Diagnosticando o 'caráter nacional' dos EUA: transtorno da personalidade narcisista

 

 


Robert Jensen

Tradução Imediata

Os políticos e opinadores profissionais adoram falar de nosso "caráter nacional", tipicamente, com tons entusiasmados de triunfalismo.

Freqüentemente, esse caráter é caracterizado como uma força nobre, mas não definida: no começo desse ano, por exemplo, Michael Chertoff, ministro da Homeland Security (Segurança Nacional), disse que o nosso caráter -- que se presume ser benevolente -- exige que acolhamos os imigrantes ilegais.

Outras vezes, esse caráter deve ser defendido dos estrangeiros que, simplesmente, não nos entendem: no mês passado, o colunista Jim Hoagland do Washington Post explicou que muitas pessoas do Oriente Médio são vítimas de "representações de norte-americanos violentando, assassinando, bombardeando mesquitas e torturando inocentes, em nome do caráter nacional".

E ainda, outras vezes, o caráter nacional é um destino político: em Nova Deli, no mês passado, o presidente Bush proclamou que "a democracia é mais que uma forma de governo, é a promessa central de nosso caráter nacional". Felizmente, para a Índia, seu caráter nacional compartilha a mesma nossa característica, de acordo com Bush.

Pode uma nação ter um caráter coerente? Se tomarmos a pergunta com seriedade - analisando a realidade, em vez de ficarmos reafirmando nobreza - vemos no caráter nacional dos EUA sinais de patologia e decadência, assim como de saúde e vigor. E se tratássemos o caráter nacional como se fosse uma pessoa? Se dermos uma olhada no Manual de Diagnósticos e Estatísticas da Associação de Psiquiatria dos EUA (Diagnostic and Statistical Manual, ou DSM of the American Psychiatric Association), a bíblia dos profissionais voltados à saúde mental, uma categoria se sobressai: a Desordem ou Transtorno da Personalidade Narcisista.

O TPN descreve o tanstorno como "um padrão dominante de grandiosidade (na fantasia ou no comportamento), necessidade de admiração e falta de empatia", e que pode ser diagnosticado quando se verificam cinco entre qualquer um desses nove critérios:

1. Um sentido exagerado ou ostentatório de auto-importância.

2. Uma preocupação com fantasias ilimitadas de sucesso, poder, brilho, beleza ou amor ideal.

3. Uma crença de ser especial e único.

4. Uma necessidade excessiva de admiração.

5. Um sentido de que sempre se tem direito.

6. Ser explorador em termos interpessoais, tirando vantagem dos outros para alcançar os próprios objetivos.

7. Falta de empatia.

8. Com freqüência, inveja dos outros, ou crença de que os outros são invejosos dele/dela.

9. Exibição de comportamentos ou atitudes arrogantes, superiores.

É claro que as tendências narcisistas de auto-engrandecimento não são exclusivas aos EUA. Mas dado o predomínio do poder dos EUA no mundo, deveríamos nos preocupar mais com as conseqüências desse narcisismo específico.

O transtorno está presente em ambos os partidos e, virtualmente, é requerido de todos os políticos dominantes. Quando a Câmara (House of Representatives) debateu a criação do Departamento de Segurança Nacional (Department of Homeland Security) em 2002, a deputada democrata da Califórnia Nancy Pelosi declarou que os EUA são "o melhor país que jamais existiu sobre a terra". O republicano do Texas Dick Armey descreveu os EUA como "a melhor e mais livre nação que o mundo conheceu". Com relação ao "sentido de grandiosidade ostentatória de auto-importância", os políticos rotineiramente dramatizam os gestos retóricos quando afirmam que o país é "único e especial".

Quanto à arrogância e sentido de superioridade: ao ser perguntado, durante uma conferência à imprensa, antes da guerra, em março de 2003, se os EUA desafiariam as Nações Unidas caso tivessem que invadir o Iraque sem a devida autorização legal, Bush disse: "se precisarmos agir, agiremos e, na realidade, não precisamos da aprovação das Nações Unidas para isso". Bush prefaciou a promessa de desafiar o direito dos EUA e o direito internacional com a frase: "quando se trata de nossa segurança", mas como a invasão do Iraque teve pouco ou nada a ver com a segurança dos EUA, podemos ignorar aquela regra. Aqui, o jovem Bush estava meramente imitando seu pai, o qual remarcou em fevereiro de 1991, enquanto os EUA estavam destruindo o Iraque pela primeira vez: "Os EUA têm uma nova credibilidade. O que dizemos é o que conta".

Sobre a Guerra do Golfo e a "falta de empatia": em 13 de fevereiro de 1991, aviões norte-americanos atacaram um bunker em Bagdá. Sem se importarem se os planejadores militares sabiam que se tratava de um abrigo antiaéreo ou se pensavam que era um "sítio de comando e controle", um número estimado de 300-400 civis morreu. Colin Powell, então presidente da Junta de Chefes do Estado Maior, referiu-se a isso como um "um inconveniente do poder aéreo", e disse que o incidente o levou a falar com o General Norman Schwarzkopf sobre a necessidade de "olhar para a lista de alvos com um pouco mais de atenção". Será que o objetivo desse exame era discutir sobre as baixas na população civil? Não, era o de questionar a eficiência dos bombardeios contra uma Bagdá já exaustivamente bombardeada. Nas palavras de Powell: "Fiz perguntas como... Por que estamos bombardeando a sede do Partido Baath pela oitava vez?... Por que estamos remexendo esses escombros com mísseis de um milhão de dólares?"

De Powell, que em seguida serviu como Secretário de Estado durante o primeiro governo de George W. Bush, se falou como ele se fosse a "pomba" daquele governo. Talvez poderíamos qualificar esse nível de empatia como a marca de uma "pomba severa".

O desagradável tema da atual Guerra do Iraque nos traz "fantasias de sucesso, poder e brilho ilimitados". Embora, recentemente, a Secretária de Estado Condoleezza Rice reconheceu que erros foram cometidos na atual guerra do Iraque: -- "Fizemos erros táticos, milhares deles, estou certa disso" - ela deixou claro que a história justificará os oficiais dos EUA por terem tomado "a decisão estratégica correta" de invadir. Mas aquela pequena concessão à realidade foi demais para o Secretário da Defesa Donald Rumsfeld, que respondeu: "Não sei do que ela estava falando, para dizer a verdade".

Embora seja fácil apontar o narcisismo de líderes desalmados e auto-indulgentes, esse diagnóstico do Transtorno da Personalidade Narcisista se aplica ao país como um todo. A crença de que os Estados Unidos sejam um país único - a "cidade reluzente sobre a colina" - tem raízes profundas e, para muitos, origens divinas: 48 por cento dos norte-americanos acreditam que os EUA contam com "uma proteção especial de Deus", segundo uma pesquisa de 2002.

O narcisismo de toda a sociedade também fica evidente no amplamente difundido sentido de se ter direito", definido como "expectativas irracionais de tratamento especialmente favorável ou conformidade automática com suas expectativas". Isso é difícil de confrontar, exatamente porque tem raízes, de certa forma, em todos nós, e não pode ser removido facilmente de sua componente mais patológica. A grande maioria do povo dos EUA - em comparação com o resto do mundo - vive um estilo de vida extravagante com relação ao qual damos poucos sinais de estarmos dispostos a renunciar.

Somos 5 por cento da população mundial e consumimos cerca de um quarto da energia do mundo. Esse estado atual é, obviamente, injusto, e se faz possível pela coerção e pela violência, e não por uma superioridade natural dos norte-americanos. Mesmo assim, a grande maioria do povo dos EUA, incluindo grande parte da comunidade política de esquerda/ progressista, se comporta como se esperasse que esse estado de coisa continuará. Esse é um narcisismo real, e é o coração do problema político dos Estados Unidos. Mesmo se limpássemos os salões e corredores do Congresso e da Casa Branca de todos os políticos corruptos e cruéis, a profunda auto-indulgência de uma cultura opulenta permaneceria inabalada.

O ativismo político deverá continuar, se quisermos nos desviar das políticas patológicas daqueles políticos. A crítica do poder concentrado das elites corporativas que apóiam essas políticas é essencial. Porém, a necessária auto-reflexão crítica no âmbito coletivo também deve vir em cada um de nossos lares.

Robert Jensen é professor de jornalismo na Universidade do Texas, em Austin e é membro do conselho Third Coast Activist Resource Center . Ele é autor de: The Heart of Whiteness : Confronting Race, Racism and White Privilege , e Citizens of the Empire : The Struggle to Claim Our Humanity (ambos publicados por City Lights Books ).

 


Diagnosing the U.S. 'national character': Narcissistic Personality Disorder

by Robert Jensen

Politicians and pundits in the United States love to talk about our "national character," typically in rapturous tones of triumphalism.

Often that character is asserted as a noble force but not defined: Earlier this year, for example, Homeland Security Secretary Michael Chertoff said our national character -- presumed to be benevolent -- requires us to be welcoming to legal immigrants.

Other times it must be defended against foreigners who just don't understand us: Washington Post columnist Jim Hoagland last month explained that too many Middle Easterners fall prey to "depictions of Americans routinely raping, killing, firebombing mosques and torturing innocents as a function of national character."

And sometimes character is political destiny: In New Delhi last month, President Bush proclaimed that "democracy is more than a form of government, it is the central promise of our national character." Luckily for India, its national character shares the same feature, according to Bush.

Can a nation have a coherent character? If we take the question seriously -- investigating reality rather than merely asserting nobility -- we see in the U.S. national character signs of pathology and decay as well as health and vigor. What if, for purposes of analysis, we treated the nation as a person? Scan the Diagnostic and Statistical Manual of the American Psychiatric Association (the bible of mental-health professionals, now in its fourth edition) and one category jumps out: Narcissistic Personality Disorder.

DSM-IV describes the disorder as "a pervasive pattern of grandiosity (in fantasy or behavior), need for admiration, and lack of empathy" that can be diagnosed when any five of these nine criteria are met:

1. a grandiose sense of self-importance.

2. preoccupied with fantasies of unlimited success, power, brilliance, beauty, or ideal love.

3. believes he or she is special and unique.

4. requires excessive admiration.

5. sense of entitlement.

6. interpersonally exploitative, taking advantage of others to achieve his or her own ends.

7. lacks empathy.

8. often envious of others or believes that others are envious of him or her.

9. shows arrogant, haughty behaviors or attitudes.

Narcissistic tendencies to self-aggrandize are not unique to the United States, of course. But given the predominance of U.S. power in the world, we should worry most about the consequences of such narcissism here.

This disorder is bipartisan, and is virtually required of all mainstream politicians. When the House of Representatives held hearings about the creation of the Department of Homeland Security in 2002, California Democrat Nancy Pelosi declared that America is "the greatest country that ever existed on the face of the earth." Texas Republican Dick Armey described the United States as "the greatest, most free nation the world has ever known." With a "grandiose sense of self-importance," politicians routinely ratchet up the rhetorical flourishes when asserting that the country is "special and unique."

As for arrogance and haughtiness: When asked at his pre-war news conference in March 2003 whether the United States would be defying the United Nations if it were to invade Iraq without legal authorization, Bush said, "if we need to act, we will act, and we really don't need United Nations approval to do so." Bush prefaced that promise to defy international and U.S. law with the phrase "when it comes to our security," but since the invasion of Iraq had little or nothing to do with the security of the United States we can ignore that qualifier. Here the younger Bush was merely mimicking his father, who remarked in February 1991 as the United States was destroying Iraq a first time: "The U.S. has a new credibility. What we say goes."

On the Gulf War and "lacks empathy": On Feb. 13, 1991, U.S. planes hit a bunker in Baghdad. Whether military planners knew it was an air-raid shelter or thought it was a "command-and-control site," an estimated 300-400 civilians died. Colin Powell, then chairman of the Joint Chiefs of Staff, referred to this as "one downside of airpower," and said the incident led him to discuss with Gen. Norman Schwarzkopf the need "to look at the target list a little more closely." Was the goal of that review to discuss civilian casualties? No, it was to question the efficiency of bombing an already bombed-out Baghdad. In Powell's words: "I asked questions like, 'Why are we bombing the Baath Party headquarters for the eighth time? ... Why are we bouncing rubble with million-dollar missiles?'"

Powell, who went on to serve as secretary of state in George W. Bush's first term, was often referred to as the "dove" of that administration. Perhaps we could call this level of empathy the mark of a "tough dove."

The unpleasant subject of the current Iraq war brings up "fantasies of unlimited success, power, brilliance." Though Secretary of State Condoleezza Rice recently acknowledged mistakes in the current Iraq war -- "We've made tactical errors, thousands of them, I'm sure" -- she made it clear that history will vindicate U.S. officials for making "the right strategic decision" to invade. But that small concession to reality was too much for Secretary of Defense Donald Rumsfeld, who responded, "I don't know what she was talking about, to be perfectly honest."

While it's easy to point at the narcissism of soulless and self-indulgent leaders, this diagnosis of Narcissistic Personality Disorder applies to the country as a whole. The belief that the United States is unique -- a shining "city upon a hill" -- is deeply rooted, and for many has divine origins; 48 percent of Americans believe the United States has "special protection from God," according to a 2002 survey.

The narcissism of the whole society also is evident in the widespread "sense of entitlement," defined as "unreasonable expectations of especially favorable treatment or automatic compliance with his or her expectations." This is difficult to confront, precisely because it takes root to some degree in all of us and can't be so easily displaced onto only the most overtly pathological. The vast majority of the U.S. public -- by comparison to the rest of the world -- lives an extravagant lifestyle that we show few signs of being willing to give up.

We are 5 percent of the world's population and consume about a quarter of the world's energy. This state of affairs is clearly unjust, made possible by coercion and violence, not some natural superiority of Americans. Yet the vast majority of the U.S. public, and even much of the left/progressive political community, acts as if they expect this state of affairs to continue. That's real narcissism, and it's at the heart of the political problem of the United States. Even if we swept the halls of Congress and the White House clean of every corrupt and cruel politician, the deeper self-indulgence of an affluent culture would be untouched.

Political activism to derail the pathological policies of those politicians must go forward. Critique of the concentrated power of the corporate elites who support those policies is essential. But the critical self-reflection necessary at the collective level also must come home to each of us.

Robert Jensen is a journalism professor at the University of Texas at Austin and a member of the board of the Third Coast Activist Resource Center . He is the author of The Heart of Whiteness : Confronting Race, Racism and White Privilege , and Citizens of the Empire : The Struggle to Claim Our Humanity (both from City Lights Books ).

http://www.altpr.org/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=632&mode=nocomments&order=0&thold=0

 


Diagnosticando el "carácter nacional" usamericano: Trastorno Narcisista de la Personalidad

Robert Jensen

 

Traducido del inglés para Tlaxcala y Rebelión por Ulises Juárez Polanco ( www.juarezpolanco.com )

Los políticos y opinadores profesionales en Usamérica adoran hablar sobre el "carácter nacional", en especial con tonos entusiastas de triunfalismo.

Con frecuencia, ese carácter se tiene como una fuerza noble pero no definida: temprano este año, por ejemplo, el secretario de Seguridad Nacional Michael Chertoff dijo que nuestro carácter nacional -que se presume es benevolente- nos exige acoger a los inmigrantes legales.

Otras veces se debe defender de extranjeros que no nos entienden: el pasado mes, el columnista del Washington Post Jim Hoagland explicó que demasiadas personas de Oriente Próximo son víctimas de la "representación de usamericanos violando, asesinando, bombardeando mezquitas y torturando inocentes, en nombre del carácter nacional".

Y algunas veces el carácter es un destino político: en Nueva Delhi, durante el mes pasado, el presidente Bush proclamó que "la democracia es más que una forma de gobierno, es la promesa central de nuestro carácter nacional". Con suerte para India, su carácter nacional comparte la misma característica, de acuerdo con Bush.

¿Puede una nación tener un carácter coherente? Si tomamos la pregunta con seriedad -analizando la realidad más que afirmando nobleza- miramos en el carácter nacional usamericano señales de patología y decadencia, tanto como de salud y vigor. ¿Qué tal si, por motivos de análisis, tratáramos a la nación como a una persona? Una hojeada al Manual de Diagnóstico y Estadístico (DSM, por sus siglas en inglés) de la Asociación de Psiquiatría Usamericana (la Biblia de los profesionales mentales, ahora en su cuarta edición) y una categoría resalta: Trastorno Narcisista de la Personalidad.

El DSM describe el trastorno como un "patrón dominante de gran necesidad de admiración (en fantasía o comportamiento), y de falta de empatía" que puede diagnosticarse cuando cualesquiera cinco de estos nueve criterios se cumplen:

1.        un sentido ostentoso de auto-importancia

2.        interés en fantasías de éxito ilimitado, poder, brillantez, belleza o amor ideal.

3.        creencia de ser especial y único

4.        necesidad de admiración excesiva

5.        sentido de derecho propio

6.        explotación interpersonal, tomando ventaja de los otros para alcanzar sus propias metas

7.        falta de empatía

8.        con frecuencia envidia de los otros o creencia que los otros son envidiosos de él.

9.        muestra de comportamientos o actitudes arrogantes o altivas

Claro que las tendencias narcisistas de auto-agrandamiento no son únicas de Estados Unidos. Pero dado el predominio del poder usamericano en el mundo, aquí debemos preocuparnos más de las consecuencias de dicho narcisismo.

Este trastorno está presente en los dos partidos, y es necesario prácticamente por todos los políticos dominantes. Cuando la Casa de Representantes debatió la creación del Departamento de Seguridad Nacional en 2002, el demócrata californiano Nancy Pelosi declaró que Usamérica es el "mejor país que alguna vez existió sobre la Tierra". El republicano texano Dick Armey describió Estados Unidos como "la mejor y más libre nación que el mundo ha conocido". Respecto al "sentido ostentoso de auto-importancia", los políticos agrandan los dramáticos gestos retóricos al afirmar que el país es "único y especial".

Y en cuanto a arrogancia y altivez: al preguntársele en marzo de 2003, durante su conferencia antes de la guerra, si Estados Unidos desafiaría a las Naciones Unidas si fuese a invadir Iraq sin autorización legal, Bush dijo, "si necesitamos actuar, actuaremos, y realmente no necesitamos aprobación de Naciones Unidas para hacerlo". Bush prologó la promesa de desafiar las leyes usamericanas e internacionales con la frase "cuando se trate de nuestra seguridad", pero la invasión de Iraq tuvo poco o nada que ver con la seguridad de Estados Unidos para que pudiéramos ignorar esa regla. Aquí, el joven Bush estaba sólo imitando a su padre, quien en febrero de 1991 comentó, mientras Estados Unidos destruía Iraq por primera vez: "EE.UU. tiene una nueva credibilidad. Lo que decimos, se hace."

Sobre la Guerra del Golfo y la "falta de empatía": el 13 de febrero de 1991, un avión usamericano disparó contra un bunker en Bagdad. Sin importar que los planificadores militares sabían que era un refugio o pensaban que era un "sitio de control y comando", un estimado de 300-400 civiles murieron. Colin Powell, entonces Presidente de la Junta de Jefes del Estado Mayor, se refirió a esto como "un inconveniente del poder aéreo", y dijo que el incidente lo llevó a discutir con el Gral. Norman Schwarzkopf la necesidad "de mirar la lista de objetivos con un poco más de atención". ¿Era la meta de ese crítica discutir las bajas civiles? No, era cuestionar la eficiencia de bombardear una Bagdad ya bombardeada. En las palabras de Powell: "Hice preguntas como, '¿por qué estamos bombardeando los cuarteles generales del Partido Baaz por octava vez? (...) ¿Por qué tenemos en la mira escombros con misiles de un millón de dólares?'"

A Powell, quien después se convertiría en Secretario de Estado durante la primera administración de George W. Bush, se le señaló con regularidad como "la paloma" de esa administración. Quizá podríamos llamar este rango de empatía la marca de una "paloma severa".

El tema incómodo de la actual Guerra de Iraq nos trae las "fantasías de éxito ilimitado, poder, brillantez". Aunque hace poco la Secretaria de Estado Condoleezza Rice reconoció errores en la actual Guerra de Iraq -"Hemos cometido errores tácticos, miles de ellos, estoy segura"-, dejó claro que la historia reinvindicará a los oficiales usamericanos por tomar "la decisión estratégica correcta" de invadir. Pero esa pequeña concesión a la realidad fue demasiado para el Secretario de Defensa Donald Rumsfeld, quien respondió, "no sé de qué estaba hablando, para ser perfectamente honesto".

Si bien es fácil apuntar el narcisismo de líderes desalmados y autoindulgentes, este diagnóstico del Trastorno Narcisista de la Personalidad se aplica al país como conjunto. La creencia que Estados Unidos es único -una brillante "ciudad sobre la colina- tiene raíces profundas, y para muchos un origen divino: 48% de los usamericanos creen que Estados Unidos tiene "una protección especial de Dios", según un estudio de 2002.

El narcicismo de una sociedad completa también es evidente en su divulgado "sentido de derecho", definido como "expectativas no razonables de tratamiento especialmente favorable, o conformidad automática a sus expectativas". Esto es díficl de confrontar, precisamente porque echa raíces de alguna forma en todos nosotros, que no pueden ser removidas con facilidad de su parte más patológica. La amplia mayoría del público usamericano -en comparación con el resto del mundo- vive un estilo de vida tan derrochador que damos pocas señales de estar de acuerdo en renunciar a éste.

Somos el 5% de la población mundial y consumimos cerca de la cuarta parte de toda la energía mundial. Esta estado actual de las cosas es claramente injusto, hecho posible por la coerción y la violencia, y no por una superioridad nacional de los usamericanos. Aún así, la vasta mayoría del público usamericano, e incluso gran parte de la comunidad política de izquierda/progresista, actúan como si la expectativa para este estado actual de las cosas es que continuara. Eso es un narcisismo real, y es el corazón del problema político de Estados Unidos. Aunque limpiáramos los pasillos del Congreso y de la Casa Blanca de cada político corrupto y cruel, la autoindulgencia más profunda de una cultura opulenta quedaría sin tocarse.

El activismo político debe continuar si queremos deshacer las políticas patológicas de aquellos políticos. La crítica hacia el poder concentrando en las élites corporativas que soportan esas políticas es esencial. Pero la auto-reflección necesaria en las esferas colectivas también debe venir a cada uno de nuestros hogares.

Robert Jensen es profesor de periodismo en la Universidad de Texas, y miembro de la junta del Third Coast Activist Resource Center. Es el autor de The Heart of Whiteness : Confronting Race, Racism and White Privilege , y Citizens of the Empire : The Struggle to Claim Our Humanity (ambos de City Lights Books).

Ulises Juárez Polanco es miembro del colectivo de traductores de Rebelión y asimismo de Tlaxcala, la red de traductores por la diversidad lingüística (www.tlaxcala.es). Esta traducción es copyleft.

 

 

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