Amy Goodman entrevista Robert Fisk

 

 


Robert Fisk
Democracy Now

20 de outubro de 2005

Tradução Imediata

Tradução da transcrição parcial da entrevista concedida pelo jornalista britânico Robert Fisk a Amy Goodman, no dia 21 de setembro de 2005. Amy estava em Santa Fé, Novo México, num evento patrocinado pela Lannan Foundation. Fisk estava em um estúdio de Toronto, no Canadá. A entrevista foi realizada via satélite. Correspondente do Independent de Londres para o Oriente Médio, Fisk encontra-se naquela região há mais de trinta anos e cobriu todos os grandes eventos da região: da Guerra Civil da Argélia à Revolução Iraniana, da crise de reféns americanos em Beirute à Guerra Irã-Iraque, da Invasão do Afeganistão pela Rússia às invasões do Líbano por Israel, da Guerra do Golfo à invasão e guerra atual no Iraque. Em breve, sairá seu novo livro: The Great War for Civilisation: The Conquest of the Middle East (A Grande Guerra pela Civilização: A Conquista do Oriente Médio).

AMY GOODMAN: Qual a sua avaliação da situação atual no Iraque e do que precisa ser feito?

ROBERT FISK: Três dias depois que os americanos vieram a Bagdá, disse que a história real estava para começar e que se tratava da história da guerra contra a ocupação americana. Muitos colegas meus pensavam que (o que eu dizia) era muito, muito engraçado – eles me respondiam com risadas. Mas já não estão mais rindo.

Veja, além da área do Curdistão, o Iraque está num estado de total anarquia e caos. Nenhuma rodovia é segura fora de Bagdá. A maior parte de Bagdá está nas mãos dos insurgentes. Somente nas poucas zonas verdes, nas áreas blindadas dos hotéis, onde os ocidentais vivem e nadam, e em muitos casos, eles nem saem de seus próprios quartos, sendo que isso se aplica à maioria dos jornalistas, somente nessas áreas as pessoas têm a ilusão de que as coisas estão melhorando. Fora, nas ruas, onde alguns jornalistas ainda ousam ir, incluindo, por exemplo, meu colega Patrick Cockburn, do Independent, e eu mesmo, do jornal Guardian, e não a maioria dos americanos, só um ou dois.

Fora, nas ruas, onde poucos de nós (jornalistas) ousam ir, é o inferno na Terra. Eu consegui ir, há um par de semanas, no morgue da cidade de Bagdá. Como costumava fazer no passado, contando os corpos no meio do dia e do verão, lá fora, no calor. Havia 26 até o meio do dia. Nove tinham chegado até às nove da manhã. Consegui obter as cifras oficiais para o mês de julho para o número total de mortes violentas, somente em Bagdá. A cifra era de 1.100 mortes violentas, homens, mulheres, crianças. Mortas por tiros, assassinadas, esfaqueadas, executadas, matadas em chacinas de esquadrões da morte. Uma cifra que, naturalmente, não é divulgada pelo Ministério da Saúde do Iraque nem, é claro, pelas autoridades de ocupação.

Agora, no Iraque, temos uma situação onde existe uma insurgência em todos os níveis, tanto pelos xiitas quanto pelos sunitas contra as forças ocidentais. Uma vez que uma insurgência como essa começa, num país muçulmano, é impossível terminá-la. "Desculpem, colegas, mas será que podemos atrasar o relógio? Começar de novo? Já que deu errado, em algum ponto?" Impossível. Não dá para fazer isso. Há três semanas, conversava com um amigo iraquiano, em Bagdá, sobre o que ele achava ser a resposta. Ele disse: "Não há resposta. Vocês precisam cair fora. Vocês precisam cair fora." Na época, escrevi que a equação era terrível no Iraque. Funciona assim: os americanos precisam cair fora. E os americanos vão cair fora, mas os americanos não podem cair fora. E essa é a equação que transforma areia em sangue.

Uma vez que você se torna uma potência de ocupação, você assume responsabilidades com relação à população civil, o que nós não fizemos, mas você também tem responsabilidades com relação a si mesmo. Você precisa ficar justificando vez após outra, vez após outra, ao seu próprio povo. Você estava certo de fazer o que fez: o.k., não tinham armas de destruição em massa, mas nos livramos do Saddam, o.k., ainda não providenciamos a eletricidade, mas vai ter uma constituição. Bem, assim esperamos. E fizemos as eleições. Lembram-se delas? Em janeiro? E o tempo todo, as pessoas continuam morrendo em números cada vez maiores. Lembram-se do número para julho, e isso só para Bagdá? 5.000 mortos? Em julho? O que isso significará para o país como um todo? O que isso significa para todo o Iraque, em um ano? Estão vendo o problema? Estamos falando em 50.000 ou 60.000 mortos por ano, agora. A pior cifra que ouvi é de 100.000 mortos desde 2003; ainda assim, não temos estatísticas oficiais. Quando jornalistas individuais têm que ir para os morgues dos hospitais e contar os corpos no chão, vocês podem estar certos de que temos sérios problemas.

A última vez que estive em Bagdá comecei a me perguntar sobre os perigos – e eu nunca fiz isso em nenhuma outra guerra, exceto para a guerra da Argélia, a qual, de muitas maneiras, era bastante similar a essa, questionando se os perigos de cobrir o Iraque continuam ou não a valer a pena. Imagino que sim. Mas quando olho meu rosto no espelho, ocasionalmente, e vejo os cabelos brancos, pergunto se deveria continuar a ir para lá. Provavelmente irei, mas não estou seguro.

 

AMY GOODMAN: Robert, e quanto ao número de jornalistas que morreram? Neste fim de semana, haverá uma manifestação contra a guerra em Washington, no dia 24. assim como em todo o país. Duas das pessoas que estarão lá são o irmão e a mãe de Jose Couso, o cameraman espanhol morto no Palestine Hotel, no dia antes que as forças dos EUA derrubaram a estátua de Saddam Hussein, em Fardus Square.

ROBERT FISK: Não, foi no mesmo dia. No mesmo dia. Foi o tanque blindado da primeira divisão. Era o tanque americano que o matou, sem dúvida, mas foi no mesmo dia.

AMY GOODMAN: E ele foi uma das tantas pessoas, dos jornalistas que morreram recentemente. Um fotógrafo da Reuters morto, seu colega preso e detido pelas forças dos EUA, outro IS detido na prisão de Abu Ghraib. Dúzias de jornalistas. E os seus colegas no Iraque atualmente?

ROBERT FISK: O número total de jornalistas mortos durante ou depois da invasão de 2003 até hoje é de 68. O mais recente é um iraquiano que trabalhava para o The New York Times em Bassora, e que foi encontrado jogado num depósito de lixo, executado com três balas na parte posterior da cabeça. Creio que a "polícia iraquiana" o matou, como creio que a polícia iraquiana matou o jornalista americano em Bassora. Veja, não há dúvidas de que essa está se tornando a história mais perigosa para os jornalistas, em todos os tempos e em qualquer lugar.

O pior período, antes, seria na Bósnia, em 1992, quando muitos jornalistas que nunca tinham estado numa guerra antes foram enviados para a Bósnia e estavam morrendo às dúzias por semana. Isso era devido, principalmente, creio, porque estavam enviando jovens cuja experiência de guerra era Hollywood, onde o herói sobrevive sempre. E o que é chocante a respeito dessa guerra é que a maioria dos jornalista assassinados no Iraque, quase sem exceção, é experiente, em muitos casos jornalistas de faixa etária média que estiveram sob o fogo muitas vezes antes, e que sabem sobre a natureza letal das armas e cujos trabalhos e vidas simplesmente não são mais respeitadas. Nunca estive numa guerra como a do Iraque, na qual nossas vidas estão tão ameaçadas, em que são um alvo para todos os lados, parece. E não estou certo do que podemos fazer quanto a isso.

Os jornalistas americanos, alguns deles têm guarda-costas armados iraquianos. O The New York Times tem um bunker com quatro torres de vigia e iraquianos armados com a escrita "NYT" New York Times em suas camisetas negras. O pessoal da NBC vive num hotel no Distrito de Karada, atrás de grades de ferro. O pessoal da A.P. vive no Palestine Hotel, atrás de duas paredes blindadas. Muito raramente saem de seus bunkers, assim como o pessoal americano, que nunca se aventura nas ruas. Como disse, eu ainda saio com amigos iraquianos. Saímos para ir a restaurantes. Mas acho que é porque enquanto estamos com iraquianos e olhamos para o relógio e dizemos, bem, temos 20 minutos, acabamos a refeição em meia-hora, e daí saímos. Desse modo tudo bem, mas é um risco calculado.

Como disse, não estou certo de que os riscos ainda valem a pena. Nossas vidas não valem nada para os insurgentes. Nossas vidas parecem não valer nada para os americanos ou para os britânicos. Acho que quando se chega ao ponto onde nossas vidas e nosso trabalho simplesmente não são mais respeitados, é preciso fazer a pergunta: será que ainda vale a pena? Acho que vale porque creio que o Iraque é uma tragédia espantosa. Principalmente para os iraquianos, naturalmente, e que não são colocados no topo de nossas listas. Dizemos (que morreram) 1.900 americanos, 93 britânicos, ou algo em torno disso. Mas são os iraquianos que sofrem e que morrem em altas cifras. Muitos deles porque acreditaram em nós e se dispuseram a trabalhar para a polícia ou queriam trabalhar para companhias de construção, construindo vias de pouso para os americanos ou fortalezas para os americanos.

Mas acho que toda a história iraquiana para nós, como jornalistas, está se tornando quase impossível de cobrir. Certamente, quando os jornalistas vivem atrás de paredes blindadas de um hotel, e que só usa seu celular para ligar para os diplomatas americanos ou britânicos, por sua vez atrás de outros muros de concreto, tanto faz estar em County Mayo, na Irlanda ou em Santa Fé, Novo México. Não faz sentido estar lá.

Por exemplo, na última viagem que fiz fora de Bagdá, levei duas semanas para combinar os detalhes para ir a Najaf. Foi a viagem mais temerosa. Viajei na estrada com três amigos iraquianos. Um deles, um clérigo xiita, um homem religioso. Todos os pontos de controle do exército iraquiano tinham sido abandonados. Isso logo depois que George Bush afirmou que o exército iraquiano estava em campo. Havia carros da polícia iraquiana virados de cabeça para baixo.Carros americanos queimados. Não vi nenhum membro da Forças de Segurança até que cheguei à periferia de Najaf, cerca de 80 milhas (de Bagdá).

Todo o interior, fora de Bagdá, está sob controle, é agora propriedade dos insurgentes armados sunitas ou xiitas. Isso ninguém nos diz. Isso o Presidente Bush não admite. Isso, nosso decano, o Sr. Blair não reconhece. E essa é parte da tragédia. E parece que agora é parte de nossas vidas, que o alagamento de Nova Orleans não é real até que seja impossível negar a realidade, que o colapso do Iraque não é real, até que será impossível negar sua realidade.

Com a pobreza de cobertura da televisão, embora tenhamos obtido boas fotos, conforme pude observar, dos soldados britânicos em chamas, por Deus, dentro de seus veículos blindados. Não sei se é ainda possível explicar o que está acontecendo no Iraque. A maioria dos jornalistas, dos jornalistas ocidentais, estão dependendo de seus correspondentes iraquianos, que arriscam suas vidas nas ruas. E eles estão arriscando suas vidas e estão morrendo para fornecer as notícias. Mas não há, praticamente – não há jornalistas ocidentalizados sem armas independentes nas ruas. Meu jornal não oferece proteção. Não carregamos armas.

Mas meu Deus, digo, não sei por quanto tempo poderemos continuar fazendo isso. Cada vez que o Patrick e eu vamos para o Iraque as coisas estão pior. E quando olhamos para trás, há um ano atrás, o que era considerado terrível, ficamos impressionados com a liberdade que tínhamos, como era fácil ir fazer compras, por exemplo. Ainda vou comprar comestíveis – por seis minutos somente. Agarro o pão, me enfio na frente da fila, pago, caio fora. Aprende-se muito.

No outro dia, fui ao meu restaurante favorito, o Ramaya, para ver que não era mais o Ramaya. Agora, recebeu um nome islâmico e tinha um letreiro de néon verde. Quando entrei, vi que o menu não era mais em inglês, francês e árabe. Estava somente em árabe. E nada de garrafas de vinho tinto libanês. Foi totalmente islamicizado. É preciso ver para compreender. Mas o problema é que muitos de nossos colegas não têm nem a permissão de suas matrizes de saíram de seus escritórios.

AMY GOODMAN: Nós acabamos de voltar de Nova Orleans. Algo espantoso que aconteceu com a mídia, além do horror que teve lugar, é devido ao fato de que a guarda nacional se encontrava no Iraque. Como o presidente Bush não enviou os recursos para lá imediatamente não havia tropas com as quais os repórteres podiam se enquistar. Assim, o que ocorreu é que havia repórteres que eram vítimas, na rua, reportando os fatos de um modo como nunca tínhamos visto antes, como a imagem de um repórter com um corpo flutuando atrás. Assim, quando os oficiais do governo dizem que não é verdade, os jornalistas, na realidade, desafiam os oficiais do governo, porque eles mesmos estão vivenciando a situação. Uma das primeiras coisas que Bush fez quando começou a se envolver com o problema foi proibir a divulgação de fotos com corpos de mortos. Acho que o que fez mudar esse país de idéia, agora, é que as pessoas viram as imagens reais de Nova Orleans, de um modo como não viram o que ocorria no Iraque. Você poderia falar de todo o processo de enquistamento e do controle da mídia?

ROBERT FISK: Não é sobre enquistamento. Não é sobre enquistamento, Amy. É sobre a recusa da televisão de mostrar a verdade sobre a guerra. Deixe-me dar um exemplo. Em 1991, estava na estrada principal que leva a Bassora, na chamada rodovia da morte, com o pessoal da ITV, um canal comercial britânico. Paramos num lugar onde havia um grande número de soldados iraquiano mortos, no deserto. Tinham aparecido manadas de cachorros de deserto. E estavam destroçando e comendo os corpos dos soldados. Puxando o braço com a mão dependurada pelo deserto, comendo as entranhas, arrancando pedaços das bochechas de soldados mortos. O pessoal da ITV saiu e começou a filmar. Daí perguntei: "Para que estão filmando isso? Não vai ser nunca mostrado no ar." Um deles respondeu: "Não, isso é só para os arquivos."

Veja, esse é o problema. A guerra já tinha acabado. Estou falando da Guerra do Golfo de 1991, a liberação do Kuwait. Então, os jornalistas tinham sido postos em grupos, o que era o equivalente do enquistamento. E eles diziam que queriam reportar a guerra real, e que não estavam podendo, porque estavam sendo censurados. Mas quando a guerra acabou, e puderam viajar pelas estradas e filmar o que gostariam de filmar, eles próprios censuraram o conteúdo. Isso é muito delicado. Não dá para colocar isso no ar na hora do café-da-manhã. E as crianças? E em Londres, em Washington, e em Nova York, em qualquer outro lugar, em Paris, os diretores de TV e os editores disseram: "Não posso mostrar isso." Impossível. Muitas das piores fotografias tomadas durante a invasão do Iraque em 2003: um homem segurando uma criança como se fosse uma panqueca. Uma bela menina nos braços de um homem, bem a foto teve que ser cortada porque não queríamos ver os ossos do pé destroçados, para fora. Ela estava morta, ferida, em muitas imagens. Nunca foram publicadas. Não podiam ser mostradas. Se podia, mas não foram. Porque era muito delicado. Não dava para mostrá-las na hora do café-da-manhã. É irresponsável mostrar fotos como essa, é falta de respeito, se dizia.

O que eu digo é que se você tivesse visto o que eu vi, cada vez que eu vou para as guerras, quando estou na linha de frente, com ou sem soldados ou civis feridos em hospitais, se você visse o que eu vi, você nunca sequer sonharia dar seu apoio a qualquer guerra que fosse. Nunca. Em toda a sua vida. É paradoxal que o cinema, o cinema comercial possa mostrar as cenas mais sangrentas e cruas, que são bastante parecidas àquilo que se vê na vida real: "Saving Private Ryan," as entranhas saindo para fora. Mesmo assim, a guerra real não pode ser vista sem antes serem censuradas as imagens, as quais, em muitos casos, são exatamente como aquelas que se vêem quando se vai no cinema. Ou quando se vê um filme de guerra na televisão. É impressionante. E só quando se está lá é que se percebe – e eu tenho um editor em Londres que balança a cabeça, descrente, cada vez que eu digo isso mais uma vez. Se você vai à guerra, você percebe que ela não tem nada a ver com vitória ou derrota. Ela tem a ver com a morte e em se infligir a morte e o sofrimento na maior escala possível. Ela tem a ver com o fracasso total do espírito humano. Isso não é mostrado, simplesmente porque não queremos mostrar. E nesse sentido, os jornalistas, as reportagens da televisão, as câmaras de tv são letais. Compactuam com os governos, permitindo que existam mais guerras, porque se mostrassem a verdade, ninguém permitiria que se fizesse qualquer outra guerra.

AMY GOODMAN: Robert Fisk, duas perguntas. Uma: porque você acha que o Presidente Bush fez isso? E porque você pensa, como escreveu em seu livro prestes a sair "A Grande Guerra pela Civilização", sobre o crescente apelo de nossos leitores, indignados, sobre o que podemos fazer? Porque você acha que ele fez isso? O que você acha que ele quer conseguir? E o que você acha que as pessoas podem fazer?

ROBERT FISK: Veja, o que Bush fez em 2003 e o que o nosso próprio Blair fez, o nosso tão querido primeiro ministro, o que ambos fizeram foi um erro terrível, que a História deveria ter lhes ensinado a não fazer. Eles foram pra guerra por razões ideológicas. Vestiram-nas de razões militares, armas de destruição em massa, salvar os pobres xiitas, os pobres sunitas, os pobres curdos, ou seja lá o que for, a destruição de Saddam Hussein, dar democracia ao Oriente Médio. Haverá ainda outras (razões), em breve, antes do dia em que diremos aos iraquianos que eles são uns mal-agradecidos e que deveriam ter ficado mais gratos. Já começamos a dizer a eles essas coisas, nas colunas de cartas dos leitores, como pude notar.

 

Mas eles foram longe demais, por razões ideológicas. Por esses motivos, o fracasso é seguro. Veja, tudo acaba mal numa guerra baseada na ideologia. Seja uma ideologia da direita cristã, seja uma ideologia fundamentalista, seja a ideologia da democracia americana ocidental visando desenraizar as ditaduras do Oriente Médio. Não vou começar a falar disso pois não quero que vocês caiam no sono. Mas o que acontece é que tudo sobre seus propósitos militares é pervertido. Por exemplo, vejam a inteligência americana. Não funciona, no Iraque. Não funciona de jeito algum. Tudo o que fazem é prender as pessoas erradas. As pessoas são punidas fisicamente, são torturadas. Falando nisso, sim, são torturadas.

Apesar disso, a América tem esse extraordinário aparato de inteligência. Super computadores gigantescos sugando todas as chamadas telefônicas. Milhões de chamadas, de todo o Oriente Médio. Tradutores que vão de uma página a outra, mas não tão depressa, como ficou constatado antes do 11 de setembro 2001. Mas traduzindo… E juntam esse volume incrível de inteligência sobre o que está acontecendo no Oriente Médio. Agora, quando se é capaz de compreender a injustiça, e é disso que se trata sobretudo, no Oriente Médio, você pode fazer sentido de tudo isso. Mas quando a abordagem é ideológica no tratamento dessa inteligência, e tenta encaixar as informações dentro daquilo que você acredita ou gostaria de acreditar, então toda a C.I.A. é eliminada. Não tem qualquer valor.

É por isso, por exemplo, que a base, a fundação da guerra do Iraque foi construída na areia, porque foi uma guerra ideológica. Não foi baseada naquilo que os iraquianos queriam que acontecesse realmente. Foi também baseada no petróleo, sei disso. Porque se o principal produto de exportação do Iraque fossem aspargos, não estaríamos lá, certo? Quando se baseia a guerra em ideologia, o que acontece? Perde-se. E quando se mente a respeito da base da guerra, perde-se. E a guerra do Iraque já foi perdida. Ela é somente jornalismo presidiário ou jornalismo hoteleiro e as mentiras do Departamento de Estado e do Pentágono e da Casa Branca e de Downing Street e do Ministério da Defesa em Londres, e daí vai. Em algum ponto, haverá uma explosão que não poderá ser explicada pelos que estão no poder. Não sei o que vai ser, mas é certo que vai acontecer.

Como lidar com isso? Não sei. Veja, os leitores me escrevem. Tenho uma monte de correspondência em minha mala. O que podemos fazer? Na Grã-Bretanha, houve um processo de ruptura total entre os eleitores e os eleitos. Uma das razões, naturalmente, o partido Tory apoiando o partido Trabalhista, a imprensa é que se tornou a oposição. Aqui nos EUA, o problema é maior, bem citando um marine dos EUA, que me disse em San Diego, faz alguns meses: "O nosso problema é que temos esse tipo de falsa democracia", disse ele, "Votamos em nossos senadores e congressistas pelo que nos dariam, mas nos dão algo completamente diferente."

Acho que vocês têm um grande problema com os grupos de lobistas. E não me refiro só ao lobby pró-Israel, mas aos de armas também. Acho que vocês têm um grande problema com os grupos de lobby em Washington, e cada presidente chega dizendo que vai resolver o problema, mas nunca o faz. Na verdade, Bush não disse que o faria. Não George W., de todo jeito. Mas acho que nos EUA vocês têm um problema muito maior com relação ao Oriente Médio. Suas vozes simplesmente não são ouvidas, a menos que sejam pró-Israel, pró-política dos EUA no Oriente Médio, etc… Há algumas almas corajosas, como Paul Finley. Mas vejam o que aconteceu com ele. Mas, basicamente, vocês não conseguem representação com relação a essas questões críticas.

A política americana no Oriente Médio é que é questão crítica em todas as nossas vidas neste momento. Eu toquei no assunto – e o faço com mais detalhes em meu novo livro, sobre o porque depois de 11 de setembro de 2001… lembro-me de uma discussão com um professor de Boston, Dershowitz, que me qualificou de "um homem perigoso". Disse: "Ele é anti-americano. O que é o mesmo que ser anti-semita." O que é uma estupidez, naturalmente, não sou nenhuma das duas coisas. Mas toda e qualquer pessoa que levanta a questão é vista como anti-patriótica, um inimigo em potencial, portanto, anti-americano, anti-povo, anti-democracia. Porque, é claro, levantar a questão do porque implica na reflexão: bem, um segundo, os 19 seqüestradores vieram de países árabes. Vieram do Oriente Médio. Será que há algum problema por lá? Isso não nos é permitido fazer.

É estranho, pois se um crime é cometido em Santa Fé, chega a polícia. Primeiro procuram o motivo. Quando se tem um crime internacional contra a humanidade, na escala do 11 de setembro 2001, a única coisa que não se pode fazer é perguntar sobre o motivo do crime. E acho que por muitos meses, os americanos foram impedidos de buscar o motivo. Quando começaram a buscá-lo, já estávamos bombardeando o Afeganistão e dizendo que havia armas de destruição em massa no Iraque. E daí, destituindo Saddam Hussein. E assim va. Parece que os políticos de hoje, e em muitos casos com a ajuda dos jornalistas, continuam a enganar as pessoas. "Vamos explicar isso amanhã. É um segredo muito importante para ser compartilhado hoje", insistem os oficiais da inteligência. Vejam o The New York Times e os parágrafos da primeira página, vez após outra: "Segundo oficiais da inteligência americanos". "Oficiais americanos dizem…". Às vezes, acho que o The New York Times deveria mudar de nome para "Oficias Americanos Dizem…". É só dar uma olhada amanhã ou depois de amanhã. É o mesmo para o L.A. Times, ou o, bem não, o San Francisco Chronicle não é mais um jornal, infelizmente, mas para o The Washington Post.

É quase como se – bem, essa relação confortável entre os jornalista americanos e o poder é muito perigosa. Você quer olhar de perto para o que é esse relacionamento. É osmótica, de hospedeiro e parasita juntos. Basta ver qualquer coletiva para a imprensa da Casa Branca: "Sr. Presidente, Sr. Presidente?" "Sim, Bob. Sim, John? Sim, Nancy," essa é a relação. Os jornalistas gostam de estar perto do poder. E sabem que para estar perto do poder, não podem desafiar o poder. E isso nos remete à definição de jornalismo de Amira Haas, à qual sou totalmente devoto: você deve desafiar o poder o tempo todo, o tempo todo, o tempo todo, até mesmo quando os políticos e o primeiro-ministro, até mesmo quando os leitores odeiam você. Você deve desafiar o poder. E isso inclui o poder de Bin Laden.

AMY GOODMAN: Robert Fisk, estamos chegando ao fim, mas teria uma última perguntinha, talvez

ROBERT FISK: Graças a Deus.

AMY GOODMAN: Bem, você cobriu as invasões do Líbano por Israel, a Revolução iraniana, a Guerra Irã-Iraque, a invasão soviética do Afeganistão, a Guerra do Golfo, guerras na Argélia, o conflito israelo-palestino, a invasão e ocupação do Iraque…

ROBERT FISK: Chega, chega, chega.

AMY GOODMAN: O que lhe dá esperança? O que lhe dá esperança?

ROBERT FISK: Nada. Sinto muito. Nada. Sinto muito. Nada no momento. As pessoas comuns, acho. As pessoas comuns com coragem de desembuchar. As pessoas no mundo árabe também. Mas em termos de governos, nada. Posso estar errado. Talvez eu seja pessimista por ter visto coisas demais.

 

 

 

 

We play an interview with veteran Middle East correspondent Robert Fisk of the London Independent, speaking last month in Santa Fe, New Mexico. Fisk says, "The Americans must leave [Iraq]. And the Americans will leave but the Americans can't leave. And that's the equation that turns sand into blood. Once you become an occupying power, you take on the responsibilities for the civilians, which we have not done. But you also have a responsibility to yourself. You have to keep justifying, over and over and over again to your own populations, you were right to do it." [includes partial transcript]

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Veteran Middle East correspondent, Robert Fisk of the London Independent discusses Iraq, the media and what gives him hope. During the thirty years that he has been reporting on the Middle East, Fisk has covered every major event in the region, from the Algerian Civil War to the Iranian Revolution, from the American hostage crisis in Beirut to the Iran-Iraq War, from the Russian invasion of Afghanistan to Israel's invasions of Lebanon, from the Gulf War to the invasion and ongoing war in Iraq.

Amy Goodman interviewed Robert Fisk in Santa Fe, New Mexico last month at an event sponsored by the Lannan Foundation. He was in a studio in Toronto, Canada and was brought in by satellite into a packed Lensic Theater on a huge screen. Fisk is author of the new book, "The Great War for Civilisation: The Conquest of the Middle East."

 

* Robert Fisk, speaking in Santa Fe, New Mexico, September 21, 2005.

AMY GOODMAN: I asked him his assessment of the current situation there and what needs to be done.

 

ROBERT FISK: Three days after the Americans came to Baghdad, I said the real story is about to begin and that is the story of war against American occupation. A lot of my colleagues thought that was very, very funny -- they hooted at me with laughter. But they're not anymore.

Look, apart from the Kurdistan area, Iraq is in a state of total anarchy and chaos. No roads are safe outside Baghdad. Much of Baghdad is in insurgents hands. Only the little green zones, the armored hotel areas where the westerners live and swim, and some cases don't even leave their rooms, and that applies to many journalists, only here are people allowed to have the illusion that things are getting better, things are improving. Outside in the streets where some journalists still go, including, for example, my colleague Patrick Cockburn of the Independent and myself and the Guardian Newspaper, not most Americans though one or two.

Out in the streets where few of us go is hell on Earth. I managed to get, a couple of weeks ago, to the mortuary in the city of Baghdad. As I often go in the past, counting the bodies of midday and midsummer out in the heat. There were 26 by midday. Nine had arrived by nine in the morning. I managed to get the official figures for July for the total number of violent deaths in Baghdad alone. The figure was 1,100 violent deaths, men, women and children. Shot, butchered, knifed, executed, death squad killings. A figure which, of course is not given out by the Iraqi Health Ministry and certainly not by the occupational authorities.

We now have a situation in Iraq where there is a full scale insurgency by both the Shiites and the Sunnis against western forces. Once an insurgency of that kind starts in a Muslim country, it is impossible to quench it. Sorry, you guys can we put the book back? Let's start again, we got it wrong at one point. You can’t do that. You can't do that. I was discussing with an Iraqi friend three weeks ago in Baghdad what he thought the answer was. He said, "There is no answer. You've got to go. You've got to go." I wrote at the time that I thought it was a terrible equation in Iraq. It goes like this. The Americans must leave. And the Americans will leave but the Americans can't leave. And that's the equation that turns sand into blood.

Once you become an occupying power you take upon the responsibilities for the civilians which we have not done but you also have a responsibility to yourself. You have to keep justifying over and over and over again to your own populations. You were right to do it: ok, there were no weapons of mass destruction but we got rid of Saddam; ok, we haven't gotten the electricity yet but there will be a constitution. Well, we hope. And we did have elections. Remember them in January? And all the time people die in ever greater numbers. Remember that figure for July that’s just Baghdad. What does that mean for the whole country? 5,000 dead? In July? What does that mean in the whole of Iraq in a year? You see the problem? We're talking a 50,000, 60,000 dead a year now. The worst figure we've heard is 100,000 since 2003 yet still we don't get statistics. When individual journalists have to go to hospital mortuaries and count the bloated corpses on the floor, you have know you've got problems.

The last time I was in Baghdad I began to ask myself whether the dangers -- and I've never done this on any other war except for the Algerian war which was very similar in many ways, questioning whether the dangers of covering Iraq are any longer worth the story. I suppose I think they are. But I guess having looked at my face in the mirror occasionally and seeing the gray hairs, I wonder if I should keep going. I probably will, but I'm not sure.

AMY GOODMAN: Robert, what about the number of journalists who have died? This weekend there's going to be a major anti-war protest in Washington, on the 24th, and all over the country. One of the people or two of the people who will be there are the mother and brother of Jose Couso, who is the Spanish cameraman killed at the Palestine Hotel, the day before the U.S. Forces pulled down the statue of Saddam Hussein in Fardus Square.

ROBERT FISK: No, it was the same day. It was the same day. The same day. It was the first armored division tank. It was the American tank that killed him absolutely, but it was the same day.

AMY GOODMAN: Now, he is one of scores of people, of journalists who have died most recently. Reuters photographer killed, his colleague arrested by U.S. Forces and held, another IS being held at the Abu Ghraib prison. Dozens of journalists. What about your colleagues in Iraq right now?

ROBERT FISK: The total figure of journalists who have died during and after the 2003 invasion up to date is now 68. The most recent being an Iraqi stringer again from The New York Times in Basra who was found dumped in a waste heap, executed with three bullets through the back of his head. I suspect the "Iraqi police" killed him like I suspect the Iraqi police killed the American journalist in Basra. Look, there's no doubt it's becoming the most dangerous story for journalists anywhere ever.

If you want to look at the worst period it would be in Bosnia in 1992 when a lot of journalists who had never been in wars before were sent in to Bosnia and were dying at the rate of dozens a month. That was primarily, I think, because they were sending in very young men whose experience of war was Hollywood where the hero, of course, always survives. And what is shocking about this is that almost all the journalists are being killed, almost without exception in Iraq, are experienced in many cases, middle-aged guys who have been under fire many times before, who know about the lethality of weapons and whose jobs and lives are simply no longer respected. I've never been in a war like Iraq war in which our lives are so endangered, so targeted by all sides it sometimes seems. And I'm not sure what we can do about it.

The American correspondents, some of them are guarded by armed Iraqis. The New York Times has a compound with four watch towers and armed Iraqis with "NYT" New York Times on their black t-shirts. NBC lives in a hotel in the Karada District with iron grills. The A.P. lives in the Palestine Hotel with two armored walls. Very rarely do they ever venture out and never do the American staffers go in the streets. As I say, we still go out with Iraqi friends. We actually go out to lunch in restaurants in Iraq. But I think that's probably because as long as we're with Iraqis and we look at our watch and say, 20 minutes, finish the meal, half an hour, got to be out. You're ok but it's a calculated risk.

As I said, I'm not sure the risks are worth it anymore. Our lives are worth nothing to the insurgents. Our lives appear to be worth virtually nothing to the Americans or the British. I think that when you reach a stage where our lives and our jobs are simply no longer respected, you do have to ask the question, is it worth it anymore. I think it is because I think Iraq is an appalling tragedy. Primarily for Iraqis, of course, who we don't put at the top of our list. We say 1,900 Americans, 93 Brits or whatever it may be. It's the Iraqis doing the suffering and the dying in fast numbers. Many of them because they trusted us and took our schilling and wanted to work for the police or wanted to work for construction companies building landing strips for the Americans or fortresses for the Americans.

But I think the whole Iraqi story for us as journalists is becoming almost impossible to cover. Certainly if you have a journalist who lives behind two armored walls of the hotel who just used a mobile phone to call British or American diplomats behind another concrete wall, you might as well live in County Mayo, Ireland or Santa Fe, New Mexico. There's no point in being there.

And for example, the last trip I made outside Baghdad it took me two weeks to arrange it to go down to Najaf. It was the most fearful trip. I drove the road with three Iraqi friends. One of them a Shiite proleter, a clergyman, a religious man. All the checkpoints of the Iraqi army had been abandoned. This just after George Bush says the Iraqi army is in the field. There were up-turned Iraqi police cars, burned-out American vehicles. I didn't see a member of the Security Forces until I reached the outskirts of Najaf about 80 miles from Iraq.

The whole of the countryside outside Baghdad is under the control, is now the property of the armed insurgents both Sunni and Shia. This, we are not being told. This, president Bush will not acknowledge. This, our own dear Mr. Blair will not acknowledge. And that is part of the tragedy. And it seems now to be part of our life that New Orleans flooding is not real until it's real, that the collapse of Iraq is not real until it's real.

With such poor television coverage, although we did get good pictures I noticed, of the British soldiers on fire, for heavens sakes in their armored vehicles. I don't know if it's possible to explain what is happening in Iraq anymore. Most journalists, western journalists are relying upon Iraqi stringers, Iraqi correspondents to risk their necks on the streets. And they are risking their necks and they are dying for it to bring in the news. But there are no by and large -- by and large there are no westernized, independently journalists on the streets unarmed. My newspaper does not have protection. We do not carry weapons.

But my goodness, as I say, I don't know how long we can continue doing this. Each time Patrick and I go to Iraq it's a little bit worse. And when we look back at what it was like a year ago, which was considered appalling, we're amazed at how free we were, how easily we went grocery shopping. I still go grocery shopping-- for six minutes only. Grab the bread, push my way to the front of the cue, pay, out. You learn a lot.

I went out to my favorite restaurant, the Ramaya, the other day to find it was no longer the Ramaya. It was now given an Islamic name and had a green neon sign. When I went inside, the menu was no longer in English, French, and Arabic. It was only Arabic. No more bottles of Lebanese red wine. It been totally Islamicized. You need to see this and understand it. But the problem is most of our colleagues are not permitted even by their head offices to do that.

AMY GOODMAN: We've just returned from New Orleans. Something that is most stunning about what has happened with the media, aside from the horror that has taken place, is that because the national guard were in Iraq, because president Bush did not get the resources there immediately there were no troops for the reporters to embed with. And so what happened is you had reporters who were the victims, in the street, reporting the facts on the ground like we have never seen a reporter with a body that floats by behind them. And then when government officials say this isn't true, the reporters actually challenge the government officials because they are experiencing this themselves. One of the first things president Bush did when he started getting involved was say that the bodies of corpses, the corpses were not to be photographed. I think what has turned this country around right now is that people have truly seen the real images of New Orleans in a way that we have not seen in Iraq. Can you talk about the whole embedding process and the control of the media?

ROBERT FISK: It's not about embedding. It's not about embedding, Amy. It's about television’s refusal to show the truth of war. Let me give an example. In 1991 I was driving up the main road towards Basra, the so the-called highway of death, further up, with a crew from ITV, British commercial channel. And we stopped at a place where there were large numbers of Iraqi soldiers dead in the desert. And hoards of desert dogs had appeared. And they were ripping the soldiers to pieces and eating them. Dragging off an arm here with its hand cruelly going along through the desert, eating through stomachs, gnawing away at cheekbones of dead soldiers. The ITV crew got out and started filming. I said, "What are you filming this for? You'll never get it on air." He said, "No, it's just for the archives."

This, you see, was the problem. The war was over then. We're talking about the 1991 Gulf War, the liberation of Kuwait. When journalists had been put in pools, which was then the equivalent of embedding. And they chaffed that they wanted to report real war, weren't being allowed to, that they were being censored. But when the war ended and they were allowed to drive up the highway and film anything they wanted, they censored themselves. Far too sensitive. Can't receive this sort of thing at breakfast what about the children? And in London, and in Washington, and in New York, and everywhere else, Paris, the television directors and the editors said, "We can't show that." Impossible. Many of the worst pictures taken in the invasion of Iraq in 2003: a man holding a kid out like a piece of pancake. A beautiful girl in the arms of a man, we have to lop it off here because we didn't want to see the bones of the foot sticking out. She was dead, wounded in many captions. Never saw the light of day. They couldn't be shown. They could-- but they were not. Because sensitivities. Mustn't show this at breakfast time. It's irresponsible to show the dead like this, it's disrespectful.

I tell you, if you saw what I saw when I go to wars when I’m on the front line with or without soldiers or with civilians or wounded in hospitals, if you saw what I saw, you would never, ever dream of supporting a war again. Ever in your life. It's a remarkable thing that the cinema, the commercial cinema, feature films can now show the bloodiest, goriest themes which are quite similar to what we see in real life, "Saving Private Ryan," the guts spilling out. And yet real war cannot be shown without censoring pictures which in many cases are exactly the same as what you see when you go to the cinema. Or when you watch a war movie on television. It's remarkable. And only when you're there do you realize -- and I have an editor in London who shakes his head in disbelief and when I say this over and over again. If you go to war, you realize it is not primarily about victory or defeat, it is about death and the infliction of death and suffering on as large a scale as you can make it. It is about the total failure of the human spirit. We don't show that because we don't want to. And in this sense journalists, television reporting, television cameras are lethal. They cloud with governments to allow to you have more wars because if they showed you the truth, you wouldn't allow any more wars.

AMY GOODMAN: Robert Fisk, two questions. One is, why do you think president Bush has done this? And what do you think, since you write in your book that's just about to come out, "The Great War for Civilization," about the increasing call of your readers, questions, outcry, what can we do? Why do you think he's done this? What do you think he wants to accomplish now? And what do you think people can do?

ROBERT FISK: Look. What Bush did in 2003 and what our own Lord Blair did, our prime minister whom we deeply love, what they both did is they made a terrible mistake which history should have taught them not to make. They went to war for ideological reasons. They dressed it up in military reasons, weapons of mass destruction, saving the poor Shiites, or the poor Sunnis, or the poor Kurds, or whatever you like, destruction of Saddam Hussein, giving democracy to the Middle East. There will be some more, come up soon, before we tell the Iraqi that they're ungrateful and they should be more grateful than they are. We are already beginning to tell them in the letters columns, I noticed.

But they went to war for ideological reasons. If you do that you will always fail. You see, everything goes wrong in a war based on ideology. Whether it be right-wing Christian ideology, fundamentalist ideology, whether it be the ideology of American western democracy has to plow up the dictatorships of the Middle East. I won't go into that because we'll all fall asleep. But what happens is that everything about your military purpose gets perverted. For example, look at American intelligence. It's hopeless in Iraq. Absolutely hopeless. All they do is arrest the wrong people. People get beaten up, people get tortured. Yes, they do by the way.

And yet, America has this extraordinary intelligence gathering apparatus. Massive super computers sucking in telephone calls. Millions from all over the middle east. Translators going through page after page, not fast enough as we know it before September 11, 2001. But doing it. And they amass this huge volume after volume of intelligence of what's going on in the Middle East. Now, if you are able to understand injustice, which is what the Middle East is partly and principally about, you can make sense of it. But if you're going to go ideologically at this intelligence and try to make it fit what you believe or what you want to believe, then the whole C.I.A. is eliminated. It's worthless.

That's why, for example, the background, the foundation of the Iraq war is built on sand because it was an ideological war. It wasn't based on what do Iraqis want what would really happen. It was also based on oil, I know that. Because if the chief exported Iraq with asparagus, we wouldn't be there, would we? When you base a war ideology, that’s what happens? You lose. And when you lie about the basis of it, you lose. And the war in Iraq has been lost already. It's only prison journalism or hotel journalism and the lies of the State Department and the Pentagon and the White House and the Downing Street and the Defense Ministry in London and so on that keep this spin rolling. At some point there's going to be an explosion the like of which will be inexplicable by those in power. I don't know what it's going to be, but it will come.

How do we deal with it t? I don't know. You see, those readers who write to me and still do. I've got a bunch of mail outside the studio in my bag. What can we do? There seems to have been a complete breakdown in Britain. Between the electors and the elected. One of the reasons, of course, the Tory party supporting the Labor party, the press have become the opposition. You have a bigger problem in the United States in that, as I understand it -- well, I'll quote a U.S. Marine who said to me in San Diego a few months ago, "Our problem is we have this kind of false democracy," he said, "We vote for our senators and congressman for what they say they'll give us and they give us something and say something completely different.

I think you have a big problem with the lobby groups. I don’t mean just the Israeli lobby, I mean the gun lobby and so on. I think you have a major problem with lobby groups in Washington and every president comes along saying he's going to clean that out but he never does. Actually, Bush didn't say that, not George W., anyway. But I think you have a much bigger problem in the United States where on issues like the Middle East, for example, your voice is simply not heard unless it is pro- Israeli, pro-American policy in the Middle East, etcetera, up on the hill. You'll get a few brave souls, Paul Finley. Look what happened to him. But basically you won't get represented on these critical issues.

American policy in the Middle East is the critical issue in all our lives at the moment. I hinted -- I go at much greater length in my new book on the issue why after September 11, 2001, I remember having this terrible argument with that Boston professor, Dershowitz, who called me "a dangerous man. He's anti-American. It's the same as being anti-Semitic." Which is rubbish of course, I’m neither. But anyone who asked the question why did it happened was seen as being unpatriotic, potential enemy therefore anti-American, anti-people, anti-democracy. Because, of course to ask the question why, we have to say: well, hold on a second, the 19 hijackers came from the Arabs. They came from the Middle East. Is there a problem out there? We can't go into that.

It's strange because if you have a crime in Santa Fe, the cops come along. First thing they do is look for the motive. When you have an international crime against humanity on the scale of September 11, 2001. The one thing you're not allowed to do is look for the motive for the crime. And I think that by and large for many months Americans were prevented from looking for the motive. By the time they could look for the motive, we were bombing Afghanistan and saying there were weapons of mass destruction in Iraq. And then defeating Saddam Hussein. And so it goes on and on. And it seems somehow that modern-day politicians with, in many cases, the help, I’m afraid, of journalists, are able to continue to bamboozle people. "We'll explain it tomorrow, that's too secret to tell you," secret intelligence officials insist. Look at The New York Times’s first paragraphs over and over again, "According to American intelligence officials." "American officials say." I think sometimes The New York Times should be called "American Officials Say. Just look at it tomorrow or the day after. Or the L.A. Times, or the, not the San Francisco Chronicle, it's not much of a paper anymore unfortunately, but The Washington Post.

It's almost as if—you know the cozy relationship between American journalists and power is very dangerous. You want to look and see what that relationship is like. The osmotic, the host and the parasite together. You only have to look at a White House press conference, "Mr. President, Mr. President?" "Yes, Bob. Yes, John? Yes, Nancy," that's the relationship. Journalists like to be close to power. They know that if they want to be close to power, they mustn't challenge power. And that goes back to the Amira Haas definition of journalism, which I am a total devote of: you must challenge power all the time, all the time, all the time even if the politicians and the prime minister, even if your readers hate you. You must challenge power. And that includes Bin Laden power.

AMY GOODMAN: Robert Fisk, we are out of time but I just have a quick question, perhaps--

ROBERT FISK: Thank goodness.

AMY GOODMAN: And that is, you've covered the Israeli invasions of Lebanon, the Iranian Revolution, the Iran-Iraq war, the Soviet invasion of Afghanistan, the Gulf war, wars in Algeria, the Palestinian-Israeli conflict, the invasion and occupation of Iraq--

ROBERT FISK: Enough, enough, enough.

AMY GOODMAN: What gives you hope? What gives you hope?

ROBERT FISK: Nothing. I’m sorry. Nothing. I’m sorry. Nothing at the moment. Ordinary people, I guess. Ordinary people who speak out. People in the Arab world as well. But in terms of governments, nothing much. I may be wrong. I may be too much of a pessimist because I've seen too much.

 

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