O Iraque não é o Vietnã, mas…

 

 


Norman Solomon

26 de outubro de 2005

Tradução Imediata

Muitos políticos e especialistas têm nos dito que "O Iraque não é o Vietnã". Certamente, qualquer geógrafo concordaria.

Essencialmente, as histórias do Iraque e do Vietnã são muito diferentes. E a dinâmica da intervenção militar dos EUA nos dois países — embora mais parecida do que a mídia noticiosa dos EUA geralmente admite — está longe de ser idêntica.

O Iraque não é o Vietnã. Mas os Estados Unidos são os Estados Unidos.

Guerra após guerra, década após década, a mídia dos EUA continua a servir aqueles que, em Washington, empenham-se em definir a agenda a favor da guerra e assentam as lajes da via da intervenção militar.

Das notícias fraudulentas da mídia dos EUA sobre os eventos do Golfo de Tonkin no começo de agosto de 1964 às notícias fraudulentas sobre as supostas armas de destruição em massa nos primeiros anos do século XXI, a mídia noticiosa dos EUA tem sido fundamental para tornar a guerra possível para os EUA.

Precisamos confrontar os papéis da mídia corporativa na ajuda que presta de empurrar os EUA de uma guerra para outra. Em um país com elementos significativos de democracia, o que as pessoas pensam interessa. As funções de propaganda da mídia são cruciais para os fabricantes de guerras.

Há reportagens excepcionais. Por definição, são exceções. O que importa, sobretudo, é a rotina de cobertura que faz saltar a câmara de eco nacional. A repetição é a essência da propaganda. E as mensagens do estado de guerra são incessantes.

Há muitas décadas, Dwight Eisenhower fez uma advertência sobre o "complexo industrial militar". Ele foi o último presidente que reconheceu sua existência. Quanto mais o complexo industrial militar ganhou força, tanto menos ele tem sido reconhecido pela mídia e pelos políticos.

No ano passado, enquanto fazia pesquisas para o meu livro "War Made Easy", li os relatórios anuais de muitos fornecedores militares do Pentágono — corporações de pequeno, médio e grande porte. Aqueles relatórios anuais eram claros: a guerra é muito lucrativa para nossas companhias. Nós esperamos mais guerras, e isso significará uma cornucópia de lucros. Por outro lado, um declínio nas guerras traria grandes danos aos nossos lucros. Mas ninguém deve ficar preocupado.

No meio daquilo que Martin Luther King Jr. chamou de "a loucura do militarismo", hoje devemos demandar um jornalismo real — e confrontar as manipulações da mídia de notícias.

O sangue da democracia é o livre fluxo de informações para o corpo político. A mídia corporativa e o poder excessivo do governo são os responsáveis dos bloqueios letais.

Esses bloqueios são causas e conseqüências de uma cultura política voltada para a morte. As prioridades refletidas em um orçamento militar rotineiro dos EUA de meio trilhão de dólares anuais são letais. A potência de fogo do Pentágono mata. Assim como a injustiça econômica.

Com um uso repetido da violência mais maciço do que qualquer outra entidade do planeta possa sonhar em reunir, o Tio Sam é o serial killer dominante do globo. Essa realidade, tão óbvia à maioria do mundo, está escondida em plena vista através de todo o espectro da mídia corporativa dos EUA.

Os Estados Unidos são os Estados Unidos. E esta é, no final das contas, a continuidade fundamental entre a Guerra do Vietnã e o empenho de guerra no Iraque de hoje.

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Este artigo foi adaptado a partir de um discurso proferido por Norman Solomon por ocasião da cerimônia anual de entrega dos prêmios do ‘Project Censored’, em 22 de outubro de 2005, na Sonoma State University da Califórnia. Solomon é o autor de um novo livro: "War Made Easy: How Presidents and Pundits Keep Spinning Us to Death". Para mais informações, visite o site: www.WarMadeEasy.com

 

Iraq Is Not Vietnam. But...

by Norman Solomon

October 26, 2005

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Many politicians and pundits have told us that "Iraq is not Vietnam." Certainly, any competent geographer would agree.

Substantively, the histories of Iraq and Vietnam are very different. And the dynamics of U.S. military intervention in the two countries -- while more similar than the American news media generally acknowledge -- are far from identical.

Iraq is not Vietnam. But the United States is the United States.

War after war, decade after decade, the U.S. news media have continued to serve those in Washington who strive to set the national agenda for war and lay down flagstones on the path to military intervention.

From the U.S. media's fraudulent reporting about Gulf of Tonkin events in early August 1964 to the fraudulent reporting about supposed Iraqi weapons of mass destruction in the first years of the 21st century, the U.S. news media have been fundamental to making war possible for the United States.

We need to confront the roles of the corporate media in helping to drag the United States into one war after another. In a country with significant elements of democracy, it matters what people think. The propaganda functions of media are crucial for the war makers.

There are exceptional news reports. By definition, they're exceptions. What matters most is the routine coverage that bounces around the national echo chamber. Repetition is the essence of propaganda. And the messages of the warfare state are incessant.

Several decades ago, Dwight Eisenhower warned about a "military-industrial complex." He was the last president to acknowledge its existence. The more that the military-industrial complex has gained strength, the less it has been acknowledged in media and politics.

Last year, while doing research for my book "War Made Easy," I read the annual reports of many military contractors for the Pentagon -- small, medium and large corporations. Those annual reports were clear: War is very profitable for our company. We expect more war, and that will mean a cornucopia of profits. On the other hand, a falloff of war would severely damage our profits. But not to worry.

In the midst of what Martin Luther King Jr. called "the madness of militarism," today we must demand real journalism -- and confront the manipulations of news media.

The lifeblood of democracy is the free flow of information for the body politic. Corporate media and inordinate government power are responsible for deadly blockages.

Those blockages are causes and consequences of a political culture that's oriented toward death. The priorities reflected in a routine U.S. military budget of half a trillion dollars per year are lethal. Pentagon firepower kills. So does economic injustice.

With repeated use of violence more massive than any other entity on the planet can dream of mustering, Uncle Sam is the globe's dominant serial killer. This reality, so obvious to most of the world, is hidden in plain sight across the U.S. corporate media spectrum.

The United States is the United States. And that's the ultimate continuity between the Vietnam War and the U.S. war effort in Iraq today.

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This article is adapted from Norman Solomon's keynote speech at the annual awards ceremony of Project Censored on Oct. 22, 2005, at Sonoma State University in California. Solomon is the author of the new book "War Made Easy: How Presidents and Pundits Keep Spinning Us to Death." For information, go to: www.WarMadeEasy.com

 

 

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