Sem justiça

 

 


Giuliana Sgrena
Il Manifesto

20 de outubro de 2005

Tradução Imediata

Efeito referendo. Não se conhecem ainda os resultados do referendo do 15 de outubro sobre a constituição (mas será que saberemos, algum dia, os resultados verdadeiros?) e, não por acaso, talvez justamente para esconder as falcatruas, ontem foi orquestrada a primeira sessão do processo-farsa contra Saddam Hussein, já devidamente adiado para o fim de novembro. Uma encenação que teve o seu corolário no seqüestro do correspondente do Guardian, Roy Carroll, em Bagdá. Um país fora da lei não pode ter testemunhas, nem aquelas verdadeiras, como aqueles que vão ver o que acontece em Sadr City, como o enviado irlandês. Na realidade, são justamente esses os mais perigosos, para os ocupantes e para quem diz ser contra a ocupação. Assim como tinham me explicado os meus seqüestradores. O referendo tinha que servir para avalizar uma Carta constitucional construída com base na exclusão da minoria sunita. Essa minoria podia rejeitá-la, com uma maioria de dois terços em três províncias. E talvez o tenha feito, não obstante as divisões entre aqueles a favor do não e aqueles a favor do boicote. Mas, se tivesse sido assim, o processo de transição, controlado pelos norte-americanos, teria ido para o espaço. E é difícil que isso possa acontecer em um país ocupado por cerca de 150.000 marines. E não vai acontecer.

Uma das razões é que os marines gozam de impunidade, não só quando matam os iraquianos, mas também os estrangeiros. Como vimos com o assassinato de Nicola Calipari . E de outros, incluindo jornalistas. Mas ontem mesmo, o juiz da Audiência Nacional de Madrid, Santiago Pedraz, diante da falta de colaboração dos Estados Unidos, emitiu uma ordem de prisão internacional e um pedido de extradição para três militares dos EUA acusados da morte do cameraman espanhol José Couso. O operador da Telecinco foi atingido por um golpe de canhão disparado de um tanque blindado dos EUA, no dia 8 de abril de 2003, enquanto registrava cenas a partir do Hotel Palestine, onde a maioria de nós, jornalistas presentes em Bagdá, estávamos hospedados. Além de Couso, também perdeu a vida o ucraniano Taras Protsyuk, da agência Reuters. A corajosa decisão do juiz espanhol poderia constituir um importante precedente também para o caso Calipari.

A coincidência com o início do processo contra Saddam, por parte de um tribunal que agora se chama Alta Corte Penal, não pode ser casual. No Iraque, é necessária uma justiça verdadeira, e não aquela imposta pelos vencedores, que desprezam a população iraquiana. Não haverá paz sem justiça. Mas a justiça não pode ser vingança. Uma vingança que já está fazendo sangrar o Iraque com milhares de mortos. E não serão as condenações à morte que vão lançar as bases da democracia no Iraque. Mesmo se no patíbulo tivesse que acabar um ditador sangüinário como Saddam Hussein, acusado de crimes contra a humanidade.

Rory Carroll queria contar a reação dos iraquianos ao processo contra Saddam, visto de um bairro que tinha sofrido a repressão do ex-raís, a favela xiita de Sadr City. Mas vários homens armados o seqüestraram enquanto saia da casa de uma das vítimas de Saddam Hussein. Esta guerra não precisa de testemunhas, e eu pude comprovar isso na minha própria pele. Retorna assim o espectro dos seqüestros. E esse é especialmente dramático, pois o seqüestro do jornalista do Guardian nos faz lembrar imediatamente aquele de dois outros britânicos com passaporte irlandês, Margaret Hassan e Kenneth Bigley, que acabou mal. Margaret foi raptada há um ano atrás, exatamente. Esperemos que os seqüestradores de Rory Carroll sejam mais razoáveis e saibam reconhecer o seu trabalho em um jornal que desafiou as escolhas bélicas de Tony Blair.

 

 

Senza giustizia

GIULIANA SGRENA

Il manifesto, 20 ottobre 2005

 

Effetto referendum. Non si conoscono ancora i risultati del referendum sulla costituzione (ma si sapranno mai quelli veri?) del 15 ottobre e, non a caso, forse proprio per nascondere i brogli, ieri è stata orchestrata la prima seduta del processo-farsa a Saddam Hussein, già rimandato a fine novembre. Una messinscena che ha avuto il suo corollario nel rapimento del corrispondente del Guardian Rory Carroll a Baghdad. Un paese fuori legge non può avere testimoni, nemmeno quelli veri, che vanno a vedere cosa succede a Sadr city, come l'inviato irlandese. Anzi sono proprio quelli i più pericolosi, per gli occupanti e per chi dice di essere contro l'occupazione. Come mi avevano spiegato i miei rapitori. Il referendum doveva servire ad avallare una carta costituzionale costruita sull'esclusione della minoranza sunnita. Che avrebbe potuto respingerla, con una maggioranza di due terzi in tre province. E forse l'ha fatto, nonostante le divisioni tra i sostenitori del no e quelli del boicottaggio. Ma se così fosse il processo di transizione controllato dagli americani salterebbe. Ed è difficile che questo possa succedere in un paese occupato da circa 150.000 marine. E non succederà.

Anche perché i marine godono dell'impunità non solo quando uccidono iracheni, ma anche stranieri. Come si è visto con l'uccisione di Nicola Calipari. E altri, giornalisti compresi. Ma proprio ieri, il giudice dell'Audiencia nacional di Madrid Santiago Pedraz, di fronte alla mancata collaborazione degli Stati uniti, ha emesso un mandato di cattura internazionale e la richiesta di estradizione per tre militari Usa sotto inchiesta per l'uccisione del cameraman spagnolo, José Couso. L'operatore di Telecinco era stato colpito da una cannonata sparata da un carro armato statunitense, l'8 aprile del 2003, mentre faceva le sue riprese dall'hotel Palestine, dove si trovavano la maggior parte di noi giornalisti presenti a Baghdad. Insieme a Couso era stato ucciso anche l'ucraino Taras Protsyuk della Reuters. La coraggiosa decisione del giudice spagnolo potrebbe costituire un importante precedente anche per il caso Calipari.

La coincidenza con l'inizio del processo a Saddam da parte di un tribunale, ora si chiama Alta corte penale, non può essere casuale. In Iraq c'è bisogno di giustizia, vera, non quella dei vincitori che disprezzano la popolazione irachena. Non ci sarà pace senza giustizia. Ma la giustizia non può essere vendetta. Una vendetta che sta già dissanguando l'Iraq con migliaia di morti. E non saranno le condanne a morte a gettare le basi della democrazia in Iraq. Anche se sul patibolo dovesse finire un dittatore sanguinario come Saddam Hussein, accusato di crimini contro l'umanità.

Rory Carroll voleva raccontare la reazione degli iracheni al processo a Saddam vista da un quartiere che aveva sofferto la repressione dell'ex raìs, la bidonville sciita di Sadr city. Ma uomini armati l'hanno sequestrato mentre lasciava la casa di una delle vittime di Saddam Hussein. Questa guerra non vuole testimoni, l'ho provato sulla mia pelle. Torna così lo spettro dei sequestri. Particolarmente drammatico perché il rapimento del giornalista del Guardian riporta immediatamente alla mente quello di altri due britannici con passaporto irlandese, Margaret Hassan e Kenneth Bigley, che hanno fatto una brutta fine. Margaret era stata rapita esattamente un anno fa. Speriamo che i rapitori di Rory Carroll siano più ragionevoli e sappiano riconoscere il suo lavoro in un giornale che ha contrastato le scelte belliche di Tony Blair.

 

Sin justicia

Giuliana Sgrena

Il manifesto 23-10-2005

Traducido para Rebelión por Gonzalo Hernández Baptista

El dominó del referéndum. Todavía no se conocen los resultados de este referéndum sobre la Constitución (¿y llegarán a saberse alguna vez?) del 15 de octubre. Pero no es casualidad que justo ayer, quizá para ocultar el pucherazo, hayan sentatado por primera vez en este proceso-farsa a Saddam Hussein, pospuesto ahora para finales de noviembre. Una puesta en escena que ha tenido su consecuencia inmediata: el secuestro del corresponsal del Guardian, Roy Carroll, en Baghdad. Un país sin leyes no puede hospedar testimonios, ni siquiera los que dicen la verdad, ni a los que van a ver qué sucede en la ciudad de Sadr, como hacía el enviado irlandés. Son justo estos los más peligrosos, tanto para los ocupantes como para quien dice que está contra la ocupación. Así me dijeron mis secuestradores. El referéndum tenía que servir para avalar una Carta constitucional construida a partir de la exclusión de la minoría suní. Ellos la podían haber rechazado, contando con una mayoría de dos tercios en tres provincias. Y quizá lo hayan conseguido, a pesar de las divisiones entre los sostenedores del no y los que estaban por el boicot. Pero así si fuera, el proceso de transición, controlado por los norteamericanos, saltaría en pedazos. Y es muy difícil que algo así pueda ocurrir en un país controlado por casi 150.000 marines. Además no puede suceder.

Un motivo es que los marines gozan de impunidad no sólo cuando matan iraquíes, sino también cuando matan a los extranjeros. Igual que ha ocurrido con la muerte de Nicola Calipari . U otros muchos, incluidos los periodistas. Pero en el día de ayer, el juez de la Audiencia nacional de Madrid, Santiago Pedraz, ante la falta de colaboración de los Estados Unidos, ha dado la orden de captura internacional y ha pedido la extradición para los tres militares norteamericanos acusados de la muerte del cámara español José Couso. El operador de Telecinco fue derribado por el cañonazo de un carro armado estadounidense, el 8 de abril de 2003, mientras registraba unas tomas desde el hotel Palestina, donde se encontraba la mayor parte de los periodistas presentes en Baghdad. Además de Couso también perdió la vida el ucraniano Taras Protsyuk, de la agencia Reuters. La valiente decisión del juez español podría ser un precedente muy importante para el caso Calipari.

La coincidencia con el inicio del proceso a Saddam por parte de un tribunal, que ahora se llama de Alta corte penal, no puede ser casual. En Iraq hace falta justicia, verdadera, no la de los vencedores que desprecian a la población iraquí. No llegaremos a la paz sin la justicia. Porque la justicia no puede significar venganza. Una venganza que está desangrando Iraq con miles de muertos. Y no serán las condenas a muerte las que derriben las bases de la democracia en Iraq. A pesar de que pueda acabar en el patíbulo un dictador sanguinario como Saddam Hussein, acusado de crímenes contra la Humanidad.

Rory Carroll quería contar la reacción de los iraquíes al proceso a Saddam, vista desde un barrio que había sufrido la represión del ex-raís, un barrio de chabolas chií de la ciudad de Sadr. Pero varios hombres armados lo han secuestrado mientras que salía de la casa de una de las víctimas de Saddam Hussein. Esta guerra no necesita testimonios, lo he comprobado en mi propia carne. Ahora regresa el espectro de los secuestros. Este espectro es especialmente dramático porque el rapto del periodista del Guardian nos recuerda inmediatamente la historia de los otros dos británicos de pasaporte irlandés, Margaret Hassan e Kenneth Bigley, que acabó mal. Margaret fue raptada hace un año exactamente. Esperemos que los secuestradores de Rory Carroll sean más razonables y sepan reconocer su trabajo en un periódico que ha puesto en tela de juicio las posiciones bélicas de Tony Blair.

Publicado en "Il manifesto" (20, octubre, 05)

Envie um comentário sobre este artigo