Transgênicos: Também no estômago! Silvia Ribeiro La Jornada 30 de julho de 2002
Tradução Imediata Pela primeira vez comprovou-se experimentalmente que o DNA transgênico ingerido em alimentos pode recombinar-se no estômago e no intestino humanos, transferindo às bactérias da flora intestinal propriedades das plantas transgênicas, como por exemplo a resistência a antibióticos. Isso quer dizer que ao ingerir alimentos transgênicos podemos estar adquirindo imunidade com relação a diferentes antibióticos. E, lamentavelmente, só ficaremos sabendo no momento que tivermos uma doença e que o antibiótico que nos receitarem já não tiver qualquer efeito. Para fazer um organismo transgênico é necessário transferir, além do gene escolhido, por exemplo, resistência a herbicidas, um gene promotor - em geral proveniente de um vírus - e um gene "terminador" - proveniente de bactérias ou vírus. Como a operação é muito inexata, para se saber se foi efetivamente realizada a transgênese, agrega-se também um gene "marcador". Este marcador é, em muitos casos, um gene que confere resistência a um antibiótico. Realizada a transferência de todo o constructo, cultivam-se as células modificadas, agregando-se um antibiótico. Aquelas que não morrerem são transgênicas. Este marcador continua presente em todo o processo de crescimento da planta e nos alimentos que forem produzidos posteriormente com a mesma. A transferência de DNA transgênico para as bactérias do intestino de animais já tinha sido comprovado experimentalmente em várias outras oportunidades, por exemplo, no ano passado, em gado alimentado com ração transgênica, na Universidade de Agricultura de Wageningen, na Holanda, e pelo doutor Kaatz da Alemanha, em abelhas que o adquiriram pelo pólen de plantas transgênicas. Além disso, ativistas e cientistas responsáveis alertaram sobre esse risco muitos anos antes. Contudo, essa é a primeira vez que se faz um estudo baseado em experiências com seres humanos. Elas foram feitas na Universidade de Newcastle, no contexto de um projeto da Agência de Padrões Alimentares do Reino Unido, por sua vez patrocinada pelo Ministério da Agricultura, Pesca e Alimentação desse país. A universidade realizou o estudo com 19 voluntários, sete dos quais tinham passado por uma colostomia, ou seja, a retirada do cólon por razões médicas. A essas pessoas lhes deram para comer um hambúrguer que continha soja transgência - comum, como aqueles que podem ser encontrados em supermercados - e um copo de leite malteado, também com soja transgênica adicionada. Em seguida, analisaram as massas fecais e o conteúdo das bolsas de colostomia. No caso das bolsas, "para sua surpresa" encontraram "uma proporção relativamente alta de DNA transgênico que tinha sobrevivido a passagem através do intestino delgado". Não o encontraram nos exames das pessoas com o intestino completo. Para comprovar se havia ocorrido uma transferência ao intestino, retiraram bactérias das bolsas de colostomia e as cultivaram, comprovando que em três das sete amostras as bactérias tinham adquirido resistência contra herbicidas, propriedade contida na soja transgênica. Os responsáveis pelo estudo, ao encontrar bactérias modificadas nas pessoas com o intestino completo, concluíram que o DNA transgênico se tinha degradado nessa última passagem. Uma conclusão que foi questionada por vários cientistas da Inglaterra que consideraram que a metodologia de detecção não foi adequada, sobretudo à luz do fato que foram encontradas bactérias modificadas no cólon de outros mamíferos. Segundo o doutor Michael Antonio, geneticista molecular da King's College Medical School, entrevistado pelo The Guardian, "isso demostrou claramente que o DNA transgênico pode ser transferido das plantas para as bactérias intestinais. Todos diziam que isso era impossível". Acrescentou, contudo, que embora a metodologia tenha tido muitas falhas, não tira o mérito da enorme relevância que as descobertas fizeram. "Quer dizer que as pessoas podem ter genes marcadores resistentes a antibióticos em seu aparelho digestivo, que podem comprometer a resistência aos antibióticos do corpo. E mostraram que isso pode acontecer em níveis muito baixos, depois de uma só comida." A resistência a antibióticos é atualmente um problema muito grave, segundo a Organização Mundial da Saúde, já que a proliferação do uso de antibióticos levou à geração de bactérias cada vez mais resistentes, e inclusive a tornar patógenas - capazes de provocar doenças - bactérias que antes não o eram. Visto que os marcadores de resistência a antibióticos já despertavam muita desconfiança anteriormente, várias das empresas que produzem transgênicos disseram que não os continuariam a usar, mas até agora não cumpriram o que prometeram. A Monsanto, que vende mais de 90 porcento das sementes transgênicas comercializadas no mundo, recebeu em 2001 uma nova patente que cobre praticamente todos os métodos de se fazer plantas modificadas que utilizem marcadores com resistência a antibióticos. Todas as empresas multinacionais, incluindo a mexicana Pulsar/Savia/Seminis, com relação às quais foi aprovada a liberação no campo ou experiência com transgêncios, têm usado e/ou usam esse tipo de marcadores. Foram aplicados ao milho, tomate, canola, soja, batata, algodão, calabacita e papaia, entre outros. Também instituições de pesquisa, como a Cinvestav, o utilizam na batata e tomate. Podem estar presentes tanto nas tortilhas como nos tomates, além da enorme quantidade de produtos que contêm soja e que comemos todos os dias, e para piorar, também na terra dos agricultores, voluntária ou involuntariamente. Será necessário um Chernobyl genético que, quem sabe, poderá já estar ocorrendo com a contaminação transgênica do milho nativo do México - para que as poucas empresas multinacionais que lucram com os transgênicos e os muitos governos que as protegem deixem de brincar com a saúde de todos? A autora é pesquisadora do Grupo ETC
30 de julio del 2002
Transgénicos: ¡También en el estómago! Silvia Ribeiro La Jornada
Por primera vez se comprobó experimentalmente que el ADN transgénico ingerido en alimentos se puede recombinar en el estómago y el intestino humanos, transfiriendo a las bacterias de la flora intestinal propiedades de las plantas transgénicas, como por ejemplo la resistencia a antibióticos. Esto quiere decir que al ingerir alimentos transgénicos podemos estar adquiriendo inmunidad frente a diferentes antibióticos. Y lamentablemente no lo sabremos hasta el momento de tener una enfermedad y que el antibiótico que nos receten ya no nos haga efecto. Para hacer un organismo transgénico hay que transferir, además del gen elegido, por ejemplo resistencia a herbicidas, un gen promotor -en general proveniente de un virus- y un gen "terminador" -proveniente de bacterias o virus-. Como la operación es muy inexacta, para saber si se efectuó la transgénesis se agrega también un gen "marcador". Este marcador es en muchos casos un gen que confiere resistencia a un antibiótico. Realizada la transferencia de todo el constructo, se cultivan las células modificadas, agregando un antibiótico. Las que no mueren son transgénicas. Este marcador sigue presente en todo el proceso de crecimiento de la planta y en los alimentos que se elaboren posteriormente con ésta. La transferencia de ADN transgénico a las bacterias del intestino en animales ya se había comprobado experimentalmente en varias otras oportunidades, por ejemplo el año pasado en ganado alimentado con forraje transgénico en la Universidad Agrícola de Wageningen, en Holanda, y por el doctor Kaatz de Alemania, en abejas que lo adquirieron por el polen de plantas transgénicas. Además, activistas y científicos responsables alertaron de este riesgo desde muchos años antes. Sin embargo, esta es la primera vez que se hace un estudio basado en experiencias con humanos. Estas se hicieron en la Universidad de Newcastle, en el contexto de un proyecto de la Agencia de Estándares Alimentarios del Reino Unido, a su vez comisionada por el Ministerio de Agricultura, Pesca y Alimentación de ese país. La universidad realizó el estudio con 19 voluntarios, siete de los cuales habían sufrido una colostomía, es decir, les fue extraído el colon por razones médicas. A estas personas les dieron a comer una hamburguesa que contenía soya transgénica -común, de las que se encuentran en el supermercado- y un vaso de leche malteada, también con soya transgénica agregada. Luego analizaron las materias fecales y el contenido de las bolsas de colostomía. En el caso de las bolsas, "para su sorpresa" encontraron "una proporción relativamente alta de ADN transgénico que había sobrevivido el pasaje a través del intestino delgado". No lo encontraron en las pruebas de las personas con el intestino completo. Para comprobar si se había dado una transferencia al intestino, tomaron bacterias de las bolsas de colostomía y las cultivaron, comprobando que en tres de las siete muestras las bacterias habían adquirido resistencia a herbicidas, propiedad contenida en la soya transgénica. Los responsables del estudio, al no encontrar bacterias modificadas en las personas con el intestino completo, concluyeron que el ADN transgénico se habían degradado en ese último pasaje. Una conclusión que fue cuestionada por varios científicos en Inglaterra que consideraron que la metodología de detección no fue adecuada, y más aún a la luz de que sí se han encontrado bacterias modificadas en el colon de otros mamíferos. Según el doctor Michael Antonio, genetista molecular de la King's College Medical School, entrevistado por The Guardian, "esto ha demostrado claramente que se puede transferir ADN transgénico de plantas a las bacterias intestinales. Todos decían que eso era imposible". Agregó que aunque la metodología tuvo muchas fallas, no quita la enorme relevancia de los hallazgos que hicieron. "Quiere decir que uno puede tener genes marcadores con resistencia a antibióticos en su aparato digestivo, que pueden comprometer la resistencia a antibióticos del cuerpo. Y han mostrado que esto puede suceder en niveles muy bajos, luego de una sola comida." La resistencia a antibióticos es actualmente un problema muy grave, según la Organización Mundial de la Salud, ya que la proliferación del uso de éstos ha llevado a generar bacterias cada vez más resistentes, e incluso a volver patógenas -capaces de provocar enfermedad- a bacterias que no lo eran. Dado que los marcadores de resistencia a antibióticos ya despertaban mucha desconfianza anteriormente, varias de las empresas que producen transgénicos han dicho que no los seguirían usando, lo cual hasta ahora no se ha cumplido. Monsanto, que vende más de 90 por ciento de las semillas transgénicas comercializadas en el mundo, recibió en 2001 una nueva patente que cubre prácticamente todos los métodos de hacer plantas modificadas que utilicen marcadores con resistencia a antibióticos. Todas las empresas multinacionales, incluyendo a la mexicana Pulsar/Savia/Seminis, a las cuales se les ha aprobado liberación en campo o experiencias con transgénicos han usado y/o usan este tipo de marcadores. Se han aplicado a maíz, tomate, canola, soya, papa, algodón, calabacita y papaya, entre otros. También instituciones de investigación, como el Cinvestav, lo utilizan en papa y tomate. Pueden estar presentes tanto en las tortillas como en los tomates, además de en la enorme cantidad de productos que contienen soya que comemos cada día, y para peor, también en la tierra de los campesinos, voluntaria o involuntariamente. ¿Será necesario un Chernobyl genético -que quizá ya está ocurriendo con la contaminación transgénica del maíz criollo en México- para que las pocas empresas multinacionales que lucran con los transgénicos y los muchos gobiernos que las protegen dejen de jugar con la salud de todos? La autora es investigadora del Grupo ETC
Biodiversidade Ambiental
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