.A lua consumida
Pier Paolo Pasolini



 

 



 
   

Tradução Imediataconsumida popblicado no livro " Caos", Editoi Riuniti, Roma, 1999)

Tradução Mario S. Mieli

Algo me impede de falar sobre os astronautas. É absurdo para alguém que tenha uma coluna de atualidades. Vejamos. Nos jornais leio somente os maiores títulos. Tentei passar a vista nas linhas que vêm abaixo deles, mas fiquei imediatamente chateado e, em todo caso, percebi que os artigos não diziam muito mais do que os próprios títulos. De qualquer forma, a "notícia" sobre os astronautas e suas façanhas é elementar, desarticulada. É só uma notícia, apenas isso. Também com relação às fotos, é suficiente dar uma olhada. Nunca as observo por mais que um instante. Num instante vejo tudo. Embora existam certas fotografias, as mais usuais, que posso ficar observando por alguns minutos (a expressão esquisita de um rosto, um particular, uma posição… um personagem em segundo plano que mal se entrevê, etc.). Mas é preciso distingüir as fotografias dos astronautas durante suas operações no cosmo e as fotografias dos astronautas em pose para o fotógrafo. Mas a coisa em si não faz diferença. A primeira olhada instantânea é suficiente para entender a "realidade" deles no cosmo e a "realidade" física deles nesta terra.

Esta rudimentaridade, unidimensionalidade, esquematicidade e, no fundo, brutalidade, seja da notícia seja da imagem que nos informam sobre os astronautas, é um pouco parecida com aquela das imagens dos anúncios publicitários que se vêem enquanto percorremos uma estrada de carro, com os seus slogans, seus conselhos, etc.

Como foi "consumida" depressa a lua. Agora, chegamos até a esnobá-la. Ao invés de cancelá-la, transcendê-la, a corrida à lua pôs em evidência a rivalidade russo-americana. É este, em última análise, o elemento de maior interesse da questão; o "conteúdo" que pode nos reter por algum minuto a mais na notícia astronáutica e na imagem dos astronautas. (Os astronautas americanos não interessam tanto em si mesmos, quanto em termos de confronto com os astronautas russos, e vice-versa).

Sobre a lua, voltaremos (enquanto objeto de conhecimento da opinião pública). Vamos parar um momento na questão dos astronautas.

A principal característica deles (iluminada imediatamente por aquela primeira instantânea olhada de sua imagem fotográfica) é o fato de serem reconfortantes e um pouco vulgares. Também com relação a isso as imagens astronáuticas e as publicitárias se parecem. Esta é, no fundo, a única coisa que Verne não havia previsto. E que, de fato, era imprevisível.

As informações sobre os astronautas são uma absoluta novidade, é verdade. Assim como a primeira novidade absoluta que é difundida através das novas técnicas e em um novo tipo de cultura. Até agora, essas novas técnicas em um novo tipo de cultura tinham dado informações sobre coisas, pessoas ou acontecimentos, não digo velhos, mas ao menos já conhecidos, experimentados, caídos no domínio da nossa experiência.

O cosmo, até agora, nunca havia caído no domínio da nossa experiência: ele cai, passando por um canal de difusão novo, o qual até agora nos informou sobre coisas clássicas, como o comer, o beber, o vestir-se, o ler, o aprender, etc.: coisas clássicas também com aspectos novos.

A coincidência absoluta entre o acontecimento novo e a técnica de informação nova pode ser obtida somente a propósito da astronáutica. Nós aprendemos as façanhas astronáuticas, não somente como novidades, portanto, mas também de uma maneira nova; e cuja novidade se manifesta plenamente, justamente, dando notícias de um tipo completamente novo.

As técnicas que difundem as notícias sobre as façanhas astronáuticas são técnicas típicas da civilização do consumo, e é nisso que fazem a primeira tentativa original. Enquanto que, com relação a todas as outras notícias, somos consumidores ambíguos – ou seja, habituados a uma forma diversa de consumo… pré-consumística – dessas notícias astronátuticas somos, pelo contrário, consumidores absolutos, sem ambiguidade, sem sobreposições, sem resistência; portanto, não críticos. O fato de que, por conseguinte, essas técnicas de informação nos fazem consumir, são destituídos de mistério, são primários e ontológicos. Eles estão aí e nós nos damos conta deles: não existe qualquer outra dificuldade. Depois, nós nos disponibilizamos imediatamente para esperar os fatos futuros, mais ou menos iminentes, impacientes de consumi-los.

Comecei essas observações (algo que raramente me ocorre) sem saber a que conclusões teria chegado; segui o fio do raciocínio enquanto ele se fazia, deixando-me quase ser transportado mecanicamente.

De outra forma que com essa "novidade" que descrevi sumariamente, não saberia explicar a minha estranheza de velho homem de um velho mundo, diante de façanhas assim tão "inconsumíveis", como são as façanhas astronáuticas. Enfim, entre eu e um rapaz de quinze anos que espera, impaciente – e achando tudo isso extremamente natural – que russos ou americanos desembarquem na lua, não há diferença nenhuma. A única variante é que eu posso ter saudades de uma idéia diversa a respeito da lua, e ele não. Mas, é estranho, na realidade não tenho nenhuma saudade da velha lua, da lua "d’antan". Essa "dupla novidade" dos eventos e das informações sobre os eventos varreu, neste campo, qualquer velho hábito. Aqui podemos ver como se pode ser homens completamente novos, e como todo o passado (com tudo aquilo que amamos desesperadamente dele) pode, na verdade, ser um nada.

n. 5 a. XXXI, 1º de fevereiro de 1969

 

Referências: Pasolini:

http://www.pasolini.net/

http://pasolini.freeservers.com/nestates.com

http://www.moonestates.com/

 

 

 

 

La luna consumata

Qualcosa mi impedisce di parlare degli astronauti. È assurdo per uno che tenga una rubrica di attualità. Vediamo. Nei giornali leggo solo i titoli più grossi. Ho provato a scorrere le righe che li seguono, ma mi sono immediatamente annoiato, e comunque mi sono accorto che gli articoli non dicevano molto di più dei loro titoli. La "notizia" quindi, sugli astronauti e le loro imprese, è elementare, inarticolata. È una notizia e basta. Anche alle fotografie è sufficiente un’occhiata. Non le osservo mai più di un istante. In un istante vedo tutto. Mentre ci sono certe fotografie, le più usuali, che posso osservare anche per qualche minuto (la espressione strana di un volto, un particolare, una posizione… un personaggio in secondo piando che si intravede appena, ecc.). Ma bisogna distinguere le fotografie degli astronauti durante le loro operazioni nel cosmo e le fotografie degli astronauti messi in posa per il fotografo. Ma la cosa in sostanza non cambia. La prima occhiata istantanea è sufficiente per capire la loro "realtà" nel cosmo e la loro "realtà" fisica in questa terra.

Questa rudimentalità, unidimensionalità, schematicità e, in fondo, brutalità, sia della notizia che dell’immagine che ci informa sugli astronauti, assomiglia un po’ a quella delle immagini dei cartelloni pubblicitari che si vedono correndo in automobile per una strada, con il loro slogan, le loro raccomandazioni ecc.

Come si è "consumata" subito la luna. Ormai, la snobbiamo. Anziché cancellarla, trascenderla, la corsa alla luna ha messo in evidenza la rivalità russo-americana. È questo, tutto sommato, l’elemento di maggior interesse nella cosa; il "contenuto" che può trattenere qualche minuto in più sulla notizia astronautica e sull’immagine degli astronauti. (Gli astronauti non interessano tanto in sé, quanto come termine di confronto con gli astronauti russi, e viceversa).

Sulla luna, torneremo (in quanto oggetto di conoscenza dell’opinione pubblica). Soffermiamoci ancora un momento sugli astronauti.

La loro principale caratteristica (chiarita subito da quella prima istantanea occhiata alla loro immagine fotografica) è quella di essere rassicuranti e un po’ volgari. Anche in questo le immagini astronautiche e quelle pubblicitarie si assomigliano. Questa è, in fondo, l’unica cosa che Verne non aveva preveduto. E che era infatti imprevedibile.

Le informazioni sugli astronauti sono una assoluta novità, è vero. Ma anche la prima assoluta novità che viene diffusa attraverso delle tecniche nuove e in un nuovo tipo di cultura. Finora queste tecniche nuove in un nuovo tipo di cultura, avevano dato informazioni su cose, persone o avvenimenti, non dico vecchi, ma almeno già conosciuti, sperimentati, caduti sotto il dominio della nostra esperienza.

Il cosmo finora non è mai caduto sotto il dominio della nostra esperienza: ci cade, passando attraverso un canale di diffusione nuovo, ma che ci aveva finora informati su cose classiche, come il mangiare, il bere, il vestirsi, il leggere, l’apprendere ecc.: cose classiche anche con aspetti nuovi.

La coincidenza assoluta tra evento nuovo e tecnica informativa nuova la si ha soltanto a proposito dell’astronautica. Noi apprendiamo le imprese astronautiche, non solo come novità, dunque, ma anche in modo nuovo; la cui novità si manifesta pienamente appunto dando notizie di tipo completamente nuovo.

Le tecniche che diffondono le notizie sulle impresa astronautiche, sono tecniche tipiche della civiltà del consumo, e qui fanno la loro prima prova originale. Mentre di tutte le altre notizie siamo consumatori ambigui -- abituati cioè a una diversa forma di consumo… pre-consumistica -- di queste notizie astronautiche siamo invece consumatori assoluti, senza ambiguità, senza sovrapposizioni, senza resistenza; quindi, non critici. I fatti che dunque queste tecniche d’informazione ci fanno consumare, sono senza mistero, primari e ontologici. Essi ci sono e noi li apprendiamo: non c’è altra difficoltà. Poi ci disponiamo immediatamente ad attendere i fatti futuri, più o meno imminenti, impazienti di consumarli.

Ho cominciato queste osservazioni (cosa che non mi capita mai) senza sapere a che conclusioni sarei arrivato: ho seguito il filo del ragionamento nel suo farsi, quasi lasciandomi meccanicamente trasportare.

Altrimenti che con questa "novità" che ho sommariamente descritto, non saprei spiegarmi la mia estraneità di vecchio uomo di un mondo vecchio, di fronte a imprese così "inconsumabili" come sono le imprese astronautiche. Insomma, tra me e un ragazzo di quindici anni, che aspetta, impazientito -- e trovando tutto ciò estremamente naturale -- che russi o americani sbarchino sulla luna, non c’è alcuna differenza. L’unica variante è che io ho una diversa idea della luna da rimpiangere, e lui no. Ma strano, in realtà non rimpiango affatto la vecchia luna, la luna "d’antan". Questa "doppia novità" degli eventi e delle informazioni sugli eventi, ha spazzato via, in questo campo, qualsiasi vecchia abitudine. Qui si vede come si può essere uomini completamente nuovi, e come tutto il passato ( con tutto ciò che disperatamente amiamo in esso) può veramente essere un nulla.

N 5 a. XXXI, 1º febbraio 1969

 

Riferimenti:

http://www.pasolini.net/

http://pasolini.freeservers.com/

http://www.moonestates.com/

 

 

M

<devir> info@imediata.com

M