiarlo. Presso quel che resta di Nippur furono ritrovate, non molti anni fa, anche migliaia di tavolette con la descrizione del diluvio. E a Babilonia la guerra ha fatto danni? Presto lo sapremo. Come sapremo se i bombardamenti aerei hanno danneggiato la ´zigguratª di Ur o la celeberrima ´torreª moschea di Samarra, detta ´la Malawiyaª e cioè quella a forma elicoidale, circondata da mura possenti di 240 metri per 160 e con 44 torri. E ad Hatra, la ´Città del dio Soleª, come è andata, con la guerra, per il tempio ´ellenisticoª con la testa di Gorgona e scritte in aramaico?

Non ci sono notizie sul Museo di Mossul (la città ha dato il nome al cotone ricamato, chiamato per questo ´mussolinaª), sulla fortezza di Bash Tapia, sul santuario di Giona, sul minareto ´Nuriª, piegato su un lato, proprio come la torre di Pisa e sulla vicina Ninive, fondata dal re Nino, poi marito di Semiramide.

Gli archeologi italiani conoscono benissimo il valore culturale degli scavi e dei musei iracheni. Sono state decine, negli ultimi anni, le spedizioni del nostro Paese autorizzate dal governo di Baghdad. Notevoli anche gli scavi di missioni inglesi, francesi e americane.

Prima della guerra, gli archeologi italiani, francesi, ma anche americani e inglesi, avevano informato il Pentagono e la Casa Bianca dei danni artistici e culturali che la guerra avrebbe potuto provocare. Ma, ovviamente, non sono stati ascoltati. Ieri, è intervenuto anche l’Unesco. Ma già da molti giorni prima della guerra, dollari alla mano, i trafficanti d’arte di mezzo mondo, erano già arrivati in Giordania e in Kuwait. Molto, molto presto, tesori preziosi saranno in vendita a New York, a Parigi, a Londra o a Zurigo.

 

Envie um comentário sobre este artigo