Vandana Shiva: "A minha guerra contra a biotecnologia"

por Marina Mastroluca

Tradução Imediata

Não se trata de uma porta escancarada, mas é um sinal de abertura. No Fórum das organizações não governamentais, não foi muito bem recebida a disponibilidade verificada na sede da FAO, de se levar em consideração o recurso aos OGM (Organismos Geneticamente Modificados) e às biotecnologias, nas estratégias alimentares do planeta. E justamente os organismos geneticamente modificados foram o tema mais importante ontem, no Palácio dos Congressos de Roma, argumento paralelo dos workshops sobre o acesso aos recursos, terra e água em primeiro plano. Para os representantes das organizações não governamentais que chegaram de todo o mundo, não é admissível que haja qualquer tolerância com relação aos organismos geneticamente modificados, considerados uma ameaça para os recursos genéticos vegetais e animais. Não são só as espécies vegetais que correm riscos, o chileno Juan Carlos Cadena falou de experimentação avançada na manipulação de 20 variedades de peixes, e dos salmões em particular. Segundo um especialista americano, seria suficiente que apenas 60 exemplares escapassem ao meio-ambiente – manipulados com hormônios, super-resistentes, maiores do que a média – para destruir, no prazo de 20 anos, todas as variedades presentes na natureza. "Mesmo na Europa corremos risco de uma contaminação pelos OGM, as sementes modificadas introduzidas clandestinamente são a chave para criar ‘fatos concluídos’ e superar assim a resistência da opinião pública que deseja saber o que tem dentro do prato", disse Luca Colombo, do Greeenpeace.

 

Se alguém lhe tivesse pedido para explicar o que são os OGM, Manupalli Saraiah não teria sabido responder. Ele sabia de outras coisas. Que os seus dois acres de terra não eram mais suficientes, que as sementes de tabaco que devia comprar eram muito caras, que os pesticidas para evitar que as folhas fossem devoradas pelo mofo, antes da colheita, eram um veneno também para a sua família, arrasada pelas dívidas.

É isso que ele sabia. E sabia que mesmo matando-se de cansaço, como fazia, não teria conseguido livrar-se da armadilha na qual tinha caído, não teria podido esfomear os filhos ainda tão pequenos: um menino de um ano e meio, uma menina com poucos meses de vida. Dessa forma, agora o nome dele é o primeiro da lista, um elenco composto de páginas e páginas. Manupalli Saraiah é o primeiro cidadão indiano que se suicidou devido aos débitos no registro de Navdanya, o movimento que luta para garantir uma agricultura que respeite o ambiente e o ser humano.

"Desde ‘97 contamos 20.000 suicidas, dois mil somente no ano passado. São trabalhadores agrícolas empobrecidos e arrastados à fome e à miséria pelas multinacionais que controlam as sementes e o fitofarmacêuticos", diz Vandana Shiva, fundadora da Research Foundation for Science, Technology and Natural Resource Policy, que se encontra em Roma para participar do Fórum das organizações não governamentais para a soberania alimentar. E, para a Índia, que depois da era colonial está atravessando hoje uma nova colonização chegada em sacos aparentemente inocentes de sementes, soberania alimentar é a chave para livrar da escravidão –invisível, não oficial– milhões de agricultores.

"O suicídio é a última saída produzida pelo desespero, quando já não sobra mais nada, quando até mesmo os filhos e as esposas foram vendidos para pagar as dívidas ." Vandana Shiva fala de um novo poder feudal emergido nos campos do seu país, graças – diz ela – à globalização. Na Índia, morre-se de fome e, antes disso, de humilhação. E é por isso que não considera um luxo sustentar a tutela da biodiversidade e a agricultura biológica quando são discutidas as estratégias para eliminar a fome. "A primeira razão para rechaçar o recurso aos organismos geneticamente modificados é que a biodiversidade é o recurso-base para garantir alimentos para todos. Um sistema de produção biológico que valorize os recursos nativos custa menos e produz mais." Os camponeses são menos expostos ao risco do endividamento, não precisam comprar sementes, fertilizantes e pesticidas, todos itens de despesa em uma agricultura convencional. Produzem produtos diversos, para Vandana Shiva "um seguro alimentar": uma safra ruim para o arroz pode não o ser para a soja, de todo jeito haverá comida.

O paradoxo da fome se encontra nos armazéns onde o arroz é estocado, ´milhões de toneladasª em grandes sacos de juta empilhados com descuido. Até mesmo a céu aberto, onde aquele arroz – que só em teoria não existe – é atacado por ratos e mofo. Na índia – apesar dos lugares comuns aos quais estamos habituados – não é a comida que falta. Falta a possibilidade de comprá-la, e em primeiro lugar, falta aos camponeses que perderam progressivamente a própria capacidade de compra e de auto-subsistência.

Todavia, a promessa de se estar livre da fome atracou no subcontinente asiático com um nome inchado de expectativas. Golden rice (arroz de ouro), é assim que se chama o arroz "engenhado", produto de laboratório que deveria ter acabado com a escassez dos alimentos.

Vandana Shiva mostra pastas e mais pastas de arquivos que confirmam que as coisas não se passaram bem assim. O "arroz de ouro", além do nome, oferece muito pouco. Os resultados são inferiores do que aqueles das variedades tradicionais e o impacto ambiental é muito mais alto. O arroz patenteado foi um bom negócio só para as multinacionais das sementes.

"Monsanto quit India", Monsanto fora da Índia. A campanha lançada por diversas organizações ecológicas e associações de agricultores indianos revela nomes e sobrenomes dos responsáveis pela miséria.

O elenco das dores têm somente três pontos, para os camponeses indianos é o abc do endividamento: a "tecnologia terminator", que das sementes engenhadas gera plantas estéreis, a partir das quais os agricultores não podem obter novas sementes; a soja resistente ao Round-up, um herbicida, que pode ser adquirido pelos agricultores somente se comprarem o pacote completo, pelos preços estipulados pelas multinacionais; o algodão Bt, engenhado com o gene do Bacillus thuringensis, o qual produz uma toxina letal para um parasita da planta, mas também para os insetos totalmente inócuos e úteis para outras culturas.

"Nós somos aquilo que comemos" , declara Vandana Shiva, enquanto defende o direito de defender-se das multinacionais da biopirataria, a tendência de rotular a vida no planeta com o número da patente concedida a alguma grande companhia, enquanto lembra que entre os bons motivos para não se violentar o ambiente se encontra também a beleza. "Somos aquilo que comemos", diz. Talvez por isso os agricultores famintos de seu país não sejam nada, os suicídios um incidente de percurso na estrada do progresso. Onde encontraram só o veneno para cair fora do jogo: a maior parte dos camponeses indianos que se matam, o fazem engolindo os pesticidas.

 

10.06.2002

Vandana Shiva: "La mia guerra al biotech"

di Marina Mastroluca – L’Unità

Non è una porta spalancata, comunque segna un’apertura. Al Forum delle organizzazioni non governative non è piaciuta la disponibilità registrata in sede Fao a prendere in considerazione il ricorso agli Ogm e alle biotecnologie, nelle strategie alimentari del pianeta. E proprio gli organismi geneticamente modificati sono stati il tema più importante della giornata di ieri al Palazzo dei congressi, argomento parallelo ai workshop sull’accesso alle risorse, terra e acqua in primo piano. Per i rappresentanti delle organizzazioni non governative arrivate da tutto il mondo non è ammissibile nessuna tolleranza nei confronti degli organismi geneticamente modificati, considerati una minaccia per le risorse genetiche sia vegetali che animali. Non sono solo le specie vegetali a correre rischi, il cileno Juan Carlos Cadena ha parlato di sperimentazione avanzata nella manipolazione di 20 varietà di pesci, e dei salmoni in modo particolare. Secondo uno studio americano basterebbe la fuga nell’ambiente di soli 60 esemplari - manipolati con ormoni, super-resistenti, più grandi della media – per distruggere nell’arco di 20 anni le varietà presenti in natura. ´Anche in Europa rischiamo una contaminazione da ogm, le sementi modificate introdotte subdolamente sono la chiave per creare fatti compiuti e superare così la resistenza dell’opinione pubblica che vuole sapere che cosa si trova nel piattoª, ha detto Luca Colombo, di Greeenpeace.

 

Se qualcuno gli avesse chiesto di spiegare che cosa sono gli ogm, Manupalli Saraiah non avrebbe saputo rispondere. Sapeva altre cose. Che i suoi due acri di terra non bastavano più, che i semi di tabacco che doveva comprare erano troppo cari, che i pesticidi per evitare che le foglie venissero divorate dalle muffe prima di arrivare alla raccolta erano un veleno anche per la sua famiglia, stremata dai debiti.

Questo sapeva. E sapeva che anche ammazzandosi di fatica come già faceva, non sarebbe riuscito a liberarsi dalla trappola in cui era finito, non avrebbe potuto sfamare i figli ancora tanto piccoli: un maschietto di un anno e mezzo, una bimba di pochi mesi. Così ora il suo nome compare in cima alla lista, un elenco lungo pagine e pagine. Manupalli Saraiah è il primo contadino indiano suicida per debiti nel registro di Navdanya, il movimento che si batte per garantire un’agricoltura rispettosa dell’ambiente e dell’uomo.

´Dal ‘97 abbiamo contato 20.000 suicidi, duemila solo nello scorso anno. Sono contadini impoveriti trascinati alla fame e alla miseria dalle multinazionali che controllano i semi e i fitofarmaciª, dice Vandana Shiva, fondatrice della Research Foundation for Science, Technology and Natural Resource policy, a Roma per partecipare al Forum delle organizzazioni non governative per la sovranità alimentare. E per l’India che dopo l’era coloniale sta conoscendo oggi una nuova colonizzazione arrivata in sacchi apparentemente innocenti di semi, sovranità alimentare è la chiave per liberare dalla schiavitù – invisibile, non ufficiale – milioni di agricoltori.

´Il suicidio è l’ultima via di uscita che lascia la disperazione, quando ormai non rimane più niente, quando sono stati venduti anche figli e mogli per pagare i debitiª. Vandana Shiva parla di un nuovo potere feudale emerso nelle campagne del suo paese, grazie - dice – alla globalizzazione. In India si muore di fame e, prima ancora, di umiliazione. Ed è per questo che non considera un lusso sostenere la tutela della biodiversità e l’agricoltura biologica quando si discute delle strategie per sconfiggere la fame. ´La prima ragione per respingere il ricorso agli organismi geneticamente modificati è che la biodiversità è la risorsa base per garantire il cibo per tutti. Un sistema di produzione biologico che valorizzi le risorse native costa meno e produce di piùª. I contadini si espongono in misura minore al rischio di indebitarsi, non devono comprare semi, fertilizzanti e pesticidi, tutte voci di spesa in un’agricoltura convenzionale. Producono prodotti diversi, per Vandana Shiva ´un’assicurazione alimentareª: un’annata cattiva per il riso non lo sarà magari per la soia, ci sarà da mangiare comunque.

Il paradosso della fame è nei magazzini dove il riso viene stoccato, ´milioni di tonnellateª in grandi sacchi di iuta accatastati come capita. Anche all’aperto, dove quel riso -che solo in teoria non c’è – viene attaccato dai topi e dalle muffe. In India – malgrado i luoghi comuni a cui siamo abituati – non è il cibo che manca. Manca la possibilità di comprarlo, e prima di tutti manca ai contadini che hanno progressivamente perso la loro capacità di acquisto e di autosussistenza.

Eppure la promessa della libertà dalla fame è approdata nel subcontinente asiatico con un nome gonfio di aspettative. Golden rice, si chiama così, il riso ´ingegnerizzatoª, prodotto di laboratorio che avrebbe dovuto sconfiggere la penuria di cibo. Vandana Shiva mostra cartelle e cartelle che dicono che le cose non sono andate così. Il ´riso d’oroª oltre al nome offre poco altro. Le rese sono più basse di quelle delle varietà tradizionali e l’impatto ambientale è molto più alto. Il riso brevettato è stato un buon affare solo per le multinazionali dei semi.

´Monsanto quit Indiaª, Monsanto vattene. La campagna lanciata da diverse organizzazioni ecologiste e associazioni di agricoltori indiani fa nomi e cognomi dei responsabili della miseria.

L’elenco delle doglianze ha solo tre punti, per i contadini indiani è l’abc dell’indebitamento: la ´tecnologia terminatorª, che dai semi ingegnerizzati genera piante sterili, dalle quali gli agricoltori non possono procurarsi nuove semenze; la soia resistente al Round-up, un diserbante, per cui gli agricoltori devono comprare il pacchetto completo ai prezzi stabiliti dalla multinazionale; il cotone Bt, ingegnerizzato con il gene del Bacillus thuringensis, che produce una tossina letale per un parassita della pianta, ma anche per insetti assolutamente innocui, utili ad altre colture.

´Siamo quello che mangiamoª, recita Vandana Shiva, mentre difende il diritto a difendersi dalle multinazionali e dalla biopirateria, la tendenza ad etichettare la vita sul pianeta con il numero di un brevetto intestato a qualche grossa società, mentre ricorda che tra le buone ragioni per non violentare l’ambiente c’è anche la bellezza. ´Siamo quello che mangiamoª, dice. Sarà per questo che gli agricoltori affamati del suo paese non sono nulla, i suicidi un incidente di percorso sulla strada del progresso. Dove hanno trovato solo il veleno per tirarsi fuori dal gioco: la maggior parte dei contadini indiani si toglie la vita ingoiando i pesticidi.

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