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"Ouçamos o que diria uma testemunha, em 2001, obrigada a fazer um obituário de Laura Betti"

Pier Paolo Pasolini ("Pagine corsare"/ "Páginas Corsárias"))



 

 



 
   

["Vogue", Milão, abril de 1971]

nsumida popblicado no livro " Caos", Editoi Riuniti, Roma, 1999)

Tradução Mario S. Mieli

Pasolini e Laura Betti no início dos anos 70.............................................................

 

 

Tradução Mario S.Mielio

 

Pioneira da contestação? Sim, mas também sobrevivente da contestação.

Portanto, restauradora de um estado quo ante. Onde existia o pleno (a ordem burguesa e a oposição oficial), aconteceu o caos; caído o caos, aquele repleto pareceu como que vazio, e quem estava dentro dele, fazendo o bufão do protesto, encontrou-se como num quarto de onde tivessem desaparecido repentinamente as paredes.

Os povos antigos revocavam artificialmente o caos para "se renovarem", reconstruindo o momento inaugural.

O caos não passa sem deixar a necessidade de reforma. Ao invés de reforma, ocorreu a restauração, com as tropas fascistas.

Aquela marionete que "no pleno dos anos cinqüenta e começo dos anos sessenta" se encontrou viva, mas estreitamente dependente do mundo que ela, enquanto marionete, contestava, foi, depois, atropelada e desvanecida pelo caos do biênio de 1968 a 1970; com a volta da normalidade verificou, em si, a ocorrência de um fenômeno muito comum: o envelhecimento.

A pessoa de quem estou, em particular, falando não admite nada de tudo isso.

Envelheceu e morreu: mas estou certo de que em sua tumba ela se sente menina.

Ela está certamente orgulhosa de sua morte, considerando-a uma morte especial.

Ademais, embora admitindo em parte ter morrido, justamente porque a sua morte, sendo especial, pode ser admitida, ela, ao mesmo tempo, não a admite: "a minha morte é provisória, é um fenômeno passageiro", ela parece dizer, com os ares de um personagem de Gogol, de Dostoiewsky, ou de Kafka, "em lugar muito elevado se está brigando para que essa chata conjuntura seja superada e tudo volte como antes. Além do mais, eu não tenho solução de continuidade: sou aquilo que eu era. A minha possibilidade de estupor não tem limites porque eu caio sempre das nuvens, e rio, com maravilha infantil". (Contemporaneamente, lá em sua sepultura, diz: "Eu nunca estou nas nuvens, estou sempre com os pés no chão, nenhuma surpresa porque, desde sempre, sei tudo".)

Ambigüidade? Não: duplo jogo. Porque ela, a morta, Laura Betti, não era ambígua, pelo contrario, era íntegra: inarticulada como um fóssil.

Ela aderiu à sua qualidade real de fóssil e, de fato, pôs sobre o rosto uma máscara inalterável de marionete loira; (mas: "cuidado, dentro da marionete que admite estar com sua máscara, há uma trágica Marlene, uma verdadeira Garbo").

No momento exato, porém, em que concretizava a sua fossilização infantil adotando a máscara, eis que ela contradiz tudo isso, interpretando uma multiplicidade de personagens diferentes entre si, cuja característica sempre foi ser uma o oposto da outra.

A sua grande sorte foi ter evitado de viver em um dos tantos países ditatoriais que existem no mundo; e, sobretudo, ter evitado de acabar em um dos tantos possíveis campos de concentração. Que vítima mais assustadora ela teria sido! Mas em um obituário não se dizem essas coisas.

Fazendo dela um exame superficial, muitos lhe atribuíram em vida uma vontade provinciana de degradação dos ídolos.

Não, não era somente o sadismo de uma província que, chegada ao Centro onde habitam os ídolos, prova o prazer de profaná-los e de desmistificá-los"; nessa dolorosa operação havia a sua necessidade de ser contemporaneamente "uma" e "uma outra", "uma" que adora, e "uma outra" que cospe na coisa adorada; "uma" que mistifica" e "uma outra" que reduz. Mas não era ambigüidade. Repito. O jogo dela era claro como a luz do sol.

Naturalmente, propondo-se antes de mais nada, como uma das leis-chave do seu código, de não provocar nunca, em nenhum caso, piedade, ela, pelo jogo de da oposição, também sempre quis e admitiu provocar piedade. Mas a piedade não foi causada por uma ou por outra de suas ações ou de suas situações: não, a piedade sempre foi causada pela excessiva clareza do seu jogo. Assim, é por meio dessa piedade que ela foi forçada a provocar com relação à sua própria pessoa, que emergiu a sua generosidade: ou seja, algo de heróico. Esse é, na verdade, o obituário de uma heroína. É preciso acrescentar que ela era muito divertida e uma excelente cozinheira.

"Pagine corsare"

´Sentiamo che direbbe un testimone nel 2001, costretto a fare un necrologio di Laura Bettiª

di Pier Paolo Pasolini

["Vogue", Milano, aprile 1971]

 

 

Pioniera della contestazione? Si, ma anche sopravvissuta alla contestazione.

Quindi restauratrice di uno stata quo ante. Dove c’era i! pieno (l’ordine borghese e l’opposizione ufficiale), si è avuto il caos; caduto il caos, quel pieno è apparso come vuoto, e chi c’era dentro, a fare il buffone della protesta, si è trovato come in una stanza di cui fossero scomparse improvvisamente le pareti.

I popoli antichi rievocavano artificialmente il caos per "rinnovarsi", ricostruendo il momento inaugurale.

Il caos non passa senza lasciare la necessità di rinnovamento. Invece del rinnovamento si è avuta la restaurazione, con le squadre fasciste.

Quel pupazzo che nel ´pieno degli anni cinquanta e dei primi anni sessantaª si è trovato ad essere vivo, ma strettamente dipendente dal mondo che egli, in quanto pupazzo, contestava, è poi stato travolto e vanificato dal caos del biennio dal 1968 al 1970, col ritorno della normalità ha verificato in sé l’accadere di un fenomeno molto comune: l’invecchiamento.

La persona di cui sto in particolare parlando non ammette nulla di tutto questo.

È invecchiata e morta: ma son sicuro che nella sua tomba ella si sente bambina.

Ella è certamente fiera della sua morte, considerandola una morte speciale.

Inoltre pur ammettendo in parte di essere morta, appunto perché la sua morte, essendo speciale, può essere ammessa, essa, nel tempo stesso, non l’ammette: ´la mia morte è provvisoria, è un fenomeno passeggeroª, essa par dire, con l’aria di un personaggio di Gogol’, di Dostoiewsky, o di Kafka, ´in alto loco si sta brigando perché tale noiosa congiuntura venga superata e tutto torni come prima. Del resto, io non ho soluzione di continuità: sono ciò che ero. La mia possibilità di stupore non ha limiti perché io cado sempre dalle nuvole, e rido, con meraviglia fanciullaª. (Contemporaneamente, là nella tomba, dice: ´Io non son mai nelle nuvole, son sempre coi piedi a terra, niente mi meraviglia perché, da sempre, so tuttoª.)

Ambiguità? No: doppio gioco. Ché essa, la morta, Laura Betti, non era ambigua, anzi, era tutta d’un pezzo: inarticolata come un fossile.

Ella ha aderito alla sua qualità reale di fossile, e infatti si è messa sul volto una maschera inalterabile di pupattola bionda; (ma: ´attenti, dietro la pupattola che ammette di essere con la sua maschera, c’è una tragica Marlene, una vera Garboª).

Nel momento stesso però in cui concretava la sua fossilizzazione infantile adottandone la maschera, eccola contraddire tutto questo recitando la parte di una molteplicità di personaggi diversi fra loro, la cui caratteristica è sempre stata quella di essere uno opposto all’altro.

La sua grande fortuna è stata quella di avere evitato di vivere in uno dei tanti paesi dittatoriali che ci sono al mondo; e soprattutto di avere evitato di finire in uno dei tanti possibili campi di concentramento. Che terrificante vittima sarebbe stata! Ma in un necrologio non si dicono queste cose.

Facendo di lei un esame superficiale, molti le attribuirono in vita una volontà provinciale di degradazione degli idoli.

No, non era soltanto il sadismo di una provinciale che giunta nel Centro dove abitano gli idoli, prova il piacere di profanarli e di dissacrarli: in questa dolorosa operazione c’era il suo bisogno di essere contemporaneamente "una" e "un’altra", "una" che adora, e "un’altra" che sputa sull’oggetto adorato; "una" che mitizza e "un’altra" che riduce. Ma non era ambiguità, ripeto. Il suo gioco era chiaro come il sole.

Naturalmente, proponendosi prima di tutto, come una delle leggi-chiave del suo codice, di non fare mai, in alcun caso, pietà, essa, per il gioco dell’opposizione, ha anche sempre voluto e ammesso anche di fare pietà. Ma la pietà non è stata causata da una o dall’altra delle sue azioni o delle sue situazioni: no, essa è sempre stata causata dall’eccessiva chiarezza del suo gioco. Dunque è attraverso la pietà che essa è stata costretta a provocare verso la sua persona, che è venuta fuori la sua generosità: cioè qualcosa di eroico. Questo è infatti il necrologio di un’eroina. Bisogna aggiungere che era molto spiritosa e un’eccellente cuoca.

Pier Paolo Pasolini 

In

 http://www.pasolini.net/saggistica_ppp_laurabetti.htm

 

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<devir> info@imediata.com

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