O Movimento como terceiro ator

 

 


Franco Berardi

Tradução Imediata

A explosão das Torres e do Pentágono foi um evento imprevisível, em sua espetacularidade criminosa, mas a trama que entrevemos por trás do evento apocalíptico é uma trama que estamos descrevendo há anos: devastação da mente global, do imaginário coletivo, da sociedade planetária. Desespero que se acumula nas pregas invisíveis do tempo hiper-moderno.

O que será que fazia, quando era criança, o piloto que assumiu o comando do Boeing que partiu de Boston, na manhã do dia 11 de setembro? Talvez aos cinco anos se encontrasse em Sabra ou em Chatila, e tivesse visto assassinarem seu pai ou sua mãe ou seu irmão? Ou talvez estivesse em Bassora, nos dias dos bombardeios americanos, ou talvez seu filho tivesse morrido por não ter podido receber os tratamentos necessários durante os anos do embargo ocidental?

São vinte anos que a ditadura liberal devasta, empobrece e agride a maioria da humanidade. Mais cedo ou mais tarde isso tinha que acontecer.
São vinte anos que as populações do mundo estão sendo impelidas ao desespero. Mais cedo ou mais tarde isso tinha que acontecer.

O internacionalismo se dissolveu e foi substituído, em toda parte, pelo egoísmo nacionalista, pela estreiteza de pensamento regionalista, pela ignorância do integralismo.

Mais cedo ou mais tarde isso tinha que acontecer.

Os cenários

Agora tentemos imaginar quais os cenários que se abrem diante de nós.
A guerra está nas coisas, automatismo ao qual as pessoas não podem se opor. Podem somente se deter (os homens e as mulheres). É uma guerra de um tipo novo, porque não tem um inimigo identificável. O inimigo pode estar em qualquer parte.
Na fase de sua loucura psicopática, a ditadura liberal visa militarizar cada espaço da vida planetária. A paranóia do controle tecno-militar cometeu uma falha gigantesca, embora a única coisa que saibam fazer (porque essa é a imaginação do poder) seja a de multiplicar aquela paranóia. E irão cometer outras falhas gigantescas.

A recessão econômica está destinada a galopar como um cavaleiro da manta negra. O ataque às towers destruiu uma parte do cérebro financeiro global, não em sentido figurado, mas de uma maneira física, cruel. Homens e mulheres que trabalhavam para as empresas de consultoria, para os escritórios de programação econômica, administrativa, financeira morreram. Células indispensáveis da máquina econômica global canceladas em uma hora.

O setor administrativo da world virtual class foi dizimado. E, ao mesmo tempo, foi dissolvida a "confiança dos consumidores", última tábua de salvação à qual se agarrava a economia mundial.

No cenário mais provável (escalada da guerra contra o mundo islâmico), a guerra atingirá os países produtores de petróleo. A retaliação poderá estrangular a Europa.
Num cenário desse tipo, muitos estarão se perguntando, fato compreensível: mas será que ainda faz sentido a existência de um movimento como o nosso, que luta contra a ditadura liberal e contra a paranóia da segurança?

O terceiro ator

Os atores que vemos afundar no vórtice da guerra são o "globalismo" capitalista, com sua política de tipo monetarista e "hiper-liberalista", de um lado. E a proliferação de identidades agressivas locais, que tomam a forma de integralismo e de nacionalismo. Uma alimenta a outra, diretamente e indiretamente.

Deleuze e Guattari falam de desterritorialização (o efeito da globalização, a erradicação que tolhe o terreno debaixo dos pés das comunidades e dos indivíduos), e re-territorialização (a necessidade agressiva de identificação, do fato de se pertencer).
Com quem você fica? É a pergunta feita a todos. Com o ocidente ou com a barbárie? (já nos fizeram essa pergunta chantagista há vinte e cinco anos, e nos perseguiram porque não aceitávamos ficar do lado dos assassinos stalinistas das brigadas vermelhas nem do lado do compromisso histórico). Com quem você fica? É a pergunta feita a cada um, preparando o pogrom contra os derrotistas, os desertores, os inimigos da frente interna.
De dois anos para cá, tem se desenvolvido no mundo um movimento global. Esse movimento elegeu como alvo principal a ditadura liberal e atingiu seu alvo com uma determinação pacífica e racional. A ditadura liberal entrou em crise por razões estruturais que não podem ser reduzidas à mobilização do movimento global. Mas à crise da nova economia e da ditadura liberal, o movimento global forneceu uma moldura cultural, uma perspectiva política, uma esperança.

Agora há quem exige que esse movimento tome uma posição. Ou com o ocidente ou com o integralismo. Aqueles que apontam o dedo e pedem que se tome uma posição são uns porcos e uns escravos. E a eles dedicamos o nosso desprezo e indiferença. Será que temos que declarar que pertencemos ao mundo ocidental? Não nos definiremos nunca por pertencermos a quem quer que seja. Não somos nem pró-árabes nem pró-americanos e não seremos nunca nem anti-árabes nem anti-americanos.

O nosso movimento é o terceiro ator:
O movimento global contra o "globalismo" capitalista e contra a agressividade que impõe uma identidade é o terceiro ator, aquele que permite de sair do dilema diabólico das duas loucuras complementares, em cuja armadilha o mundo parece estar preso.
A nossa tarefa é bem clara. Não consiste somente em dizer não à guerra, não ao terror. Nossa tarefa é aquela de tornar possível a auto-organização da sociedade, independentemente dos estados, independentemente dos alinhamentos, independentemente dos exércitos e, também independentemente da economia "globalista".

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IL MOVIMENTO COME TERZO ATTORE

FRANCO BERARDI


L'esplosione delle Towers e del Pentagono è stato un evento imprevedibile
nella sua criminale spettacolarità, ma la trama che intravvediamo dietro
l'evento apocalittico è una trama che da anni andiamo descrivendo:
devastazione della mente globale, dell'immaginario collettivo, della
società planetaria. Disperazione che si accumula nelle pieghe invisibili
del tempo ipermoderno.


Che faceva da bambino il pilota che ha preso i comandi del Boeing partito
da Boston la mattina dell'11 settembre? Forse a cinque anni stava a Sabra o
a Chatila, e ha visto uccidere il padre o la madre o il fratello? oppure
stava a Bassora nei giorni dei bombardamenti americani, o forse suo figlio
è morto perché non ha potuto ricevere le cure necessario negli anni
dell'embargo occidentale?


Da venti anni la dittatura liberista devasta, impoverisce, aggredisce la
maggioranza dell'umanità. Prima o poi doveva succedere.
Da venti anni le popolazioni del mondo sono spinte verso la disperazione.
Prima o poi doveva succedere.


L'internazionalismo si è dissolto ed è stato dovunque sostituito
dall'egoismo nazionalista, dalla grettezza localista, dall'ignoranza
dell'integralismo.


Prima o poi doveva succedere.

Gli scenari


Ora cerchiamo di immaginare quali scenari si aprono davanti a noi.
La guerra è nelle cose, automatismo al quale gli uomini non possono
opporsi. Soltanto sottrarsi possono (gli uomini e le donne). E' una guerra
di tipo nuovo, perché essa non ha un nemico individuabile. Il nemico può
essere dovunque.


Nella fase della sua follia psicopatica la dittatura liberista punta a
militarizzare ogni spazio della vita planetaria. La paranoia del controllo
tecno-militare ha fatto una cilecca gigantesca, eppure la sola cosa che
sanno fare (perché questa è l‚immaginazione del potere) sarà òoltiplicare
quella paranoia. E faranno altre cilecche gigantesche.


La recessione economica è destinata a galoppare come un cavaliere dal
mantello nero. L'attacco alle towers ha distrutto una parte del cervello
finanziario globale, non in senso figurato, ma in una maniera fisica,
crudele. Uomini e donne che lavoravano per le agenzie di consulenza, per
gli uffici di programmazione economica amministrativa, finanziaria sono
morti. Cellule indispensabili della macchina economica globale cancellate
in un'ora.


Il settore dirigente della world virtual class è stato decimato.
E al tempo stesso si è dissolta la "fiducia dei consumatori", ultimo
appiglio a cui restava appesa l'economia mondiale.
Nello scenario più probabile (escalation di guerra contro il mondo
islamico) la guerra colpirà i paesi produttori di petrolio. La ritorsione
potrà strangolare l'Europa.


In uno scenario di questo genere molti si chiedono, comprensibilmente: ma
ha ancora senso l‚esistenza di un movimento come il nostro, che si batte
contro la dittatura liberista e contro la paranoia securitaria?


Il terzo attore


Gli attori che vediamo sprofondare nel vortice della guerra sono il
globalismo capitalista, con la sua politica di tipo monetarista e
iperliberista, da una parte. E il proliferare delle identità aggressive
locali, che prendono forma di integralismo o di nazionalismo. L'una
alimenta l'altra, direttamente e indirettamente.


Deleuze e Guattari parlano di deterritorializzazione (l'effetto della
globalizzazione, lo sradicamento che toglie il terreno da sotto i piedi
delle comunità e degli individui), e riterritoriailzzazione (il bisogno
aggressivo di identificazione, di appartenenza).


Con chi stai? si chiede ad ognuno. Con l'occidente o con la barbarie? (già
venticinque anni fa ci rivolsero questa domanda ricattatoria, e ci
perseguitarono perché non accettavamo di stare nè con gli assassini
stalinisti delle brigate rosse né con gli assassini stalinodemocristiani
del compromesso storico). Con chi stai? si chiede ad ognuno, preparando il
pogrom contro i disfattisti, i disertori, i nemici del fronte interno.


Da due anni un movimento globale si è sviluppato nel mondo. Ha eletto come
suo bersaglio principale la dittatura linberista e ha colpito quel
bersaglio con determinazione pacifica e ragionevolezza. La dittatura
liberista è entrata in crisi per motivi strutturali che non si possono
ridurre alla mobilitazione del movimento globale. Ma alla crisi della new
economy e della dittatura liberista, il movimento globale ha fornito una
cornice culturale, una prospettiva politica, una speranza.


Adesso c'è qualcuno che si rivolge a questo movimento per ingiungergli di
prender posizione. O con l'occidente o con l'integralismo.
Coloro che puntano il dito e chiedono di prendere posizione sono dei porci
e dei servi. A loro dedichiamo disprezzo e indifferenza. Dovremmo
dichiarare la nostra appartenenza al mondo occidentale?
Non ci definiremo mai per appartenenza. Non siamo filoarabi né
filoamericani e non saremo mai né antiarabi né antiamericani.

Il nostro movimento è il terzo attore:Il movimento globale contro il globalismo capitalista e contro l‚aggressività identitaria è il terzo attore, quello che permette di uscire dal dilemma diabolico delle due follie complementari in cui il mondo sembra
intrappolato.


Il nostro compito è già oggi chiaro. Non è soltanto quello che consiste nel
dire no alla guerra e no al terrore. Il nostro compito è quello di rendere
possibile l‚autorganizzazione della società al di fuori degli stati, al di
fuori degli schieramenti, al di fuori degli eserciti, e anche al di fuori
dell‚economia globalista.

 

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