Só isso: cai fora!

 

 


Gabriel Ash
Yellow Times

26 de abril de 2002

Tradução Imediata

(Quantos palestinos morreram em Jenin? Dúzias? Centenas? Quantas centenas? Se o número exato for 641, ou exatamente 139, será que isso representará uma "vitória" de Relações Públicas para os palestinos, ou para os israelenses? Enquanto os jornalistas estão se alinhando para declarar o "vitorioso", a CNN faz uma sondagem pela web a respeito da credibilidade de cada parte. Logo logo, veremos os mortos se acotovelarem com os vivos no programa da CNN sordidamente chamado "crossfire" (fogo cruzado).

Como exercício mental, que cada um de nós decida exatamente quantas mortes farão inclinar a balança do lado israelense para o lado palestino, em que ponto um incursão se torna uma matança, em que ponto uma matança se torna um massacre, em que ponto um massacre se torna um genocídio.

Isso tudo é muito importante, em termos de relações públicas.

Por onze dias, os soldados da IDF impediram que jornalistas, médicos, equipes de salvamento e comboios de auxílio entrassem em Jenin.

É assim que eles "protegem" a verdade de dentro de todos aqueles que, de fora, teriam a intenção de "fazer mal uso" da mesma, contra Israel.

Afinal, a verdade é uma arma tão terrível. Seria errado permitir que um lado fosse dono de mais verdade do que o outro. Deve haver um equilíbrio. Mas só em se ver a verdade. Não precisa haver equilíbrio em fogo cruzado, por exemplo. Tudo bem que Israel tenha armas nucleares e helicópteros Apache, pagos pelos contribuintes americanos, os quais não podem nem sequer se dar ao luxo de pagar por um sistema de seguro saúde adequado, enquanto os palestinos lutam com rifles e explosivos caseiros.

Também não precisa haver nenhum equilíbrio com relação à terra. Tudo bem que os israelenses controlem toda a terra e os palestinos nenhuma.

O equilíbrio também não é um requisito com relação à liberdade, ou aos direitos humanos, de que os israelenses desfrutam e os palestinos não. Mas deve haver equilíbrio na descrição do que aconteceu em Jenin.

É por isso que a precisão é tão importante em Jenin. Será que foi exatamente um "massacre", como Perez designou a situação e posteriormente negou, ou uma "devastação", ou apenas uma "incursão" que usou "um mínimo de força" para alcançar os "objetivos necessários", como mostrar aos palestinos quem é que manda e o que acontece quando se aborrece a quem manda? Se você usa uma palavra muito forte, se você sincroniza uma expressão ao fedor dos cadáveres em decomposição, Israel lhe fará uma reprimenda, ou rotulará você de antisemita, talvez até o expulsará. Esteja prevenido.

Mas o que se pode fazer? Até o cauteloso e pró-Israel The Economist viu uma evidência clara de crimes de guerra. Terje Roed-Larsen, o enviado da ONU descreveu a devastação em Jenin como "um horror inimaginável", e disse que era "moralmente repugnante" que Israel impedisse as pessoas que prestavam ajuda humanitária de emergência de entrar em Jenin por 11 dias. Israel continua o bloqueio para as equipes de resgate. Enquanto Perez está ponderando se deve mandar Roed-Lansen para casa com uma notinha a seus pais ou meramente revogar sua mesada semanal. As palavras não diplomáticas do diplomata norueguês, mas não a realidade nada diplomática a que aquelas palavras se referem, ferem a altamente evoluída sensibilidade moral de Israel.

Apesar de ter concordado anteriormente, o governo de Israel está agora impedindo que a missão da ONU encarregada de averiguar os eventos se dirija a Jenin. O problema, segundo Israel, é que muitos dos membros têm experiência "humanitária", e poderiam não compreender os requisitos em tempos de guerra. É fácil imaginar as pessoas e os currículos que Israel gostaria de ver: talvez alguns dos líderes de esquadrões da morte da América Latina, ou o Lt. William Calley, cuja experiência em Mai Lai poderia ser preciosa para determinar o que é e o que não é um massacre, ou talvez o general francês Paul Aussaresses, comandante dos pára-quedistas franceses que em 1957 atacaram a casbah de Argel. Para encabeçar uma lista assim, os connaisseurs de crimes de guerra Madeleine Albright, ou mesmo Henri Kissinger, poderiam prover uma liderança moral, assim como a tão necessária elasticidade verbal.

Desde que haja um equilíbrio.

Para o público e os políticos israelenses, o amplamente difundido e muito desequilibrado opróbrio é apenas mais uma afirmação de que "o mundo todo está contra nós".

Ecoando esse sentimento popular, o presidente de Israel, Moshe Katsav se queixa: "Com todo o respeito e estima pelas pessoas de consciência e pelos liberais de coração do mundo, eu não entendo porque ficaram com suas bocas caladas por um ano e meio enquanto os atos terroristas mais cruéis e sem paralelos estavam sendo cometidos contra os cidadãos de Israel em todos os lugares."

Presidente Katsav, todos os habitantes de Jenin são terroristas? A maioria? Será que não é um padrão do próprio Deus, de requerer somente dez homens corretos para que uma cidade seja salva; muito pouco severo para o Sr.? Que parte de: "punição coletiva é um crime de guerra", o senhor não entende?

O fato de que a erupção da violência durante os últimos dezoito meses deixe o senhor tão perplexo me faz pensar, Presidente Katsav. O senhor entende a idéia de liberdade? O senhor já leu alguma vez a declaração dos direitos humanos?

O senhor entende que "universal" significa "que se aplica a todos de modo igual"?

Será que a declinação dos pronomes possessivos confunde o senhor? Seguramente o senhor se sente à vontade com "meu" e "nosso". Mas será que o senhor também entende os conceitos expressos por "seu", "dele", "dela", e "deles"? Quando eu apanho o mapa da terra tomada para a construção da colônias ilegais, tenho sérias dúvidas.

O senhor está perplexo porque as "pessoas de consciência" não condenam o terrorismo? Para fazer uma acusação dessas, o senhor deve estar vivendo num outro mundo. Mas, apesar disso, eu lhe responderei com duas queixas.

A resposta longa, Presidente Katsav, "com todo o respeito e estima" é que os bombardeiros suicidas não aterrissaram em Israel do espaço sideral. As cintas explosivas poderiam ter etiquetas com os dizeres "made in the Greater Eretz Israel."

Os suicidas são as flores mutantes da ocupação brutalizante de Israel, desabrochando das sementes de 54 anos de desumanização dos palestinos. Eles são os fantasmas de sua brutalidade, voltando para assombrá-lo, mementos de sua guerra contra a memória.

A intensa e deliberada destruição de registros civis palestinos na Cisjordânia durante as últimas semanas são apenas os capítulos mais recentes de uma guerra contra a memória palestina que começou em 1948, com a aniquilação de 400 vilarejos palestinos. Mas parece que o senhor não aprendeu nada com a história, na realidade, de sua própria história: os fantasmas acabam sempre voltando, cada vez mais violentamente.

Para aqueles prontos para morrer, seu ódio abatido pelo senhor é o que sobra depois que o senhor arrasou o passado e o futuro deles. O senhor gostando ou não, eles são seus descendentes bastardos. Tudo o que eles sabem de ódio, foi o senhor quem lhes ensinou. Tudo o que eles esqueceram da humanidade, foi o senhor quem os forçou a esquecer. Dê um forte abraço a eles agora, já que eles provaram ser dignos de seus pais — o senhor.

A resposta curta, Presidente Katsav, é bem breve mesmo: cai fora!

Chame o exército para casa. Acabe com a ocupação. Caia fora dos territórios ocupados. Só isso: cai fora!

Não fique resmungando como é "difícil" ou "complexa" a situação. Não é. Você é o opressor. Você é o ocupante. Você estaciona seus tanques em terra saqueada. Você enche suas piscinas com água roubada. Você mata e destrói para poder herdar. Então para com a conversa fiada sobre "a situação". A única coisa? Cai fora!

Chega de abusar das pessoas. Chega de abusar da linguagem. Chega de tecer seu próprio casulo moral. Chega de fazer do seu país e seu povo uma metáfora do mal. Só isso: cai fora!

Não espere por Bush. Não espere por Arafat. Não espere para negociar com o mítico líder palestino que acabará, finalmente, aceitando a sua dominação. Não há nada para ser negociado. Só cai fora!

Leve consigo os seus raivosos judeus fundamentalistas de Kiriat Arba e Beit El. Bote eles dentro de um ônibus e aperte o acelerador até que as colinas da Cisjordânia desapareçam no espelho retrovisor. Cai fora!!

Junte seus assassinos da "polícia de fronteira" sem fronteiras, dê a eles umas bolsas de estudo e faça com que eles voltem para a escola. Permita que descubram que há mais na vida do que espancar as pessoas até o caroço. Cai fora!

Leve consigo seus pontos de controle, com todas as suas mesquinhas humilhações e seus franco-atiradores letais. Cai fora!

Mande o Shin-Bet fazer as malas. Depois de 35 anos, o mundo está enfastiado dos seus espertos carcereiros e torturadores. Leve-os consigo e caia fora!

Deixe seus repugnantes buldôzeres nas colônias ilegais de Ma'ale Edomim, Har Homa e Gilo. Tem muito trabalho de demolição a ser feito por lá com eles. Deixe que continuem até que a linha de horizonte da montanha não guarde mais memória de sua violação. Cai fora!

Não peça desculpas. Não se justifique. Não explique. Não há nada para ser explicado. Honestamente. Só cai fora!

Nem mesmo se preocupe com os milhares de oliveiras, símbolos da paz, que você desarraigou. Alguém as plantará de novo.

Só cai fora!

Gabriel Ash acolhe comentários no endereço: gash@YellowTimes.org

 

Just Get Out

by Gabriel Ash

Yellow Times

April 26, 2002

(How many Palestinians are dead in Jenin? Dozens? Hundreds? How many hundreds? If the number turns out to be exactly 641, or exactly 139, will that be a PR "victory" for the Palestinians, or for the Israelis? As journalists are lining up to declare the "victor," CNN runs a web poll about each side's credibility. Soon we may see the dead jostling with the living in CNN's sordidly named "crossfire."

As a mental exercise, let each of us decide at exactly how many deaths the scale tips from the Israeli side to the Palestinian side, at what point an incursion becomes a slaughter, at what point a slaughter becomes a massacre, at what point a massacre becomes a genocide.

This is all very important, PR-wise.

For eleven days, IDF soldiers have been preventing journalists, medics, rescue teams and aid convoys from entering Jenin.

This is how they "protect" the truth inside from all those outside who might want to "misuse" it against Israel.

After all, the truth is such a terrible weapon. It would be wrong to allow one side to have more of it than the other. There must be balance. But only regarding the truth. There need not be balance in firepower, for example. It is O.K. that Israel has nuclear weapons and Apache helicopters, paid for by American taxpayers who can't afford to pay for adequate health care, while Palestinians fight with rifles and home-made explosives.

There need not be balance about land either. It is O.K. that Israelis control all the land and Palestinians none.

Nor is balance a requirement regarding liberty, or human rights, which Israelis enjoy and Palestinians do not. But there must be balance in describing what happened in Jenin.

That is why accuracy is very important in Jenin. Was it exactly a "massacre," as Perez called it and then denied, or a "devastation," or just an "incursion" that used "minimal force" to achieve "necessary goals," such as showing Palestinians who's the boss and what you get for upsetting him? If you use too strong a word, if you match the expression to the stench of the decomposing bodies, Israel will reprimand you, brand you an anti-Semite, maybe even expel you. Be forewarned.

 

But what can one do? Even the cautious and pro-Israeli The Economist saw clear evidence of war crimes. U.N. envoy Terje Roed-Larsen described the devastation in Jenin as "horrific beyond belief," and said it was "morally repugnant" that Israel blocked humanitarian emergency workers from entering Jenin for 11 days. Israel is still blocking rescue teams, while Perez is pondering whether to send Roed-Lansen home with a note to his parents or merely revoke his weekly allowance. The undiplomatic words of the Norwegian diplomat, but not the undiplomatic reality these words refer to, really hurt Israel's highly evolved moral sensibility.

Having agreed to it earlier, the government of Israel is now blocking the U.N. fact-finding mission to Jenin. The problem, according to Israel, is that too many of the members have "humanitarian" experience, and might not understand the requirements of warfare. It is easy to imagine the people and the resumes Israel would want to see instead: maybe a few Latin American death-squad leaders; or Lt. William Calley, whose experience at Mai Lai could prove invaluable in determining what is and what isn't a massacre; or perhaps the French General Paul Aussaresses, commander of the 1957 French paratroopers' attack on the Casbah of Algier. To top it all, war crimes connoisseur Madeleine Albright, or even Henri Kissinger, could provide moral leadership, as well as much needed verbal elasticity.

As long as there is balance.

For the Israeli public and politicians, the widespread, and very unbalanced, opprobrium is just one more affirmation that the "whole world is against us."

Echoing popular sentiment, Israel's President Moshe Katsav whines: "with all due respect and esteem for people of conscience and the bleeding-heart liberals of the world, I don't understand why they've clamped their mouths shut for a year and a half while the cruelest of unprecedented terrorist acts were committed against Israelis citizens everywhere."

President Katsav, are all the inhabitants of Jenin terrorists? Are most? Is God's own standard, of requiring only ten righteous men to save a city, too lax for you? What part of "collective punishment is a war crime" don't you understand?

The fact that the eruption of violence during the last eighteen months baffles you so much makes me wonder, President Katsav. Do you understand the idea of liberty? Have you ever read the universal declaration of human rights?

Do you understand that "universal" means "applies to everybody equally"?

Does the declination of possessive pronouns confuse you? Surely you are at ease with "mine" and "ours." But do you also understand the concepts behind "yours," "his," "hers," and "theirs"? When I look at the map of the land grab for your illegal settlements, I have serious doubts.

Are you troubled why "people of conscience" do not condemn terrorism? Even to make such an accusation you must be living in an alternate universe. But I will answer your whining twice nevertheless.

The long answer, President Katsav, "with all due respect and esteem," is that the suicide bombers did not land in Israel from outer space. The explosive belts might as well carry a label that reads "made in the Greater Eretz Israel."

The suicide bombs are the mutant flowers of Israel's brutalizing occupation, springing from the seeds of the 54-year-long dehumanization of Palestinians. They are the ghosts of your brutality coming back to haunt you, the mementos of your war against memory.

The massive and deliberate destruction of Palestinian civil records in the West Bank in the last weeks is but the most recent chapter in a war against Palestinian memory that began in 1948, with the annihilation of 400 Palestinian villages. But you seem to learn nothing from history, indeed from your own history: ghosts always return, each time more violently.

For those ready to die, their spiritless hatred towards you is what remains after you have bulldozed their past and their future. Whether you like it or not, they are your bastard offspring. Everything they know about hate, you taught them. Everything they forgot about humanity, you made them forget. Give them a hug now, as they have proven themselves worthy of their parents — you.

The short answer, President Katsav, is really short: just get out!

Call the army home. Call the occupation off. And get out of the Occupied Territories. Just get out!

Don't mumble about how "difficult" or "complex" the situation is. It isn't. You are the oppressor. You are the occupier. You park your tanks on plundered land. You fill your swimming pools with stolen water. You kill and destroy in order to inherit. So don't bullshit about "the situation." Just get out!

Stop abusing people. Stop abusing language. Stop spinning your own moral cocoon. Stop turning your country and your people into a metaphor of evil. Just get out!

Don't wait for Bush. Don't wait for Arafat. Don't wait to negotiate with the mythical Palestinian leader who will finally accept your dominion. There is nothing to negotiate about. Just get out!

Take your rabid Jewish fundamentalists from Kiriat Arba and Beit El with you. Load them on buses and pump the gas pedal until the hills of the West Bank vanish in the rear mirror. Just get out!

Gather your thugs from the borderless "border police," give them scholarships and send them to school again. Let them discover there is more to life than beating people to a pulp. Just get out!

Take your checkpoints, with all their petty humiliations and deadly snipers, with you. And just get out!

Send the Shin-Bet packing. After 35 years, the world had enough of your clever jailers and torturers. Take them with you and just get out!

Let your hideous bulldozers loose on the illegal settlements of Ma'ale Edomim, Har Homa and Gilo. There is plenty of demolition work for them there. Let them continue until the mountain line bears no more memory of your rape. Then just get out!

Don't apologize. Don't justify. Don't explain. There is nothing left to explain. Honestly. Just get out!

Don't even worry about the thousands of olive trees, symbols of peace, you uprooted. Someone will plant them again.

Just get out!

Gabriel Ash encourages your comments: gash@YellowTimes.org

 

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