Estados Árabes Unidos rejeitam ataque ao Iraque

 

 


Robert Fisk
The Independent

17 de março de 2002

Tradução Imediata

Raramente, um vice-presidente americano deparou-se com uma rejeição semelhante da parte dos aliados árabes dos EUA. Nenhum rei, príncipe ou presidente árabe foi preparado para endossar um ataque dos EUA ao Iraque.

Mesmo no Kuait — onde Dick Cheney chega hoje, antes de ir a Israel — uma sondagem de opiniões sugere que mais de 40 porcento de seus cidadãos são hostis às políticas de Washington.

Em cada capital árabe, tem sido dito ao Sr. Cheney, com educação porém com firmeza, para voltar sua atenção à guerra entre os palestinos e israelenses, e para esquecer o "eixo do mal", até que os EUA façam entrar na linha seus aliados israelenses. Todos os esforços do Sr. Cheney de fazer de conta que o conflito na Margem Ocidental, em Gaza e Israel é um fato separado do Iraque — ou, "duas trilhas", como o cliché americano gostaria de descrever — fracassaram.

O príncipe herdeiro Abdullah, primeiro ministro da Arábia Saudita, encontrou o Sr. Cheney ao fim de um longo tapete vermelho, no aeroporto de Jidda, mas a imprensa saudita não foi tão gentil. Um jornal publicou um artigo que ocupava toda a primeira página condenando a política norte-americana na região — fato praticamente inédito no reinado — enquanto os editoriais de outros jornais do Golfo condenavam uniformemente qualquer ataque ao Iraque. O píncipe Abdullah fez todo o possível para explicar aos telespectadores dos EUA porque ele se opõe a uma ação militar contra o presidente do Iraque, Saddam Hussein, enquanto o príncipe Saud al-Faisal, Ministro das Relações Exteriores, disse aos americanos que eles não poderiam usar a base aérea de Príncipe Sultan para qualquer guerra contra Bagdá.

Repetidamente, os líderes árabes rebateram os argumentos do Sr. Cheney a respeito da "guerra contra o terrorismo" empreendida pela América. Para eles, o terror está sendo infligido aos palestinos pelos israelenses. Se o Presidente Saddam for derrubado, o Iraque poderia se desmembrar, isso é o que foi dito várias vezes ao vice-presidente dos EUA, com incalculáveis consequências aos vizinhos muçulmanos do Iraque.

Até mesmo os pequenos Emirados Árabes Unidos não tiveram tempo para os argumentos de Cheney. A porta-voz do vice-presidente, Jennifer Millerwise, disse que o Sr. Cheney "fez questão de ressaltar que não se pode permitir que a al-Qa'ida se reconstitua'' no Oriente Médio. O presidente do governo dos EAU, Sheikh Zayed bin Sultan al-Nahayan, rebateu energicamente que se opunha à ação militar no Iraque.

Os árabes podem ser perdoados pela confusão quanto aos objetivos do Sr. Cheney. Se a América deseja ir adiante com a sua "guerra ao terror", o que o Iraque tem a ver com isso? Onde está a evidência de que Saddam esteve envolvido com os acontecimentos do dia 11 de setembro? Não existe nenhuma, portanto, o Sr. Cheney inventou um novo dogma para os árabes: "Os Estados Unidos não permitirão que as forças do terror disponham das ferramentas para um genocídio," disse ele. O presidente Saddam tem "armas de destruição em massa" e essas não poderiam cair nas mãos de Osama bin Laden.

Como o Sr. bin Laden odeia o presidente Saddam, havendo mesmo um registro gravado desse sentimento, o fato de como as armas do Iraque, se é que elas existem, poderiam alcançar a nêmesis da América, não é nada claro. E os árabes tem perguntado quem é que está ameaçando o Oriente Médio de genocídio? Quem está sendo atacado?

A única nação do Oriente Médio que apoia um ataque ao Iraque é Israel, onde O Sr. Cheney deveria chegar hoje, mais tarde. Logo, o vice-presidente ouvirá o que deseja ouvir do primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, cuja ocupação do território palestino tem contribuído tanto para destruir a sua missão.

Arab States United In Rejecting Attack On Iraq

by Robert Fisk

The Independent

March 17, 2002

Rarely can an American vice-president have met such a rebuff from America's Arab allies. Not a single Arab king, prince or president has been prepared to endorse a US attack on Iraq.

Even in Kuwait — where Dick Cheney arrives today before going on to Israel — an opinion poll suggests that more than 40 per cent of its citizens are hostile to Washington's policies.

In every Arab capital, Mr Cheney has been politely but firmly told to turn his attention to the Palestinian-Israeli war, and forget the "axis of evil'' until the US brings its Israeli allies into line. All Mr Cheney's efforts to pretend that the conflict in the West Bank, Gaza and Israel is separate from Iraq — or "two tracks" as the American cliché would have it — have failed.

Crown Prince Abdullah, Saudi Arabia's First Deputy Prime Minister, met Mr Cheney at the end of a long red carpet at Jeddah airport, but the Saudi press were not so polite. One newspaper carried a front-page article condemning US policy in the region — almost unheard of in the kingdom — while editorials in other Gulf papers uniformly condemned any assault on Iraq. Prince Abdullah has gone out of his way to explain to US television audiences why he opposes military action against the Iraqi President, Saddam Hussein, while Prince Saud al-Faisal, the Foreign Minister, has told the Americans that they cannot use the Prince Sultan air base for any war against Baghdad.

Repeatedly, Arab leaders have turned Mr Cheney's arguments about America's "war on terrorism'' around. For them, the terror is being inflicted upon Palestinians by Israelis. If President Saddam is overthrown, Iraq could break apart, the US Vice-President was told several times, with incalculable effects on Iraq's Muslim neighbours.

Even the small United Arab Emirates had no time for the Cheney argument. The Vice-President's spokeswoman, Jennifer Millerwise, said that Mr Cheney "made the point that al-Qa'ida can't be allowed to reconstitute'' in the Middle East. The government of the UAE President, Sheikh Zayed bin Sultan al-Nahayan, retorted briskly that he was opposed to military action in Iraq.

The Arabs might be forgiven their confusion over Mr Cheney's objectives. If America wishes to pursue its "war on terror'', what has Iraq got to do with it? Where is the evidence that Saddam was involved in 11 September? None exists, so Mr Cheney has invented a new dogma for Arabs: "The United States will not permit the forces of terror to gain the tools of genocide'' he said. President Saddam has "weapons of mass destruction'' and they could fall into the hands of Osama bin Laden.

Since Mr bin Laden hates President Saddam and has gone on record to say as much, just how the Iraqi weapons, if they exist, would reach America's nemesis is unclear. And the Arabs have been asking who is threatening genocide in the Middle East? Who is being attacked?

The one Middle East nation that supports a strike at Iraq is Israel, where Mr Cheney is expected to arrive later today. The Vice-President will therefore hear what he wants to hear from the Israeli Prime Minister, Ariel Sharon, whose reoccupation of Palestinian territory has done so much to destroy his mission.

 

 

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